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Os filmes para entender a ditadura militar no Brasil


DITADURA MILITAR

 Os filmes para entender a ditadura militar no Brasil

Onze filmes que fazem um diagnóstico de como o cinema retratou a ditadura militar no Brasil

Das sessões de tortura aos fantasmas da ditadura, o cinema brasileiro invariavelmente volta aos anos do regime militar para desvendar personagens, fatos e consequências do golpe que destituiu o governo democrático do país e estabeleceu um regime de exceção que durou longos 21 anos. Estreantes e veteranos, muitos cineastas brasileiros encontraram naqueles anos histórias que investigam aspectos diferentes do tema, do impacto na vida do homem comum aos grandes acontecimentos do período.

batismo de sangue filme ditadura militar
Cena de Batismo de Sangue (Reprodução)

Embora a produção de filmes sobre o assunto tenha crescido mais recentemente, é possível encontrar obras realizadas durante o próprio regime militar, muitas vezes sob a condição de alegoria. “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, é um dos mais famosos, retratando as disputas políticas num país fictício. Mais corajoso do que Glauber foi seu conterrâneo baiano Olney São Paulo, que registrou protestos de rua e levou para a tela em forma de parábola, o que olhe custou primeiro a liberdade e depois a vida.

Os onze filmes que compõem esta lista, se não são os melhores, fazem um diagnóstico de como o cinema retratou a ditadura brasileira.

1. MANHÃ CINZENTA (1968), Olney São Paulo – Em plena vigência do AI-5, o cineasta-militante Olney São Paulo dirigiu este filme, que se passa numa fictícia ditadura latino-americana, onde um casal que participa de uma passeata é preso, torturado e interrogado por um robô, antecipando o que aconteceria com o próprio diretor. A ditadura tirou o filme de circulação, mas uma cópia sobreviveu para mostrar a coragem de Olney São Paulo, que morreu depois de várias sessões de tortura, em 1978.

2. PRA FRENTE, BRASIL (1982), Roberto Farias – Um homem comum volta para casa, mas é confundido com um “subversivo” e submetido a sessões de tortura para confessar seus supostos crimes. Este é um dos primeiros filmes a tratar abertamente da ditadura militar brasileira, sem recorrer a subterfúgios ou aliterações. Reginaldo Faria escreveu o argumento e o irmão, Roberto, assinou o roteiro e a direção do filme, repleto de astros globais, o que ajudou a projetar o trabalho.

3. NUNCA FOMOS TÃO FELIZES (1984), Murilo Salles – Rodado no último ano do regime militar, a estreia de Murilo Salles na direção mostra o reencontro entre pai e filho, depois de oito anos. Um passou anos na prisão; o outro vivia num colégio interno. Os anos de ausência e confinamento vão ser colocados à prova num apartamento vazio, onde o filho vai tentar descobrir qual a verdadeira identidade de seu pai. Um dos melhores papéis da carreira de Claudio Marzo.

4. CABRA MARCADO PARA MORRER (1984), Eduardo Coutinho – A história deste filme equivale, de certa forma, à história da própria ditadura militar brasileira. Eduardo Coutinho rodava um documentário sobre a morte de um líder camponês em 1964, quando teve que interromper as filmagens por causa do golpe. Retomou os trabalhos 20 anos depois, pouco antes de cair o regime, mesclando o que já havia registrado com a vida dos personagens duas décadas depois. Obra-prima do documentário mundial.

5. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997), Bruno Barreto – Embora ficcionalize passagens e personagens, a adaptação de Bruno Barreto para o livro de Fernando Gabeira, que narra o sequestro do embaixador americano no Brasil por grupos de esquerda, tem seus méritos. É uma das primeiras produções de grande porte sobre a época da ditadura, tem um elenco de renome que chamou atenção para o episódio e ganhou destaque internacional, sendo inclusive indicado ao Oscar.

6. AÇÃO ENTRE AMIGOS (1998), Beto Brant – Beto Brant transforma o reencontro de quatro ex-guerrilheiros, 25 anos após o fim do regime militar, numa reflexão sobre a herança que o golpe de 1964 deixou para os brasileiros. Os quatro amigos, torturados durante a ditadura, descobrem que seu carrasco, o homem que matou a namorada de um deles, ainda está vivo –e decidem partir para um acerto de contas. O lendário pagador de promessas Leonardo Villar faz o torturador.

7. CABRA CEGA (2005), Toni Venturi – Em seu melhor longa de ficção, Toni Venturi faz um retrato dos militantes que viviam confinados à espera do dia em que voltariam à luta armada. Leonardo Medeiros vive um guerrilheiro ferido, que se esconde no apartamento de um amigo, e que tem na personagem de Débora Duboc seu único elo com o mundo externo. Isolado, começa a enxergar inimigos por todos os lados. Belas interpretações da dupla de protagonistas.

8. O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS (2006), Cao Hamburger – Cao Hamburger, conhecido por seus trabalhos destinados ao público infantil, usa o olhar de uma criança como fio condutor para este delicado drama sobre os efeitos da ditadura dentro das famílias. Estamos no ano do tricampeonato mundial e o protagonista, um menino de doze anos apaixonado por futebol, é deixado pelos pais, militantes de esquerda, na casa do avô. Enquanto espera a volta deles, o garoto começa a perceber o mundo a sua volta.

9. HOJE (2011), Tata Amaral – Os fantasmas da ditadura protagonizam este filme claustrofóbico de Tata Amaral. Denise Fraga interpreta uma mulher que acaba de comprar um apartamento com o dinheiro de uma indenização judicial. Cíclico, o filme revela aos poucos quem é a protagonista, por que ela recebeu o dinheiro e de onde veio a misteriosa figura que se esconde entre os cômodos daquele apartamento. Denise Fraga surpreende num papel dramático.

10. TATUAGEM (2013), Hilton Lacerda – A estreia do roteirista Hilton Lacerda na direção é um libelo à liberdade e um manifesto anárquico contra a censura. Protagonizado por um grupo teatral do Recife, o filme contrapõe militares e artistas em plena ditadura militar, mas transforma os últimos nos verdadeiros soldados. Os soldados da mudança. Irandhir Santos, grande, interpreta o líder da trupe. Ele cai de amores pelo recruta vivido pelo estreante Jesuíta Barbosa, que fica encantado pelo modo de vida do grupo.

11. BATISMO DE SANGUE (2007) – Apesar do incômodo didatismo do roteiro, o longa é eficiente em contar a história dos frades dominicanos que abriram as portas de seu convento para abrigar o grupo da Aliança Libertadora Nacional (ALN), liderado por Carlos Marighella. Gerando desconfiança, os frades logo passaram a ser alvo da polícia, sofrendo torturas físicas e psicológicas que marcaram a política militar. Bastante cru, o trabalho traz boas atuações do elenco principal e faz um retrato impiedoso do sofrimento gerado pela ditadura.

Cinema Uol e Literatortura

74 anos do assassinato de León Trotsky – Mártir revolucionário


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LEON TROTSKY – MÁRTIR REVOLUCIONÁRIO

Rob Sewell – Andreas Maia

No dia 20 de agosto de 2014 faz 74 anos que o revolucionário Leon Trotsky foi assassinado por um agente stalinista chamado Ramon Mercader, treinado e preparado durante vários anos para executar este horrível crime a mando diretamente de Stálin, a besta assassina que transformou a União Soviética em um imenso campo de concentração.

O leitor brasileiro tem acesso hoje pela internet e pelas publicações existentes a praticamente todas as principais obras de Trotsky assim como a muitos dos seus escritos. Mas, não dispõe de uma biografia atualizada que contemple a importância da atividade militante de Trotsky e a “tarefa mais importante de sua vida”, conforme ele mesmo disse, que foi a luta para construir a IV Internacional.

A única disponível é a que foi escrita pelo polonês Isaac Deutscher (1907-1967), que foi membro do Partido Comunista Polonês e pertenceu à Oposição de Esquerda. Ela foi lançada em meados dos anos 60 e continua sendo editada até hoje sobre a forma de uma trilogia:O Profeta Armado, o Profeta Desarmado e o Profeta Banido.

O problema dessa biografia é que ela foi superada pelos acontecimentos (desabamento do stalinismo em 1989-90, a queda do Muro de Berlin, a restaução capitalista na ex-União Soviética) e pelo fato de que o autor subestima claramente a militancia de Trotsky no seu período de exílio por estar em desacordo coma luta por proclamar a IV Internacional, sendo que também faz sérias concessões ao stalinismo.

As melhores biografias de Leon Trotsky disponíveis hoje (sem contar com os inúmeros artigos publicados na internet ou em jornais sobre a sua vida) está em primeiro lugar a que ele próprio escreveu, “Minha Vida”. Existe edição em português e esta autobiografia só dá conta até os primeiros anos do exilio de Trotsky.

Mas, destacamos duas biografias extremamente importantes que infelizmente não foram editadas em português. A primeira é “Trotsky”, do historiador Pierre Broué (1926-2005), que só existe editada em francês pela Editora Fayard. É de longe a mais precisa biografia de Trotsky. São mais de mil páginas com muita informação bem pesquisada e detalhada. Para os nossos leitores que dominam a lingua francesa vale o esforço (e o preço!) em conseguir esta biografia que pode ser encontrada nas livrarias virtuais na internet. A outra biografia é “Trotsky, um revolucionário sem fronteiras”, do historiador Jean Jacques Marie, editada em espanhol pela Editorial Fundo de Cultura Econômica e que também pode ser encontrada nas livrarias virtuais. Merece ser lida.

Mas para fazer uma homenagem a Leon Trotsky estamos reeditando um artigo de Rob Sewell, publicado originalmente em Militant (16 de agosto de 1985) que sintetiza sua vida e obra.

Andreas Maia

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LEON TROTSKY – MÁRTIR REVOLUCIONÁRIO

Rob Sewell

“Você acha que Stalin não discutiu a questão de sua remoção física? Ele a considerou e discutiu exaustivamente. Ele sempre se deteve pelo mesmo pensamento, de que os jovens o responsabilizariam a ele pessoalmente, e responderiam com atos de terrorismo. Ele, portanto, acreditou que primeiro tinha de dispersar das fileiras a juventude oposicionista. Mas um trabalho adiado não é um trabalho abandonado”. (Declaração do líder bolchevique, Grigori Zinoviev a Trotsky, 1926).

Em 20 de agosto de 1940, Leon Trotsky foi agredido com uma picareta até a morte por um agente estalinista, Ramon Mercader.

Trotsky devotou toda sua vida à emancipação da classe trabalhadora. Liderou o famoso Sovíete de Petersburgo na revolução de 1905, deu origem à teoria marxista da “Revolução Permanente”, compartilhou com Lênin a liderança da revolução de Outubro de 1917, construiu o Exército Vermelho e foi um dos fundadores da III Internacional Comunista.

Seu assassinato não foi uma ação acidental ou aleatória, mas um ato preconcebido e monstruoso como ponto culminante de uma campanha de assassinatos de toda a velha liderança Bolchevique da revolução e daqueles que apoiavam as genuínas ideias do marxismo.

Todos aqueles que representavam alguma ameaça para o regime totalitário da burocracia foram sistematicamente caçados e eliminados pelas mãos da polícia secreta estalinista, a GPU.

O alvo de toda esta trama de assassinatos foram todos aqueles que estiveram perto de Trotsky, em torno da Oposição de Esquerda Internacional que lutava pelas ideias do leninismo, do marxismo. A luta entre os partidários de Trotsky e os da burocracia estalinista não foi simplesmente um debate de ideias. Representou um choque de forças vivas – entre a parasitária casta dominante, defendendo seus privilégios materiais, e as forças do internacionalismo e da revolução socialista da classe trabalhadora.

Essa casta privilegiada derivou suas rendas e poder de seu controle burocrático sobre a economia nacionalizada e planificada. Para proteger sua posição dominante, ela expropriou politicamente os trabalhadores e camponeses russos. Todas as posições da democracia dos trabalhadores sob Lênin e Trotsky foram sendo gradualmente esmagadas, dando lugar à ditadura totalitária de Stalin – a personificação da burocracia. A burocracia só podia se manter através desse regime de terror estalinista.

Aqueles que se juntaram à oposição trotskista foram punidos com terríveis perseguições, calúnias, expulsões, demissões e prisão. Mais tarde, foram colocados nos campos de concentração de Stalin e assassinados.

No entanto, apesar do rastro de sangue, de perseguições e mentiras, de falsificação histórica pela camarilha de Stalin, as ideias de Leon Trotsky – as ideias do genuíno marxismo – não somente sobreviveram, como também cresceram e se tornaram um farol para todos aqueles ativistas que hoje confrontam os horrores do capitalismo e do estalinismo.

O destino de Trotsky estava ligado ao da Revolução Russa de Outubro de 1917. Esta vitória proletária era vista por todos como o início da transformação mundial. Ninguém no Partido Bolchevique – Lênin, Trotsky e até mesmo Stalin – acreditava que o socialismo poderia ser estabelecido em um só país, e muito menos em um país atrasado como a Rússia.

O isolamento da revolução, devido à traição dos líderes da socialdemocracia no Ocidente, levou ao crescimento de uma burocracia parasitária, de uma casta de oficiais no estado, no partido e na indústria. As derrotas internacionais reforçaram o sentimento de isolamento e cansaço. Como explicou Trotsky: “É absolutamente fora de questão e da maior importância que a burocracia soviética tornava-se mais poderosa quanto mais duros eram os golpes contra a classe trabalhadora mundial. As derrotas do movimento revolucionário na Europa e na Ásia gradualmente minaram a confiança dos trabalhadores soviéticos em seu internacionalismo. Dentro do país ainda reinava uma aguda miséria. Os representantes mais ousados e dedicados da classe trabalhadora ou tinham perecido na guerra civil ou subido mais alto, e a parte principal deles sendo assimilada nas fileiras da burocracia, depois de ter perdido seu espírito revolucionário. Cansada, devido aos terríveis esforços dos anos revolucionários, sem perspectiva, envenenada com a amargura devida à série de decepções, a grande massa caiu na passividade” (Writings 1935-37, p. 174).

A Oposição de Esquerda foi formada em 1923 por Trotsky para derrotar esta reação burocrática contra Outubro. Pouco antes da morte de Lênin, ele e Trotsky tinham organizado um bloco para lutar contra a burocracia. Em seu “Testamento”, Lênin pediu a imediata remoção de Stalin que se tornara a face desta reação. No Testamento, Trotsky foi destacado como“distinto não só por suas habilidades excepcionais” – “com certeza, o homem mais capaz no atual Comitê Central”.

Com a morte de Lênin em janeiro de 1924, Stalin e os que queriam denegrir a autoridade de Trotsky suprimiram o Testamento e, posteriormente, o denunciaram como uma falsificação trotskista! Sua autenticidade veio à tona somente em 1956 no discurso de Krushchev para a sessão fechada do 20o congresso do partido.

Ascensão do estalinismo

A derrota da revolução alemã no final de 1923, junto à morte de Lênin, resultou em rápida cristalização dos poderes da burocracia estalinista. Logo após, Stalin veio com a teoria antimarxista de “Socialismo em um só país”, que refletia os interesses da elite privilegiada. Zinoviev e Kamenev, dois velhos líderes Bolcheviques que haviam se aliado com Stalin, não puderam mais tolerar esta traição e se uniram a Trotsky para formar a Oposição Unificada em 1926.

Na época, a derrota da Revolução Chinesa foi um terrível golpe para os trabalhadores russos, que esperavam uma vitória dos trabalhadores no Oriente. Esta derrota foi um grande incentivo, no entanto, ao desenvolvimento da burocracia. Em novembro de 1927, Trotsky e Zinoviev foram expulsos do partido e Kamenev do Comitê Central.

Como resultado desta crescente repressão, Abramovich Yoffe, que tinha retornado como embaixador do Japão para trabalhar como adjunto de Trotsky, cometeu suicídio. Exilado em Alma Ata (janeiro de 1928) e mais tarde na Turquia (janeiro de 1929), Trotsky rebateu as calúnias e traições dos estalinistas, e começou a montar os quadros do verdadeiro marxismo em escala internacional. Em julho, ele publicou a primeira edição do Boletim da Oposição russa, como órgão central de seu trabalho.

Nos poucos anos que se seguiram, cruéis golpes pessoais foram cometidos contra ele; sua jovem filha Nina tinha morrido de tuberculose à idade de 26 anos. Sua outra filha, Zina, que também sofria de problemas graves de saúde, foi levada ao suicídio em Berlin no início de 1933. Os seus maridos foram enviados à Sibéria.

A primeira esposa de Trotsky, Sokolovskaya, foi presa em um campo de trabalho onde morreria mais tarde. Seu filho, Sergei, um cientista que não se interessava pela política, foi detido sob acusações forjadas – recusou-se a trair seu pai – e pereceu na prisão. Secretários e assessores de Trotsky na URSS foram executados: Glazman, Butov, Sermuks e Pozansky.

Os estalinistas, sob as ordens de Moscou, tentaram constantemente se infiltrar na casa de Trotsky, bem como na Oposição de Esquerda Internacional, causando perturbação, provocação e morte. Exemplos da infiltração estalinista são numerosos: Senin e Roman Well, Etienne Zborowski, Serge Efrom, Marcel Rollin, Louis Ducomet, François Rossie, Renata Steiner, Floyd Miller e Sylkvia Franklin, para citar apenas alguns.

Luta contra Hitler

Até a vitória de Hitler em março de 1933, Trotsky havia realizado uma campanha vigorosa por uma política de frente única contra o fascismo na Alemanha. Contudo, ele foi denunciado pelos líderes estalinistas, que continuavam a dirigir a classe trabalhadora alemã a um sangrento desastre. Ernst Thaelmann, o líder do Partido Comunista Alemão (PCA), declarou em setembro de 1932: “Em seu panfleto sobre a questão, Como o Nacional Socialismo será derrotado? Trotsky sempre dá uma resposta: ‘O Partido Comunista Alemão deve fazer um bloco com a socialdemocracia…’ Na formação deste bloco, Trotsky vê a única maneira de salvar completamente a classe trabalhadora alemã do fascismo. Ou o PCA forma um bloco com a socialdemocracia ou a classe trabalhadora alemã estará perdida por 10-20 anos. Esta é a teoria de um completamente arruinado fascista e contrarrevolucionário. Esta teoria é a pior teoria, a mais perigosa teoria e a mais criminosa que Trotsky já construiu nos últimos anos de sua propaganda contrarrevolucionária” (Internacional Comunista, no 17/18, 1932, p. 1329).

A falta de atenção ao conselho de Trotsky levou à paralisia o movimento dos trabalhadores alemães e resultou na vitória de Hitler sem qualquer resistência significativa. Foi esta a maior traição ao socialismo internacional desde 1914. Temido pela classe capitalista, a Trotsky foi recusado o direito de asilo por todas as potências europeias. Em 1933, contudo, foi-lhe permitida a entrada temporária na França, mas em pouco tempo foi expulso como indesejável pelo governo.

Os Processos de Moscou

Da França, foi permitido a Trotsky ir para a Noruega onde o Partido Trabalhista tinha acabado de chegar ao poder. Em questão de poucos meses, os julgamentos dos expurgos começaram em Moscou com Trotsky colocado como o principal acusado. Stalin pressionou ao governo da Noruega para amordaçar Trotsky. Isto é imposto através da expulsão de seus secretários e colocando-o virtualmente sob prisão domiciliar. Desesperado para responder às maiores mentiras e calúnias já fabricadas na história mundial, Trotsky avidamente aceitou a oferta de asilo do governo mexicano de Cárdenas. Ele chegou à Cidade do México em janeiro de 1937.

A burocracia buscava um acordo com as democracias ocidentais contra Hitler e, dessa forma, tentava demonstrar sua respeitabilidade. O primeiro Processo de Moscou iniciou a sistemática falsa incriminação e assassinatos da velha guarda Bolchevique. Perdido o medo do êxito da revolução espanhola e do impulso que esta daria para uma nova revolução política na URSS, a burocracia começou a destruir todas as conexões com as verdadeiras tradições de Outubro. Entre 1936 e 1938, estima-se que oito milhões de pessoas pereceram no terror, essa “guerra civil unilateral”, para usarmos as palavras de Trotsky.

Uma Comissão Internacional de Inquérito sobre os Processos de Moscou foi estabelecida sob a presidência do ilustre filósofo americano, John Dewey. Todos os testemunhos e provas foram vigorosamente peneirados. Trotsky foi pessoalmente examinado e interrogado sobre as fantásticas alegações de estar a soldo dos nazistas etc., feitas contra ele pelos estalinistas.

Ele demonstrou, com a ajuda de seus vastos arquivos, que as “confissões” forjadas nos julgamentos eram absolutamente mentirosas e que constituíam a maior falsificação da história. A Comissão Dewey concluiu que “os processos de Moscou eram uma falsificação” e concluiu: “Nós, portanto, consideramos Trotsky e Sedov (seu filho) não culpados”.

O Segundo Processo de Moscou começou dentro de 15 dias da chegada de Trotsky no México. O objetivo de Stalin, no entanto, era o da aniquilação física não somente dos velhos Bolcheviques dentro da URSS, mas também o extermínio da liderança trotskista internacionalmente.

Na Espanha, os esquadrões da morte da GPU foram sistematicamente usados para suprimir toda a oposição a Moscou, levando à execução de Andres Nin, Andrade, Erwin Wolf (um dos secretários de Trotsky) etc. Em setembro de 1937, Ignace Reiss, um ex-agente do topo da GPU que renunciou ao estalinismo e declarou-se em favor do trotskismo, foi assassinado.

Anos mais tarde, Leopold Trepper, um corajoso anti-estalinista e ex-líder da Inteligência Soviética trabalhando na clandestinidade durante a guerra, escreveu em suas memórias:“Iugoslavos, poloneses, lituanos, checos, todos desapareciam. Em 1937 já não se achava nenhum dos principais dirigentes do Partido Comunista alemão, com exceção de Wilhelm Pieck e de Walther Ulbricht. A loucura repressiva não tinha limites. A seção coreana foi dizimada, os delegados da Índia sumiram, os representantes do PC chinês estavam presos. A chama de Outubro extinguiu-se nos crepúsculos carcerários. A revolução tinha degenerado em um sistema de terror e horror…

“… E, no entanto, nós continuávamos, dilacerados, mas dóceis, triturados pela engrenagem que tínhamos posto em marcha com as nossas próprias mãos. Rodas do aparelho, aterrorizados até a loucura, estávamos transformados no instrumento da nossa própria submissão. Todos os que não se opuseram à máquina estalinista são responsáveis, coletivamente responsáveis. Eu próprio não escapo a este veredito.

“Mas, quem é que protestava nessa época? Quem se ergueu para bradar a sua condenação?

“Os trotskistas podem reivindicar esta honra.

Incitados por seu líder, que pagou a obstinação com a morte, eles combateram totalmente o estalinismo – e foram os únicos. Na época dos grandes expurgos, já não podiam gritar sua revolta senão nas imensidões geladas para onde os levaram a fim de melhor exterminá-los. Sua conduta foi digna e mesmo exemplar nos campos. Mas sua voz se perdeu na tundra.

“Hoje, os trotskistas têm o direito de acusar os que outrora uivavam à morte como lobos. Mas que não esqueçam que eles tinham sobre nós a vantagem de possuir um sistema político coerente, suscetível de substituir o estalinismo e do qual podiam lançar mão na angústia profunda da Revolução traída. Eles não ‘confessaram’, porque sabiam que suas confissões não serviam nem ao partido nem ao socialismo”.

Filho, Amigo, Lutador

Na França, os estalinistas infiltraram o centro de operações da Oposição e “colaboraram” no mais alto nível com o filho de Trotsky, Leon Sedov. Em 16 de fevereiro de 1938, Etienne Zborowski entregou-o à GPU que, por sua vez, o assassinou enquanto se encontrava no hospital.

Um Trotsky enlutado escreveu um comovedor tributo ao seu filho morto sob o título de Leon Sedov – Filho, Amigo, Lutador: “Junto com o nosso garoto morreu tudo o que ainda permanecia de jovem dentro de nós. Adeus, Leon, adeus querido e incomparável amigo. Sua mãe e eu nunca pensamos, nunca esperamos que o destino pudesse nos impor esta terrível tarefa de escrever seu obituário. Vivíamos na firme convicção de que muito depois de que fôssemos embora você seria o continuador de nossa causa comum. Mas não fomos capazes de lhe proteger. Adeus, Leon! Legamos sua irreprochável memória à jovem geração de trabalhadores do mundo. Você, com justiça, viverá nos corações de todos os que trabalham, sofrem e lutam por um mundo melhor. Juventude revolucionária de todos os países! Receba de nossas mãos a memória de nosso Leon, adote-o como seu filho – ele é digno disto – e deixem-no, doravante, participar invisivelmente de vossas batalhas, uma vez que o destino negou-lhe a felicidade de participar de sua vitória final”.

Um mês após a morte de Sedov, Stalin lançou o terceiro e mais sangrento dos expurgos. Em Paris, o corpo decapitado de Rudolf Klement – outro secretário de Trotsky – foi encontrado no rio Sena. A rede de assassinos da GPU focou sobre Trotsky, através de uma série de agentes secretos. Ramon Mercader, assassino de elite de Stalin, criou uma infiltração na família de Trotsky seduzindo uma jovem marxista americana, Sylvia Ageloff.

Enquanto isto, o primeiro ataque fracassado contra a vida de Trotsky veio em 24 de maio de 1940. Agressores estalinistas da GPU – conduzidos pelo líder do PC mexicano, Siqueiros – forçou a entrada nas dependências metralhando o quarto de dormir de Trotsky. Afortunadamente, ele, sua esposa e neto escaparam por pouco da morte. Um dos guardas de plantão, Robert Sheldon Harte, foi sequestrado e seu corpo decomposto foi descoberto em uma mina de calcário um mês mais tarde.

Grande mártir

“Haverá punição para os vis assassinos. Durante toda sua vida heroica e bela, Lev Davidovich acreditou na emancipação futura da espécie humana. Durante os últimos anos de sua vida, sua fé não vacilou; pelo contrário, tornou-se apenas mais madura, mais firme do que nunca. A futura humanidade emancipada de toda opressão triunfará sobre todo tipo de repressão…” (Como aconteceu, novembro de 1940, escrito pela esposa de Trotsky, Natalya Sedova)

A segunda tentativa em agosto de 1940 foi fatal. Leon Trotsky foi assassinado pelas mãos do assassino da GPU, Ramon Mercader. Depois de ter sido julgado culpado de assassinato, ele cumpriu uma pena de 20 anos e logo voltou para o leste europeu onde foi condecorado por seus serviços pelo regime estalinista.

Trotsky foi o maior mártir da classe trabalhadora. O trotskismo ou o marxismo foram e ainda continuam sendo a tendência mais perseguida da história. Os ataques a militantes e apoiadores são apenas uma continuação dessa campanha.

Enquanto os fracos de coração e céticos fizeram as pazes com o estalinismo, Trotsky e um pequeno grupo de correligionários defenderam as ideias do marxismo em um período histórico de retirada e reação. Este foi o maior papel de Trotsky.

Esta nova geração tem uma dívida colossal com aqueles que lutaram contra a corrente. Cabe-nos agora armar-nos com as ideias genuínas do marxismo como uma preparação concreta para as futuras tempestades e rebeliões que inevitavelmente se desdobrarão.

(Publicado pela primeira vez em Militant, 16 de agosto de 1985).

Traduzido por: Fabiano Adalberto

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50 DA DITADURA

50 anos do golpe militar
Acabou o regime militar, mas não a ditadura de classe da burguesia

Os 50 anos da derrubada do governo constitucional de João Goulart estão sendo lembrados por governos, partidos, instituições civis e grande imprensa. Interessa aos mais distintos setores da burguesia se afastarem do golpe e principalmente dos 21 anos de regime militar. Os seus defensores são vozes de timbre baixo. Circunstancialmente, estão em minoria.
A presidente Dilma Rousseff aconselhou os oficiais das Forças Armadas a desistirem de comemorar a vitória dos conspiradores em 31 de março e 1º de abril. A campanha oficial, afinal, não passaria de exaltação da democracia e condenação dos excessos de repressão. Tratava-se de uma comemoração de um passado longínquo. Assim, não havia motivo para os militares saírem em defesa da contrarrevolução de 64.
O balanço predominante da burguesia, afinal, é de que a derrubada do governo nacionalista foi uma contingência para reequilibrar o poder do Estado. E que correspondeu a
uma conjuntura particular da “guerra fria”, que ficou para trás. Há também aqueles que dizem que havia solução por meio da democracia.
O governo do PT não pretende levantar fantasmas. Os antagonismos entre nacionalistas e pró-imperialistas já não existem. Os 50 anos não seriam usados para colocar divergências interburguesas que não estão presentes na situação. As manifestações oficiais estariam de acordo com a política traçada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e consolidada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva de reconciliação nacional. A Lei da Anistia paira sobre as diversas interpretações, críticas ou defesa do golpe de Estado.
Os 50 anos não serviriam de instrumento para romper a linha da reconciliação e de reconstrução da memória por meio da Comissão da Verdade. Tudo está tão bem encaminhado
para que os golpistas, os agentes dos Estados Unidos, os torturadores, os assassinos e os ocultadores de cadáveres não sejam criminalizados e não paguem pelos seus crimes políticos. A orientação da burguesia foi a de usar os 50 anos para enterrar o passado.
Não faltaram pronunciamentos da esquerda reformista de condenação do golpe, exaltação à democracia burguesa e de pedido para que esta sirva de meio para punir os torturadores e assassinos. É inevitável que se façam distintas explicações dos acontecimentos e avaliações sobre nacionalismo janguista. Mas essa inevitabilidade impossibilitou que as esquerdas se unissem em luta contra a ditadura de classe da burguesia.
A forte presença da política oficialista encarnada pelo PT e por sua burocracia sindical colocou travas. Mas os condicionamentos políticos também partiram das esquerdas, que se sujeitaram às diretrizes da Comissão da Verdade. Somente poderia haver uma real unidade das esquerdas na condenação do golpe de 64, caso tivessem em luta contra o Estado policial que se abriga nas entranhas da democracia vigente.
O regime militar foi substituído pelo regime democrático por meio de uma transição dirigida pelos partidos da burguesia e com a anuência dos Estados Unidos. Não poderia deixar de abrigar em suas vísceras heranças da ditadura militar. Uma delas são as Forças Armadas expurgadas dos militares nacionalistas, talhadas segundo a doutrina de combate aos inimigos internos e regidas pela disciplina ditada pelas necessidades da classe capitalista brasileira e dos
monopólios internacionais. Aboliu-se qualquer liberdade política em seu seio, de forma a que as tropas sigam as ordens expressas de uma elite de oficiais vinculada aos mais altos interesses da burguesia.
Uma outra é a polícia militar, que compõe um corpo especializado de combate às manifestações de massa. Observa-se que os governos vêm se esmerando no aparelhamento
e nas técnicas de guerra civil. Lula criou a Força Nacional de Segurança Pública com o objetivo de centralizar o poder da polícia contra o movimento das massas urbanas, dos camponeses e índios. Está no Congresso o projeto de lei antiterrorismo, confeccionado de acordo com a orientação internacional do imperialismo norte-americano e europeu.
As Forças Armadas e a polícia não foram criações da ditadura, evidentemente. Mas foram recriadas seguindo a doutrina de segurança nacional estabelecida pelos Estados Unidos e expressando a necessidade da burguesia sufocar a luta de classes. Esse é um dos pontos centrais do balanço de 64, que as esquerdas deixam de fazer e que interessa aos agentes da burguesia ocultar.
A divisão que se manifestou nas Forças Armadas e nas polícias sob o governo nacionalista de João Goulart comprovou para a burguesia que este pilar sustenta a sua ditadura
de classe. Não pode servir a duas políticas burguesas e não pode ser permeável à política do proletariado. O regime democrático e o regime militar são distintos e refletem as condições da luta de classes. Mas ambas as formas servem ao funcionamento e à preservação da ditadura de classe da burguesia contra a classe operária e a maioria explorada.
O golpe de 31 de março dista meio século. O fim do regime militar dista vinte e nove anos. Mas continuam vivos, no presente, sob a roupagem da democracia. As adaptações e reformas políticas removeram os militares que passaram a exercer o poder por cima das classes,
mas apenas contra os operários, os camponeses, a pequena burguesia urbana e as massas populares. Extinguiu-se o governo militar, mas as Forças Armadas e a polícia continuam como o poder armado da burguesia, por mais democrático que seja o governo de plantão. Não se pode
em absoluto desconhecer, obscurecer ou ocultar esse balanço histórico do golpe de 1964.
O triunfo da reação oligárquica e pró-imperialista foi, sem dúvida, um dos acontecimentos mais importantes da história do País. Deve, obrigatoriamente, ser observado do ponto de vista das classes sociais. Os generais conspiradores não agem por conta própria. Respondem em grande medida às movimentações no interior da burguesia na situação de crise revolucionária. Por trás das armas está o capital. E este em 1964 se identificava com os monopólios imperialistas, com os banqueiros, grandes comerciantes e com a oligarquia latifundiária.
O golpe foi desfechado contra o governo burguês nacionalista. Interrompeu-se a aplicação de uma variante política de desenvolvimento do capitalismo semicolonial. Mas em
sua essência se voltou contra a classe operária e os camponeses. As armas se dirigiram a destruir o desenvolvimento politico da classe operária e a esmagar a crescente revolta dos camponeses. Os explorados, no entanto, não puderam reagir. Estavam sob a direção do nacionalismo burguês e pequeno-burguês, encarnado pelo PTB, PSB e PCB.
A rica experiência do nacionalismo em conflito com o liberalismo pró-imperialista não teve como ser assimilada A ausência de um partido revolucionário impossibilitou que o proletariado assumisse posições de independência de classe.
Os acontecimentos provam que a situação pré-revolucionária aberta em 1961 colocou um desfecho contrarrevolucionário. Não havia o partido marxista-leninista-trotskista para quebrar a ofensiva da reação e colocar a tomada do poder. Se não era um governo revolucionário – operário e camponês – seria um governo contrarrevolucionário. O governo
nacionalista logo se mostrou débil politicamente e incapaz de levar a diante seu programa de reformas de base. A revolução proletária – e não a revolução democrático-burguesa, defendida pelo PCB – era a via para quebrar a espinha dorsal do movimento contrarrevolucionário. Aqui está o principal fundamento histórico da vitória da reação e derrota do proletariado e dos camponeses. Essa contradição percorreu os vinte e um anos da ditadura e a sua transmutação em democracia. A luta armada das esquerdas à margem do desenvolvimento político do proletariado serviu para mostrar de corpo inteiro os traços ditatoriais dos generais e da burguesia nacional. Mas concluiu em um desastre para a vanguarda e para os explorados.
O nacionalismo, o reformismo e o democratismo pequeno burguês se mostraram impotentes diante da ditadura de classe da burguesia encarnada diretamente pelas Forças Armadas. Esses desvios e distanciamentos do marxismo expuseram as esquerdas fragmentadas e desesperadas. Sem o programa da revolução proletária, atrasaram a assimilação das ricas experiências e obstaculizaram a construção do partido marxista. Essa tarefa emerge com toda clareza no balanço do golpe e das condições atuais. Chamamos a classe operária e a sua vanguarda a assumir a luta para pôr em pé o Partido Operário Revolucionário.
A obra da ditadura militar sobrevive e serve à atual democracia. As Forças Armadas estão prontas para defender a grande propriedade capitalista e cumprir as ordens do imperialismo. A revolução proletária varrerá a ditadura de classe da burguesia, estabelecerá a propriedade socialista dos meios de produção e potenciará a mais ampla democracia emanada das massas libertas da exploração do trabalho.
Viva a revolução proletária!
Construir o Partido Operário Revolucionário!
Pôr em pé a IV Internacional, o Partido Mundial da Revolução Socialista!

Manifesto do Partido Operário Revolucionário/POR

 

Vamos compartilhar?

ÍNDIO E BRASIL

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Tanque russo na Georgia. (Foto: Getty Images)

Tanque russo na Georgia. (Foto: Getty Images)

Para a Rússia – com sua rica diversidade de línguas , tradições, etnias e culturas – a questão étnica é, sem qualquer exagero um direito fundamental . Qualquer decisor político responsável ou líder público deve perceber que a harmonia pública e inter- étnica é um dos requisitos fundamentais do nosso país .
Nós vemos o que está acontecendo no mundo, e que riscos graves estão se acumulando . O crescimento das tensões inter-étnicas e inter- fé é uma das realidades de hoje . O nacionalismo ea intolerância religiosa estão vindo para fornecer uma base ideológica para a maioria dos grupos radicais e tendências . Isso prejudica e destrói o Estado e divide a sociedade . Os países mais desenvolvidos e ricos , que usavam para se orgulhar de sua tolerância, vim cara a cara com uma “questão étnica exacerbada. ”
Atrás do ” fracasso do projeto multicultural ” significa a crise do modelo do “Estado étnica” – um estado que tem sido historicamente construído exclusivamente com base na identidade étnica. Este é um sério desafio que a Europa e muitas outras regiões do mundo terá de enfrentar .
Rússia como um “estado histórico ”
A situação no nosso caso , para todas as semelhanças aparentes , é completamente diferente . Nossos problemas étnicos e migratórios estão diretamente relacionados com o colapso da União Soviética , e além de que, historicamente, para a destruição da Grande Rússia , que surgiu em sua forma original , no século 18 .
Historicamente , a Rússia não tem sido nem um estado mono -étnico , nem um ” melting pot “, ao estilo americano , onde a maioria das pessoas são , de alguma forma , os migrantes . Rússia desenvolveu ao longo dos séculos como um Estado multinacional , em que diferentes grupos étnicos tiveram que conviver , interagir e se conectar uns com os outros – em ambientes domésticos e profissionais, e na sociedade como amigos.
Estou convencido de que as tentativas de pregar a idéia de um Estado russo “nacional” ou monoethnic contradizer a nossa história de mil anos .
Um código cultural comum
A experiência russa de desenvolvimento do estado é único. A nossa é uma sociedade multiétnica , somos um povo unido . Mas quando uma sociedade multiétnica está infectado com o vírus do nacionalismo , ele perde sua força e estabilidade.
O povo russo são estaduais construtores , como evidenciado pela existência de Rússia. Este tipo de identidade civilizacional é baseado na preservação do domínio da cultura russa , embora essa cultura é representada não só pelos russos , mas por todos os titulares dessa identidade , independentemente de sua etnia. É uma espécie de código cultural que tem sido atacado cada vez mais frequentemente ao longo dos últimos anos, as forças hostis têm tentado quebrá-lo e, no entanto , ele sobreviveu. Ele precisa ser apoiado, fortalecido e protegido.

(Photo: Reuters)
Should the U.S. send weapons to Ukraine? Rep. Mike Rogers, chair of the House Intelligence Committee, told @[103708747870:274:Meet the Press] that “Putin is not done” in the region. Read more: http://nbcnews.to/OKGzdd(Photo: Reuters)

A educação desempenha um grande papel neste . Em primeiro lugar, os programas de educação deve enfatizar temas importantes como a língua russa , literatura russa e história russa – ensinou , é claro, dentro do contexto da riqueza global de todas as tradições e culturas étnicas .
Não há nenhuma necessidade para quem vive na Rússia esquecer sua religião ou etnia. Mas eles devem identificar-se principalmente como cidadãos da Rússia e ter orgulho nisso. Ninguém tem o direito de colocar os seus interesses étnicos ou religiosos acima das leis do país . Ao mesmo tempo , as leis nacionais devem ter em conta as características específicas dos diferentes grupos étnicos e religiosos .
Nacionalidades política eo papel das instituições fortes
Problemas sistêmicos da sociedade freqüentemente superfície na forma de tensões interétnicas . Deve-se sempre ter em mente que há uma relação direta entre problemas não resolvidos socioeconômicos, um sistema de aplicação da lei injusta , funcionários burocraticamente complicadas e corrupção, quando se considera o conflito étnico .
Devemos estar conscientes dos riscos e ameaças inerentes a situações susceptíveis de atingir o ponto de conflito étnico . E devemos estimar a atividade ou inatividade da aplicação da lei ou das autoridades , que levaram a tensões interétnicas , com a maneira mais crítica abordagem , e sem se importar com posição ou cargo .
Mais um ponto de princípio é que devemos promover um sistema democrático , multipartidário. Decretos devem ser emitidas em breve, que irá simplificar e liberalizar o registo e funcionalidade dos partidos políticos; propostas sobre o restabelecimento da eleição popular de governadores regionais estão a ser postas em prática. Todos estes passos são necessários e direto ao ponto. Mas a organização de partidos regionais, incluindo nas repúblicas nacionais , é uma coisa que devemos pensar duas vezes . Este é um caminho direto para o separatismo .
O problema da migração e do nosso projeto de integração
Alguns temem que a criação da União da Eurásia vai levar a um aumento da migração e, conseqüentemente, para a ampliação dos problemas existentes . Creio que temos de delinear claramente a nossa posição. • É óbvio que devemos melhorar drasticamente a qualidade da política de imigração do governo.
• migração doméstica tem vindo a crescer neste país , as pessoas viajam para outros territórios constituintes da Federação ou para as grandes cidades para estudar , viver ou trabalhar . Eles são cidadãos de pleno direito da Federação Russa .
• Em terceiro lugar vem o fortalecimento do sistema judicial e estabelecer agências eficazes de aplicação da lei.
• O valor ea atractividade do ensino poderia oferecer aos migrantes uma forte motivação para se integrar na sociedade , enquanto os padrões educacionais baixos sempre solicitará um maior isolamento e reclusão de comunidades migrantes que vão durar muito mais tempo, até mesmo por gerações.
• Finalmente , o quinto ponto é estreita integração em todo o espaço pós-soviético como uma alternativa real para a migração descontrolada .
A partir dessa perspectiva , as tarefas a que nos propusemos a respeito dessas questões internas (criando uma nova economia e do emprego eficaz , reconstruindo as associações profissionais , desenvolvendo a capacidade de produção e infra-estrutura social em todo o país ) e em matéria de integração euro-asiática , tornam-se instrumentos fundamentais para criar fluxos migratórios de volta a um nível administrável .
Devemos construir um modelo de Estado e uma sociedade civilizada que seria igualmente atraente e equilibrado para todos que vê a Rússia como sua pátria .
Nós vivemos juntos por muitos séculos. Juntos, foram vitoriosos na mais terrível das guerras. E vamos continuar a existir lado a lado. Para aqueles que querem e tentam nos dividir , eu digo – em seus sonhos.

Um abraço

Nós Temos FUTURO

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Pílulas sobre a história: Trotskistas ensinam


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Pílulas sobre a história: Trotskistas ensinam

Está circulando uma imagem com Marx 

num cartoon de uma página de uma rede social intitulada Trotski ensina [1], com a seguinte frase:

“A classe trabalhadora tem de aprender, que seu poder não está necessariamente  na força do voto, mas na capacidade de parar a produção, não no seu voto”.

Marx não é autor desta frase.

Tudo certo, se a frase não fosse da ANARQUISTA Voltairine de Cleyre. Porém há outros problemas, além do erro autoral. A frase original é: “A classe trabalhadora tem de aprender, que seu poder não está na força do voto, mas na capacidade de parar a produção” [“must learn that their power does not lie in their voting strength, that their power lies in their ability to stop production.]. No imaginário trotskista que justifica “taticamente” a ação eleitoreira/eleitoral, a inserção subreptícia da palavra “necessariamente” abranda a força do verbo revolucionário e categórico da militante anarquista. Não precisamos ser linguistas para saber que a adição de uma palavra muda totalmente o sentido de uma frase. Para não dizerem que cometi uma injustiça, muito provavelmente o cartoon foi pego aleatoriamente de outra página e infelizmente reproduzido às custas da verdade. Mas o que isto esconde? E qual é o debate de fundo?

Como abandonei toda ingenuidade para com a práticas deste quilate, ancorada na tríade recorrente da apropriação/deturpação/difamação de algumas doutrinas políticas, sigo na tese. Para fins de referência, ainda que seja difícil pesquisar algo pela internet, todas as referências apontam que a autoria da frase é da anarquista Voltairine de Cleyre, que agora, vê sua frase ser roubada por um homem, um grande teórico, que vez ou outra “deglute” outros pensadores “menores”. Afinal, no mundo dos mitos historiográficos foi Marx que inventou o socialismo e não os trabalhadores.

cleyre

Foto da anarquista Voltairine de Cleyre.

Para melhorar a exatidão do que estou dizendo eis o livro em que a frase é citada (no artigo Direct Action):Exquisite Rebel: The Essays of Voltairine De Cleyre – Anarchist, Feminist, Genius, Sharon Presley and Crispin Sartwell (Editors), State University of New York Press (ISBN: 0791460940). Alguns podem achar que estou sendo rigoroso. Mas o imaginário trotskista é cruel para com outras tradições do socialismo, senão um adversário implacável e persistente da diversidade ideológica dentro da esquerda. Sendo assim, o mínimo que podemos fazer é restituir as linhas e fronteiras que nos distinguem. Pois bem, outro dia (há alguns anos para dizer a verdade), vi uma agenda feita por uma legenda trotskista, com um anarquista na capa em cima de um carro virado no contexto dos movimentos anti-globalização, tudo correto, se ao fundo, uma bandeira negra tivesse sido pintada digitalmente de vermelha. Para aqueles que associam a falsificação da história apenas aos Stalinistas (como na deturpação em que Stálin some com Trótsky de uma foto clássica da Revolução Russa) fica a lição.

Foto original. Na foto adulterada, Stálin ordenou o sumiço de Trótsky da imagem.

Um ato falho alguns dirão. Apenas um ato falho sem importância. Mas não ignoremos os atos falhos, Freud nunca o fez. Do ponto de vista psicológico, os atos falhos são importantes; pois deles, descobrimos os “complexos”, ou no caso do cartoon, uma prática política duvidosa e que trata a história quando conveniente[2], como uma terrível massa de modelar [3].

Trotski ensina.

[1] A grafia de Trótsky é geralmente apresentada na duas formas: Trótski ou Trótsky.

[2] Um exemplo é o tratamento do Trotskismo a Nestor Makhno e a makhnovischina, movimento popular de inspiração anarquista que protagonizou uma Revolução Social na Ucrânia e derrotou o exército branco. Sob a égide do trotskismo a makhnovischina e Makhno serão tratados como “bandidos” e “criminosos na imprensa soviética. Tal postura prosseguirá durante o stalinismo. Que na Enciclopédia Soviética tratará a makhnovischina como um movimento apoiado pelos kulaks (proprietários de terra abastados).

[3] Um exemplo deste comportamento é o texto a-histórico publicado por Henrique Canary que compara o anarquismo ao neo-liberalismo de Margaret Thatcher. Disponível em: http://www.pstu.org.br/node/19465

Rafael V. da Silva

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ALBA E UNASUL SOB A ÓPTICA MARXISTA

II Seminário de Pesquisa Interdisciplinar-

Sustentabilidade e Gestão Estratégica

A COMPATIBILIDADE ENTRE INSTITUIÇÕES EM PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO E O DISCURSO TRANSFORMADOR DOS GOVERNOS DE ESQUERDA NA AMÉRICA – LATINA: LIMITES E POSSIBILIDADES A PARTIR DE UMA ABORDAGEM MARXISTA DAS INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS .

FELIPE FERNANDEZ  e ROGÉRIO SANTOS DA COSTA

Neste artigo procuraremos fazer uma verificação da compatibilidade entre instituições em processos de integração e o discurso transformador dos governos de esquerda na América – Latina, buscando encontrar seus limites e possibilidades a partir de uma abordagem marxista das instituições internacionais. Para tanto identificaremos as bases da teoria marxista das Relações Internacionais, com foco nas instituições internacionais em processos de integração; Sistematizaremos os projetos de transformação social dos governos de esquerda envolvidos nos referidos processos. Por fim compararemos os discursos de integração regional latino – americana dos governos de esquerda, à luz do arcabouço teórico marxista e em perspectiva das instituições internacionais na integração. Palavras-chave: ALBA; UNASUL;

Teoria Marxista das Organizações Internacionais.

ABSTRACT In this article we will try to do a check on the compatibility between institutions in the integration processes and speech processor of leftist governments in Latin – America, seeking to find its limits and possibilities from a Marxist approach to international institutions. To identify both the foundations of Marxist theory of international relations, focusing on international institutions in the integration processes; systematizing projects of social transformation of leftist governments involved in these processes. Finally we will compare the rhetoric of regional integration in Latin – the American leftist governments in the light of Marxist theoretical perspective and in international institutions in the integration. Key Words: ALBA, UNASUR; Marxist Theory of International Organizations.

1.0 INTRODUÇÃO

Neste artigo procuraremos verificar a compatibilidade entre o discurso transformador dos governos de esquerda da América Latina; com as propostas de integração Alba e Unasul; em suas vertentes institucionais, a partir de uma abordagem marxista das instituições internacionais, para tanto utilizaremos como base o arcabouço teórico marxista, bastante evocado nos referidos governos.

Começaremos identificando as bases da referida teoria com foco nas instituições em processos de integração. Prosseguiremos sistematizando os discursos de política externa dos principais países da região, com foco nos processos supracitados. A seguir passaremos a focar os projetos de transformação social dos mesmos governos, mantendo-se o foco na integração.  Por fim, objetivamos ter verificado a compatibilidade entre os discursos e a pratica dos governos de esquerda na América Latina, com relação à teoria marxista das Relações Internacionais. Procurando assim contribuir para o desenvolvimento teórico da disciplina e lançar luz, sobre os novos objetos de estudo que representam as instituições internacionais criadas a partir do contexto histórico, anterior a crise neoliberal de 2009. 2.0

AS BASES DA TEORIA MARXISTA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS COM FOCO NAS INSTITUIÇÕES EM PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO.

Lênin foi a meu ver o maior expoente do marxismo nas Relações Internacionais.

O mesmo costumava afirmar que sem teoria revolucionaria não á pratica revolucionaria. Este é um dos porquês de ser de nossa pesquisa acerca do caráter das Organizações Internacionais ALBA e Unasul. Cujo caráter teórico, ainda foi pouco explorado pela doutrina.  Ambas as organizações surgem após o fervor revolucionário, que se segue a ascensão de Chávez e de outros governos de esquerda na America Latina. A totalidade destes governos, afirmam em menor ou maior escala seu compromisso com a ruptura do caráter hegemônico então vigente no sistema internacional. Assim como os mesmos adotam discursos eminentemente transformadores, que visam à alteração total ou parcial de um status-quo anteriormente vigente. A idéia de integração latino-americana, herdada de San Martí, Simón Bolívar, Ernesto Che Guevara entre outros, volta com força à ordem do dia, e se enfoca o pan-latinismo.  Tal problemática não era em absoluto, contemporânea.

Porém, para Amado Cervo e Cepik , neste percurso, ao longo dos últimos 500 anos, vários motivos têm fragilizado as tentativas de integração, dentre os quais cabe destacar: a influência e os interesses de potências externas; as condições de desenvolvimento internacional; as condições de desenvolvimento regional; as crises econômicas dos principais países da região; bem como as Políticas Externas dos principais articuladores de uma integração, como o Brasil.  Buscaremos aqui, entretanto, primeiramente identificar as bases da teoria marxista das relações internacionais, posteriormente retomaremos o foco nas organizações internacionais ALBA e Unasul.

Segundo Nogueira e Messari sabe-se que Marx não fez uma contribuição significativa para uma teoria das Relações Internacionais e que não dedicou especial interesse pelo tema do desenvolvimento do capitalismo em nível internacional. Da mesma forma, o Estado – Ator Central das mais importantes teorias das Relações Internacionais, como a teoria realista e mesmo a liberal- Não foi objeto de sistematização teórica por parte de Marx, cujas reflexões sobre o tema encontram-se, via de regra, espalhadas em alguns de seus manuscritos políticos.  Para Marx , de um modo geral deveríamos compreender o capitalismo como uma formação histórica, e não simplesmente como a forma mais racional, eficiente e tecnologicamente desenvolvida para a produção de mercadorias. Da mesma forma deveríamos encarar o sistema de Estados como uma forma particular de organizar comunidades políticas com base nos princípios da territorialidade, e da idéia de nação; esta ultima pouco considerada em boa parte dos escritos marxistas, em sua tradicional visão economicista; De modo que o Estado não era entendido como uma manifestação de laços culturais baseados em traços naturais comuns como a raça ou a etnia. Desta monta Marx mostrou como tais formações históricas resultam do desenvolvimento, sempre contraditório, das relações de produção no interior das sociedades.

A teoria de Marx também ficou conhecida por demonstrar que a produção de riqueza no sistema capitalista era baseada na exploração de uma classe – o proletariado – por outra – a burguesia capitalista.  Para Marx, “A história da sociedade até hoje é a história das lutas de classes”. Ainda para ele, isto significava uma guerra permanente e constante, um motor da história, que sempre culminava na transformação revolucionaria de toda a sociedade ou com a destruição das classes em luta.  Entretanto, outros marxistas dedicaram-se de maneira mais profunda ao estudo das Organizações Internacionais. O marxismo para Herz e Hoffman , só adquire lugar como teoria das relações internacionais na década de 70 do séc. passado. Antes, para as autoras, desenvolvera seus estudos acerca do imperialismo no contexto das ciências sociais e da economia.  Os estudos sobre o imperialismo, datados do começo séc. XX, podendo ser considerados os primeiros direcionamentos explícitos de aplicação da teoria marxista á compreensão das relações internacionais. Sendo neste contexto que Lênin desenvolve o conceito de capitalismo monopolista, salientando a divisão entre o centro e a periferia do sistema, sendo o centro desenvolvido, e a periferia menos desenvolvida.  Lênin desenvolve estudos que servem a contemporaneidade das Organizações Internacionais na América – latina do séc. XXI.

O conceito de analise clássico das Organizações Internacionais demonstrado por Herz; Hoffman (2004) , citando Lênin (1964) e Fernandes (1992), é de que “As instituições internacionais são arranjos possíveis entre as grandes potências em determinado momento histórico”. Tal citação demonstra o caráter com que os marxistas clássicos tratam das organizações internacionais.  Entretanto Herz e Hoffman (2004) encontram ainda no trabalho do marxista italiano Antonio Gramsci, o gancho, que liga esta teoria mais explicitamente as Organizações Internacionais. A seu ver, o trabalho de Gramsci, busca responder a frustração dos marxistas quanto a seu projeto de emancipação na Europa dos anos 20 e 30 do séc. XX, onde, em contraposição estes, viam a ascensão do fascismo. Também, buscam á teoria crítica das Relações Internacionais, para elas, intrinsecamente ligada à marxista.

A partir de tais paradigmas que Gramsci, os teóricos críticos e outros marxistas de vertentes menos clássicas, começam a salientar que outras forças, além daquelas que compõem o mundo da produção, moldam a história humana, fugindo ao determinismo econômico, dominante até então. Na contemporaneidade, Heinz Dieterich , expoente teórico da corrente marxista denominada de socialismo do séc. XXI, respondeu ao questionamento, tema de nossa pesquisa, afirmando em palestra proferida no mês de abril do corrente ano na Universidade Federal do Estado de Santa Catarina, que a ALBA e a UNASUL, são frutos de uma necessidade e de um momento histórico, e que no futuro, com o avanço da construção socialista, em que o teórico acredita ser uma necessidade histórica, e um futuro possível, ambas perderão importância e deixaram de existir. Apesar de seu caráter contra- hegemônico atual, as Organizações Internacionais, para o teórico, parecem, assim como na escola marxista clássica serem estruturas que visam à manutenção do sistema, sendo as referidas organizações supracitadas uma espécie de antítese as demais. Sendo assim, cabe agora uma analise dos discursos de política externa dos principais países da região, em contraposição ao enfoque teórico dado pelos marxistas ao caráter das Organizações Internacionais, e mais especificamente na América Latina.

3.0 OS DISCURSOS DE POLÍTICA EXTERNA DOS PRINCIPAIS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA ENVOLVIDOS EM PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO.

A abordagem dos discursos de política externa dos países da América Latina é fundamental para entender e compreender os movimentos que levaram a criação das recentes instituições em processos de integração, buscar seu real referencial teórico, expressado nos referidos discursos, e contrapor à práxis dos objetos de estudo. Buscaremos aqui a perspectiva expressa oficialmente pelos estados em relação aos processos integradores em que estão aplicados, e posteriormente, deveremos contrapor esta posição oficial, aos fatos, á luz do arcabouço teórico marxista das relações internacionais, muitas vezes evocados, nestes mesmos governos. Caberá observar inicialmente a oficialidade da teoria marxista das relações internacionais em relação à política externa destes mesmos atores, prosseguindo a uma analise mais subjetiva, que verificara a equivalência teórica marxista com os discursos proferidos. Onde é posição de estado a observância do referido referencial teórico assim como onde este fator não é observado. Neste artigo, definiremos, como principais estados, atuantes nos processos de integração na América Latina, os lançadores das pedras fundamentais das propostas de ALBA e Unasul, no caso Brasil e Venezuela. Além do mais, dos 33 países que compõem a América Latina, 18 encontram-se englobados nestas iniciativas integracionistas, que por hora, são nosso objeto de estudo.  Segundo Costa (2009); “É muito comum em estudos sobre a América, a América Latina, e mais recentemente sobre a América do Sul, a alusão a dois personagens: Simon Bolívar e James Moore.

Simón Bolívar
Ficheiro:Simón Bolívar 2.jpg

O primeiro queria uma América unida por ideais de independência e integração, convivência pacífica e resolução de conflitos através de regras que regulassem seus relacionamentos externos. O segundo buscava delimitar a região de influência dos Estados Unidos da América (EUA) na então mais recente partilha do mundo após as guerras napoleônicas, na sua conhecida Doutrina Moore.”. A figura de Bolívar torna-se símbolo da atual “Revolução Venezuelana”, que evidencia a vontade dos governos de esquerda, para com objetivos contra-hegemônicos, tidos como comuns a maioria destes estados. Se expressa, como será visto a seguir, na idéia de um nacionalismo pan-americanista, como expresso por Santos e Lourenço (2008), citando Tilly (1996).

“O Nacionalismo consiste em um princípio político que cultiva preferencialmente o sentimento de pátria, da própria nacionalidade, ou seja, doutrina ou filosofia política que prega valores tais como o bem estar social, e que o individuo deve guardar lealdade e devoção à nação. Assim, o Estado nacional é entendido como um conjunto de pessoas unidas num mesmo território por interesses comuns. Deste modo, o nacionalismo pode ser entendido como um “movimento político social que visa uma organização social que se baseia na coesão social, a identidade coletiva e a cultura das nações.” De tal monta podemos observar, que a idéia de integração extrapola as fronteiras dos estados latino-americanos, contaminado o inconsciente da população, assim, como a idéia de grande nação latino-americana, envolve as celeumas da preocupação com a manutenção de seu poder sobre determinado estado, com a perda de soberania, assim como da desconfiança dos estados, ou de setores dos estados menores do subcontinente, em relação a seus pares maiores.

A visão Venezuelana acerca do Pan

Americanismo pode ser observado na conduta de seu ex-presidente, Pérez Gimenez, que se antecipou a outros governos de países da região, como o Brasil e a Argentina; seus contemporâneos; ao propor a criação do Fundo Econômico Interamericano. Em contraposição a este projeto, como visto anteriormente nas palavras de Costa, pode-se observar a articulação da diplomacia estadunidense, para impedir, na OEA, a aprovação da proposta Venezuelana, fazendo com que seu embaixador na OEA retira-se a proposta, e que Pérez Gimenez, dessas declarações públicas dando mostras de sua decepção, afirmando que o Pan-Americanismo e a integração permaneceriam como sendo apenas aspirações latentes, ou proposições teóricas fracassadas, enquanto nada de concreto fosse feito . A decepção advinda desta ocasião levou a Venezuela a um profundo isolamento, acentuado pela adoção da chamada “Doutrina Betantourt”, uma determinação de somente reconhecer os governos eleitos a partir de eleições consoantes a normas constitucionais. Segundo Cervo (2003), a partir de 1968 observa um refluxo na doutrina Betancourt, advindo dos problemas resultantes da mesma, como os conflitos com grandes países, como Brasil, México e Argentina, adeptos da doutrina de não intervenção, que culminavam em ultima instancia no isolacionismo do país. Segundo Cervo, o país abandonava a doutrina Betancourt pelos sonhos bolivarianos de liderar a América Latina. A Venezuela prosseguirá vivendo de sonho e de ilusão: o sonho bolivariano e a ilusão do petróleo. Neste caso, a Venezuela não lhe via sob a primeira óptica garantida a sua liderança da América do Sul, e sob a segunda também não lhe estava ao alcance, o desenvolvimento econômico e social pretendido.  Mais recentemente, após vitoria eleitoral de Hugo Chávez, em 1998, e da intentona golpista de 2002, tivemos um novo paradigma para a política exterior Venezuelana, onde segundo a definição de seu ministro de Relações Exteriores; José Vicente Rangel, a ênfase da política exterior venezuelana, desde a ascensão de Chávez, tem sido posta nas vizinhanças. Tendo-se estabelecidas, quatro grandes regiões, denominadas; “Fachadas”; a atlântica, a caribenha, a andina e a amazônica, selecionadas de forma a dirigir os esforços da diplomacia e a ação do “governo bolivariano”. Seus principais intentos desdobrar-se-iam na implementação de importantes projetos de cooperação bilateral e na determinação de contribuir, desde a região, para o fortalecimento e agilização dos processos de integração .  Ainda, o presidente do país, Hugo Chávez apropriou-se do termo Socialismo do séc. XXI, para definir o conjunto de mudanças que está colocando em curso na Venezuela, que, de tão profundas, já recebem, por parte da doutrina a terminologia de “Revolução Bolivariana”, mesmo que este seja, todavia, um tema que gera polêmicas e acalorados debates entre os teóricos das relações internacionais, e outras disciplinas que estudam de algum modo o fenômeno. É justamente no marco do governo de Hugo Chávez que começa a tomar forma em 30 de outubro de 2004, quando da assinatura do convênio integral de cooperação entre Cuba e Venezuela, um maior protagonismo contra-hegemônico do país.  Entretanto, é em 2001 que o presidente Hugo Chávez assinala pela primeira vez a proposta de criação da organização internacional, que denominaria de Alternativa Bolivariana Para as Américas (ALBA); quando da realização da III Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Associação de Estados do Caribe, realizada na ilha de Margarita, nos dias 11 e 12 de dezembro de 2001. Nesta ocasião o presidente deu o tom à organização, destacando seu caráter contra-hegemônico, de integração solidaria, e principalmente, pondo a política a frente da economia no processo de integração, resgatando o legado de Simon Bolívar, o discurso de Chávez, propunha uma organização para integrar a partir dos povos, e não das economias da região, com todas as suas debilidades. A ALBA, em oposição a ALCA, seria a construção da Grande Pátria Latino-Americana. –

ALBAFicheiro:Emblem of the Bolivarian Alliance for the Americas.png

A criação da ALBA se da oficialmente em 14 de dezembro de 2004, na cidade de Havana, em Cuba, quando da realização de sua primeira cúpula e da assinatura por parte de Fidel Castro e Hugo Chávez, da declaração conjunta para a criação da ALBA e do acordo para viabilizar sua implantação.  O texto que marca a posição Cubano-Venezuelana é bastante claro quando se refere aos princípios norteadores da nova organização , que repudiariam aos nacionalismos, que consideram “egoístas”, e demarcaria o objetivo, de construir uma “Grande Pátria”, na América Latina, baseada na solidariedade entre os povos.  A estes princípios, se agregam posteriormente mais nove países, pelo que, se pressupõem que estão de acordo com os mesmos, e por isso seus discursos de política externa serão analisados posteriormente, de maneira mais breve, já que o objetivo de nossa analise dos discursos é verificar a posição oficial dos mesmos estados, e esta subentendesse demonstrada e verificada pela adesão por parte dos mesmos a ALBA. A escolha da Venezuela, para uma análise mais aprofundada, dar-se pelo fato de este país ter lançado o processo de integração, nos moldes da ALBA, e a própria iniciativa de criar a organização. Também se compõe interessante registrar, que a intentona golpista de abril de 2002, aprofunda o processo de mudanças, com o endurecimento da radicalização do discurso de Hugo Chávez em relação aos Estados Unidos. A Venezuela toma a frente em um processo de integração. A renda advinda dos recursos de exportação petrolífera continua, como já vinha sendo desde 1920, um dos fatores estruturantes para financiar seus objetivos de política externa .

O país torna-se um pólo, onde gravitam os novos governos de esquerda na América Latina, e outros não tão novos como Cuba, que passa em parte a depender da ajuda financeira Venezuelana. Paralelo a isto a Venezuela participa também da Unasul e se empenha para entrar no MERCOSUL, onde pretende trabalhar pela avaliação e revisão dos conteúdos do programa integracionista.  No Brasil, a posição oficial sobre o tema da integração latino-americana foi exposta recentemente em artigo do próprio Ministro Das Relações Exteriores, o chanceler Celso Amorim. Amorim começa sua explanação a partir do MERCOSUL, porém, faremos um pequeno histórico dos processos em que o Brasil esteve envolvido, começando pela aproximação com a Argentina e o Chile, encabeçada pelo Barão do Rio Branco, tendo a perspectiva de uma associação para fins econômicos, que ficaria conhecida como “Pacto ABC”; iniciativa esta relançada na era Vargas-Perón, e que não frutificou, tendo se esgotado, assim como os governos que a lançaram.

Segue-se a este período, já nos tempos da Guerra Fria, nova fase de integração, que explode com força nas décadas de 60 e principalmente 70. Embaladas pelas idéias da CEPAL, as nações do subcontinente optam por um passo bastante ambicioso, com a criação da ALALC, (Associação Latino Americana de Livre Comércio). Porém os objetivos da mesma mostraram-se demais pretensiosos para o período histórico em que estavam inseridos, e pouco tempo depois, a mesma deixa a cena, devido à inviabilidade de se realizar os compromissos estabelecidos, sendo substituída pela ALADI (Associação Latino Americana de Integração), com objetivos menos pujantes.  Já a partir nos anos de políticas neo-liberalistas nos países latino-americanos, mais notoriamente na década de 1.990, começa uma grande aproximação econômica entre Brasil e Argentina, que mais tarde, com a inclusão de Uruguai e Paraguai, culminaria na formação do Bloco Econômico do MERCOSUL, que se caracterizaria como uma união aduaneira imperfeita . Nas palavras do chanceler brasileiro, Celso Amorim; “As áreas de livre comércio vem e vão, as uniões aduaneiras ficam. Esse é um fato histórico”.  Até 2002, nos anos do mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o maior foco da política exterior brasileira, permaneceria sendo o MERCOSUL, embora paralelamente iniciativas de aproximação com outras nações tenham culminado na I Cúpula de Países da América do Sul, em Brasília, no ano 2.000, e na criação da Iirsa .

A ALCA, iniciativa lançada pelo governo Clinton, nos Estados unidos, em 1.994, também pontuou a administração Cardoso, tendo sido bastante polêmica, e sofrido pesados ataques por parte da esquerda brasileira, ela acabaria por ser definitivamente abandonada pouco depois da eleição de Luís Inácio Lula da Silva em 2002. Um dos motivos para o fracasso nas negociações da ALCA, segundo Amorim, seria o fato de ter-se negociado, que a conversação tarifaria se daria a partir da tarifa aplicada, e não da tarifa consolidada, que é uma obrigação contraída por todos os países ao aderirem á OMC. No caso do MERCOSUL, por exemplo, a tarifa consolidada é de 35%, a tarifa média é de algo entre 26%, 27%, enquanto que a tarifa aplicada é de 11%. Para Amorim, o fato de começar-se a negociar de 11% e não de 35%, era impactante, e tornava tudo muito mais complicado, além do mais, havia intransigência dos Estados Unidos no tratamento a temas de interesse do Brasil como agricultura ou antidumping pudessem ser tratados de maneira adequada.  Já no governo Lula, tem-se uma inversão de prioridades, e aceleram-se conversações com diversos países sul-americanos. Já havia acordos de livre-comércio com o Chile e a Bolívia, e buscava-se agora uma negociação com o Pacto Andino. A Colômbia foi segundo o ministro Amorim, um “Ponto de Inflexão” que permitiu que se chegasse a um acordo. Havia grande resistência e temores por parte do país andino, a tal ponto que em certa ocasião, o ministro Amorim dirigir-se-ia ao ministro de comércio exterior da Colômbia, declarando ser incompreensível que os empresários colombianos temessem a concorrência da indústria brasileira, mas não a da estadunidense, maior economia do mundo á época?

Posteriormente com o reconhecimento por parte do Brasil das assimetrias, e com o maior número de concessões do país em relação a seus pares andinos, foi viável a consecução de acordos tanto com Colômbia, assim como em relação ao Peru, país com o qual segundo Amorim havia se dado o “primeiro passo”, mas devido a resistências internas do vizinho, com relação a problemas na área de agricultura, este formalizaria mais tardiamente um acordo com o Brasil.  Posteriormente, os acordos, até por fim de legalização junto a OMC, foram incorporados a ALADI.

Em Reunião da ALADI, a ministra Colombiana das Relações Exteriores, teria declarado, segundo Amorim, que os acordos que estavam sendo assinados, estariam na prática criando uma “Área de Livre Comércio Sul-Americana”. O que para o mesmo seria uma realidade, a exceção dos casos de Guiana e do Suriname, que por serem países de economias mais frágeis, e também por terem a particularidade de pertencerem ao Caricom, sempre eram um caso especial.

Para Amorim, este seria um dos pilares da integração sul-americana, o outro sendo estabelecido pela Iirsa, na parte de infra-estrutura, onde se havia finalmente conseguido uma ligação transoceânica entre atlântico e pacifico na América do sul, através de obras realizadas nos vários países e que permitiriam esta conexão. Ao se assinar o acordo, quadro entre MERCOSUL e Peru, o então presidente Toledo, afirmou que aquilo, provavelmente seria entendido ao conjunto de países da Comunidade Andina. Com isso surgia a CASA, Comunidade Sul-Americana de Nações, que era o nome como ficou conhecido informalmente nos meios diplomáticos o esforço integracionista das nações do subcontinente até que se resolveu por chamar o mesmo de Unasul.  A CASA, não tinha institucionalidade jurídica, a mesma viria a ocorrer quando da fundação da UNASUL. Cujo tratado constitutivo se estabelece em 2008.

A UNASUL, diferentemente dos anteriores processos de integração surge em meio a uma conjuntura política completamente diferente do padrão que se havia estabelecido no pós guerra-fria. Em um contexto de crise econômica internacional, de ascensão das esquerdas na maioria dos países da América Latina, bem como de um profundo golpe nas idéias liberais. Entretanto, para a política exterior brasileira, o livre-comércio permaneceria como uma das vertentes da nova instituição, o que por si só representa um fosso abissal para com as proposições teóricas marxistas, para as quais, este viés neoliberal, se traduziria certamente na condição da organização de sustentáculo do capitalismo a nível internacional, porém, este é um tópico que abordaremos com mais profundidade no prosseguimento deste artigo.  Se for bem verdade que havia na UNASUL, um viés de livre comércio, também o é, que na nova conjuntura global em que a organização se inseria, havia novas vertentes, como a da integração comercial, a da infra-estrutura, a da energia, assim como a da defesa, que ganharia corpo na criação do “Conselho de Defesa Sul-Americano”. Hoje além deste já há o “Conselho de Saúde”, e outros mais se encontram desenvolvendo-se.

4.0 SISTEMATIZAÇÕES DOS PROJETOS DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL DOS GOVERNOS DE ESQUERDA ENVOLVIDOS EM PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO REGIONAL. Para proceder a uma sistematização dos projetos de transformação social em curso na América Latina, e de iniciativa dos governos de esquerda da região, é preciso primeiro conceituar o que são os governos de esquerda no subcontinente. Como os critérios para se definir se um governo é ou não de esquerda ainda são muito subjetivos e geram acalorados debates utilizaremos uma classificação bastante abstrata de Jésus Tovar Mendonza , cuja publicação data de 2008, e que, na América Latina, apenas excetua, México e Colômbia do rol de governos de esquerda no poder atualmente. Quanto aos projetos em andamento podemos destacar o TCP, Tratado de Comércio Entre Los Pueblos, que surge para se contrapor, no âmbito da ALBA, aos TLC tratados de livre comércio propostos pelos Estados Unidos, estes são segundo o site da organização, os TCP são tratados de intercambio de bens e serviços entre os povos, baseados na solidariedade, na transferência de tecnologia, em convênios creditícios, que facilitam as operações de pagamentos e cobranças, e no aproveitamento das vantagens de cada país . Ainda no âmbito da organização, se da grande enfoque a questão das grannacionais, empresas assim chamadas por serem constituídas por mais de um estado membro. Dentre as iniciativas no campo das empresas grannacionais, podemos citar a rede de televisão telesur, no campo das telecomunicações, que é tida como de grande sucesso está já em pleno funcionamento. Ainda neste campo existem projetos para ares como, energia, pesca transportes marítimos, aéreo e terrestre, produção industrial e energia .

A ALBA leva a cabo também projetos importantes na área de saúde, que centram no aproveitamento das vantagens competitivas de Cuba nesta área, tendo a nação caribenha ocupando o lugar de grande supridora de serviços de saúde para a Venezuela, nos marcos das operações Milagro, e Barrio Adentro, a primeira refere-se a procedimentos cirúrgicos para a cura de problemas de visão, como a catarata a serem realizados na ilha caribenha, salientando-se que tais programas já existiam nos marcos da cooperação entre Cuba e Venezuela, sendo posteriormente estendidas e incorporadas as demandas da ALBA. Enquanto que a segunda refere-se a missões de médicos cubanos, nas periferias venezuelanas, para tratar de um sem número de problemas de saúde pública . No setor energético, aproveita-se a pujança petrolífera venezuelana, assim como as grandes reservas bolivianas de gás natural. Nos últimos anos, por exemplo, a Venezuela, tem se transformado em grande supridora de recursos energéticos para a ilha de Cuba. A integração energética, também engloba a capacidade venezuelana de assegurar suprimento petrolífero, aos países membros da organização em condições vantajosas, bem como na questão de infra-estrutura, notoriamente na construção de refinarias, onde já foram assinados convênios específicos com Bolívia, Cuba e Nicarágua.

Em relação ao gás natural, que concentra grandes jazidas na Venezuela e na Bolívia, já esta acertada entre os países membros do bloco sua introdução nas respectivas matrizes energéticas, faltando, porém, desenvolver-se os meios adequados ao seu transporte e armazenamento . Em relação á educação; os programas de alfabetização cubanos; estão em curso nos países da ALBA, com vistas a superar problemas de analfabetismo e baixo desenvolvimento educacional das populações de parte dos países que compõem o bloco. Também tem destaque, os intercâmbios acadêmicos, realizados principalmente em instituições cubanas, como a ELAM, (Escola Latino Americana e Caribenha de Medicina), com o intento de formar profissionais, que posteriormente voltem para atuar nos setores de saúde pública de seus países . No setor financeiro a mais importante iniciativa em voga atualmente é o banco da ALBA, que devera servir para o fomento a projetos comuns naquelas áreas que não são pontos fortes de nenhum dos países membros, é também uma forma de se buscar combater a influencia de organismos financeiros internacionais, como o FMI e o Banco Mundial. O documento de fundação do Banco é enfático quanto a manter-se o mesmo sobre o controle dos estados membros. Muitas outras iniciativas, ainda em fase embrionária estão se desenvolvendo em outras áreas, como turismo, esporte e cultura. Quanto aos projetos em andamento na Unasul, apenas o “Conselho de Defesa Sul-Americano”, parece ter saído do papel, enquanto o de “Saúde” se encontra desenvolvendo-se, porém a organização parece ter em relação à ALBA, uma veia econômica mais forte, sendo a liberalização do comércio um item muito mais importante na agenda da primeira em relação a segunda.

5.0 CONCLUSÕES. Concluiu-se que existem basicamente duas vertentes principais de integração na América do Sul, a Unasul e ALBA. Embora elas não sejam em essências antagônicas entre si, uma delas o é em relação ao marxismo mais, clássico. A mesma certamente, também não é vista; mesmo pelos marxistas gramscianos e pelos teóricos radicais – críticos, com os melhores olhos possíveis, entretanto, a estes, a Unasul, potencialmente não seria taxada automaticamente de imperialista, e mantenedora do status-quo, mas sim como uma arena em disputa.  Ao passo que ALBA poderia ser classificada pelos mesmos, como um importante espaço de construção contra-hegemônico. Em relação a teoria mais clássica do marxismo, parece faltar acumulo e desenvolvimento de pesquisa na área de organizações internacionais, pelo que a previsão de uma organização como a ALBA, que incorpora até mesmo movimentos sociais em sua estrutura, parece ser um tanto quanto surpreendente, dotada de certo ineditismo. A estes, pelo menos em minhas percepções tidas, em congressos e seminários de pesquisa, a organização parece também ser bem vista. Deste modo, pelo menos em minha opinião, a conformação da mesma não é antagônica a nenhuma das vertentes da teoria marxista das relações internacionais, incluídas ai as posições mais clássicas. A ALBA é sim um modelo inédito, que se utiliza de um instrumento que é desde a muito utilizada pelas teorias liberais, no caso uma organização internacional, formada inicialmente por estados, mas que a partir de agora recebe também a adesão de setores descontentes que orbitam fora da estrutura dos estados não-membros, fazendo-nos traçar um paralelo ao antigo Comintern , organização internacional marxista, que congregava aos partidos comunistas a nível internacional. Como, nos estados socialistas ortodoxos, partido e estado se confundem, e também como esta era a corrente predominante á época, podemos tomar aquela como também sendo uma organização de caráter governamental. Com relação aos discursos transformadores dos governos de esquerda da América – Latina, concluo que é via de regra, compatível com as instituições em processos de integração na América Latina, entretanto saliento, que por exemplo no caso do Brasil, e em perspectiva da política externa, estes, discursos, apesar de apresentarem uma linha mais a esquerda em relação ao governo anterior, não são essencialmente transformadores, apresentando vários aspectos de continuidade.  A dualidade da política externa venezuelana, que adere a tratados de livre comércio, como os que ocorrem no âmbito de organizações como o MERCOSUL e a Unasul, justificando, estar a tentar disputar os modelos de integração, é justificável em parte, pelo fato de a Unasul, já ter sido criada, com perspectivas que transcendem simplesmente a ordem econômica e do livre comercio. No caso do MERCOSUL, o país ainda não foi oficialmente aceito, mas as justificativas que se aplicam perfeitamente a Unasul, não podem ser tão bem aplicadas em relação a este bloco. Por isso neste caso, o governo Venezuelano fala em integração solidaria, assim como no caso do TCP, que seria conformar, um mercado comum, que pudesse contrapor-se a hegemonia “imperialista”, e ter uma perspectiva de transferência tecnológica, englobar a questão das vantagens competitivas de cada nação, mais utilizá-las de maneira solidaria e não predatória. Até certo ponto, este parece ser um reconhecimento ou uma concessão dos economistas marxistas a uma tradicional crítica liberal ao modelo econômico socialista, que consideram por demais, protecionistas e isolacionistas. Em relação a outros países, como Cuba, Bolívia, Equador, e dependendo do ponto de vista também a Nicarágua nota-se um grande alinhamento de posições em relação à Venezuela, no caso dos demais membros da ALBA. Honduras segue, para todos os efeitos fazendo parte da organização, porém devido a ingerência imperialista, e ao golpe de estado, na pratica não o é.

O Brasil adota uma política consistente, em que assume a posição de país pagador de um processo de integração mais profundo, tenta formar um pólo de estabilidade entre os extremos ideológicos da região, Colômbia e Venezuela, adota uma posição, que nas palavras de seu presidente, acredita no livre comércio, mas também na força e na necessidade do estado, como uma social-democracia clássica. Limita-se a integração pelas divergências ideológicas entre os estados, apesar de que a maioria é de esquerda, existem estados que formam um pólo mais social democrático, como Brasil, Chile e Uruguai, e outros, que flertam com as idéias marxistas mais clássicas, como Cuba, Venezuela, Equador e Bolívia. A descontinuidade de territórios, entre estes estados, que se da por Colômbia, e Peru, estados com governantes mais a direita, representa severa limitação aos sonhos bolivarianos da Venezuela, que são de simplesmente construir o socialismo na “Grande Pátria”, sonhos aos quais, me permitam este aparte compartilho. Como sugestão para próximas pesquisas, fica a desenvolver um trabalho histórico verificando as formas e maneiras com que os países de ideologia marxista oficial, existentes atualmente ou não, trabalham a perspectiva das organizações internacionais.

6.0 REFERÊNCIAS. AMORIM, Celso. A Integração Sul-Americana. Diplomacia e Política Exterior Brasileira. N. 10. Pg. 5-26. Brasília. Outubro-Dezembro/2009. CEPIK, Marco Aurélio Chaves (org). “América do Sul: economia e política da integração”. Porto Alegre, Editora UFRGS/ Coleção Estudos Internacionais-NERINT, 2008. 152 Pgs. CERVO; Amado Luiz. A Venezuela e Seus Vizinhos. In. GUIMARÃES, Samuel Pinheiro; CARDIM, Carlos Henrique (Organizadores). Venezuela: Visões Brasileiras. Brasília. Ipri. 2003.354 Pgs. COSTA, Rogério Santos Da. “Instituições na Integração na América do Sul: Identificação da Estratégia da Política Externa Brasileira no Governo Lula.” Paper presented at the annual meeting of the ISA – ABRI JOINT INTERNATIONAL MEETING, Pontifical Catholic University, Rio de Janeiro Campus (PUC-Rio), Rio de Janeiro, Brazil. 26 Pgs. Disponível em: < http://www.allacademic.com/meta/p381506_index.html >. Acesso em29/04/2010. HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Organizações internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro, Campus, 2004. 268 Pgs. KFURI, Regina; FLORES, Fidel Pérez. Socialismo, Multipolaridade e Integração regional na Política Externa do Governo de Hugo Chávez. Disponível em: < http://www.allacademic.com/meta/p_mla_apa_research_citation/3/8/1/3/4/p381345_index.html > Acesso em: 05/05/2010. 28 Pgs. MARX, Karl; Engels, Friedrich; Prólogo de; Neto, João Paulo. “Manifesto do Partido Comunista”. Cortez, Pgs. 1-20. São Paulo. 1998. MENDOZA, Jésus Tovar. A Esquerda no Poder na América Latina: Três Correntes e Um Dilema. Revista Política Externa, Vol.16 N. 4. Brasília. Março/Abril/Maio de 2008. Pgs. 9-18. NOGUEIRA, Silvia Garcia. O Papel dos Meios de Comunicação de Massa nos Processos de Integração cultural Latino-Americana: O Caso da Rede Multiestatal Telesur. Disponível em: < http://www.allacademic.com/meta/p_mla_apa_research_citation/3/8/1/4/9/p381491_index.html > Acesso em: 05/05/2010. NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar.. “Teoria das Relações Internacionais”. Elsevier, Rio de Janeiro. 2005. 250 Pgs. PORTAL ALBA; ALBA-TCP. Alianza Bolivariana Para Los Pueblos de Nuestra América/Tratado de Comercio de Los Pueblos. Disponível em: < http://www.alianzabolivariana.org/modules.php?name=Content&pa=showpage&pid=2080 > Acesso em: 04/05/2010. RUZ, Fidel Castro; FRIAS, Hugo Chávez. Declaração Conjunta. Disponível em: < http://www.cuba.cu/gobierno/discursos/2004/por/d141204p.html > Acesso em: 25/05/2009. TILLY, Charles. Coerção, Capital e Estados Europeus. São Paulo, Edusp, 1996. p.45-78. Apud in. Santos, Fabiana Martins; Lourenço, Lucileide de Oliveira. Globalização e Nacionalis: Um Novo Modelo de América do Sul. Pg.2. Disponível em: < http://www.allacademic.com/one/isa-abri/meeting09/index.php?click_key=7&gt;. Acesso em: 03/05/2010.

Uma ex-comunista na presidência


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Opinião

 

Dilma participou na luta armada contra o regime militar (Fonte:blogspot)

Uma ex-comunista na presidência

Espera-se que a nova presidente dispa-se dos últimos vestígios do anticapitalismo que professava. Mailson Ferreira da Nóbrega

Vem aí a primeira presidente que acreditava no comunismo e teve participação na luta armada contra o regime militar. Outro ex-guerrilheiro comunista, Jose Mujica, tomou posse como presidente do Uruguai em 1º de março deste ano.

A utopia comunista encantou muitos jovens, inclusive este escriba, entre os anos 1950 e 1960. Prometia a sociedade sem classes e a todos atender segundo suas necessidades. Na época, o comunismo da União Soviética parecia superar o capitalismo. Nikita Kruschev, o líder soviético, foi levado a serio quando em 1960 bateu o sapato na tribuna da ONU e depois anunciou que seu país suplantaria os Estados Unidos em 1980.  Em 1961 o russo Yuri Gagarin tornou-se o primeiro a ir ao espaço, ampliando o otimismo comunista. Acreditava-se que os países em desenvimento e até mesmo alguns desenvolvidos adotariam o socialismo soviético. Seria uma questão de tempo.

A promessa que não se cumpriu

A coisa não era tão rósea assim. O governo soviético privilegiava a indústria pesada, em detrimento da indústria leve e da agricultura. Dizia que mais tarde o sacrifício seria recompensado por sólida base industrial e pelo acesso a bens de consumo. Como a promessa não se cumpria, sinais de insatisfação apareceram já em 1953, nos distúrbios de Berlim. Em 1956 foi a vez da Hungria e da Polônia. Todos foram reprimidos. Novas promessas de mudança e melhoria não se concretizaram. O descontentamento aumentava a medida que a prosperidade se firmava nas sociedades capitalistas. No radio e na TV, os países vizinhos da Europa Ocidental viam que ficavam para trás. Ate os cidadãos soviéticos, mais distantes, começavam a notar o fosso.

Os dois problemas estruturais do mundo comunista ficaram evidentes: a supercentralização e a ausência de incentivos, particularmente de recompensas pelo esforço individual. Inibiam-se a inovação e os ganhos de produtividade, que são centrais no processo de desenvolvimento.

O crescimento comunista vinha do impulso da industria pesada, que se esgotava. A União Soviética chegou a superar os Estados Unidos na produção de alto, mas isso resultava de ineficiências. Um trator soviético pesava oito vezes mais do que o norte-americano. A agricultura se atrasava. A eletrônica virou de vez o jogo em favor do capitalismo. O transistor e o laser transformaram produtos de consumo, processos industriais, os transportes e as telecomunicações. O computador se tornou dominante. O comunismo perdeu a corrida tecnológica por causa das falhas sistêmicas do planejamento central.

Amadurecimento

A esquerda europeia percebeu a realidade. Aceitou a economia de mercado e a democracia como valores fundamentais, sobretudo depois da queda do Muro de Berlim. Entendeu que o capitalismo era também superior no respeito às liberdades individuais inerentes aos regimes democráticos. Na América Latina, o aggiornamento começou no Chile. Aos poucos, em distintas velocidades, se espraiou por outros paises. A madura esquerda chilena evitou o retorno da velha tradição intervencionista. O mesmo ocorreu no Uruguai. No discurso de posse, sem rodeios, Mujica prometeu uma política econômica ortodoxa. Institucionalmente, esses dois paises são os mais avançados da região.

No Brasil, o governo de FHC foi exemplo dessa mudança. Reverteu retrocessos estatistas da Constituição de 1988 e lançou as bases de um novo período de desenvolvimento. Lula manteve a política econômica, mas não continuou as mudanças nem evitou que em seu governo sobressaísse um vetusto anticapitalismo. o anticapitalismo, aliás, é a marca de muitos que abandonaram a utopia do socialismo real soviético. Sua conversão foi parcial. Defendem vigorosamente a democracia, mas desconfiam da economia de mercado. Recentemente, a preferência pelo estatismo se nutriu de um equívoco, o de que a crise financeira teria devolvido o prestígio à ampla intervenção na economia.

Espera-se que a nova presidente, na linha de seu colega uruguaio, dispa-se dos últimos vestígios do anticapitalismo que professava. Isso não significaria abraçar o absoluto livre mercado, outra utopia, mas liderar o país para livrá-lo de conhecidas ineficiências do estado.

Fontes: Instituto Millenium – Uma ex-comunista na Presidência

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