HÉLIO'S BLOG

Início » Economia Internacional

Arquivo da categoria: Economia Internacional

O BRASIL SE TORNOU UM PAIS DE TERCEIRO MUNDO


A ECONOMIA MUNDIAL MANIPULADA PELOS ESTADOS UNIDOS

HÉLIO’S BLOG
#DivulgaçãoCientífica
A ‘Grande Reinicialização’ está aqui (*)

A conferência de Bretton Woods  (anote esse conceito) de 1944 definiu o atual sistema financeiro global que ainda prevalece hoje. O período 1969-1971 pode ser considerado como a Primeira Reinicialização, que envolveu a criação de Direitos Especiais de Saque (SDR-Special drawing rights, ticker: XDR), a desvalorização do dólar e o fim do padrão ouro. Agora, todas as peças do plano da elite global estão convergindo e se encaixando. A emissão de SDRs do FMI requalificará os bancos centrais globais que não podem imprimir dólares. Em seguida, os CBDCs (Criptomoedas dos Bancos Centrais) serão usados ​​para eliminar o dinheiro em ESPÉCIE.

A ‘Grande Reinicialização’ está aqui

(GRANDE MANIPULAÇÃO)

Fonte:  DailyReckoning.com

Durante anos, comentaristas (inclusive eu) discutiram o próximo realinhamento monetário global, às vezes chamado de The Big Reset ou The Great Reset. Agora, parece que a tão esperada ‘Grande Reinicialização’ finalmente chegou.

Os detalhes variam dependendo da fonte, mas a ideia básica é que o atual sistema monetário global centrado no dólar dos EUA é inerentemente [foi conduzido para esta situação] instável e precisa ser reformado.

Parte do problema se deve a um processo chamado “Dilema de Triffin“, em homenagem ao economista Robert Triffin. Triffin disse que o emissor de uma moeda de reserva dominante tem que incorrer em déficits comerciais anuais para que o resto do mundo pudesse ter o suficiente da sua moeda para comprar bens do emissor e expandir o comércio mundial.

Mas, se você gerasse déficits por tempo suficiente, acabaria falindo. Isso foi dito sobre o dólar no início dos anos 1960. Em 1969, o Fundo Monetário Internacional (FMI) criou o DES [SDR], possivelmente para servir como fonte de liquidez e alternativa ao dólar.

Em 1971, o dólar desvalorizou-se em relação ao ouro e outras moedas importantes. Os DES foram emitidos pelo FMI de 1970 a 1981. Nenhum foi emitido depois de 1981 até 2009, durante a ‘última’ crise financeira global.

“Testando o encanamento”

A emissão de DES em 2009 foi um caso do FMI “testando o encanamento” do sistema para se certificar de que funcionava corretamente. Como nenhum SDR foi emitido de 1981 a 2009, o FMI queria ensaiar os processos de governança, computacional e legal para a emissão de SDRs.

O objetivo era, em parte, aliviar as preocupações com a liquidez na época, mas também era para garantir que o sistema funcionasse, caso uma grande nova emissão fosse necessária em curto prazo. O experimento de 2009 mostrou que o sistema funcionava bem.

Desde 2009, o FMI avançou em passos lentos para criar uma plataforma para novas emissões maciças de SDRs e a criação de um pool líquido profundo de ativos denominados em SDRs. Em 7 de janeiro de 2011, o FMI emitiu um plano mestre para substituir o dólar por DES.

Isso incluiu a criação de um mercado de títulos SDR, negociantes SDR e recursos auxiliares, como repos [Acordos de Recompra], derivativos, canais de liquidação e compensação e todo o aparato de um mercado de títulos líquido.

Um mercado de títulos líquido é crítico. Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos estão [AINDA] entre os títulos mais líquidos do mundo, o que torna o dólar uma moeda de reserva legítima.

O estudo do FMI recomendou que o mercado de títulos SDR-DES replique a infraestrutura do mercado do Tesouro dos EUA, com mecanismos de hedge, (é a velha história da raposa cuidando do galinheiro) financiamento, liquidação e compensação substancialmente semelhantes aos usados ​​para apoiar a negociação de títulos do Tesouro dos EUA atualmente.

China ganha um assento na mesa monetária

Em julho de 2016, o FMI emitiu um documento pedindo a criação de um mercado privado de títulos SDR. Esses títulos são chamados de “M-SDRs” (para SDRs de mercado), em contraste com “O-SDRs” (para SDRs oficiais).

Em agosto de 2016, o Banco Mundial anunciou que emitiria títulos denominados em DES para compradores privados. O Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), o maior banco da China, será o subscritor líder do negócio.

Em setembro de 2016, o FMI incluiu o yuan chinês na cesta de DES, dando à China um assento na mesa monetária. Portanto, a estrutura foi criada para expandir o escopo e alcance dos SDRs.

O SDR pode ser emitido em abundância para países membros do FMI e usado no futuro para uma lista selecionada das transações mais importantes do mundo, incluindo acordos de balanço de pagamentos, precificação do petróleo e contas financeiras das maiores corporações do mundo, como Exxon Mobil, Toyota, Royal Dutch Shell, et cetera.

Agora, o FMI está planejando emitir US$ 500 bilhões em novos DES-SDR, embora alguns senadores democratas estejam fazendo lobby por uma emissão de US$ 2 trilhões ou até mais.

Isso seria quase dez vezes a quantidade de DES emitidos em 2009 e seria um longo caminho para aumentar a liquidez de DES e avançar a agenda globalista no sentido de, eventualmente, ter o DES substituindo o dólar americano como principal ativo de reserva.

Esta proposta segue de perto o plano de jogo da agenda oculta da elite global dos oligarcas previsto no capítulo 2 do livro do autor de 2016, intitulado The Road to Ruin: The Global Elites’ Secret Plan for the Next Financial Crisis

Nos próximos anos, veremos a emissão de SDRs para organizações transnacionais, como a ONU e o Banco Mundial, para serem gastos em infraestrutura de mudança climática e outros projetos de elite fora da supervisão de quaisquer órgãos eleitos democraticamente por qualquer pais. Eu chamo isso de Novo Projeto para a Inflação Mundial.

Mais do que apenas SDRs

Mas há mais no “Great Reset” [a Grande Reinicialização] do que a emissão de novos SDRs. Aqui está outra notícia de última hora que valida a previsão de longa data de uma futura reinicialização no sistema financeiro global.

Em 1999, o euro substituiu as moedas individuais da Alemanha, França, Holanda, Itália e outras economias importantes da Europa. Hoje, o número de países que aderiram ao euro chega a 19, e mais países aguardam a sua admissão. O euro é a segunda maior moeda de reserva depois do dólar americano. A criação do euro pode ser considerada como MAIS um degrau das moedas nacionais para uma moeda única mundial.

Agora, o euro (junto com o yuan chinês) está se movendo rapidamente para se tornar uma moeda digital do Banco Central (CBDC – Central Bank Digital Currency). Um CBDC combina uma moeda tradicional com a tecnologia blockchain de uma criptomoeda.

É um movimento importante na direção de eliminar o dinheiro físico [cédulas] e forçar os usuários a um sistema 100% digital usando cartões de crédito, cartões de débito e aplicativos de smartphone. Por que a China e a Europa estão tão focadas em eliminar o dinheiro?

Use-o ou perca-o

Eu disse o tempo todo que você não pode colocar taxas de juros negativas [os Bancos Centrais] sobre os consumidores até eliminar o dinheiro. Caso contrário, os poupadores apenas retirariam seu dinheiro dos bancos e enfiariam em colchões para evitar as taxas negativas. Implicitamente, o Banco Central Europeu (BCE) parece concordar com isso.

Um dos membros do Conselho do BCE diz que taxas negativas (na verdade, um confisco aberto) serão aplicadas como uma “penalidade” contra o “entesouramento” de dinheiro. Em linguagem simples, isso significa que eles criarão dinheiro digital, forçarão você a gastá-lo e, se você não gastá-lo, eles o retirarão de sua conta com uma “taxa negativa”.

Agora, todas as peças do plano da elite global estão convergindo e se encaixando. A emissão de SDRs do FMI requalificará os bancos centrais globais que não podem imprimir dólares. Em seguida, os CBDCs serão usados ​​para eliminar o caixa em ESPÉCIE.

Uma vez que o gado (que somos nós) tenha sido conduzido para o matadouro digital controlado pelos Bancos Centrais, seremos instruídos a “usar ou perder” nossos créditos quando se trata de nosso próprio dinheiro. Em outras palavras, ou gastamos o dinheiro ou o governo o levará embora de sua conta usando qualquer ‘artifício’.

Claro, os gastos podem ser canalizados para “causas politicamente corretas”, excluindo do sistema de pagamento fornecedores impopulares, como traficantes de armas ou plataformas conservadoras de mídia social. Isso representará o domínio total do comportamento humano por meio do dinheiro mundial + moedas digitais + confisco.

(Economistas, sociólogos, administradores, contadores e vários outros profissionais do terceiro mundo se sentem, muitas vezes, confortáveis num mundo acadêmico periférico de pouco valor internacional. Assim procedendo, eles terminam atuando, mesmo sem querer, como caixas de ressonância do mercado global).

Isso não é mais especulação: está acontecendo na frente de nossos olhos. A ‘Grande Reinicialização’ está chegando rapidamente. O futuro já foi criado e está aqui. 

(*) Sobre este tipo de análise, talvez fosse interessante utilizar o quadro de referência sugerido no livro Comunicação e Lutas de Classe (LIMA, Verônica. João Pessoa, Ed Shorin, 1989. 330 pg.), particularmente o capítulo que trata do chamado “Modo de Produção Capitalista Dependente de Pensar”, para discutir sobre como a sociedade em geral consegue forjar o modo de pensar de seus cidadãos, alienando-os em última instância (e conduzindo-os a uma normalização de tudo, ou seja, de uma maneira inadvertidamente acrítica).

Cumprimentos, Jim Rickards, para The Daily Reckoning

As cidades perdidas da Amazônia no Brasil


HÉLIO’S BLOG
#DivulgaçãoCientífica

A floresta tropical amazônica não é tão selvagem quanto parece

cidadesperdidas-xingu

Quando o Brasil criou o Parque Indígena do Xingu em 1961, a reserva estava longe da civilização moderna, aninhada bem no limite ao sul da enorme floresta amazônica. Em 1992, na primeira vez em que fui morar com os índios cuicuro, uma das principais tribos indígenas da reserva, as fronteiras do parque ainda ficavam dentro da mata densa, pouco mais que linhas sobre um mapa. Hoje o parque está cercado de retalhos de terras cultivadas, com as fronteiras frequentemente delimitadas por um muro de árvores.

Fonte: http://www2.uol.com.br/

Por Michael J. Heckenberger

Para muitos forasteiros, essa barreira de torres verdes é um portal como os enormes portões do Parque Jurássico, separando o presente: o dinâmico mundo moderno de áreas cultivadas com soja, sistemas de irrigação e enormes caminhões de carga; do passado: um mundo atemporal da Natureza e de sociedade primordiais. Muito antes de se tornar o palco central na crise mundial do meio ambiente como a gigantesca joia verde da ecologia global, a Amazônia mantinha um lugar especial no imaginário ocidental.

A mera menção de seu nome evoca imagens de selva repleta de vegetação respingando água, de vida silvestre misteriosa, colorida e com frequência perigosa, de um entremeado de rios com infinitos meandros e de tribos da Idade da Pedra. Para os ocidentais, os povos da Amazônia são sociedades extremamente simples, pequenas tribos que mal sobrevivem com o que a Natureza lhes oferece. Têm conhecimento complexo sobre o mundo natural, mas lhes faltam os atributos da civilização: o governo centralizado, os agrupamentos urbanos e a produção econômica além da subsistência.

Os índios cuicuros, também chamados kuikuros, cuicurus e guicurus, são um grupo indígena que habita as aldeias Ipatse, Akuhugi e Lahatuá, no sul do Parque Indígena do Xingu, no estado do Mato Grosso, no Brasil.

Em 1690, John Locke proclamou as famosas palavras: “No início todo o mundo era a América”. Mais de três séculos depois, a Amazônia ainda arrebata o imaginário popular como a Natureza em sua forma mais pura, e como lar de povos aborígines que, nas palavras de Sean Woods, editor da revista Rolling Stone, em outubro de 2007, preservam “um estilo de vida inalterado desde o primórdio dos tempos”. A aparência pode ser enganosa. Escondidos sob as copas das árvores da floresta estão os resquícios de uma complexa sociedade pré-colombiana.

Trabalhando com os índios cuicuro, escavei uma rede de cidades, aldeias e estradas ancestrais que já sustentou uma população indígena talvez 20 vezes maior em tamanho que a atual. Áreas enormes de floresta cobriam os povoados antigos, seus jardins, campos cultivados e pomares que caíram em desuso quando as epidemias trazidas pelos exploradores e colonizadores brancos europeus dizimaram as populações nativas. A rica biodiversidade da região reflete a intervenção humana do passado. Ao desenvolverem uma variedade de técnicas de uso da terra, de enriquecimento do solo e de longos ciclos de rotatividade de culturas, os ancestrais dos cuicuro proliferaram na Amazônia, apesar de seu solo natural infértil.

Suas conquistas poderiam atestar esforços para reconciliar as metas ambientais e de desenvolvimento dessa região e de outras partes da Amazônia.

O Povo da Natureza

A pessoa mais conhecida a buscar civilizações perdidas no sul da Amazônia foi Percy Harrison Fawcett. O aventureiro britânico esquadrinhou o que denominou “selvas não mapeadas”, buscando uma cidade antiga – a Atlântida – na Amazônia, repleta de pirâmides de pedra, ruas de seixos e escrita alfabética. Suas narrativas inspiraram Conan Doyle em “O mundo perdido” e talvez os filmes de Indiana Jones. O recente e empolgante livro de David Grann, The lost city of Z (Z, a cidade perdida), refez o trajeto de Fawcett antes de seu desaparecimento no Xingu, em 1925. Na verdade, cinco expedições alemãs já visitaram os xinguanos e suas terras.

cidadesperdidas-amazônia-scientificamerican

Em 1894, o livro de Karl von den Steinen, “Unter den Naturvölkern Zentral Brasiliens” (Entre os aborígines do Brasil Central), que descreveu suas expedições anteriores, tornou-se um clássico instantâneo da antropologia, ainda em desenvolvimento na época. O livro marcou o tom para os estudos do século 20 sobre os povos amazônicos como pequenos grupos isolados vivendo em delicado equilíbrio com a floresta tropical: “O povo da Natureza”. Mais tarde, frequentemente os antropólogos viram o ambiente florestal, em geral, como não propício à agricultura; a pouca fertilidade do solo parecia excluir os grandes assentamentos ou as densas populações regionais.

Por esse motivo, a Amazônia do passado parece ter sido muito semelhante à Amazônia dos tempos atuais.Porém, essa visão começou a cair por terra na década de 70, conforme os acadêmicos revisaram os relatos dos primeiros europeus sobre a região, que falavam não de tribos pequenas, mas de densas populações. Conforme o best seller de Charles Mann “1491” descreve com eloquência, que as Américas eram densamente habitadas na véspera do desembarque dos europeus, e a Amazônia não era exceção. Gaspar de Carvajal, o missionário que escreveu as crônicas da primeira expedição espanhola rio abaixo, observou cidades fortificadas, estradas largas com boa manutenção e muitas pessoas. Carvajal escreveu em seu relato de 25 de junho de 1542:

“Passamos entre algumas ilhas que pensávamos ser desabitadas, porém ao chegarmos por lá, tão numerosos eram os povoados que vieram à nossa vista… que nos afligiu… e, quando nos viram, saíram para nos encontrar no rio em mais de duas centenas de pirogas [canoas], carregando 20 a 30 índios em cada uma, e algumas até com 40… estavam enfeitados com cores e vários emblemas, e portavam várias cornetas e tambores… e em terra, uma coisa maravilhosa de ver foram as formações de grupos que ficavam nas aldeias, todos tocando instrumentos e dançando em toda parte, manifestando grande alegria ao nos ver passando pelas suas aldeias”.

A pesquisa arqueológica em várias áreas ao longo do rio Amazonas, como a ilha do Marajó na foz do rio e sítios próximos às modernas cidades de Santarém e Manaus, confirma esses relatos. Essas tribos interagiam em sistemas de comércio que se espalhavam até localidades remotas. Sabe-se menos das localidades mais próximas dos limites ao sul da Amazônia, mas um trabalho recente em Llanos de Mojos nas várzeas da Bolívia e no estado do Acre sugere que eles também apresentaram sociedades complexas. Em 1720, o guarda de fronteira Antonio Pires de Campos descreveu uma paisagem densamente habitada na cabeceira do rio Tapajós, pouco a oeste de Xingu: 

“Esses povos existem em um número tão enorme que não é possível contar seus povoados ou aldeias, [e] muitas vezes em um dia de marcha passa-se por 10 a 12 aldeias, e em cada uma há de 10 a 30 habitações, e dentre essas casas há algumas que medem 30 ou 40 passos de largura… até mesmo suas ruas, que eles fazem bem retas e largas são mantidas tão limpas que não se encontra nenhuma folha caída… Uma Antiga Cidade Murada

Quando me aventurei no Brasil, no início da década de 90, para estudar a profunda história do Xingu, as cidades perdidas nem sequer passavam pela minha mente. Eu lera Steinen, mas mal ouvira falar de Fawcett. Embora muito da vasta bacia amazônica fosse terra arqueológica desconhecida, não era provável que os etnógrafos, muito menos os xinguanos, tivessem ignorado um enorme centro monolítico se erguendo sobre as florestas tropicais.

No entanto, resquícios de algo mais elaborado que as aldeias ainda hoje existentes estavam em toda a parte. Robert Carneiro, do American Museum of Natural History, de Nova York, que morou com os cuicuro na década de 50, sugeriu que o estilo de vida organizado e a economia produtiva agrícola e pesqueira poderiam suprir comunidades muito mais substanciais, mil a 2 mil vezes maiores – várias vezes a população contemporânea de algumas centenas de indivíduos. Ele também registrou evidências de que, na realidade, a área já teve um sítio pré-histórico (designado X11 em nossa pesquisa arqueológica) cercado de imensos fossos. Os irmãos Villas Boas – indianistas brasileiros indicados para o Prêmio Nobel da Paz pela sua participação na criação do Parque do Xingu – já tinham relatado esses trabalhos no solo perto de muitas aldeias.

grafico_amazonia2

Em janeiro de 1993, logo após eu ter chegado à aldeia dos cuicuro, o principal chefe hereditário, Afukaka, me levou a uma das valas no sítio (X6) por eles denominada Nokugu, que recebeu o nome do espírito de onça que se pensa lá habitar. Passamos por moradores locais que construíam um enorme açude de peixes ao longo do rio Angahuku, já cheio devido às chuvas sazonais. O fosso, que corre por mais de 2 km, tinha 2 a 3 metros de profundidade e mais de 10 metros de largura. Embora eu tivesse a expectativa de encontrar uma paisagem arqueológica diferente da atual, a escala dessas comunidades antigas e de suas construções me surpreendeu. Os assistentes de pesquisa cuicuro e eu passamos os meses seguintes mapeando esse e outros trabalhos no solo no sítio de 45 hectares.

Desde essa época, nossa equipe estudou vários outros sítios na área, analisando mais de 30 km em linha reta em transectos através da floresta, mapeando, examinando e escavando os sítios. No final de 1993, Afukaka e eu voltamos para Nokugu, para que eu relatasse o que aprendi. Seguimos os contornos do fosso externo do sítio e paramos ao lado de uma ponte de terra, por onde costumava passar uma estrada enorme que tínhamos desenterrado. Apontei para uma antiga estrada de terra, totalmente reta, com largura de 10 a 20 metros, que levava para outro sítio antigo, Heulugihïtï (X13), a cerca de 5 km de distância. Atravessamos a ponte e entramos em Nokugu.

A estrada, margeada por meios-fios baixos de terra, abriu-se até 40 metros – largura das autoestradas modernas de quatro pistas. Percorridas algumas centenas de metros, passamos por cima do fosso interno e paramos para observar o interior da trincheira escavada recentemente, onde tínhamos encontrado uma base em forma de funil, para uma paliçada de tronco de árvore. Afukaka contou-me uma história a respeito de aldeias construídas sobre paliçadas e ataques-surpresa em um passado remoto. 

Caminhamos por trechos de floresta, arbustos e áreas desmatadas que agora cobrem o sítio, marcas de atividades variadas no passado. Saímos em meio a uma clareira gramada cercada de enormes palmeiras que marcavam uma antiga praça. Girei devagar e apontei a borda perfeitamente circular da praça, marcada por uma elevação de um metro de altura. Expliquei a Afukaka que as altas palmeiras lá se instalaram séculos atrás, a partir de jardins de compostagem em áreas domésticas.

O Monte Roraima – Uma escalada ao mundo perdido Idílico, lendário, amaldiçoado, inatingível, misterioso. Poucos locais congregam tamanha aura de fábula e mistério quanto o Monte Roraima, de 2.739 metros. Encravado no extremo norte do Brasil, na fronteira com a Guiana e a Venezuela, o Monte Roraima é uma gigantesca chapada com paredões íngremes de arenito rajado de mais de 500 metros de altura. O Roraima irrompe abrupto da Floresta Amazônica como as falésias de uma ilha num oceano verde. Quase sempre oculto pela neblina, o topo é açoitado por vendavais…

Deixando a praça para explorar as redondezas, nos deparamos com altos sambaquis, depósitos de restos, que muito se assemelhavam aos de trás da casa do próprio Afukaka. Estavam repletos de recipientes quebrados, exatamente iguais, nos mínimos detalhes, aos utilizados pelas esposas da tribo para processar e cozinhar a mandioca. Em uma visita posterior, quando escavávamos uma casa pré-colombiana, o chefe curvou-se dentro da área central da cozinha e retirou um enorme fragmento de cerâmica.

Disse que concordava com minha impressão de que o cotidiano da sociedade antiga era muito semelhante ao atual. “Você está certo!”, Afukaka exclamou. “Veja, um apoio de panela” – um undagi, como os cuicuro o chamam, usado para o cozimento da mandioca. Essas ligações fazem dos sítios dos xinguanos locais muito fascinantes, que se encontram entre os poucos assentamentos pré-colombianos na Amazônia onde a evidência arqueológica pode ser conectada diretamente com os costumes atuais. Em outros locais, a cultura indígena foi totalmente dizimada ou o registro arqueológico está disperso. A antiga cidade murada que mostrei a Afukaka era muito parecida com a aldeia atual, com sua praça central e estradas radiais, apenas as antigas eram dez vezes maiores. 

Da Oca à Organização Política

“Suntuosa” não é uma palavra que, em geral, venha à mente para descrever uma casa com um tronco central e teto de sapé. Ocidentais pensam em uma “cabana”. Mas a casa que os cuicuro erguiam para o chefe em 1993 era enorme: bem mais de 1 mil m2. É difícil imaginar que uma casa construída como um cesto gigante virado para baixo, sem uso de pedras, cimento ou pregos pudesse ficar tão grande. Mesmo a casa comum de um xinguano com 250 m2 é tão grande quanto uma casa média americana.

O que faz a casa do chefe sobressair não é apenas o tamanho, mas também a sua posição, localizada no ponto mais ao sul da praça central circular. Quando se entra na aldeia pela estrada de acesso formal, as famílias de boa posição moram à direita (sul) e à esquerda (norte). O arranjo reproduz, em escala maior, a planta de uma casa individual, cujo ocupante de posição destacada pendura a sua rede à direita, ao longo do comprido eixo da casa. A estrada de acesso corre aproximadamente de este a oeste; na casa do chefe, sua rede fica posicionada na mesma direção. Quando um chefe morre, ele também é deixado em uma rede com a cabeça voltada para o oeste.

Kuhikugu, conhecida pelos arqueólogos como sítio X11, é a maior cidade pré-colombiana já descoberta na região do Xingu na Amazônia. Abrigava mil pessoas ou mais e servia como o eixo central de uma rede de aldeias menores.

Este cálculo corpóreo básico é aplicado em todas as escalas, de ocas a toda a bacia do Alto Xingu. As aldeias antigas são distribuídas pela região e interconectadas por uma rede de estradas alinhadas com precisão. Quando cheguei pela primeira vez à área, levei semanas para mapear valas, praças e estradas usando as técnicas padrões de arqueologia. No início de 2002, começamos a usar o GPS, o que nos permitiu mapear a maior parte dos trabalhos no solo em questão de dias. Descobrimos um grau impressionante de integração regional. O planejamento parece quase determinado, com um lugar específico para tudo.

No entanto, fundamentava-se nos mesmos princípios básicos das aldeias atuais. As estradas principais correm do leste para o oeste, as secundárias se irradiam para fora do norte e do sul e as menores proliferam em outras direções. Mapeamos dois agrupamentos hierárquicos de povoados e aldeias em nossa área de estudo. Cada um consistia em um centro principal cerimonial e várias aldeias satélites grandes em posições precisas em relação ao centro.

Essas cidades provavelmente tinham mil ou mais habitantes. As aldeias menores estavam localizadas mais longe do centro. O agrupamento do norte está centrado no sítio X13, que não é uma cidade, e sim um centro de rituais, semelhante a um terreno para festividades. Dois grandes povoados murados estão distribuídos de forma equidistante ao norte e ao sul do X13, e dois povoados murados, de tamanho médio, estão em posições equidistantes ao nordeste e sudoeste.

O agrupamento do sul é ligeiramente diferente. Está centrado no X11, que é ao mesmo tempo uma aldeia e um centro de rituais, ao redor do qual estão povoados de tamanho médio e pequeno. Na área de terra, cada núcleo populacional ocupava mais de 250 km2, dos quais cerca de um quinto consistia em área central construída o que, grosso modo, é equivalente a uma pequena cidade moderna. Nos dias de hoje, a maior parte da paisagem antiga está coberta por vegetação, mas a floresta nas áreas centrais tem uma concentração distinta de certas plantas, animais, solos e objetos arqueológicos, como muita cerâmica.

O uso do solo foi mais intenso no passado, mas os vestígios sugerem que muitas práticas antigas eram semelhantes às dos cuicuro: pequenas áreas de plantio de mandioca, pomares com árvores de Pequi e campos de sapé – o material preferido para coberturas de choupanas. O campo era uma paisagem de retalhos, intercalada por áreas de floresta secundária que invadiram as áreas agrícolas não cultivadas.

Acima: A PEDRA DO INGÁ, no Brasil e suas misteriosas inscrições. A Pedra de Ingá, ou Itacoatiara, é formada por blocos de gnaisse divididos em três paineis, tendo o bloco principal dimensão de 24 metros de comprimento por 4 m de altura. Há muitos sulcos e pontos capsulares seqüenciados, ordenados, que lembram constelações, embarcações, serpentes, fetos e variados animais e simbologia ainda desconhecida em seu significado, todas parecendo o modo que os indígenas ou os visitantes de outras latitudes (ou de outros planetas) tinham para anunciar idéias ou registrar fatos e lendas, que apresenta um grande potencial turístico e cultural, entretanto explorado de maneira extremamente irregular.

Zonas úmidas, agora infestadas de buritis, a mais importante cultura industrial, preservam diversas evidências de piscicultura, como lagos artificiais, calçadas elevadas e fundações de açudes. Fora das áreas centrais, existia um cinturão verde menos povoado e até uma densa faixa florestal entre as diversas aldeias. A floresta também tinha seu valor como fonte de animais, plantas medicinais e de certas árvores, além de ser considerada a morada de vários espíritos da natureza.

As áreas dentro e ao redor de sítios residenciais estão marcadas por terra escura, egepe segundo os cuicuro, um solo extremamente fértil, enriquecido por lixo domiciliar e atividades especializadas de manejo de solo, como queimadas controladas da cobertura vegetal. Em todo o planeta o solo foi alterado, tornando-o mais escuro, mais argiloso e rico em certos minerais. Na Amazônia, essas mudanças foram especialmente importantes para a agricultura de muitas áreas, já que o solo natural é bem pobre. No Xingu, a terra escura é menos abundante em certas áreas, já que a população nativa depende principalmente do cultivo da mandioca e dos pomares, que não necessitam de solo muito fértil.

Vídeo de um ufo sobrevoando o Monte Roraima:

A identificação de grandes núcleos populacionais murados, espalhados numa área comparável à de Sergipe, sugere que havia, no mínimo, 15 agrupamentos espalhados pelo Alto Xingu. Entretanto, como a maior parte da região não foi estudada, a quantidade correta pode ter sido muito superior. A datação por radio-carbono dos sítios já escavados sugere que os ancestrais dos xinguanos chegaram à região, vindos do oeste, e começaram a modificar as florestas e a zona úmida a seu critério cerca de 1.500 anos atrás ou até antes disso.

Nos séculos que antecederam a descoberta da América pelos europeus, os sítios foram reformados, passando a compor uma estrutura hierárquica. Os registros existentes chegam apenas até 1884, portanto os padrões de povoação acabam sendo a única forma de estimar a população pré-colombiana; a escala dos povoamentos sugere uma população muito superior à atual, chegando de 30 a 50 mil indivíduos.

Cidades-Jardins da Amazônia


Há um século, o livro Garden cities of tomorrow (Cidades-jardins do futuro), de Ebenezer Howard, propôs um modelo para um crescimento urbano sustentável de baixa densidade populacional. Um precursor do movimento ecológico atual, Howard idealizou cidades interligadas como uma alternativa para um mundo industrial, repleto de cidades com arranha-céus. Sugeria dez cidades com dezenas de milhares de habitantes, que teriam a mesma capacidade funcional e administrativa que uma só megacidade. 

Vista aérea de um antigo assentamento indígena.

Os antigos xinguanos parecem ter construído esse sistema, um tipo de urbanismo de estilo verde ou protourbanismo – uma incipiente cidade-jardim. Talvez Percy Fawcett estivesse no lugar certo, mas com o foco equivocado: cidades de pedra. O que faltava aos centros em termos de pequena escala e elaboração estrutural, os xinguanos conseguiam alcançar pela quantidade de cidades e por sua integração. Se Howard tivesse conhecimento de sua existência, poderia ter-lhes devotado um trecho no Garden cities of yesterday (Cidades-jardins do passado).

O conceito comum de cidade como uma densa rede de prédios de alvenaria remonta à época das antigas civilizações dos oásis nos desertos, como na Mesopotâmia (Babilônia), mas que não possuíam as mesmas características ambientais. Não só as florestas tropicais amazônicas, como também as paisagens das florestas temperadas da maior parte da Europa medieval, eram pontilhadas por cidades e vilarejos de tamanhos similares a essas no Xingu.

Essas visões são especialmente importantes na atualidade por causa da retomada do desenvolvimento do sul da Amazônia, desta vez pelas mãos da civilização ocidental. A floresta do sul amazônico, em transição, está se convertendo rapidamente em áreas cultivadas e de pastagens. Seguindo o ritmo atual, no decorrer da próxima década a floresta se reduzirá a 20% de sua área original. Muito do que resta ficará restrito a reservas, como as do Xingu, onde os povos indígenas são os comandantes da biodiversidade restante. Nessas áreas, sob muitos aspectos, a salvação das florestas tropicais e a proteção da herança cultural indígena são partes de um só todo. 

A hipótese do Tecnofeudalismo


HÉLIO’S BLOG
#DivulgaçãoCientífica

Cédric Duran, economista francês que cunhou o termo, explica-o: domínio das mega-plataformas criou dependência e controle muito mais graves que os da era industrial. Em breve, pode não haver vida econômica fora do território dos gigantes OUTRAS MÍDIAS TECNOLOGIA EM DISPUTA

por IHU

Todos as esperavam e previam como um Messias restaurador e, ao final, surgiu um monstro. Na realidade, vivemos em um feudalismo próprio aos tempos modernos, muito distante da liberdade e a equidade prometidas pelas novas tecnologias. Sob o manto de uma retórica de progresso e inovação, esconde-se o mais puro e antigo açoite da dominação. As novas tecnologias são completamente o contrário do que prometem.

Essa é a tese de um brilhante ensaio publicado pelo pesquisador Cédric Durand: “Tecnofeudalismo: crítica da economia digital” (Technoféodalisme: Critique de l’économie numérique). Durand demonstra como, ao contrário do que circula nos meios de comunicação, com as novas tecnologias, em vez de se civilizar, o capitalismo se renovou regredindo. Instalou-se no medieval com as ferramentas da modernidade. Não deu e nem nos fez dar um salto para o futuro, mas retrocedeu e, com isso, ressuscitou as formas mais cruéis da dominação e a submissão.

O mito do Vale do Silício se derrete diante de nós: acumulação escandalosa de lucros, tecnoditadores, desigualdades sociais incabíveis, desemprego crônico, milhões de pobres adicionais e um punhado de tecno-oligarcas que acumulam fortunas jamais vistas. A tão badalada “nova economia” deu lugar a uma economia da dominação e desigualdade.

A tese do livro de Cédric Durand é uma viagem na contramão, uma desconstrução dos mitos tecnológicos: a digitalização do mundo não conduziu ao progresso humano, mas a uma gigantesca regressão em todos os âmbitos: restauração dos monopólios, dependência, manipulação política, privilégios e uma tarefa de predação global são a identidade verdadeira da nova economia.

Economista, professor na Sorbonne, Durand é um especialista da organização da econômica mundial e da dinâmica do capitalismo: empresas multinacionais, deslocalizações, globalização, cadeias mundiais de produção. Com este ensaio, sua análise irrompe no terreno de um mito tecnológico que nos consome e adestra todos os dias. Conforme demonstra nesta entrevista realizada em Paris, resta ao mito da nova economia poucas asas para continuar voando. Sua verdadeira face está aqui.

A entrevista é de Eduardo Febbro, publicada por Página/12, 24-01-2020. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

Submersa em mitos, manipulações, egoísmos e sonhos de progresso humano, quais são as verdadeiras molas da economia digital?

Possui várias dimensões. Primeiro houve o que se chamou de “a nova economia digital”, cuja ideia geral consistia em que seriam aplicadas novas regras ao funcionamento da economia, graças ao estímulo das tecnologias da informação e comunicação. A partir de 1990, esta ideia acompanhou a renovação do neoliberalismo: inovação, empreendimento e proteção da propriedade intelectual foram as ideias portadoras. Dizia-se que graças às tecnologias da informação e da comunicação, como em toda a esfera digital, haveria muitos custos que seriam anulados e disto surgiria uma nova era de prosperidade. Ocorreu completamente o contrário.

Na realidade, foi um conto que congelou a prosperidade coletiva.

Reconheço, é claro, que com o surgimento dos suportes digitais houve algo novo, mas, sobretudo, o que tento demonstrar é que, ao contrário do que se anunciou, não vimos um horizonte radiante do capitalismo, mas muito pelo contrário, uma degradação do capitalismo. A economia política digital consiste em admitir, ao mesmo tempo, o salto tecnológico e as mudanças institucionais que o acompanharam, que se resume principalmente em um: o endurecimento do neoliberalismo. O resultado de tudo isto é que não assistimos a uma nova prosperidade do capitalismo candente, mas, muito pelo contrário, a um capitalismo em processo de regressão.

Outra das perversões escondidas nessa nova economia é o aumento das injustiças nas relações sociais e, por conseguinte, uma mudança de perspectiva nessas relações. Você definiu as duas tendências como a instauração de um “tecnofeudalismo”, de uma economia digital feudal.

Sim, efetivamente. Em meu livro, demonstro que está em jogo dentro da economia digital uma reconfiguração das relações sociais. Esta reconfiguração se manifesta por meio do ressurgimento da figura da dependência, que era uma figura central no mundo feudal. A ideia da dependência remete ao princípio de que existe uma forma de adesão dos seres humanos a um recurso.

No seio do mercado, havia uma monopolização, por parte do capitalismo, dos meios de produção, mas estes meios eram plurais. Os trabalhadores precisavam encontrar emprego e, de certo modo, podiam escolher o posto de trabalho. Existia uma forma de circulação que dava lugar à concorrência. Nesta economia digital, neste tecnofeudalismo, os indivíduos e também as empresas aderem às plataformas digitais que centralizam uma série de elementos que lhes são indispensáveis para existir economicamente na sociedade contemporânea. Trata-se do Big Data, das bases de dados, dos algoritmos que permitem os processos.

Aqui, estamos diante de um processo que se autorreforça: quanto mais participamos na vida dessas plataformas, quanto mais serviços indispensáveis oferecem, mais se acentua a dependência. Esta situação é muito importante porque mata a ideia de competição. Esta dominação prende os indivíduos a este transplante digital. Tal tipo de relação de dependência tem uma consequência: a estratégia das plataformas que controlam esses territórios digitais é uma estratégia de desenvolvimento econômico por meio da predação, por meio da conquista.

Trata-se de conquistar mais dados e espaços digitais. E adquirir mais e mais espaços digitais significa ter acesso a novas fontes de dados. Entramos, aqui, em uma espécie de competição onde, ao contrário de antes, não se busca produzir com maior eficácia, mas conquistar mais espaços. Este tipo de conquista é semelhante ao feudalismo, ou seja, a competição entre Senhores, que não se manifestava na melhoria das condições, mas na luta pela conquista. Os dois elementos, ou seja, a dependência e a conquista de territórios, nos aproximam da lógica do feudalismo.

É uma lógica reatualizada por meio de suportes ultramodernos: algoritmos e predação feudal.

Efetivamente. O ponto decisivo da economia digital está em que evolui em ritmo lento. Ao contrário da lógica produtiva própria ao capitalismo, em que os capitalistas eram obrigados a investir para enfrentar a concorrência, aqui, na economia digital, paradoxalmente, ao se apoiar na lógica da predação, realiza-se uma espécie de inovação muito orientada para a conquista de dados e não para a produção efetiva.

A estagnação que caracteriza o capitalismo contemporâneo, ou seja, desemprego endêmico, retrocesso do crescimento, salários ruins, em suma, todas estas falhas econômicas estão associadas a um comportamento dentro do qual a predação se sobrepõe à produção.

Você zomba dessa ideia promovida nos meios de comunicação de que a economia digital é a expressão mais acabada de uma economia civilizada. Muito pelo contrário, é um retrocesso brutal.

Assistimos a uma regressão, a um retrocesso socioeconômico. Em vez de passar a uma forma mais civilizada, mais elaborada, mais apropriada à felicidade humana, os suportes digitais nos levam a um retorno a formas arcaicas, que acreditávamos terem sido superadas na modernidade.

Em sua obra, você aponta a substituição que ocorreu para que este arcaísmo domine tudo. Esta economia digital substituiu o consenso de Washington pelo que você chama de consenso do Vale do Silício. No entanto, essa substituição não mudou nada, pois funciona de acordo com as mesmas exigências: reformas, precarização do trabalho, o mercado, a financeirização da economia. Assim como antes!

O consenso do Vale do Silício acrescenta ao consenso de Washington uma camada adicional. A grande racionalidade do consenso de Washington consistiu em dizer que a planificação não funcionava mais porque a União Soviética fracassou. Por conseguinte, é necessário liberar os mercados. O consenso do Vale do Silício começa a ser elaborado nos anos 1990 e se cristaliza nos anos 2000, quando o neoliberalismo estava em dificuldade. A década dos anos 1990 foi uma década de crise financeira. Foi dito, então, que afirmar que o mercado funcionava espontaneamente não era suficiente.

A camada acrescentada pelo consenso do Vale do Silício consiste em anunciar que é preciso estimular os inovadores, que é necessário apoiar os empreendedores. E para isto é preciso deixar que os mercados funcionem com maior liberdade e, ao mesmo tempo, proteger os interesses dos inovadores e dos criadores de empresas. Imediatamente, foram adotadas medidas muito duras para proteger os lucros do capital, sempre com essa lógica: proteger e estimular para favorecer a inovação.

Tudo isto foi plasmado com um caldo de ideias oriundas dos anos 1970 e, depois, misturas com muito oportunismo para desembocar no que você define como um mundo do qual não podemos escapar.

Houve, para começar, uma reapropriação da ideologia californiana, uma ideologia em prol da técnica e do individual. Essa ideologia da Califórnia facilitou a retórica que depois respaldará os delineamentos do consenso do Vale do Silício. E no que concerne a este mundo que nos encerra, bom, é o mundo onde impera o Big Data, que acaba nos conhecendo melhor do que nós mesmos. A lógica da vigilância transcendendo aos indivíduos e nela há como um caminho sem saída.

Não podemos escapar desse mundo porque, individualmente, somos mais frágeis que os algoritmos. Somos dominados e guiados por eles. Não há uma solução individual para a proteção dos indivíduos diante dos suportes digitais. Ao contrário, é preciso refletir sobre o modo como, coletivamente, podemos nos emancipar deles preservando espaços da existência que não estejam totalmente dominados por este sistema. É uma discussão política e não tecnológica.

Tudo é exatamente o contrário neste universo digital. O moderno se veste de feudal. Até a aparente horizontalidade se torna um abismo vertical onde reina a desigualdade e a injustiça social e a tão promovida iniciativa pessoal de torna um monopólio espantoso.

O que observamos é que estamos em um momento de remonopolização. Enfim, o suporte digital deveria reduzir os custos e, por conseguinte, facilitar a competição, mas ocorreu o contrário. Viu-se um movimento de monopolização muito poderoso. As plataformas controlam tudo e quando algo está fora de seu controle compram as empresas que competem com elas. Monopolizam tudo. Este fenômeno de concentração faz com que as estruturas econômicas se endureçam, sejam mais rígidas em vez de arejá-las, conforme era a promessa inicial.

Isto acarreta consequências muito importantes no campo das desigualdades econômicas. As grandes cidadelas digitais são capazes de concentrar volumes de lucros consideráveis. Esses lucros são redistribuídos primeiro entre os acionistas e, depois, para um grupo de empregados. O que vemos nesta economia digital modelada pelo neoliberalismo é um aumento das desigualdades. Longe de ser um mundo de oportunidades é um mundo onde, finalmente, as polarizações se acentuaram.

O roubo de dados, a espionagem e o posterior processamento pelos algoritmos já é algo mais do que comprovado. Você acrescenta uma ideia a esta espoliação planetária: ao extrair nossos dados, estão capturando a nossa potência social.

A tendência é pensar que as empresas pegam nossos dados pessoais, individualmente. No entanto, nossos dados pessoais, como tais, isolados, não possuem valor e utilidade. Ao contrário, esses dados são úteis e se tornam uma força quando comparados aos dados de outros. Nessa comparação, nesse cruzamento de dados, aparecem traços que fazem de nós seres humanos em sociedade. Como indivíduos, somos governados por regras semelhantes.

Por fim, o que o Big Data faz é revelar essa potência social. Essa potência é inacessível individualmente para nós, mas se torna visível quando é possível observar e comparar o conjunto dos comportamentos dos indivíduos. O Big Data revela outras coisas que vão além dos que cada um de nós é capaz de ver, e que nos é restituída sob a forma de perfis por meio dos quais os comportamentos são modificados.

Assim, o Google ou a Netflix podem nos guiar segundo as nossas tendências. Mas, ao fazer isso, o que estão fazendo é reenviar algo que aprenderam do conjunto da comunidade. Precisamente, essa capacidade para remeter, reenviar para nós as informações da comunidade dos indivíduos é a que está na base do princípio de dependência que evoquei há pouco.

Estamos no coração do que você conceituou como “a renda do intangível”.

A renda do intangível significa que se somos capazes de controlar esses elementos, também podemos obter lucros econômicos, independentemente do esforço produtivo que se tenha realizado. É a própria definição da renda, ou seja, obter lucros sem esforços produtivos. Os intangíveis são os ativos como as bases de dados, as marcas, os métodos de organização, ou seja, tudo o que se pode repetir ao infinito sem custos. O tangível, por exemplo, são as ferramentas, as máquinas, etc. As produções de hoje são uma mistura de tangível e intangível.

No entanto, se separamos os proprietários do tangível dos proprietários do intangível, vemos, em seguida, que quanto mais aumenta a produção, mais os lucros do intangível está desconectado do tangível. Os proprietários do intangível fazem um esforço inicial, mas, depois, seus lucros aumentam de forma independente e sem esforço adicional. Ao contrário, os proprietários do tangível precisam continuar fazendo esforços. Na economia digital, a acumulação dos lucros favorece os intangíveis.

Contudo, ainda persistem extensos campos do tangível, por isso estamos, como você descreve, em uma viagem para um feudalismo dos tempos modernos.

Pouco a pouco, caminhamos cada vez mais para esse feudalismo. Não é ainda uma forma completa, ainda há setores e espaços sociais que escapam dessa lógica, mas a lógica do tecnofeudalismo possui uma ascensão contínua sobre nossas vidas. Curiosamente, o que tento dizer, e isto é paradoxal, é que há uma espécie de vitória paradoxal de Marx. O marxismo apostou em que o desenvolvimento das forças produtivas, o processo de modernização, conduziria a uma socialização muito importante. Sempre nos apoiaríamos uns nos outros. E com a história digital ocorre algo assim. Os espaços digitais nos conectam uns aos outros e nos tornam dependentes dos outros a um grau jamais alcançado.

A densidade dos laços dos indivíduos com a comunidade é muito forte. Mas isto não se dá da forma otimista como Marx e o marxismo pensaram. Impôs-se a figura do esmagamento. Finalmente, há um número de indivíduos muito limitado capaz de conduzir e controlar esse processo de socialização para manter sua posição dominante. A figura do esmagamento e da centralização por meio dos espaços digitais nos conduz ao lado oposto de qualquer perspectiva de emancipação. Há algo muito ameaçador em tudo isto. Não se deve subestimá-lo. É uma batalha que se inicia. Cabe às forças emancipadoras imaginar formas de socialização diferentes.

Mas como chegar a isso, se também estamos no paradoxo da obediência?

O que não fecha é a ideia de que existe uma solução individual frente a este movimento. Contudo, as pessoas não são inocentes. Há uma preocupação que se torna cada vez mais visível. O desafio consiste em encontrar soluções que passem pela intervenção política que submetam o funcionamento dessas plataformas à lógica dos serviços públicos. É preciso caminhar para isso. As plataformas desempenham, hoje, um papel político enorme. Não obstante, ainda persiste um princípio de autonomia política.

Como avançar em direção à cooperação global


HÉLIO’S BLOG
#DivulgaçãoCientífica

Este artigo faz parte da Agenda de Davos

  • As vacinas COVID-19 oferecem esperança, mas as diferenças globais permanecem.
  • A cooperação global é necessária para a recuperação de hoje e a resiliência de amanhã.
  • Um novo conjunto de princípios orientadores requer a priorização da paz e segurança, equidade e sustentabilidade.


A implantação das vacinas COVID-19 traz consigo a esperança de que o ataque do vírus cesse em breve, mas o mundo instável em que o vírus surgiu permanece. Na verdade, embora muitas das vacinas estejam provando eficácia milagrosa, elas correm o risco de exacerbar atritos e linhas divisórias geopolíticas pré-existentes. As vacinas já foram comparadas a recursos militares por sua capacidade de reforçar o poder e a influência de um país, e existe a preocupação de que as desigualdades globais estejam se tornando mais pronunciadas, já que as economias em desenvolvimento não fazem parte dela. Primeira rodada de distribuição de vacinas e têm restrições fiscais para responder às crises econômicas.

O fato de os medicamentos de ponta serem vistos através de lentes geopolíticas competitivas não deveria, infelizmente, ser surpreendente. Como a economia mundial, a saúde pública tornou-se um espaço no qual o atrito ultrapassou a cooperação. Essa evolução é parte de uma erosão ainda maior das estruturas de cooperação pós-Guerra Fria. No outono passado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, comentou sobre a resposta global fragmentada à pandemia do coronavírus, dizendo que o mundo “basicamente falhou” no que diz respeito a “cooperação, unidade e solidariedade”.

Você leu?

O problema é que a cooperação global não é um luxo; é o ingrediente necessário para a recuperação de hoje e a resiliência de amanhã. Nossas paisagens interconectadas de saúde pública, economia global e ambiente planetário único só podem ser mais fortes quando as partes interessadas trabalham umas com as outras, e não contra elas.

Então, podemos reajustar posições geopolíticas, nos afastando da competição e nos aproximando da cooperação?

Felizmente, em meio à fenda, há sinais de que os líderes estão explorando acordos multilaterais, sejam eles transatlânticos, transpacíficos ou sino-europeus. Uma vez que as sementes da cooperação estão sendo plantadas, as partes interessadas devem tomar medidas deliberadas para nutri-las no próximo ano e depois.

“A direção que devemos seguir é em direção a um maior diálogo, coordenação e ação coletiva”.—- Børge Brende

Os líderes mundiais devem aproveitar esses primeiros dias do ano para se comprometer publicamente com a formação de um novo contexto geopolítico que fomente a cooperação e a parceria. Essa proposta – um apelo à afirmação do multilateralismo – pode parecer uma prescrição fraca, dada a amplitude do que aflige o corpo geopolítico, mas a sua relativa facilidade de aplicação é precisamente o que interessa. Para os líderes articularem a importância de trabalhar juntos – em um momento em que maior unidade é claramente necessária, mas falta – pode ser um passo vital para redirecionar o ímpeto na direção certa.

Claro, a declaração por si só não é suficiente. Os líderes também devem se concentrar em identificar – e concordar – como pode ser a cooperação. Já vimos a comunidade global desenvolver estruturas construídas de propósito para a cooperação. A introdução de linhas de swap de moeda pelos bancos centrais durante a crise financeira global e o aprimoramento do G20 durante o mesmo período são os exemplos mais proeminentes e recentes de líderes que planejam estruturas de cooperação adequadas para a crise em questão.

Mas avançar para uma maior colaboração hoje não significa necessariamente que precisamos de um roteiro fixo, que pode rapidamente ficar fora de sincronia com o contexto geopolítico dinâmico e em mudança. O surgimento contínuo de novos atores globais e a natureza multifacetada dos desafios exigem uma bússola que possa continuar a guiar os líderes enquanto buscam reconstruir economias e sociedades no curto prazo e estão melhor posicionados para enfrentar os desafios emergentes que estão por vir.

Essas descobertas são baseadas nas deliberações de um grupo de aproximadamente 25 líderes dos setores público e privado que o Fórum Econômico Mundial reuniu virtualmente em 2020 como um Grupo de Ação Global. Hoje, o grupo publica um conjunto de princípios orientadores que têm como objetivo servir como uma bússola para fortalecer a parceria multilateral e com as diversas partes interessadas. Em particular, os princípios exigem que seja dada prioridade à paz e segurança, equidade e sustentabilidade, visto que cada um desses avanços e é necessário para promover a cooperação global. Ao contrário, a ausência desses elementos – na forma de insegurança, desigualdade ou insustentabilidade – é a causa e causa a fratura global.

Além disso, os princípios exigem uma maior colaboração entre os setores público e privado, uma vez que é necessário um investimento contínuo e sustentável nas prioridades de educação, saúde e infraestrutura. Novamente, o tratamento adequado dessas questões só pode ser alcançado por meio de estruturas abrangentes de cooperação, cada uma das quais pode facilitar um futuro mais saudável e cooperativo.

O fato de que esses princípios surgiram de diálogos em andamento não deve ser esquecido. Embora as limitações atuais tornem isso mais difícil, os líderes devem encontrar maneiras seguras de se encontrar e conversar uns com os outros. Uma vez que uma estrutura de cooperação frágil e estática não é adequada para os desafios atuais, uma maior cooperação e os mecanismos correspondentes para fazer avançar as prioridades econômicas, de segurança e ambientais só podem ser alcançados e sustentados por meio de um diálogo contínuo.

Em última análise, para sair da pandemia em uma posição mais forte do que aquela em que entramos e para ser mais resilientes diante dos desafios potenciais que nos aguardam, a direção que devemos tomar é de maior diálogo, coordenação e ação coletiva.

CRISE CIVILIZATÓRIA: Dowbor: o fim do capitalismo e o que virá depois


HÉLIO’S BLOG
#DivulgaçãoCientífica

Por que as antigas lógicas de dominação estão se tornando ineficazes. Como o sistema recicla-se, para explorar e oprimir por outros meios. Que brechas abriram-se para lutar por sociedades de compartilhamento, igualdade e colaboração OUTRAS PALAVRAS

por Ladislau Dowbor

Publicado 29/01/2021 às 21:23 – Atualizado 29/01/2021 às 22:14

Imagem: Rui Palha


VI. A PERDA DO CONTROLE:UMA SOCIEDADE EM BUSCA DE NOVOS RUMOS

A realidade é que tudo se acelerou de maneira dramática. O tempo social funciona em ritmos diferentes para as tecnologias, que avançam de uma maneira que nos atropela; para a cultura, que evolui de maneira muito mais lenta; e para as leis, que mudam apenas quando as transformações acumuladas estão literalmente implodindo o arcabouço legal herdado. As peças se desajustam. O Senado estadunidense convoca um Mark Zuckerberg para entender o que está acontecendo. O criador do sistema responde que não tinha ideia das implicações e pede desculpas. Bilhões de pessoas atolam num sistema cujas dinâmicas mais amplas ninguém previu, entrando como cegas num jogo arriscado. Estamos sempre atrasados relativamente aos avanços das tecnologias, tentando encontrar a posterioriregras do jogo adequadas para uma realidade que sempre se adianta. O que fazer com a uberização, ou com a invasão eletrônica da privacidade, ou com a armadilha da dívida?

Diretamente ligada às transformações tecnológicas, que desorganizam a governança da sociedade pela disritmia na mudança das diversas instâncias sociais, está a questão da globalização, termo que usamos como abreviatura de uma dramática complexidade na reorganização da base territorial da governança. Que espaço de decisão tem um governo no plano nacional quando o sistema financeiro é global? Adultos bem formados dão pulos de alegria em Wall Street, gritando “greed is good”, e se mostram surpresos quando milhões de usuários de crédito perdem as suas casas e quando bancos como Lehman Brothers fecham. A desproporção entre o volume de recursos que manejam e a sua ignorância dos impactos é impressionante. Filmes como Trabalho Interno(de 2010, dirigido por Charles Ferguson), O capital(de 2013, dirigido por Costa-Gavras), entre outros, mostram de maneira dramática ou divertida a irresponsabilidade e as dimensões caóticas do sistema. Para 850 milhões de pessoas que passam fome, para 6 milhões de crianças que dela morrem todo ano, não há nada de divertido neste caos irresponsável.

Temos tecnologias e sistemas produtivos do século XXI convivendo com cultura, instituições e leis feitas para o século passado. Temos governos nacionais para uma economia em grande parte globalizada. Em outros termos, dilema que teria interessado Karl Marx, temos uma superestrutura criada para regular a sociedade burguesa da era industrial coabitando com uma base econômica que já migrou para esfera digital. As pessoas se dão conta de que é vital para a sobrevivência de um governo e da sua política econômica a opinião formalmente declarada de três empresas privadas de avaliação de risco – Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s – , dispensando-se a opinião da cidadania? A quem pertencem essas empresas, denunciadas pela The Economistcomo oligopólio irresponsável e que definem o destino dos nossos governos?

Os desajustes são sistêmicos. A erosão planetária de governança – basta contar os governos surrealistas, a começar pelo de Trump – tem impactos catastróficos. Só os alienados não percebem que estamos destruindo o planeta, a própria base da nossa sobrevivência, e que o fazemos para o proveito do já clássico 1% de mais ricos, que apresentam a particularidade de serem improdutivos, quando não danosos. No Brasil, depois de aprovarmos um mínimo de regras de bom senso na Constituição de 1988, passamos a enfrentar uma revolta por parte de uma oligarquia que considera que os seus já indecentes privilégios não estão suficientemente contemplados. Em vez de mexer nos privilégios, mexemos na Constituição. Também se diz que os interesses dos ricos não cabem nas urnas. Entre os interesses e a democracia, para a oligarquia dos mais ricos, não há hesitação, ainda que terminem também prejudicados quando a crise se generaliza, com conflitos e recessões. A racionalidade ocupa espaços limitados no nosso cérebro quando se trata de política.

Joseph Stiglitz hoje faz figura de subversivo quando escreve um tratado do óbvio, de que temos de mudar as regras do jogo: é forte o seu Rewriting the Rules of the American Economy, que já vimos aqui, em que clama por uma prosperidade compartilhada para que o sistema volte a funcionar; o Roosevelt Institute amplia a análise com NewRulesforthe21stCentury. O PlanoB4.0, de Lester R. Brown, escancara a tragédia ambiental que criamos no planeta, clamando por um plano B justamente porque o plano A com o qual vivemos, o vale-tudo chamado de “livre-mercado” ou de “neoliberalismo”, é desastroso. Já não se contam as iniciativas como The Next System Project, nos Estados Unidos, New Economics Foundation, no Reino Unido, Alternatives Économiques, na França, e tantas outras pelo mundo. Propostas como as de Bernie Sanders, apelando para salários mais decentes e uma sociedade mais democrática, aparecem hoje como constituindo simples bom senso para tantas pessoas que entendem minimamente de política econômica. E os objetivos do desenvolvimento sustentável, os ODS, marcam claramente as reorientações que são indispensáveis ao nosso equilíbrio, mas com toda a fragilidade dos acordos baseados em muita boa vontade e poucos recursos.

É bem-vinda essa busca que hoje nos traz um manancial de novas análises. A verdade é que o que chamamos de mercado, no sentido tradicional, de muitas empresas buscando satisfazer os clientes, sujeitando-se a mecanismos de concorrência, tornou-se marginal. Assumiram os gigantes corporativos e os mecanismos de oligopólio que encontramos nas plataformas planetárias, nos tradersde commodities, na grande mídia, nos bancos, nos fundos de pensão, nos planos de saúde, nos crediários, nas seguradoras, nas telecomunicações, na indústria farmacêutica, no mundo dos agrotóxicos e em tantos outros segmentos hoje financeirizados, que não são controlados nem pelo consumidor (concorrência de mercado), nem por governos (sistemas de regulação). Continuam a se chamar de “mercados”, mas se trata claramente de um empréstimo de legitimidade, de um engodo. E os responsáveis se chamam de CEOs empresariais, quando fazem política de manhã a noite.

Muita tinta correu, muitas experiências se fizeram em torno do “livre-mercado” e do “planejamento estatal” como polos opostos de organização do desenvolvimento das sociedades. O que hoje temos não permite nem o mecanismo de equilíbrio da livre concorrência, confinada a poucos setores, nem a capacidade racionalizadora do planejamento econômico e social. O caminho, em termos amplos de governança do sistema, na minha convicção, exige a evolução para sistemas mistos e diversificados segundo os setores. Somos sociedades demasiado complexas para sermos administrados no quadro de uma ideologia simplificadora, de um lado ou de outro. Tratei dessa visão de articulação complexa de mecanismos de regulação em outro trabalho, O pão nosso de cada dia, sobre a diversificação dos processos produtivos. Marjorie Kelly, em Owning our Future, trata extensivamente das transformações do conceito de propriedade, apontando para novos rumos na linha da propriedade inclusiva. Elinor Ostrom e Charlotte Hess, em Understanding Know ledge as a Commons, nos traz excelentes análises sobre as relações de propriedade na área dos bens comuns. A China hoje adota formalmente uma articulação de diversos subsistemas de propriedade.

Não há muita previsibilidade quanto ao futuro. A partir de um certo número de variáveis que se cruzam de maneira caótica, podemos sem dúvida batalhar por formas de governança que assegurem a redefinição sistêmica dos nossos rumos, e no quadro de um mínimo de liberdade individual, mas a resultante será distante de qualquer construção racional, muito menos previsível. Em outros termos, o futuro é inseguro. O que sabemos, sim, é que, de acordo com a tendência atual, com tragédias ambientais, desigualdade explosiva e os recursos financeiros e tecnológicos servindo para tudo menos para o que é necessário, estamos indo para o que foi tão bem qualificado de slow-motion catastrophe, catástrofe em câmara lenta.

Voltando à nossa hipótese inicial, com as novas relações técnicas e sociais, e as novas formas de poder e de apropriação do excedente, surgirá um novo equilíbrio sistêmico, um outro modo de produção? As novas formas de dominação já não caracterizarão necessariamente um modo de produção capitalista, e a alternativa não será necessariamente apenas o socialismo. Ao persistirem as tendências atuais, o sentimento que emerge é o de que estamos evoluindo rapidamente para uma sociedade de vigilância, em que as tragédias sociais e ambientais serão explicadas como necessárias por um poder crescentemente desequilibrado e, por isso mesmo, mais opressivo. Essa visão pessimista se refere ao que constatamos e em nada reduz a nossa necessidade de lutar por um desenvolvimento digno para todos, e sustentável no longo prazo, transformando as ameaças em oportunidades. Como gosta de dizer Ignacy Sachs, um pessimista é um otimista bem informado.

O socialismo democrático, no seu sentido de raiz, de apropriação social e democrática dos processos do nosso desenvolvimento, segue mais concreto do que nunca. Continuar a chamar o que vivemos de capitalismo pode ser escorregadio: para muitos, o capitalismo é responsável pelo enriquecimento mundial, representando um valor essencialmente positivo. Para outros, simboliza a exploração e a destruição ambiental. O sistema que hoje enfrentamos perdeu em grande parte a sua dimensão de enriquecimento das sociedades, agrava a exploração e gera um desastre ambiental. Tornou-se essencialmente um sistema parasitário, que precisa cada vez mais de truculência para se sustentar, na mesma medida em que se torna disfuncional.

É cada vez mais difícil negar que, depois de décadas em que acrescentamos ao animal que conhecíamos – o capitalismo industrial – qualificativos como Terceira ou Quarta Revolução Industrial, capitalismo global, capitalismo financeiro e outros complementos segundo os novos formatos que o animal adquire, trata-se hoje de pensar de maneira sistêmica que outro animal é esse que está surgindo. A unidade econômica básica já não é a fábrica, é a plataforma; o produto é cada vez mais imaterial; as relações de trabalho são cada vez mais diversificadas e fragmentadas, com forte redução do trabalho assalariado; a forma de extração de mais-valia cada vez mais se centra em mecanismos financeiros de exploração; o livre-mercado como mecanismo regulador central do capitalismo está limitado a segmentos marginais; a propriedade dos meios de produção perdeu radicalmente a sua importância, são outras as formas de controle, em particular pelo sistema financeiro; o poder sobre as populações se exerce cada vez mais por meios de controle midiático, algoritmos e invasão da privacidade; o espaço dos governos, nas suas fronteiras nacionais, parece cada vez menos capaz de assegurar uma governança funcional; os sistemas jurídicos estão sendo apropriados, perdendo-se as próprias regras do jogo que nos davam uma certa segurança.

Por outro lado, os indivíduos estão munidos de conectividade planetária a partir do seu bolso; e, naturalmente, o principal fator de produção, o conhecimento, tem potencial ilimitado de acesso, argumento que já vimos várias vezes e que repito aqui pela centralidade na reestruturação da sociedade, já que muda radicalmente a base da análise econômica centrada na alocação de recursos escassos. Os próprios sistemas financeiros, na era da moeda virtual e da conectividade, abrem espaço para uma radical desintermediação. As tecnologias mais modernas, na linha do Bolsa Família e dos sistemas de microcrédito, permitem resolver de maneira radical o escândalo planetário dos nossos maiores atrasos, a fome e a mortalidade infantil, com custos que são ridículos se comparados ao desperdício de recursos e ao seu uso meramente especulativo. E podemos redistribuir o trabalho e reduzir a jornada, com mais gente trabalhando e mais gente tendo tempo para viver. Vivemos uma era de absurdas oportunidades desperdiçadas ou subutilizadas. E os processos decisórios podem, hoje, ser radicalmente democratizados, na linha das articulações horizontais em rede.

Uma pergunta essencial é o destino da chamada luta de classes. O mundo dos trabalhadores está fragmentado em setores e subsetores muito diversificados, dificultando as articulações. O operariado industrial é claramente minoritário, mesmo nos países fortemente industrializados, representando nos Estados Unidos cerca de 5% da população ativa. Com a fragmentação do mundo do trabalho, também se fragilizam os sindicatos e os partidos como instrumentos de ação política organizada. O que acontece com a “classe dominante”, hoje, o 1% de ricos improdutivos? A sua improdutividade e o entrave que representam para o progresso são uma imensa fragilidade em relação ao burguês explorador do século passado, que pelo menos produzia sapatos, pagava salários (baixos, mas pagava) e impostos: esse podia dizer que mais dinheiro para a burguesia significaria mais investimentos e mais progresso. Hoje não mais. O capitalismo hoje existente não progride, trava. É sistemicamente distorcido. O autoritarismo, na falta de legitimidade, tornou-se essencial para manter um sistema cada vez menos funcional.

A deterioração dos espaços democráticos pelo mundo afora encontra aqui boa parte da sua explicação. Esse autoritarismo se apoia, em particular, no novo e poderoso quisto de poder que temos subestimado amplamente, a “tropa de choque” dos ultrarricos, os operadores da máquina econômica e social: os economistas, advogados, gestores, informáticos que ocupam o topo da hierarquia dos processos decisórios e que mantêm o sistema deformado de hoje. São os grandes burocratas que recebem salários e bônus milionários. Thomas Piketty os apresenta como desempenhando um papel central nos desequilíbrios de renda e de patrimônio. Mas o essencial é o poder que detêm em termos de orientação do uso dos nossos recursos nos gigantes corporativos. Controlam os postos-chave, alternam-se entre conselhos administrativos de corporações e funções públicas (a chamada porta giratória, revolving door) e, na era das novas tecnologias e da gestão por algoritmos, apropriam-se de um poder absolutamente impressionante. Não se espera flexibilidade dessa nova classe média superior nem que esses privilegiados hesitem na generalização de sistemas opressivos de controle social. Pensem no poder do jovem executivo da Serasa Experian que pode nos colocar na classe de “negativados” porque enfrentamos dificuldades financeiras, privando-nos de uma série de direitos, enquanto os bancos que praticam a agiotagem nem sequer têm uma instituição reguladora (ou fictícia, como os bancos centrais ou o Banco de Compensações Internacionais).

Em geral, os nossos estudos têm se limitado a avaliar os níveis de renda e a definir, assim, uma classe média e uma classe média superior em função dos seus ganhos. Mais importante, no entanto, é entender a sua função nas engrenagens do poder, e a força articulada que essa tecnocracia representa, com postos-chave nas corporações, nos governos, no judiciário, na mídia, nos think tanks que elaboram “narrativas”. Constituem hoje um sistema articulado em diversos tipos de organizações de classe e se articulam e se sentem unidos pela convergência de interesses. A luta de classes mudou de lugar, e a tecnocracia passou a desempenhar, nessa sociedade centrada no imaterial, um papel essencial, plenamente convergente com as grandes fortunas rentistas: são, também, grandes interessados nos rendimentos financeiros. A pequena burguesia cuja análise encontramos em Marx, proprietários de meios de produção em pequena escala, difere profundamente dessa poderosa máquina de poder que hoje representa a tecnocracia, no quadro de uma economia dominantemente centrada no controle da informação e dos fluxos financeiros, estes últimos igualmente constituídos por sinais magnéticos.

O mundo dominado por corporações planetárias já não é controlado pela concorrência de mercado que, de certa forma, equilibrava o jogo e muito menos pelo sistema político que deveria assegurar os contrapesos com a chamada regulação. Temos a truculência do privado sem os freios do público. Vigoroso, planetário, descontrolado, dotado de novas tecnologias que lhe permitem uma extração radicalmente ampliada do excedente social, e que lhe asseguram formas muito mais penetrantes de controle da consciência, o mundo corporativo flexiona os seus músculos e vai direto ao prato principal: a maximização dos lucros e do poder, agora. É alta tecnologia a serviço da apropriação no curto prazo, pouco importando o desastre econômico, social e ambiental.

Ao mundo anestesiado, oferecem-se o conto de fadas do merecimento e da eficiência e a narrativa de que são os ricos que dinamizam a economia. E, como a indignação exige culpados e direcionamento do ódio, os dramas serão apresentados como culpa do Estado, nada que não se resolva com menos impostos para as corporações e com mais privatizações. O irônico é que, hoje, essas administrações públicas culpabilizadas são precisamente controladas pelas corporações. Naturalmente, em última instância, há o porrete para os que não acreditam em contos.

O animal, claramente, já não é o mesmo. Caótico e desconjuntado na sua metamorfose, mas sem dúvida outro animal. Entre fascinados e temerosos, observamos o processo, cuja dinâmica em boa parte ainda nos escapa. A vantagem de se pensar em outro sistema, ou outro modo de produção, é que podemos pensar nas novas regras do jogo necessárias em vez de nos debatermos para fazer funcionar o mundo no arcabouço antigo, com estacas e suportes improvisados, ou de batalharmos pelos direitos adquiridos no sistema anterior. As superestruturas precisam ser repensadas frente às profundas transformações na base produtiva da sociedade. Podemos sonhar um pouco?

Por exemplo, nesta era da dominância do rentismo financeiro improdutivo e da acumulação de gigantescas fortunas especulativas, precisaremos tornar obrigatória a “disclosure”, a transparência das contas, e adaptar o sistema tributário visando reorientar os recursos para atividades produtivas. Acrescentando uma pequena taxa sobre as transações financeiras, geraríamos ao mesmo tempo os recursos para investimentos produtivos e a transparência dos fluxos. Tanto a taxa Tobin sobre transações como o imposto sobre o capital financeiro descrito por Piketty apontam caminhos. Estaríamos aqui deslocando o eixo da incidência tributária.

Nesta era em que o principal fator de produção é imaterial, passível de disseminação para todos sem custos adicionais, o conceito de propriedade privada dos meios de produção, esteio jurídico do capitalismo, precisa ser deslocado para a remuneração de quem cria, mas sem travar o acesso e a reprodução por terceiros. Amplos estudos mostram que os sistemas de patentes, copyrights royalties travam a inovação mais do que a fomentam. Trata-se aqui de adequar a visão de propriedade à produtividade social. Os trabalhos de Lawrence Lessig, Jeremy Rifkin, Don Tapscott e tantos outros também apontam os caminhos.

Com a introdução acelerada de novas tecnologias que substituem a mão de obra, precisamos assegurar as regras de jogo correspondentes, um novo conceito de contrato social, combinando uma progressiva redução da jornada de trabalho e a redistribuição mais justa do direito ao emprego/trabalho, na linha das propostas de Guy Aznar e do que já está sendo aplicado em diversos países. Isso abrirá a possibilidade de uma distribuição mais justa tanto do trabalho como do acesso à renda, ao mesmo tempo que assegurará condições para uma nova geração de atividades ligadas ao uso discricionário do tempo livre, como em convívio familiar e comunitário, de cultura, esporte e semelhantes. Achar que o fato de termos mais tecnologias e, portanto, maior capacidade produtiva nos ameaça é uma bobagem: o que nos ameaça é o atraso em adequar as formas de organização do tempo e da remuneração. Viver melhor está ao alcance das nossas mãos.

Na situação explosiva mundial em termos de desigualdade, precisamos articular tanto uma renda básica universal como o acesso às políticas sociais como saúde, educação, segurança e semelhantes, de maneira a gerenciar as conturbações e inseguranças na presente transição entre a era fabril e a da sociedade do conhecimento. No Brasil, 40% da população ativa está no setor informal, “se virando” para sobreviver, cifra que atinge quase 50% na média latino-americana e até 70% na África. Esperar que as pessoas continuem aguardando o emprego não é realista. Pessoas desesperadas reagem com desespero. Trata-se de bom senso, de evitar as explosões sociais que se agravam. Em termos econômicos, a constatação simples é que o custo de se assegurar o básico para todos sai muito mais barato do que arcar com as consequências. Vamos construir mais muros nas fronteiras? O mundo tem hoje recursos amplamente suficientes para assegurar o mínimo para a sobrevivência digna para todos. A riqueza dos bilionários denota esperteza, mas não inteligência.

Na era em que a economia é em grande parte mundial, não podemos mais nos administrar, como sociedades, por meio de uma colcha de retalhos de Constituições diferentes em 193 países-membros da ONU enquanto as grandes decisões pertencem a gigantes corporativos que não obedecem a Constituição nenhuma. As regras básicas de relações internacionais precisam ser reconstituídas, pois somos o planeta Terra, não temos outro, e precisamos assegurar um mínimo de coerência global. No mundo globalizado, a ausência ou fragilidade de regras globais, mal compensadas por iniciativas como a Agenda 2030, significa a nossa destruição em prazos que atingirão em cheio os nossos filhos. O impacto destrutivo das corporações globais se dá justamente nesse vazio de governança mundial. Até quando assistiremos passivamente à liquidação do nosso futuro? A burrice dos conselhos de administração das grandes corporações é que cada membro tem a ganhar com a maximização dos resultados a curto prazo, e os seus assessores técnicos, com os bônus correspondentes. Da soma dos egoísmos não surge o altruísmo, nem mesmo uma decisão responsável. Todos os grandes bancos contribuíram para a crise de 2008. Não entendem de finanças?

Em particular, considerando o abismo de desigualdade entre países ricos e países pobres, torna-se hoje premente assegurar um novo pacto Norte-Sul, na linha do global new deal proposto pela Unctad e sistematizado em diversos documentos, inclusive o tão prenunciador Relatório Brandt, North-South: a Program for Survival. Em vez de se protegerem com muros e cercas eletrificadas nas fronteiras para excluir os pobres, os ricos deste mundo devem aplicar o básico em termos de raciocínio econômico: as necessidades dos países mais pobres constituem um imenso horizonte de expansão de investimentos, de novos mercados e mão de obra subutilizada. Uma vez mais, a política de investimentos destinados aos países mais pobres não deve ser vista pelos mais ricos como um dreno de sua riqueza, e sim como uma oportunidade para que saiam da sua estagnação. A taxação sobre as transações financeiras e o imposto sobre o patrimônio financeiro poderão servir ao cofinanciamento de uma iniciativa desse porte. E, evidentemente, não haverá solução sem que se mobilizem os mais de 20 trilhões de dólares de recursos especulativos em paraísos fiscais. O Reino Unido deu tímidos primeiros passos ao exigir, nos territórios offshore de sua responsabilidade, que pelo menos se informe a quem pertencem os capitais. Estamos nesse nível de timidez.

O mundo avança rapidamente para uma urbanização generalizada. Isso abre um imenso espaço para a apropriação das políticas de desenvolvimento pelas próprias comunidades, cidade por cidade, pois cada uma sabe melhor do que um ministro o que é mais necessário e poderá acompanhar melhor a aplicação produtiva dos recursos. Na era em que os principais eixos estruturantes da economia já não são a indústria e a agricultura, mas saúde, esporte, educação, cultura, informação, lazer segurança e semelhantes – as políticas sociais –, a sua apropriação pelas corporações, gerando custos excessivos e desigualdade de acesso, tem de ser substituída pelo acesso universal e gratuito, com gestão no nível onde vivem as pessoas, nas cidades, no quadro de políticas descentralizadas e participativas. Como vimos, isso reduz, e não aumenta, os custos. Não é com vouchers à la Ronald Reagan que se democratiza o acesso, e sim por meio de políticas locais de desenvolvimento, no quadro do empoderamento efetivo das comunidades. Os exemplos dos países nórdicos (ver Viking Economics, de George Lakey), da China (China’s Economy, de Arthur Kroeber), da Alemanha (ver o sistema de Sparkassen) e outras experiências que encontramos em The Public Bank Solution, de Ellen Brown, mostram o imenso potencial racionalizador de gestão que a descentralização do poder de decisão e dos recursos correspondentes permite.

Na era em que o essencial das nossas atividades está centrado no intangível, nos sinais magnéticos dos nossos computadores ou celulares, precisamos rever o conceito de privacidade existente nas Constituições. Hoje, é ilegal abrir a correspondência privada de uma pessoa, mas a devassa completa das nossas mensagens, fotos ou curiosidades é generalizada e utilizada para eleger políticos surrealistas, buscar vantagens comerciais, quando não para bullyinge perseguições dos mais diversos tipos. Nas novas regras do jogo, o direito à privacidade precisa desempenhar um papel central. Hoje, a nossa vida está escancarada, enquanto as atividades das pessoas jurídicas, das corporações, estão protegidas. As atividades empresariais precisam, pelo contrário, ser transparentes, pelo impacto social que geram e pelo próprio fato de serem pessoas jurídicas, enquanto a vida privada de pessoas físicas precisa ser protegida.

É viável avançarmos com propostas nesse sentido? Tudo depende, naturalmente, de relações de força. Mas estas dependem, em grande parte, da conscientização, da compreensão, por parte de camadas mais amplas da população, de como estão sendo exploradas, de maneira não só injusta mas burra, pelo travamento sistêmico e pela esterilização das imensas oportunidades que se abrem com os avanços tecnológicos e a sociedade do conhecimento. Não é sonho. Nunca subestimemos o poder das ideias. É o que tem transformado o mundo.

VII. ONTEM E HOJE: SISTEMATIZAÇÃO DAS MUDANÇAS

Para facilitar a visão de conjunto, montamos uma tabela de mudanças, um tipo de “antes e depois” que anda na moda, mas que aqui pode ajudar a apreciar a amplitude do leque de transformações. Comentaremos em um parágrafo cada eixo de mudança, cuja articulação, na hipótese que adotamos, gera uma nova configuração. Os argumentos são, sem dúvida, repetitivos em relação aos capítulos anteriores, mas o objetivo aqui é justamente facilitar a visão de conjunto.

Japão elabora plano para encontros com OVNIS

O projeto foi anunciado uma semana após os EUA liberarem e confirmarem vídeos de OVNIS feitos pela Força Aérea.

O Ministério da Defesa do Japão planeja elaborar protocolos para encontros com objetos voadores não identificados, os OVNIs. A medida vem logo após a recente decisão do Departamento de Defesa dos Estados Unidos de divulgar vídeos de aeronaves misteriosas.

Entre os protocolos, o ministério prevê desenvolver procedimentos para responder, registrar e relatar encontros com OVNIs. A preocupação das autoridades japonesas é a possível confusão que os pilotos podem demonstrar ao se deparar com algo de natureza desconhecida. 

O governo japonês teme, entretanto, que as medidas não sejam suficientes para conter os OVNIs. Por isso, neste primeiro momento, o governo vai direcionar o treinamento para pilotos das Forças de Autodefesa do país.


Segundo Kono, caças Air SDF de sete bases — localizadas de Hokkaido, no norte, até a província de Okinawa, no sul — estão sempre atentos para monitorar e identificar aeronaves de nacionalidade desconhecida.

Por que tantos norte americanos estão saindo das grandes cidades, comprando armas e estocando alimentos ?


HÉLIO’S BLOG

#DivulgaçãoCientífica


Êxodo das grandes cidades, massiva compra de armas, munições e alimentos nos EUA

 Já vimos o povo americano ficar profundamente preocupado com o futuro antes, mas nunca vimos nada parecido com isso. É definitivamente uma decisão importante na vida empacotar tudo o que você possui numa grande cidade e se mudar para outra parte do país [normalmente para o interior], mas é exatamente isso que inúmeros americanos têm feito nos últimos meses. Enquanto isso, a demanda por moradias em áreas rurais e suburbanas desejáveis ​​disparou, assim como também as compras de mais armas e munições e de estoque de alimentos.

Por que tantos norte americanos estão saindo das grandes cidades, comprando armas e estocando alimentos ?

Por Michael Snyder – Fonte: End of The American Dream

Em 2020, observamos centenas de milhares de norte americanos se mudarem, as vendas de armas quebraram todos os recordes anteriores e as pessoas estão comprando e armazenando enormes estoques de alimentos e outros artigos de primeira necessidade. 

Já vimos o povo americano ficar profundamente preocupado com o futuro antes, mas nunca vimos nada parecido com isso. É definitivamente uma decisão importante na vida empacotar tudo o que você possui numa grande cidade e se mudar para outra parte do país [normalmente para o interior], mas é exatamente isso que inúmeros americanos têm feito nos últimos meses. O WABC queria saber exatamente quantas pessoas têm feito isso na cidade de Nova York, e as informações que conseguiram obter do Serviço Postal dos Estados Unidos realmente os surpreenderam …

7 On Your Side investigou solicitando ao Serviço Postal dos Estados Unidos quantas famílias solicitaram uma mudança de endereço e se mudaram para códigos postais fora da cidade de Nova York, e os números de pessoas se mudando são grandes.

Na verdade, esses números mostram que mais de 246.000 nova-iorquinos “entraram com um pedido de mudança de endereço” apenas desde o mês de março …

No geral, desde março, mais de 246.000 pessoas entraram com um pedido de mudança de endereço. Isso é um aumento de quase 100% em comparação com o mesmo período de 2019.

É claro que as pessoas também estão se mudando de outras cidades importantes e também grandes centros em grande número, e isso criou uma enorme quantidade de apartamentos, escritórios e casas vazios que precisam ser preenchidos.

Como agora há tanta oferta e tão pouca demanda, nos grandes centros, os preços de aluguel de apartamentos estão despencando, e este tem sido especialmente o caso  na área de São Francisco , na Califórnia…

São Francisco viu os preços doa alugueis caírem mais em setembro, segundo dados do Realtor.com, com os custos de uma unidade de um quarto caindo 24,2%.

Duas outras cidades na Califórnia – San Mateo e Santa Clara – experimentaram a segunda e a terceira maior queda nos preços médios de aluguel de 25% , seguidas por Suffolk, Massachusetts e Manhattan.

Enquanto isso, a demanda por moradias em áreas rurais e suburbanas desejáveis ​​disparou. Por exemplo, estamos sendo informados de que há um “boom imobiliário impressionante” acontecendo no estado do Maine agora …

O Maine viu um boom imobiliário impressionante com os compradores de Nova York, Boston e Washington DC fugindo para terras com “pastagens mais calmas” em meio à pandemia, revoltas, saques e destruição generalizada nos grandes centros, fazendo com que os valores das casas aumentassem 17 %, a oferta atingisse uma baixa histórica e as propriedades saíssem do mercado em questão de 11 dias.

Se eu estivesse pensando em me mudar para o Nordeste, o estado do Maine seria definitivamente um dos lugares que eu consideraria. É muito bonito, o crime geralmente não é um grande problema e a densidade populacional é muito baixa. De acordo com uma corretora de imóveis, as pessoas têm telefonado e pedido a ela  “uma casa no Maine” , e ela está fazendo o possível para atender a esses pedidos.

Enquanto isso, os americanos também compram febrilmente mais e mais armas. Na verdade, o número de verificações de antecedentes que foram realizadas este ano já quebrou o recorde de todos os tempos que foi estabelecido no ano passado …

O National Instant Criminal Background Check System (NICS) do FBI – um proxy amplamente aceito – mostra um aumento de 41% na atividade durante os primeiros nove meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2019, que foi um ano recorde. Com 28,8 milhões de verificações de antecedentes até o final de setembro, o aumento deste ano já ultrapassou o recorde de 28,4 milhões do ano passado.

Enquanto outras indústrias têm lutado profundamente em 2020, a indústria de armas está tendo um ano excepcional, e muitos esperam que isso continue em 2021. Em um artigo anterior , discuti o fato de que milhões de americanos também estão focados em armazenar alimentos e artigos de primeira necessidade [baterias, remédios, combustíveis, munição, água potável, etc] agora. Na verdade, uma pesquisa recente descobriu que mais de 50 por cento dos norte americanos “já têm ou planejam estocar alimentos e outros itens essenciais” …

Um pouco mais da metade dos americanos em uma pesquisa recente do Sports and Leisure Research Group afirma que já tem ou planeja estocar alimentos e outros itens essenciais. O principal motivo: temores de uma pandemia ressurgente, que poderia levar a interrupções, assim como novas restrições às operações de empresas. Em 2 de outubro, o número de casos COVID-19 nos EUA foi o maior em quase dois meses.

Neste ponto, tantos americanos estão estocando alimentos que isso realmente causou uma séria escassez de potes Mason [popular potes de vidro para armazenamento de alimentos e outros produtos] …

COVID-19 causou escassez de moedas, madeira serrada e até latas de alumínio. Agora, adicione potes de vidro, tipo Mason Jars à lista.

De acordo com um proprietário de pequena empresa, um pacote de doze potes agora costuma ser vendido por “até US$ 70” …

“Alguns deles já custam até US$ 70 por um pacote de 12 potes e deveriam custar entre US$ 10 e US$ 12, mas nada menos que US$ 20 por uma caixa de 12 potes. Portanto, não podemos vendê-los assim, você sabe que simplesmente não pode ganhar dinheiro fazendo isso”, disse Robin Hannon, dono da Timmy Crack Corn.

Então, por que tantos norte americanos estão indo a tais extremos de repente? Bem, não há uma resposta fácil. É claro que muitos estão preocupados com as próximas eleições em 03 de novembro, mas isso vai e vem. Outros estão preocupados que a próxima onda da pandemia de coronavírus possa ser ainda pior do que a que já experimentamos, mas agora ficou claro que esse não é o tipo de pandemia que vai matar milhões de pessoas.

Algumas pessoas com quem converso acreditam que nossos problemas econômicos e, principalmente, a agitação civil em nossas principais cidades vão piorar, e eu concordo com essa avaliação. Mas isso é realmente um motivo para empacotar tudo e partir para as montanhas em terras de estados do interior do pais ?

Em última análise, acho que muitos cidadãos norte americanos entendem que tudo o que já passamos até agora é apenas a vanguarda de algo muito maior [e pior]. Quer você queira chamar de “o grande colapso”, “o colapso da sociedade” ou “a tempestade perfeita”, a verdade é que a festa está acabando, e o sistema que conhecemos do “american way of life” esta entrando em colapso.

A cada dia obtemos mais evidências de que nossa sociedade está se desfazendo bem diante de nossos olhos, e trabalho muito para documentar essas evidências para meus leitores para alertá-los. Estamos entrando em tempos que serão absolutamente catastróficos  para nossa nação e, em um nível instintivo e intuitivo, muitas pessoas sabem que isso é verdade.

Portanto, certamente não devemos culpar ninguém que queira ir para o meio do nada, comprar armas e estocar muita comida. No final das contas, a verdade é que provavelmente é o que quase todos nós deveríamos estar fazendo.

O novo livro de Michael Snyder intitulado “Lost Prophecies Of The Future Of America” ​​agora está disponível  em brochura  e  para o Kindle na Amazon. Além do meu novo livro, escrevi quatro outros que estão disponíveis na  Amazon.com incluindo The Beginning Of The EndGet Prepared Now, e Living A Life That Really Matters. (#CommissionsEarned) .

Esta imagem possuí um atributo alt vazio; O nome do arquivo é queda-imperio-norte-americano-eua.jpg

O ‘iPhone cerebral’ está a caminho


HÉLIO’S BLOG

#DivulgaçãoCientífica


está a caminho, e o controle mental pela I.A. também

As Interfaces Cérebro-Computador (ICCs) no mundo acadêmico. Interfaces Cérebro-Computador (ICCs) na indústria

O Facebook desenvolve um sistema que permite escrever apenas usando o pensamento, Elon Musk pretende dotar o cérebro de inteligência artificial … Estes são os principais “projetos neurotecnológicos” atualmente em desenvolvimento. As interfaces cérebro-computador (ICC) ou interfaces cérebro-máquina são tecnologias que estabelecem comunicação direta entre o cérebro humano e uma máquina externa, geralmente um computador ou um circuito eletrônico. Esses dispositivos podem ser usados em contextos de pesquisa, básica e clínica, ou para consumo pessoal.

O ‘iPhone cerebral’ está a caminho

Fonte:  El Pais, por Clara Baselga-Garriga

As ICCs registram a atividade neuronal direta ou indiretamente e podem ser elétricas, ópticas, magnéticas e até acústicas. Há dois tipos de ICC: invasivas e não invasivas. Dispositivos invasivos requerem neurocirurgia e são inseridos no cérebro, comunicando-se com o exterior por meio de cabos ou por um sistema sem fio. Os não invasivos não requerem cirurgia e são colocados no topo do crânio, como se fossem uma espécie de boné ou adereço de cabeça.

Por que as Interfaces Cérebro-Computador (ICCs) são importantes?

As ICCs permitem o acesso externo à atividade cerebral e sua modificação. Como os circuitos cerebrais geram a atividade mental e o comportamento humano, as ICCs podem permitir decifrar a atividade cognitiva e manipulá-la de modo seletivo. Experimentos em animais de laboratório na última década mostraram a possibilidade de mudar e manipular percepções sensoriais, a memória e os comportamentos.

Embora as ICCs tenham sido inicialmente projetadas para ajudar pacientes neurológicos com cegueira, paralisia ou outras deficiências, as não invasivas poderiam até substituir os iPhones, já que, afinal de contas, os smartphones simplesmente servem para conectar o usuário com a Internet. Com as ICCs, a largura de banda dessa conexão seria muito maior, e a conexão seria imediata, sem a necessidade de usar os dedos ou os olhos.

As Interfaces Cérebro-Computador (ICCs) no mundo acadêmico

A DARPA, a agência de pesquisa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, é a principal incentivadora do desenvolvimento da ICC, como parte da iniciativa BRAIN. Em 2017, uma equipe da Universidade Columbia recebeu uma doação de 15,8 milhões de dólares (87 milhões de reais) da DARPA para fabricar um chip de silício ultrafino e flexível (CMOS) de dois centímetros quadrados, com um milhão de eletrodos de registro neuronal e 100.000 de estimulação neuronal.

Este chip sem fio foi projetado como uma prótese para cegos, conectando diretamente seu córtex visual a uma câmera. Mas, em princípio, poderia ser implantado em qualquer área do córtex cerebral para conectá-lo a computadores e máquinas, e em pessoas que não sejam necessariamente pacientes. Atualmente este chip está sendo testado em macacos para depois passar a pacientes humanos.

A DARPA também está financiando a Universidade da Califórnia, que recebeu 21,6 milhões de dólares (119 milhões de dólares) para desenvolver um microscópio capaz de visualizar 1 milhão de neurônios e ao mesmo tempo estimular 1.000 deles com precisão máxima. A Universidade Brown recebeu 19 milhões de dólares (105 milhões de reais) da DARPA para criar “neurogrãos”, minúsculos dispositivos sem fio capazes de interagir com neurônios individuais.

Interfaces Cérebro-Computador (ICCs) na indústria

O objetivo da Neuralinkempresa de Elon Musk, é criar ICCs invasivas para ampliar a cognição dos humanos, dotando o cérebro de inteligência artificial. A Neuralink já arrecadou 158 milhões de dólares (870 milhões de reais) em financiamento e desenvolveu um robô de neurocirurgia que é capaz de inserir eletrodos no cérebro com extrema precisão, sem danificar o sistema vascular.

A Neuralink também criou um chip de 4 x 5 milímetros para implantar no córtex cerebral para ler e transmitir dados cerebrais. Este chip, em tese, poderia coletar e decodificar dados do cérebro, estimular o cérebro de maneiras específicas para controlar o comportamento. Em fevereiro, Musk anunciou que a Neuralink em breve testará sua tecnologia, implantando quatro de seus chips em humanos.

Você sempre está de mau humor sem motivo aparente? Não seria ótimo controlar suas emoções e reverter o mau humor com o toque de um botão? De acordo com um artigo recente do Tech Times , esse conceito não é apenas ficção científica; O Neuralink de Elon Musk já está trabalhando nisso.

Já a Kernel, uma empresa de neurociência fundada em 7 de maio deste ano pelo bilionário Bryan Johnson, do Vale do Silício, lançou uma nova tecnologia chamada neurociência como serviço (NaaS) para registrar a atividade cerebral de uma forma não invasiva e em pessoas andando. A NaaS é composta por um software e uma espécie de capacete que pesa menos de 1,5 quilo e é coberto com 48 módulos. O objetivo da Kernel é fornecer software portátil que não precise ser conectado a gigantescos equipamentos de laboratórios.

A Iota é uma empresa criada recentemente pelo pesquisador espanhol José Carmena e seu colega de Berkeley Michel Maharbiz Iota. Eles levantaram 15 milhões de dólares para desenvolver o “pó neuronal”, que são chips microscópicos sem fio que podem ser implantados para coletar dados de áreas específicas do sistema nervoso periférico. Uma vez inserido, o pó neural pode ser ativado por meio de um feixe de ultrassom, que passa entre os eletrodos e interage com a atividade elétrica do tecido, refletindo uma onda ligeiramente diferente. Um leitor de ultrassom pode interpretar essas mudanças de onda, convertê-las em dados precisos e registrá-las.

Facebook está desenvolvendo o projeto Thought-to-Text ou Do-pensamento-para-Texto para permitir que os consumidores escrevam diretamente apenas pensando. O objetivo é obter uma ICC não invasiva que decifre a palavra que se deseja escrever e a exiba diretamente em uma tela, sem que seja preciso pronunciá-la. Este projeto de ponta do Facebook permitiria a digitação com as mãos livres. Em 30 de março, o Facebook anunciou que estava patrocinando um grupo de pesquisadores da Universidade de San Francisco que desenvolve com sucesso um algoritmo para decodificar dados do cérebro e convertê-los em texto a uma velocidade sem precedentes e com taxas de erro mínimas.

A CTRL-Labs, liderada por Thomas Reardon, o ex-criador do Microsoft Internet Explorer, está desenvolvendo uma pulseira para conectar indivíduos com avatares digitais em um computador. A pulseira tem chips capazes de detectar descargas neuronais dos nervos dos braços. Quando uma pessoa que usa a pulseira move o braço, os impulsos elétricos dos neurônios que desencadeiam o movimento são registrados e transmitidos a um computador.

Assim que o impulso elétrico é recebido, o avatar digital na tela reflete o gesto desejado. Mas parece que essa tecnologia pode detectar o que uma pessoa está pensando quando simplesmente deseja fazer um movimento. Se assim for, o avatar na tela se moveria de acordo com os pensamentos da pessoa, mesmo que ela não se mexa. Em 2019, o Facebook adquiriu a CTRL-Labs, de acordo com fontes próximas ao negócio, por entre 500 milhões de dólares e 1 bilhão de dólares para continuar desenvolvendo este avatar digital.

– Clara Baselga-Garriga é bióloga molecular e trabalha na NeuroRights Initiative, na Universidade Columbia, em Nova York.

Fórum Mundial de Davos sugere um ‘Grande Reset’ da economia e finanças após Covid-19


HÉLIO’S BLOG
#DivulgaçãoCientífica


Após o Covid-19, o Fórum Mundial de Davos sugere um ‘Grande Reset’ da economia e finanças 

Para aqueles que se perguntam o que virá após a pandemia do COVID-19 ter encerrado com sucesso toda a economia mundial, espalhando a pior depressão desde a década de 1930, os líderes da principal “ONG da Globalização”, o Fórum Econômico Mundial de Davos [Davos World Economic Forum], acabaram de revelar os contornos daquilo que podemos esperar a seguir. Essas pessoas da Elite global decidiram usar essa crise da pandemia pelo Covid-19 como uma oportunidade para empurrar sua agenda ao planeta.

Fonte: https://journal-neo.org/2020/06/09/now-comes-the-davos-great-reset/

Por F. William Engdahl

Em 3 de junho, por meio de seu site, o Fórum Econômico Mundial de Davos (WEF) divulgou os contornos de seu próximo fórum em janeiro de 2021. Eles o chamam de “The Great Reset”. Isso implica aproveitar o impacto impressionante do coronavírus sobre o planeta para avançar uma agenda muito específica. Notavelmente, essa agenda se encaixa perfeitamente em outra agenda específica, a Agenda das Nações Unidas para 2030, emitida em 2015.

A ironia do principal fórum das grandes empresas transnacionais do mundo e sua elite corporativa de bilionários, que avançou na agenda de globalização corporativa desde os anos 90, agora abraçando o que chamam de desenvolvimento sustentável, é enorme. Isso nos dá uma dica de que essa agenda “The Great Reset” não é exatamente o que o WEF e os seus parceiros afirmam ser.

The Great Reset

Em 3 de junho, o presidente do WEF, Klaus Schwab, lançou um vídeo anunciando o tema para a reunião anual de 2021, The Great Reset. Parece ser nada menos do que promover uma agenda global de reestruturação da economia mundial em linhas muito específicas, não surpreendentemente parecida com a defendida pelo IPCC, por Greta [verde] da Suécia e seus amigos corporativos como Al Gore ou Larry Fink da Blackwater.

Interessante é que os porta-vozes do WEF estruturam a “redefinição” da economia mundial no contexto do coronavírus e o conseqüente colapso da economia industrial mundial. O site do WEF declara: “Há muitas razões para realizar uma grande redefinição, mas a mais urgente é a causada pela pandemia do COVID-19”. Portanto, a grande redefinição da economia global flui da crise gerada pela pandemia do Covid-19 e da “oportunidade” que ela apresenta.

Ao anunciar o tema para a reunião anual de 2021, o fundador do WEF, Schwab, disse, mudando de maneira inteligente a agenda: “Temos apenas um planeta e sabemos que a mudança climática pode ser o próximo desastre global, com consequências ainda mais dramáticas para a humanidade “.  A implicação é que a mudança climática é a razão subjacente à catástrofe da pandemia de coronavírus.

Para enfatizar sua agenda “sustentável” verde, o WEF tem uma aparição programada do suposto rei da Inglaterra, príncipe Charles. Referindo-se à catástrofe global pelo Covid-19, o Príncipe de Gales diz: Se há uma lição crítica a aprender com essa crise, é que precisamos colocar a natureza no centro de como operamos. Simplesmente não podemos perder mais tempo”

A bordo de Schwab e do príncipe, está o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Ele afirma: “Devemos construir economias e sociedades mais iguais, inclusivas e sustentáveis, que sejam mais resilientes diante de pandemias, mudanças climáticas e muitas outras mudanças globais que enfrentamos”. Observe sua palestra sobre “economias e sociedades sustentáveis” –  mais adiante. 

O presidente do WEF, Klaus Schwab

A nova chefe do FMI, Kristalina Georgieva, também endossou a iniciativa do “The Great Reset” planetário. Outros redefinidores do WEF incluíram Ma Jun, o presidente do Comitê de Finanças Verdes da Sociedade Chinesa de Finanças e Bancos e membro do Comitê de Política Monetária do Banco Popular da China; Bernard Looney, CEO da BP; Ajay Banga, CEO da Mastercard; Bradford Smith, presidente da Microsoft também apoiam a iniciativa do WEF de Davos.

Não se engane, a Grande [“The Great Reset”] Redefinição não é uma ideia do momento de Schwab e seus amigos. O site do WEF declara: “Os bloqueios pela pandemia do COVID-19 podem estar diminuindo gradualmente, mas a ansiedade sobre as perspectivas sociais e econômicas do mundo está se intensificando. Há boas razões para se preocupar: uma forte crise econômica já começou e podemos estar enfrentando a pior depressão desde a década de 1930. Mas, embora esse resultado seja provável, não é inevitável”. 

Os patrocinadores do WEF têm grandes planos: ”… o mundo deve agir em conjunto e rapidamente para reformular todos os aspectos de nossas sociedades e economias, da educação aos contratos sociais e condições de trabalho.  Todos os países, dos Estados Unidos à China, devem participar e todos os setores, desde petróleo e gás a tecnologia, devem ser “transformados”. Em suma, precisamos de um “Grande [“The Great Reset”] Reinício” do capitalismo“.  Isso não é pouca coisa.

Mudanças radicais sendo forjadas

Schwab revela mais da agenda que se aproxima: “… um dos aspectos mais positivos da pandemia é que ela mostrou a rapidez com que podemos fazer mudanças radicais em nosso estilo de vida. Quase instantaneamente, a crise forçou empresas e indivíduos a abandonar práticas há muito consideradas essenciais, desde viagens aéreas freqüentes a trabalho num escritório”. Estes deveriam ser revestimentos de prata?

Ele sugere que essas mudanças radicais sejam estendidas: “A agenda da “Grande [“The Great Reset”] Reinício” do capitalismo” teria três componentes principais. O primeiro direcionaria o mercado para resultados mais justos. Para esse fim, os governos devem melhorar a coordenação … e criar as condições para uma “economia das partes interessadas …”. Isso incluiria “mudanças nos impostos sobre a riqueza, a retirada de subsídios aos combustíveis fósseis e novas regras que governam a propriedade intelectual, o comércio e a concorrência “.

O segundo componente da agenda do Great Reset garantiria que “os investimentos promovam objetivos compartilhados, como igualdade e sustentabilidade”. Aqui, o chefe do WEF afirma que os recentes orçamentos enormes de estímulo econômico da UE, EUA, China e de outros países devem ser usados ​​para criar uma nova economia “mais resiliente, eqüitativa e sustentável a longo prazo. Isso significa, por exemplo, construir infra-estrutura urbana ‘verde’ e criar incentivos para que as indústrias melhorem seu histórico de métricas ambientais, sociais e de governança (ESG) . ”

Finalmente, a terceira etapa deste Great Reset estará implementando um dos projetos de estimação de Schwab, a Quarta Revolução Industrial: “A terceira e última prioridade de uma agenda do Great Reset é aproveitar as inovações da Quarta Revolução Industrial para apoiar o bem público, especialmente abordando os desafios sociais e de saúde. Durante a crise do COVID-19, empresas, universidades e outras se uniram para desenvolver diagnóstico, terapêutica e possíveis vacinas; estabelecer centros de teste; criar mecanismos para rastrear infecções; e fornecer telemedicina. Imagine o que seria possível se esforços semelhantes fossem feitos em todos os setores . ”  A Quarta Revolução Industrial inclui biotecnologia de edição de genes, telecomunicações 5G, Inteligência Artificial e similares.

Agenda 2030 da ONU de 2015 e o grande reinício

Se compararmos os detalhes da Agenda 2030 das Nações Unidas para 2015 com o Great Reset do WEF, encontramos as duas coisas muito bem. O tema da Agenda 2030 é um “mundo sustentável”, definido como aquele com igualdade de renda, igualdade de gênero, vacinas para todos sob a batuta da OMS e a Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), lançada em 2017 pelo WEF juntamente com a fundação Bill & Melinda Gates Foundation.

Em 2015, a ONU emitiu um documento, “Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. A administração Obama nunca a submeteu ao Senado dos EUA para ratificação, sabendo que ele falharia. No entanto, agora está sendo avançado globalmente. Inclui 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estendendo uma Agenda 21 anterior. Os 17 incluem “acabar com a pobreza e a fome, em todas as suas formas e dimensões … para proteger o planeta da degradação, inclusive por meio de consumo e produção sustentáveis, administrando de maneira sustentável seus recursos naturais e adotando ações urgentes sobre as mudanças climáticas …” crescimento, agricultura sustentável (OGM), energia moderna e sustentável (eólica, solar), cidades  sustentáveis , industrialização sustentável … 

A palavra sustentável é a palavra-chave, virou um mantra sagrado. Se nos aprofundarmos, fica claro que é uma palavra de código para uma reorganização da riqueza mundial por meios como impostos punitivos sobre o carbono que reduzirão drasticamente as viagens aéreas e de veículos. O mundo dos países menos desenvolvido não chegará ao mundo dos países mais desenvolvidos, pelo contrário, as civilizações avançadas devem cair em seus padrões de vida para se tornarem “sustentáveis”.

Maurice Strong

Para entender o uso duplo do mantra sagrado, a palavra “sustentável”, precisamos voltar a Maurice Strong, um bilionário petroleiro canadense e amigo íntimo de David Rockefeller, o homem que desempenhou um papel central nos anos 70 pela ideia de que as emissões de CO2 provocadas pelo homem estavam tornando o mundo insustentável. Strong criou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e, em 1988, o Painel Intergovernamental das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (IPCC) para estudar exclusivamente as emissões do CO2 produzido pelo homem.

Em 1992, Strong declarou: “Não é a única esperança para o planeta que as civilizações industrializadas colapsem?  Não é nossa responsabilidade fazer isso?” No Rio Earth Summit Strong [Cúpula da Terra no Rio, em junho de 1992], no mesmo ano, ele acrescentou: “Os estilos de vida atuais e os padrões de consumo da classe média abastada – envolvendo alto consumo de carne, uso de combustíveis fósseis, eletrodomésticos, ar condicionado e habitações suburbanas – não são sustentáveis .” 

A decisão de demonizar o CO2, um dos compostos mais essenciais para sustentar toda a vida no planeta, humana, animal e vegetal, não é aleatória. Como o professor Richard Lindzen, físico atmosférico do MIT, afirma: “O CO2 para diferentes pessoas tem diferentes atrações. Afinal, o que é isso? – não é um poluente, é um produto da respiração de todos os seres vivos, é o produto de toda a respiração das plantas, animais e é essencial para a vida e a fotossíntese das plantas, é um produto de toda queima industrial, é um produto da condução – quero dizer, se você sempre quis um ponto de alavancagem para controlar tudo, da expiração à direção, isso seria um sonho. Portanto, tem um tipo de atratividade fundamental àmentalidade burocrática.”

Para que não esqueçamos, o curiosamente oportuno “exercício de pandemia” de Nova York, o Evento 201 de 18 de outubro de 2019 foi co-patrocinado pelo Fórum Econômico Mundial e pela Fundação Bill & Melinda Gates. Foi baseado na idéia de que “é apenas uma questão de tempo até que uma dessas epidemias se torne global – uma pandemia com consequências potencialmente catastróficas. Uma pandemia severa, que se torna o “Evento 201″, exigiria cooperação confiável entre várias indústrias, governos nacionais e instituições internacionais importantes”.

O Cenário do Evento 201 postulou, “surto de um novo coronavírus zoonótico transmitido de morcegos a porcos para pessoas que eventualmente se torna eficientemente transmissível de pessoa para pessoa, levando a uma pandemia grave. O patógeno e a doença que causa são modelados em grande parte na SARS, mas são mais transmissíveis na comunidade por pessoas com sintomas leves.”

A declaração do Fórum Econômico Mundial para fazer uma grande redefinição planetária é, para todos os indícios, uma tentativa mal disfarçada de avançar o modelo distópico “sustentável” da Agenda 2030, um “New Deal Verde” global após as medidas pandêmicas por causa do Covid-19. Seus laços estreitos com os projetos da Fundação Bill & Melinda Gates, com a OMS e com a ONU sugerem que em breve enfrentaremos um mundo muito mais sinistro depois que a pandemia do Covid-19 desaparecer.

F. William Engdahl é consultor de risco estratégico e palestrante, é formado em política pela Universidade de Princeton e é um autor best-seller sobre petróleo e geopolítica, exclusivamente para a revista on-line  “New Eastern Outlook”.

Esta imagem possuí um atributo alt vazio; O nome do arquivo é coronavirus-economia-global.png

“É preciso apagar a ideia de que reduzir a desigualdade é coisa de comunista”


HÉLIO’S BLOG
#DivulgaçãoCientífica

Ex-economista do Banco Mundial, Martin Ravallion agora dá aulas em Georgetown. De família humilde, sofreu em primeira pessoa o impacto da pobreza antes de lutar contra ela

IGNACIO FARIZA

Martin Ravallion, fotografado em um hotel da Cidade do México.
Martin Ravallion, fotografado em um hotel da Cidade do México.GLADYS SERRANO

Uma hora de conversa com Martin Ravallion (Sidney, 1952) é o mais parecido a um livro de macroeconomia aberto em duas páginas: a da desigualdade e a das falhas do capitalismo do século XXI. Pai da tabela de um dólar (4 reais) diário como linha global de pobreza quando era economista do Banco Mundial — onde anos depois dirigiu seu prestigioso grupo de pesquisa para o desenvolvimento —, é desde 2013 professor da Universidade Georgetown (EUA). Ravallion, instalado há anos entre os 100 economistas mais reconhecidos do mundo de acordo com a classificação do Ideas-Repec, sabe bem o significado da desigualdade: nasceu em uma família pobre, sofreu na própria carne o que significa viver com dificuldades e decidiu que “não queria ser pobre” nunca mais, como disse quando recebeu o prêmio Fronteiras do Conhecimento BBVA, em 2016. “Todos os meus papers são muito chatos”, diz rindo ao EL PAÍS pouco depois de dar uma conferência organizada pela Oxfam no Colégio do México. Não é verdade: o australiano é um dos especialistas que melhor explicam, com palavras ao alcance de todos, por que a iniquidade é um dos grandes problemas globais de nosso tempo.

Pergunta. A pobreza extrema caiu bastante nas últimas décadas, mas a desigualdade ofuscou essa boa notícia.

Resposta. A desigualdade global, entendida como aquela entre todos os habitantes do planeta e em termos relativos, também caiu. Não tanto como a pobreza, mas caiu. E isso é algo que costuma confundir as pessoas.

P. Cito um recente estudo do Banco Mundial, que o senhor conhece bem: “A queda na taxa de pobreza desacelerou, aumentando dessa forma a preocupação sobre a consecução do objetivo de acabar com a pobreza extrema em 2030”. O que está acontecendo?

R. Parte disso tem a ver com a desaceleração (econômica) na África e com o fato de que a redução da pobreza teve a ver em boa medida com o boom das matérias-primas, que se deteve. Mas são coisas que flutuam, e acho que não deveríamos ver isso como um grande problema: estamos no caminho, desde que não ocorra outra crise financeira global, para cumprir com o objetivo do próprio Banco Mundial de diminuir a 3% a pobreza extrema global em 2030. Ainda que, claro, não sou isento porque colocar esse número foi uma das últimas coisas que fiz no Banco Mundial (risos). Se traçarmos como meta o objetivo de desenvolvimento sustentável (das Nações Unidas) de “eliminar a pobreza” chegando a 0%, isso não ocorrerá sem uma grande mudança nas políticas: ao ritmo atual levará 200 anos.

P. Mas mesmo eliminar a pobreza extrema não quer dizer que deixarão de existir milhões de pessoas em situação de miséria.“Gostaria que o capitalismo funcionasse para todo mundo. Não vejo isso acontecer”

R. De forma alguma. A linha de 1,90 dólares (7,5 reais) por dia é realmente baixa: imaginemos o pouco que se pode comprar com essa quantidade.

P. A desigualdade irrompeu na agenda, mas fala-se o suficiente dela?

R. Não, deveríamos falar mais e fazê-lo de maneira mais específica. Devemos nos centrar menos nas estatísticas e mais em aspectos concretos que possam atrair a atenção (da sociedade) e nos mobilizar à ação. Ainda que a desigualdade atraia maior atenção, a pobreza sempre dominou o debate. “Pobreza” é uma palavra popular e “desigualdade” não, mas, em parte, isso está mudando: a pobreza está se transformando em uma questão respeitável na literatura acadêmica e a sociedade é cada vez mais consciente.

P. A evolução recente na América Latina deve nos preocupar?

R. Sim. A situação da pobreza é muito melhor do que em outras regiões, como a África subsaariana, mas sua evolução está sendo pior. A desigualdade na América Latina é muito alta e isso é um problema, tanto ao crescimento econômico como à luta contra a pobreza. E a falta de consenso em relação a esse ponto é um grande problema: há muita complacência e muita falsa retórica. Toda a desigualdade é sempre ruim? Não, não é verdade. Há níveis de desigualdade que são positivos em termos de incentivos, ao crescimento e à própria redução da pobreza. Mas esse grau de desigualdade, como a desigualdade racial e de gênero, é inaceitável e devemos construir um consenso em torno disso.

P. Como?

R. É preciso mostrar mais às pessoas como a desigualdade é custosa. Não é somente ética e moralmente repulsiva: também é uma má notícia ao crescimento econômico. Se a desigualdade não é bem gerida não ocorre muito crescimento e não será possível aproveitar seus benefícios. Tudo está conectado.

P. Há um consenso quase total em torno à ideia de que a pobreza é negativa e deve ser combatida, mas não existe o mesmo consenso em relação à desigualdade. Por que alguns ainda veem na desigualdade um catalisador do crescimento?

R. Muita gente apela à ideia de que em um mundo sem desigualdade não haveria incentivos e, como dizia, há uma certa verdade nessa afirmação. Mas o objetivo não deve ser a desigualdade zero, e sim a pobreza zero. O objetivo deve ser um nível de desigualdade manejável, aceitável, que não se perpetue. Continuam existindo economistas que não prestam atenção às questões de distribuição de renda: nunca será possível fazer com que todos os economistas da academia concordem em algo. Mas não acho que alguém possa consultar a literatura disponível hoje e discordar do fato de que a desigualdade é um freio ao crescimento. Há 15 ou 20 anos, a maioria dos economistas pensava unicamente na eficiência e dizia que a desigualdade era positiva ao crescimento: novamente, depende dos níveis de desigualdade de que estamos falando, mas agora já são poucos. É significativo que o livro de economia mais vendido de todos os tempos seja um sobre desigualdade, O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty.“Continuam existindo economistas que não prestam atenção à distribuição de renda”

P. Qual seria a desigualdade “aceitável”?

R. Não sei: sabemos quando é muito alta, como em muitos países latino-americanos hoje, e quando é muito baixa, como na extinta União Soviética, na China anterior aos anos oitenta. E quando nos movemos na direção correta.

P. Pensemos em um índice como o de Gini. Em que ponto deveria estar a iniquidade para que fosse “manejável”?

R. Não focaria tanto nos índices, e sim nas causas: é preciso existir boas condições de saúde, creches e escolas decentes, os jovens devem poder estudar na Universidade e desenvolver todo o seu potencial… Essas são as coisas que verdadeiramente importam: é preciso focar mais nas políticas do que nos índices e nas taxas. Também apagar a ideia de que querer reduzir a desigualdade é coisa de comunista: eu gostaria que o capitalismo funcionasse para todo mundo. E não vejo isso acontecer.

P. A pergunta de um milhão: como podemos fazer com que o capitalismo funcione para todos?

R. Principalmente, assegurando que o campo de jogo fique muito mais nivelado: tentando minimizar a desvantagem das crianças que nascem em famílias pobres. E isso requer uma intervenção a partir das menores idades: precisamos de políticas que corrijam essa iniquidade desde o começo.

P. Mas acha possível um capitalismo que funcione para todos.

R. Sem dúvida. Não disseram que o capitalismo é uma ideia terrível, mas melhor do que as outras? Não adoro o capitalismo, mas acho que não há nenhum outro sistema que possa se equiparar à economia de mercado. Dito isto, o capitalismo de hoje não é o mesmo do qual falava Adam Smith: se tornou menos competitivo e muito mais dominado por monopólios. Deveríamos nos preocupar por isso: como é a concorrência na indústria tecnológica, por exemplo? As coisas que um capitalismo verdadeiramente competitivo pode conseguir são incríveis, mas para isso precisamos nos assegurar de que a concorrência se mantenha e que se lide bem com a desigualdade. E para isso são necessárias boas políticas.

P. Aprendemos com os erros de políticas públicas cometidos no passado?

R. Não. É muito frustrante ver a falta de atenção dada à avaliação das políticas. Em parte, porque quase todos os políticos não querem escutar que seus programas não funcionam bem e em parte porque muitas vezes os programas são muito inflexíveis. Avançamos muito nos programas de avaliação de impacto desses planos nos últimos 20 anos, mas o maior desafio é que isso chegue ao processo político. 

NEGÓCIOS AMERICANOS NO BRASIL. LOBISTAS DO GOP AJUDAM O BRASIL A RECRUTAR EMPRESAS DOS EUA PARA EXPLORAR A AMAZÔNIA


Por que as queimadas na “Amazônia desmatamento e super exploração dos garimpos clandestinos, a bio pirataria?”

HÉLIO’S BLOG
#DivulgaçãoCientífica

NESTE VERÃO, (passado) incêndios estão sendo usados ​​para limpar vastas áreas da Amazônia a uma taxa sem precedentes. Um quinto da Amazônia já foi destruído nos últimos 50 anos; uma maior industrialização da floresta tropical corre o risco de destruir outro quinto, uma perda que  seria catastrófica para o ecossistema global.

O desastre é amplamente atribuído a interesses que procuram limpar a maior floresta tropical do mundo para a pecuária, a mineração e o agronegócio focado nas exportações. Documentos revelam que esses interesses estão sendo incentivados nos EUA por lobistas republicanos, amigáveis ​​com o governo do presidente Donald Trump, que iniciaram conversas com o governo brasileiro para promover o investimento corporativo na Amazônia.RelacionadoNas linhas de frente da guerra de Bolsonaro na Amazônia, as comunidades florestais brasileiras lutam contra a catástrofe climática

A crise na Amazônia ocorre quando o Brasil agora é governado por um governo hostil às preocupações ambientais e às comunidades indígenas. O presidente Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército que já foi visto como uma figura marginal na política brasileira, se referiu a  ele  como “Capitão Motosserra” por sua iniciativa de promover a extração de madeira e o agronegócio na Amazônia.

Logo após assumir o cargo em janeiro, Bolsonaro  reduziu em 24% o financiamento da principal agência ambiental do Brasil. E nesta semana, depois que um relatório do centro de pesquisa espacial do Brasil revelou que os incêndios na Amazônia subiram 83% este ano, Bolsonaro culpou os incêndios por ONGs internacionais em vez de por suas próprias políticas anti-ambientais.

ENQUANTO ISSO, UM MEMBRO  do governo brasileiro contratou lobistas de Washington para continuar vendendo terras e destruindo a floresta.

Em junho, Wilson Lima, governador do estado do Amazonas, uma província do noroeste do Brasil que governa aproximadamente um terço da Amazônia, incluindo o epicentro da atual crise de incêndios florestais,  começou a trabalhar com o Grupo Interamerica, em Washington, DC– A empresa de lobby fundada por Jerry Pierce Jr. Kellen Felix, brasileira e vice-presidente do Grupo Interamerica, também está listada em um documento de divulgação de trabalho com o estado do Amazonas. Lima, eleito no ano passado, é membro do PSC, um partido conservador afiliado à Assembléia de Deus, uma igreja pentecostal em rápido crescimento no Brasil.

Os registros iniciais, divulgados sob a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros pelo Departamento de Justiça, que regulamenta o lobby estrangeiro, mostram que Pierce foi escolhido para representar o governo de Lima em reuniões com agências federais e o Congresso.

O Grupo Interamerica também já registrou um  pacote informativo  montado para empresas americanas em nome do governador brasileiro, promovendo a região amazônica por seu potencial de desenvolvimento. O pacote lista a mineração, o agronegócio e a “Indústria Química de Gás” como “Oportunidades” para empresas americanas – entre os “Desafios” para essas empresas em potencial é “Garantir a Conservação Florestal”.6687 Materiais informativos 20190605 133 páginas

Em resposta a uma pergunta do The Intercept, Pierce disse que um contrato final não foi assinado. “Infelizmente, o estado da Amazônia decidiu adiar a contratação de nossa empresa por tempo indeterminado. Talvez seja revisitado em 2020 ”, escreveu Pierce. Ele não respondeu a uma pergunta sobre por que sua empresa já estava produzindo comunicações em nome do governo de Lima.

Pierce escreveu extensivamente sobre como Trump e Bolsonaro são uma benção para o aumento dos negócios americanos no Brasil. “Sob um presidente Trump”, escreveu Pierce em 2017 no  blog  de sua empresa, o Brasil se tornaria “um líder mundial em setores como agronegócio, mineração, bancos e aviação”. Em posts mais recentes , Pierce comemora a ascensão de Bolsonaro de direita, declarando: “Donald Trump abriu o caminho para uma vitória de Bolsonaro”.

Pierce também atuou anteriormente como funcionário do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano durante a administração de George HW Bush, e foi um importante arrecadador de fundos do Presidente George W. Bush. Sob George W. Bush, ele alcançou o status de “Pioneiro”, um elogio dado aos apoiadores que levantaram pelo menos US $ 100.000 para as campanhas de Bush. Em 2009, Pierce se declarou culpado de fazer “contribuições ilegais” de conduítes, um termo que se refere às contribuições de campanha feitas com o nome de outra pessoa. Ele cumpriu três anos de liberdade condicional.

Imagens nas  mídias sociais  mostram Pierce, Felix e outros funcionários do Interamerica Group aparecendo , na descrição de Pierce, com membros do governo do presidente Donald Trump e em eventos conservadores do movimento, incluindo a convenção do CPAC e a Turning Point EUA .Inscreva-se na nossa NewsletterRelatórios originais. Jornalismo destemido. Entregue a você.estou dentro

Lima não é a única autoridade regional a estabelecer laços com políticos favoráveis ​​a Trump.

O Intercept informou anteriormente que o antecessor de Lima, o governador Amazonino Mendes, assinou um controvertido contrato de US $ 1,6 milhão com a Giuliani Safety & Security, uma empresa de consultoria afiliada a Rudy Giuliani, agora advogado de Trump. O estado do Amazonas lutou com a pobreza persistente, o contrabando de drogas e o crime – problemas que Mendes prometeu resolver através do contrato com a empresa de Giuliani.

As discussões com o Interamerica Group estão entre os muitos laços americanos com a expansão dos negócios na Amazônia. Em abril, a Câmara de Comércio Brasil-Americana, um grupo comercial que representa os principais interesses bancários e de commodities, realizou um evento sobre como os investidores americanos podem tirar proveito do agronegócio brasileiro no atual clima político.https://o.prod.theintercept.com/checkout/template/show?displayMode=inline&containerSelector=%23third-party–article-bottom&templateId=OTH1FH2KEDAT&templateVariantId=OTVOGINWAES0O&offerId=fakeOfferId&showCloseButton=false&trackingId=%7Bjcx%7DH4sIAAAAAAAAAI2QzXKCMBRG3yVr4yQhIciOUaxQf2qL6LhLQ5BURApB7XT67kVr23Gmi97dved83-K-A6ET4IKsXr_tveUu8EEHlGKjYq2OwZkQRBBEFGIbIgcSDimHFsKwFxph-8bEaGqNxuMEKuZgh3FpE8p7xMYotVGaUOb0qIMJl22xOpWq0qqQ6lLtrx4mYTRnqzDwbqh_UrIxel9cNOwgRyqEUglRO6SWZK9f08P2meZZzhJdNGR7k_fkT7jO9sdI7cpcGDUJ47kX9wd8Me4T2iYyUX8z4JqqUR1grvslPItGeDgi9_7Ai8Avi0WlRWGuSjy7C6ZLz39Cs9aRYlcKvSlq4BZNnnfAQdf6Sz3Av3_JoORW_LKo_fXwMZpqPv3PL3XZVjLSpayLKe0STNpjU6vK26jCtCw5njVjcuBi5nBMrLbo4xPjZq3o8QEAAA&experienceId=EXPMJTQ5XJIA&tbc=%7Bjzx%7D1N9UP0ZLlv4NEs7p2wR-wPRDcCUxet7micrjZUnpRHrWgNXjzZWkyF_48vo07MktRX50itiC6Z1VdYUPEtriac21bVPVuJ04VEvXx9Mz-ATOJ4Vn5TNO17E7G6Dg2waemNGFpLgWa27oG7LY0wdcfw&iframeId=offer-0-yprUj&url=https%3A%2F%2Ftheintercept.com%2F2019%2F08%2F23%2Fgop-lobbyists-help-brazil-recruit-u-s-companies-to-exploit-the-amazon%2F&parentDualScreenLeft=0&parentDualScreenTop=0&parentWidth=1200&parentHeight=620&parentOuterHeight=722&aid=hsZyoAWmIE&tags=Day%3A+Friday%2CTime%3A+10.00%2CMedium%2CPage+Type%3A+Article%2CCollection%3A+Climate+Crimes%2CSubject%3A+Environment%2CSubject%3A+World%2CPartner%3A+Factiva%2CPartner%3A+Medium%2CPartner%3A+Smart+News%2CPartner%3A+Spoken+Layer%2CPartner%3A+Uproxx%2CLanguage%3A+English%2CSite%3A+The+Intercept&contentSection=Series&contentAuthor=Lee+Fang&contentCreated=2019-08-23T17%3A43%3A59.000Z&pageViewId=2020-04-16-08-27-47-301-9Jta6EttV0N3HLLd-e581857c624792610f60fd458948127c&visitId=v-2020-04-16-08-27-47-305-c73VjUsEZFRTNi7N-e581857c624792610f60fd458948127c&pianoIdUrl=https%3A%2F%2Fid.tinypass.com%2Fid%2F&userProvider=piano_id&userToken=&customCookies=%7B%7D&hasLoginRequiredCallback=true&width=686&_qh=a8ffbe9360

ENTRE EM CONTATO COM O AUTOR :

Lee Fang

https://theintercept.com/2019/08/23/gop-lobbyists-help-brazil-recruit-u-s-companies-to-exploit-the-amazon/