Seu cérebro sob o efeito da pseudociência: a ascensão da neurobobagem popular
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Neurobobos
Praga do neurocientificismo lota cada vez mais as livrarias (Reprodução/Internet)
Seu cérebro sob o efeito da pseudociência: a ascensão da neurobobagem popular
As prateleiras de “neurociência” das livrarias estão em polvorosa, mas o trabalho de autores como Malcom Gladwell e Jonah Lehrer são apenas livros de autoajuda que usam jalecos?
Uma pestilência intelectual se abate sobre nós. As prateleiras das livrarias estão entupidas de livros que prometem explicar, por meio de estudos de imageamento cerebral bonitinhos, não apenas como o pensamento e as emoções funcionam, mas os mecanismos da política e da religião, bem como respostas a controvérsias filosóficas milenares. As exuberantes conquistas das pesquisas do cérebro são rotineiramente obrigadas a responder perguntas para as quais não foram criadas para responder. Trata-se da praga do neurocientificismo – também conhecido como neurobaboseira, neurobobagem ou neurolixo – e ela está em todos os lugares.
É possível literalmente tropeçar sobre volumes que prometem “que os mistérios mais profundos do que nos torna quem nós somos está gradualmente sendo elucidado” pela neurociência e psicologia cognitiva. (Até cientistas praticantes às vezes fazem afirmações grandiosas para o seu público, talvez atendendo à pressão de seus editores). Em geral, a explicação “neural” se tornou o padrão áureo para a exegese de não ficção, adicionando a sua própria marca composta por um coletivo de elementos de jaleco e estudos auxiliados por computadores a todo um novo setor de charlatanismo intelectual que pretende desvendar até mesmo fenômenos socioculturais complexos.
Um novo ramo do gênero neurociência-explica-tudo pode ser criado a qualquer momento pelo simples expediente de adicionar o prefixo “neuro” a qualquer assunto sobre o qual você esteja falando. Assim, a “neuroeconomia” é a mais recente de uma longa lista de tentativas retóricas de vender ciência incompetente como ciência de verdade; a “gastronomia molecular” foi agora superada pelos princípios da cientificação da gula conhecida como “neurogastronomia”; os estudantes estão fazendo “neuropolítica”; acadêmicos de literatura praticam a “neurocrítica”. Há também a “neuroteologia”, “neuromagia” e até o “neuromarketing”.
A iluminação é prometida em um nível tanto pessoal como político pelo iluminismo de araque do setor da neurologia popular. Como eu posso me tornar mais criativo? Como eu posso tomar decisões melhores? Como eu posso ser mais feliz? Mais magro? Não tema: as pesquisas do cérebro têm as respostas. Trata-se de autoajuda revestida de ciência séria. Os conselhos são o gancho para quase todos livros desse tipo. Em uma época autocongratulatória e igualitária, não é mais possível dizer às pessoas que se aprimorem moralmente, de modo que o autoaperfeiçoamento é ensinado em termos instrumentais e cientificamente aprovados.
Diz-se que o cérebro humano é o objeto mais complexo do universo conhecido. O fato de que parte dele “acende” em uma imagem de fMRI não quer dizer que o resto está inativo; nem é óbvio o que exatamente é indicado pelo acendimento dessas partes; assim como também não é simples inferir lições de vida a partir de experimentos conduzidos sob condições altamente artificiais. Também não temos a mínima ideia a respeito do maior mistério de todos – como pode um bolo de massa cinzenta produzir a experiência consciente que você está tendo agora mesmo ao ler esse parágrafo? Como pode o cérebro engendrar a mente? Ninguém sabe.
Sob esse ponto de vista, é possível fazer um humilde diagnóstico preliminar a respeito do erro intelectual crônico dos picaretas pop do cérebro: estes equivocadamente presumem que nós sempre sabemos como interpretar tais informações “ocultas”. Os mascates do neurocientificismo são os teóricos da conspiração do animal homem.
Fontes:New Statesman-Your brain on pseudoscience: the rise of popular neurobollocks
Oi mães, oi pai
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Terapia genética
Oi mães, oi pai
Uma técnica voltada para a eliminação de doenças mitocondriais geraria pessoas com três pais genéticos
Uma criança pode ter três pais? Essa é a pergunta suscitada por um estudo recém-publicado no periódico Nature por Shoukhrat Mitalipov e seus colegas da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon. E a resposta parece ser “sim”, já que esse estudo abre o caminho para o nascimento de crianças que, geneticamente, têm um pai e duas mães.
Isso é possível por que a contribuição genética de uma das mães à sua prole vem em dois pedaços separáveis. A maior parte é compactada nos 23 cromossomos nos núcleos de um óvulo não fertilizado. Nesse aspecto, ela é exatamente igual ao pai da criança, que fornece outros 23 através de seu esperma. Mas a mãe também contribui com o que é conhecido como DNA mitocondrial.
As mitocôndrias são as usinas de energia das células. Elas transformam a energia dos açúcares em algo que pode ser usado pelo maquinário molecular das células. E porque a mitocôndria descende de uma bactéria que, há cerca de 2 bilhões de anos, se tornou simbiótica com a célula da qual descendem os animais e plantas, ela têm seus próprios e pequeninos cromossomos. Nas pessoas, esses cromossomos portam apenas 37 genes, comparado aos cerca de 20.000 do núcleo. No entanto, todas as mitocôndrias em um corpo humano descendem daquela presente no óvulo que o gerou. O esperma não contribui com nenhuma. E é esse fato que permitiu que os médicos concebessem a ideia de pessoas com duas mães: uma fornecendo o DNA nuclear e outra o DNA mitocondrial.
A razão para fazer isso é que as mutações no DNA mitocondrial, como aqueles nos genes nucleares, podem causar doenças. Essas doenças afetam especificamente órgãos como o cérebro e os músculos, que têm altas necessidades de energia. Cada doença mitocondrial em particular é rara, mas há muitas delas. Em geral, há uma chance em 5.000 de uma criança desenvolver uma doença hereditária. Portanto, as doenças mitocondriais não são um grande risco, mas também não são irrelevantes. Baterias novas, por favor Para descobrir se o transplante mitocondrial poderia funcionar em pessoas (a hipótese já foi provada em outras espécies de mamíferos) Dr. Mitalipov coletou óvulos dos ovários de mulheres com mitocôndrias com mutações e outros de doadoras com mitocôndrias saudáveis. Em seguida ele removeu os núcleos de ambas e descartou os das células saudáveis. Já os da célula defeituosa foram transplantados para as células saudáveis. Em seguida ele fertilizou o resultado com esperma e permitiu que os óvulos fertilizados começassem a se dividir e assim dessem o primeiro passo na jornada até formar um ser humano completo.
Quase todos os óvulos do experimento sobreviveram à substituição de seus núcleos, e três quartos desses foram fertilizados com sucesso. No entanto, pouco mais da metade dos zigotos (nome pelo qual são conhecidas as bolas de células que se forma a partir das primeiras divisões dos óvulos fertilizados) resultantes exibiam anormalidades. Todavia, a taxa de anormalidade foi de 1/8 nos zigotos de controle cultivados a partir de óvulos saudáveis não transplantados.
A discrepância surpreendeu – e preocupou – Dr. Mitalipov. A taxa de anormalidade que ele observou foi muito maior do que aquelas verificadas quando o procedimento é executado com outras espécies. No entanto, isso poderia se dever ao fato de que essa é a primeira tentativa do uso de óvulos humanos. Cada espécie tem suas peculiaridades, e, caso os transplantes mitocondriais se tornem rotina, as peculiaridades dos humanos certamente se tornariam aparentes. Dr. Mitalipoc prevê que isso possa ser consertado com ajustes.
No entanto, transformar esse experimento em procedimentos medicinais seria um longo caminho, e não apenas cientificamente. Dr. Mitalipoc tem poucas dúvidas de que seus zigotos poderiam ser desenvolvidos caso fossem transplantados para o útero de uma mulher. No entanto, esse experimento é ilegal (com toda a razão, segundo o ponto de vista de algumas pessoas). Mas o fato de que agora é possível faz isso certamente estimulará o debate sobre se a lei deve ser mudada.
Antropólogo guarani-kaiowá analisa relação dos índios com sua terra
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Antropólogo guarani-kaiowá analisa relação dos índios com sua terra
Por Tonico Benites*
O cone sul do estado de Mato Grosso do Sul apresenta hoje a maior população indígena do Brasil. São aproximadamente 46 mil indivíduos, que pertencem às etnias guarani e kaiowá e estão distribuídos em uma área de 30 mil hectares, em territórios em conflito com tamanhos variados e em diferentes condições de regularização fundiária (demarcadas, identificadas ou em acampamentos aguardando reconhecimento do Estado).
No que diz respeito aos territórios tradicionais guarani e kaiowá reivindicados pelos indígenas contemporâneos, as fontes históricas e arqueológicas assinalam claramente o fato de que o atual cone sul do Mato Grosso do Sul é, através de séculos, território de ocupação tradicional dos guarani-kaiowá. Porém, atualmente, eles demandam somente uma parte dos territórios antigos, localizados basicamente à margem de cinco rios: Brilhantes, Dourados, Apa, Iguatemi e Hovy.
O modo tradicional de ocupação do espaço pelas famílias extensas ou comunidades guarani e kaiowá é difuso no território, morando fundamentalmente na proximidade de fontes de água boa (minas d’água, córregos, rios etc.), que permitiam o assentamento destes indígenas. Além disso, estes lugares possibilitavam o desenvolvimento das atividades pesqueiras, de caças e coletas. Estes locais vitais, então, recebiam uma nomenclatura na língua indígena, a qual passava a denominar o território ou a região onde cada grupo macrofamiliar habitava. Outros acidentes geográficos e/ou marcos (físicos ou simbólicos) da paisagem, assim como espaços fontes de recursos (como caça e coleta), ou nomes de chefes/lideranças indígenas que ali viveram no passado foram igualmente utilizados para denominar essas regiões.
Terra indígena foi considerada “devoluta” pelo governo
A ligação com a terra (em guarani, “yvy“), assim, é vista por esses indígenas, por um lado, como tendo uma fundamentação econômica, de desenvolvimento de atividades que permitem a sobrevivência dos guarani e kaiowá, e, por outro, com um forte sentimento religioso de pertencimento à terra, fundamentado em termos cosmológicos, sob a compreensão de que eles foram destinados, em sua origem como humanidade, a viver e a cuidar desse território específico.
Neste sentido, é possível compreender que os territórios tradicionais denominados Tekoha Guasu, localizados à margem dos cincos rios mencionados, correspondem a um conjunto de várias microrregiões internas dos amplos territórios tradicionais, cada um deles situado na margem dos rios correspondendo à origem de um determinado grupo de parentesco macrofamiliar guarani e kaiowá. O que vem, portanto, a ser concebido como a Tekoha Guasu é a totalidade dessas microrregiões territoriais.
Por conta do processo histórico de colonização oficial dos territórios guarani e kaiowá pelo governo do Brasil, aproximadamente 15 mil indígenas guarani e kaiowá que hoje reivindicam seus antigos territórios encontram-se residindo às margens de rodovias federais nas pequenas áreas retomadas; além disso, 30 mil se assentam nas reservas ou postos indígenas, que são áreas oficialmente demarcadas (denominadas também Aldeias Indígenas).
Desde 1915, quando foram instituídas oito reservas indígenas, até os anos 1980 — com forte ênfase na década de 1970 —, o que se assistiu no atual Mato Grosso do Sul foi um processo de expropriação de terras de ocupação antiga guarani e kaiowá, em favor de sua titulação privada. As terras indígenas foram consideradas “terra devoluta” e terra vazia, por isso o território antigo se tornou legalmente objeto de comércio do governo.
Os relatos de indígenas idosos, a partir da memória de seus anciãos, além de farta documentação do governo do Brasil (através do Serviço de Proteção aos Índios) revelam a presença guarani e kaiowá difusa nas margens dos cincos rios no cone sul do estado, em espaços territoriais específicos. Além disso, as fontes documentais mencionadas demonstram que a retirada ou expulsão desses indígenas têm sido efetuadas por meio de forças violentas e de aliciamento e convencimento. Nessa operação histórica de expulsão de indígenas guarani e kaiowá, a partir de 1970, se envolveram os novos proprietários não indígenas, agentes políticos e militares que passaram a operar no sul do Mato Grosso do Sul, contando inclusive com a participação de funcionários do Estado, do antigo SPI e, posteriormente da Funai, conforme relatórios oficiais e a literatura historiográfica.
Diante disso, as iniciativas de articulação e luta de várias lideranças guarani e kaiowá para retornar aos antigos territórios começaram a despontar no final da década de 1970. Os grandes rituais religiosos — jeroky guasu — foram fundamentais para os líderes políticos e religiosos se envolverem nos processos de reocupação/retomada e recuperação dos territórios tradicionais específicos.
Até hoje eles se sentem originários destes espaços reivindicados. Nos últimos 30 anos, tendo sido privados da possibilidade de se reassentar nos territórios tradicionais e sobreviver conforme seus usos, costumes e crenças, passaram a investir nas táticas pacificas de recuperação das terras.
Em relação ao significado vital do território para o povo guarani-kaiowá, é preciso observar em detalhe o relacionamento desses indígenas com os seres invisíveis/guardiões (protetores/deuses) da terra, manifestado através de cantos e rituais diversos dos líderes espirituais. A forma de diálogo e respeito com esses seres humanos invisíveis marca uma diferença muito importante em relação à percepção e ao uso dos recursos naturais da terra.
Pacto irrenunciável com o território
Os guarani e os kaiowá têm conexão direta com os territórios específicos, consideram-se uma família só, dado que o território é visto por estes indígenas como humano. Eles possuem um forte sentimento religioso de pertencimento ao território, fundamentado em termos cosmológicos, sob a compreensão religiosa de que foram destinados, em sua origem como humanidade, a viver, usufruir e cuidar deste lugar, de modo recíproco e mútuo. Portanto, eles podem até morrer para salvar a terra. Há um compromisso irrenunciável entre os guarani e kaiowá e o guardião/protetor da terra, há um pacto de diálogo e apoio recíproco e mútuo: os guarani e kaiowá protegem e gerenciam os recursos da terra e, por sua vez, o guardião da terra vigia e nutre os guarani e kaiowá.
A compreensão destes espaços territoriais tem uma concepção cosmológica sui generis, e uma fundamentação cosmológica e histórica que se enraíza em tempos passados e perdura até o presente. Dessa forma, a luta pela recuperação das antigas áreas ocupadas pelos guarani-kaiowá é realizada por meio de reocupação ou retorno pacífico ao território, caracterizado como um movimento pacífico e político-religioso exclusivo. Isto é, trata-se de uma articulação política comunitária e intercomunitária de lideranças religiosas guarani e kaiowá.
Na Aty Guasu, são discutidas religiosamente e tomadas decisões vitais que afetam a todos, como sobre a recuperação e retomada pacífica de parte dos territórios antigos, por exemplo. A Aty Guasu é definida como uma assembleia geral realizada entre as lideranças políticas e religiosas guarani e kaiowá a partir do final de 1970. Ela é considerada o único foro legítimo de discussão religiosa e decisão articulada dessas lideranças políticas e religiosas.
Apesar de violências anunciadas contra suas vidas, o movimento pacífico de guarani e kaiowá contemporâneos para recuperar os territórios se encontra em evolução, com uma articulação em rede cada vez maior entre lideranças reivindicantes de seus territórios tradicionais tekoha guasu localizados nas bacias do cone sul de Mato Grosso do Sul.
*Tonico Benites é guarani-kaiowá, mestre e doutorando em Antropologia Social pela UFRJ
Campanha eleitoral americana tem ‘silêncio climático’
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Obama x Romney
debate, Obama e Romney vão discutir temas ligados à política externa dos EUA
Campanha eleitoral americana tem ‘silêncio climático’
Vanessa Barbosa – Exame.com –
Após um verão marcado por ondas de calor e uma seca devastadora, tudo indicava que o aquecimento global e as mudanças climáticas seriam dois temas contemplados com a importância e seriedade que merecem nas eleições americanas. Mas não foi bem isso o que aconteceu. Ou melhor, nada aconteceu.
A completa omissão em relação às problemáticas ambientais, tanto na campanha dos candidatos, quanto nos três debates, exibidos pela TV, ganhou até uma expressão: “silêncio climático” (do inglês “climate silence”), que por ironia do destino está fazendo muito barulho na internet. Não sem razão.
“Pela primeira vez desde 1988, os debates presidenciais e entre vices ignoraram a ameaça das mudanças climáticas”, diz Brad Johnson, diretor de campanha do grupo Forecast the Facts, que lançou em setembro o site ClimateSilence.org em parceria com a Ong Friends Of The Earth. O post que publicou na segunda-feira (22) em seu blog, às vésperas do terceiro e último debate entre Romney e Obama, era um apelo final em nome de milhares de eleitores que assinaram uma petição online para que os candidatos abordassem o assunto. Um apelo que se demonstrou frustrado diante da mudez de ambos.
Para evidenciar a falta grave na atual corrida presidencial, Johnson desenterra um vídeo de 1988, onde os candidatos à vice, Lloyd Bentsen e Dan Quayle, respodem a uma pergunta feita pelo moderador, John Margolis, do Chicago Tribune, sobre o que pensam do efeito estufa e o que fariam para combatê-lo. Sem titubear nem tentar esquivar, eles assumem que as emissões de gases efeito estufa são um problema real e que precisam de solução. Foi a primeira vez que o aquecimento global foi levado à mesa na história das eleições dos EUA. Veja no vídeo abaixo:
A sensação que fica é que a campanha atual regrediu bastante no tempo. Nesta segunda-feira, após a repetida ausência do tema ambiental no debate entre Barack Obama e Mitt Romney, as reações contra o silêncio dos candidatos ganharam o Twitter, com uma série de reclamações de eleitores reverberando-se na rede através da hashtag #climatesilence.
O prêmio Nobel da Paz e ex-vice presidente americano Al Gore não perdeu a oportunidade de se manifestar: “Onde está o aquecimento global neste debate?”, indagou em sua conta. “As mudanças climáticas são um problema urgente de política internacional”, disse.
A postura dos candidatos nem de longe esbarrou no tratamento dispensado ao tema na última corrida à presidência, em 2008. Na ocasião, Barack Obama e John Mccain também não escaparam de responder às perguntas feitas pela plateia (confira no vídeo abaixo). Quem acompanhou aquele embate se surpreende com a proeza alcançada pelos candidatos, a saber, de falar sobre energia, sem falar do efeito no meio ambiente, as emissões.
“Nenhuma palavra foi dita nos debates presidenciais sobre a questão mais urgente e de consequências potenciais para o mundo: a mudança climática”, pondera Eugene Robinson, colunista do Washington Post, e ganhador do Prêmio Pulitzer por sua cobertura da campanha de 2008 de Barack Obama. “Em vez disso, eles discutem sobre quem está mais ávido para extrair quantidades cada vez maiores de petróleo, gás natural e carvão de baixo de nossas montanhas e planícies”, resume.
ELEITORES INDECISOS O silêncio climático não ajuda em nada os eleitores indecisos do país. Pelo contrário, ao ignorar essas questões urgentes, os candidatos perdem a oportunidade de angariar mais votos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Yale, 8 em cada 10 eleitores indecisos acreditam nas mudanças climáticas e na elevação das temperaturas do planeta em decorrência das emissões de gases efeito estufa. E pelo menos seis deles dizem que as alterações no clima estão entre os assuntos mais importantes para escolher seus candidatos.
Sismólogos condenados na Itália
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Sismólogos condenados na Itália
Como comunicar a probabilidade de um desastre sem semear o pânico?
A linha tênue entre precaver e aterrorizar habitantes em áreas de risco
A condenação por homicídio culposo de seis sismólogos italianos e um funcionário do governo na cidade de L’ Aquila, região central da Itália, decorrente do suposto fracasso dos cientistas em alertar a população antes do terremoto que devastou a cidade em 2009, indignou muitos cientistas. Milhares assinaram petições protestando as condenações como algo retrógrado e anti-ciência.
Leia também: Justiça condena sismólogos que não previram terremoto
Mas o julgamento também chamou atenção para um problema grave em regiões propensas a terremotos ao redor do mundo: como comunicar eficazmente o risco de um potencial desastre? Independentemente do mérito do julgamento em L’Aquila, cientistas e funcionários do governo têm dificuldade de transmitir o que sabem sobre o risco de terremotos de modo que ajudem a preparar o público, sem semear o pânico.
“As pessoas estão esperando muito mais informação, em particular, informação quantitativa”, disse Thomas Jordan, um professor da Universidade do Sul da Califórnia e diretor do Centro para Terremotos, em entrevista ao New York Times. “Tornar pública a informação disponível está se tornando uma exigência.”
Mas terremotos diferem de outros tipos de desastres naturais. Os meteorologistas podem acompanhar um furacão com precisão, mas os sismólogos não podem prever exatamente quando e onde um terremoto vai ocorrer. Cientistas criticaram a condenação italiana por essa razão, dizendo que os réus foram julgados por não fazer algo que é impossível.
O que sismólogos são cada vez mais capazes de fazer, no entanto, é prever a probabilidade de um sismo ocorrer em uma determinada área ao longo de um determinado período de tempo. A análise estatística mostra, por exemplo, que alguma atividade sísmica – um terremoto de pequenas proporções ou uma série de minúsculos tremores – aumenta a probabilidade de um grande terremoto ocorrer na mesma região.
Mas as probabilidades ainda são muito pequenas, e tornam-se ainda menores ao longo do tempo. Dada uma previsão de baixa probabilidade que pode gerar consequências de larga escala, o problema torna-se o que fazer com esse tipo de informação?
Essa foi a pergunta que os sismólogos italianos enfrentaram. Nos meses antes do terremoto de magnitude 6,3, a região havia passado por um enxame de pequenos tremores. Esses tremores provavelmente aumentaram a probabilidade de um grande terremoto no futuro próximo por um fator de cem ou mil, mas a probabilidade permaneceu muito baixa – talvez uma em mil.
A Cassandra de L’Aquila
E havia outro agravante em L’ Aquila que complicou a situação. Como os tremores continuaram na cidade durante vários meses, um homem local, que não é cientista, muito menos sismólogo, emitiu várias previsões alarmantes de um grande terremoto – especificando data e local – com base em medições de radão, um gás radioativo que é liberado de fraturas nas rochas.
As previsões, nenhuma das quais se provaram precisas, aumentaram a ansiedade dos habitantes da cidade – tanto que o governo italiano convocou uma reunião de uma comissão nacional de previsão de riscos em L’Aquila, que incluía os sismólogos e o funcionário do governo julgados.
Na reunião, os sismólogos afirmaram que era possível, embora improvável, que a atividade sísmica poderia sinalizar a iminência de um terremoto maior. Eles também observaram que há sempre algum risco em L’Aquila, que tem um histórico de terremotos. Mas em uma entrevista coletiva depois da reunião, a mensagem para o público foi truncada, e a impressão que ficou foi que o governo estava assegurando a população de que não havia perigo.
Em geral, os cientistas deveriam ter passado dados disponíveis sobre a probabilidade de um terremoto aos gestores de emergência da cidade, e em seguida, os gestores deveriam ser os responsáveis por tomar a decisão de esvaziar a cidade, fazer preparações mais simples ou não fazer nada. Neste caso, o que parece ter ocorrido é que os papéis de cientistas e autoridades municipais e federais se confundiram.
‘Fui despedido, e agora?’
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‘Fui despedido, e agora?’
Veja dicas para reerguer a carreira
saiba como encontrar o lado bom da demissão
Foto: Getty Images |
Por Pollyana de Moraes
De cada 100 pessoas contratadas no Brasil, 30 deixam a empresa onde trabalham em menos de um ano, segundo a consultoria Lee Hecht Harrison DBM. A demissão é uma das principais causas desses desligamentos.
Se fugir dela nem sempre é uma opção, o ideal é tirar o melhor desse momento. E sim, ele existe. Descubra abaixo como reerguer a carreira depois de ser demitida.
Leia também: Dicas para se dar bem na vida profissional
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Encare de frente e dê um tempo para si
A demissão pode ser tão dolorosa quanto o fim de um relacionamento. A situação gera tristeza, frustração e até uma espécie de luto que não pode ser ignorado. Apesar disso, mesmo diante do choque da notícia, é preciso manter a calma e entender as razões que levaram o empregador a tomar essa decisão. “Não é hora de ser emotivo. É preciso estar frio e tirar o melhor da situação”, afirma a diretora de negócios da consultoria LHH/DBM, Irene Azevedo.
Após o fato consumado, muitos profissionais acabam indo direto em busca de outro emprego. Mas esse nem sempre é o melhor caminho. “Vale a pena aproveitar o momento para aprender com os erros e fazer uma avaliação da carreira antes de seguir em frente”, diz a especialista.
Período sabático: saiba por que vale a pena dar uma pausa longe da rotina -
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Melhore o currículo e faça bons contatos
Concluída a fase “sabática” da demissão, é hora de avaliar o mercado e buscar um novo posto. Comece revisando o currículo e destacando pontos altos da trajetória profissional. Conversar com amigos da área, pedir recomendações ou até contratar um coach de carreira podem otimizar a busca.
Nas entrevistas, esconder a demissão é sempre uma má ideia. “Se for perguntado por que você saiu do último emprego, responda a verdade, explique que aprendeu muito e que está pronto para outros desafios que tenham mais a ver com você”, alerta Irene Azevedo.
Currículo é propaganda: saiba como colocar suas qualidades no papel -
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Cuide das finanças
Para uma pessoa fora do mercado de trabalho, a conta bancária sofre. Sem os salários do mês, o dinheiro em caixa deve receber uma atenção ainda maior. É importante também ficar atento aos seus direitos: em caso de demissão, o empregador deve pagar ao funcionário férias (integrais ou proporcionais), o 13° salário, o aviso prévio (caso o desligamento seja imediato), o FGTS e uma multa de 40% sobre ele. A empresa deve oferecer ainda um documento para solicitação do seguro-desemprego.
Em um primeiro momento, o valor recebido pode parecer bem alto, no entanto, é fundamental lembrar que ele deverá ser capaz de cobrir suas despesas por tempo indeterminado.
Veja dicas para manter a saúde de sua vida financeira
Ciúme e inveja no trabalho são diferentes em homens e mulheres
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Ciúme e inveja no trabalho são diferentes em homens e mulheres
Ana Carolina Prado
Não tem jeito: ciúme e inveja são coisas que podem atingir tanto homens quanto mulheres – inclusive no ambiente de trabalho. Mas um estudo realizado por pesquisadores das Universidades de Valência (Espanha), Groningen (Holanda) e Palermo (Argentina) sugere que, na firma, essas questões envolvem algumas diferenças de gênero.
Por exemplo, as mulheres são mais afetadas pela competição sexual do que os homens. Já as habilidades sociais dos colegas podem provocar ciúme e inveja profissional igualmente em ambos os sexos.
“Mulheres com alto nível de competição intrassexual [ou seja, a concorrência com outras pessoas do mesmo sexo, causada pelo desejo de obter e manter o acesso ao sexo oposto] são mais ciumentas se a rival for mais atraente e mais invejosas se a rival é mais poderosa e dominadora”, afirmou Rosario Zurriaga, da Universidade de Valência. “Esse resultado mostra a importância das habilidades sociais em ambientes de trabalho”, completa.
Para entender a diferença entre os dois sentimentos, o estudo definiu assim: o ciúme é o que vem quando um relacionamento está ameaçado devido à interferência de um rival. Já a inveja foi considerada uma resposta ao sucesso, qualidades ou habilidades de outra pessoa – e envolve que você se compare com ela e deseje ter os seus atributos.
“A inveja e o ciúme podem causar estresse e afetar negativamente a qualidade de vida dos profissionais”, afirma Zurriaga.
Como evitar isso? Segundo os pesquisadores, é necessário que as pessoas modifiquem sua percepção de perda, ameaça e comparação com os outros. Tarefa nada fácil.
Metodologia
A rivalidade intrassexual foi analisada por meio de questionários distribuídos diretamente para 200 indivíduos (100 homens e 100 mulheres) em suas estações de trabalho. Do total, 26% dos voluntários trabalhavam na área de administração, 21% no setor de serviços, 30% na educação e o restante em saúde e outras profissões. A idade média era de 36 anos e eles estavam há 11 em seu trabalho.
“Este é um dos primeiros estudos a analisar as características de rivalidade no ambiente de trabalho e pode contribuir para uma melhor compreensão dos conflitos e problemas que podem ocorrer nessas relações”, concluem os autores no estudo, que foi publicado na “Revista de Psicología Social”.
Você pode ter visto uma das minhas atualizações esta manhã sobre Olivier Du Tré na estrada em Alberta para capturar alguns tiros aurora. Aqui está um dos grandes tiros ele conseguiu tomar. Você pode visitar o link abaixo para ver mais
A atividade solar
é muito baixa na manhã de quinta-feira. A rodada novas manchas solares em ver fora do flanco oriental, mas atualmente é estável. Nova mancha solar 1595 localizado no quadrante sudoeste foi contado na quarta-feira, no entanto esta região já desapareceu. Não há atualmente uma oportunidade para C-Class flares.
OIT lança Convenção 169 na língua Ticuna
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OIT lança Convenção 169 na língua Ticuna
Nos próximos dias 22 e 23, na cidade de Tabatinga (AM), será realizado o lançamento da Convenção nº 169 sobre povos indígenas e tribais na língua indígena Ticuna e a reunião sobre o processo de regulamentação da consulta prévia no Brasil. O evento contará com a presença de mais de 100 lideranças indígenas da região e com representantes do Ministério das Relações Exteriores, da Secretaria-Geral da Presidência da República, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), da Fundação Palmares, do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e demais parceiros, “sem os quais não teria sido possível viabilizar este momento de reflexão sobre os direitos dos povos indígenas”, disse Thais Fortuna, Oficial de Projetos da OIT. No evento será apresentada a Convenção 169 na língua Ticuna. A Convenção já foi publicada nas línguas Guarani-Kaiowá e Terena, além de português. Além disso, o evento visa informar sobre o que é a Convenção 169 da OIT, sobre o tema da consulta, dialogar sobre o processo de regulamentação do direito de consulta e o papel dos atores envolvidos no tema, planejar estratégias para levar informações e garantir a participação dos povos indígenas e tribais, no contexto das atividades do Grupo de Trabalho Interministerial. O Grupo de Trabalho Interministerial foi instituído por meio da Portaria Interministerial nº 35, de 27 de janeiro de 2012, com o objetivo de estudar, avaliar e apresentar proposta de regulamentação dos mecanismos de consulta prévia da Convenção 169, além de estabelecer o diálogo permanente e qualificado com membros da sociedade civil, povos indígenas e tribais. O trabalho de tradução é resultado da parceria entre a Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngues (OGPTB), o IFAM e a OIT, no contexto do “Programa Conjunto de Segurança Alimentar e Nutricional de Mulheres e Crianças Indígenas no Brasil”.
O Programa Conjunto está sendo implementado desde 2010 por 5 agências especializadas das Nações Unidas, OIT, OPAS, FAO, PNUD e UNICEF, em parceria com o governo brasileiro, e é fruto da cooperação técnica internacional entre Brasil e Espanha, por meio do Fundo para o Alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (F-ODM), criado graças à contribuição do governo da Espanha, com o objetivo de abordar as desigualdades e ter repercussão em nível local nas esferas em que as pessoas mais necessitam. O Programa Conjunto visa empoderar as comunidades indígenas sobre seu direito humano à alimentação adequada e, neste sentido, o presente momento pretende contribuir para a ampla disseminação dos direitos dos povos indígenas previstos na Convenção 169 da OIT, ratificada pelo Brasil em 2002.
Veja a Convenção na língua Ticuna
Conheça as outras versões da Convenção 169
“Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui”
da carta dos Guaranis
A declaração de morte coletiva feita por um grupo de Guaranis-Kaiowás demonstra a incompetência do Estado brasileiro para cumprir a Constituição de 1988 e mostra que somos todos cúmplices de genocídio – uma parte de nós por ação, outra por omissão.
Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista.
elianebrum@uol.com.br,
@brumelianebrum
– Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.
O trecho pertence à carta de um grupo de 170 indígenas que vivem à beira de um rio no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, cercados por pistoleiros. As palavras foram ditadas em 8 de outubro ao conselho Aty Guasu (assembleia dos Guaranis-Kaiowás), após receberem a notícia de que a Justiça Federal decretou sua expulsão da terra. São 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças. Decidiram ficar. E morrer como ato de resistência – morrer com tudo o que são, na terra que lhes pertence.
Há cartas, como a de Pero Vaz de Caminha, de 1º de maio de 1500, que são documentos de fundação do Brasil: fundam uma nação, ainda sequer imaginada, a partir do olhar estrangeiro do colonizador sobre a terra e sobre os habitantes que nela vivem. E há cartas, como a dos Guaranis-Kaiowás, escritas mais de 500 anos depois, que são documentos de falência. Não só no sentido da incapacidade do Estado-nação constituído nos últimos séculos de cumprir a lei estabelecida na Constituição hoje em vigor, mas também dos princípios mais elementares que forjaram nosso ideal de humanidade na formação do que se convencionou chamar de “o povo brasileiro”. E seque…
ANOS DE CHUMBO; Nosso amigo está aqui
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ANOS DE CHUMBO
Nosso amigo está aqui
Por Álvaro Caldas
Prefácio de Seu amigo esteve aqui, de Cristina Chacel, 232 pp., Zahar Editora, Rio de Janeiro, 2012; intertítulos do OI
Vinte e sete anos depois que retornou a democracia, o Brasil ainda luta para desenterrar um doloroso legado perdido que, aos poucos e a duras penas, vem sendo reconstituido. Os espectros dos mortos e desaparecidos da ditadura continuam a nos assombrar e envergonhar, contrariando leis e tratados internacionais dos quais o pais e signatario. Este livro e parte desse árduo trabalho de investigação e reconstituição de uma história de crimes, assassinatos e desaparecimentos que se passou nas sombras, muitas vezes sem testemunhas, nos porões do regime militar. A expectativa de que a trajetória política do mineiro de Belo Horizonte Carlos Alberto Soares de Freitas se tornasse livro impôs-se naturalmente. Uma vida muito breve, que termina com o seu desaparecimento, aos 31 anos, em fevereiro de 1971, numa manha típica do verão carioca, na avenida Princesa Isabel, em Copacabana.
Ao trazer a tona um novo capítulo dessa saga, este livro se transforma num documento pioneiro, de especial interesse para a juventude, que deveria ser adotado nas escolas brasileiras. Aqui, o leitor descobrira um dos personagens de nossa historia recente. Um valente personagem que não necessita do titulo de herói, integrante que foi de uma geração de jovens que, inconformada com o golpe militar que depôs o presidente João Goulart, em 1964, resistiu e ousou lutar por seus sonhos e ideias socialistas.
Seu amigo esteve aqui soa como uma inocente frase de um diálogo amigável. Vejamos as circunstâncias, o cenário e os três personagens envolvidos nessa tragédia politica. “Aqui” trata-se da Casa da Morte, localizada na rua Arthur Barbosa n.668, na serra de Petrópolis, um dos centros de tortura e extermínio clandestinos instalados pelos militares encarregados da repressão política. Somos levados então a penetrar um dos círculos do inferno. O autor da frase – um lacônico e frio comunicado de morte – é agente do Estado, torturador, o ex-sargento Ubirajara Ribeiro de Souza, o Zezão, dirigindo-se com cinismo e ironia a uma de suas vítimas, Ines Etienne Romeu, ali torturada e seviciada, única sobrevivente e testemunha desses atos de infame selvageria. “Seu amigo” é o jovem sociólogo e dirigente da VAR-Palmares, uma das organizações de luta armada, Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, codinome Breno, cujo corpo e procurado ate hoje.
Geração militante
Na Casa da Morte, uma sinistra sucursal do DOI-Codi – a nave central da tortura, situada dentro de um quartel do Exército, na rua Barão de Mesquita, Tijuca, Rio de Janeiro – os facínoras tinham licença para matar. Antes, serviam-se sádica e covardemente de seus prisioneiros, vítimas de uma violência diária, banal, praticada com requintes de doentio prazer, com o objetivo de lhes tirar os últimos resquícios de humanidade porque sabiam que, ao final daquele ritual de horrores, eles seriam eliminados.
Essa e uma das principais revelações deste livro, que realiza uma detalhada anatomia de um desaparecimento em busca da construção da verdade. Entre os oficiais militares do DOI-Codi no comando da casa de Petrópolis, todos com nome de guerra de doutores, estavam o coronel da extrema direita Freddie Perdigao Pereira, o dr. Nagib ou dr. Roberto; o tenente-coronel Orlando Rangel, o dr. Pepe, e o segundo-tenente Amilcar Lobo, o dr. Carneiro, este, médico com diploma, encarregado de medir o impacto do sofrimento e da dor no corpo do torturado e com poderes para autorizar o prosseguimento de seu massacre.
Num angustiado ensaio escrito em meio ao espanto e a indignação provocados pela revelação dos porões da guerra da Argélia, o filósofo Jean-Paul Sartre advertiu que “a tortura não é especificamente francesa, mas uma praga que infecta toda a nossa era”. Naquele momento, em 1957 e 1958, a opinião pública tomou conhecimento de que o Exercito francês e as forcas policiais da colônia empregaram sistematicamente a tortura no enfrentamento aos rebeldes argelinos, levando a uma comoção generalizada. Essa catarse o Brasil ainda não teve a coragem de fazer.
A impostura que encobre a situação dos nossos mortos, que de procurados ou presos passaram a condição de desaparecidos depois de assassinados, só será desmascarada com a abertura dos arquivos militares que encobrem seus autores e os crimes por eles praticados. Gestada nos centros clandestinos de operações da ditadura militar, a infecção da tortura constitui um de seus legados mais nocivos a sociedade brasileira.
Prática institucionalizada pelo regime ditatorial, a tortura tornou-se um poderoso instrumento da política repressora do Estado que se provou eficiente e eficaz. Naquele solitário e abjeto embate que se trava numa prolongada sessão de suplícios, o torturador não se contenta com a rendição do torturado, ele almeja apossar-se de sua alma, despoja-lo de seus valores, tornar-se dono de sua voz para transforma-lo num delator. O carrasco sevicia, humilha e administra a dor para arrancar uma informação, num sádico ritual que pode terminar com um cadáver em suas mãos. O que fazer com esse incômodo cadáver? Os covardes doutores da morte criaram essa monstruosidade jurídica chamada desaparecidos políticos.
Ao reconstituir a trajetória política e existencial de Beto, filho caçula de uma familia de oito irmãos, Seu amigo esteve aqui saiu em busca de suas raízes, sua formação, seus amigos, suas paixões, sua militância. Encontrou uma geração nascida nos entornos da Segunda Guerra que chegou à juventude em meio aos sangrentos confrontos políticos e ideológicos da época, início da Guerra Fria. Uma geração que se politizou muito cedo, a custa de duas porradas marcantes que mudaram os rumos do Brasil: o golpe militar de 1964 e o AI-5, quatro anos depois, que calou todas as vozes e impôs um regime de trevas, o pais do “ame-o ou deixe-o”, slogan de propaganda criado pelos militares.
Estudante de sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Beto encontrou aí a sua turma e iniciou sua militância na Política Operária, a Polop, consolidada por uma viagem a Cuba em 1962, onde se encantou com a vitoriosa revolução de Fidel e Che Guevara. Ate sua prisão e morte, foram mais de dez anos de militância política, quatro dos quais na total clandestinidade, uma das mais longas da esquerda armada brasileira, vivendo encurralado em aparelhos com identidade falsa, entrando e saindo de reuniões e congressos, pulando de uma cidade para outra, com cartazes estampando sua foto espalhados em aeroportos e rodoviárias. Dotado de uma convicção inabalável, recusou os apelos para seguir a rota do exílio, que salvou muitas vidas.
Neste roteiro de filme traçado pelo livro, embrenhou-se pelo interior à procura da mítica Área Estratégica para a implantação da guerrilha rural, viajou de trem, navio e jipe pelos confins do país, passou por Rio, Sao Paulo, Porto Alegre, Salvador, Recife, Belém e outras cidades. Entre seus companheiros de viagem, Lamarca, Iara Iavelberg, Juarez Brito, Maria Auxiliadora, a Dodora, e tantos outros que tombaram pelo caminho. Ao final, tinha plena convicção de que se tornara um alvo especial – se fosse preso seria morto. Dilma Rousseff, sua amiga e companheira de militância desde a fase inicial em Belo Horizonte, também presa e torturada, sobreviveu e chegou à Presidência da República. Fato notável que isso tenha ocorrido no curso de uma geração militante aniquilada pela repressão do Estado ditatorial.
Investigação jornalística
Beto e seus jovens companheiros viveram uma época de confrontos e utopias. Pressionados pela ditadura que instituiu a censura, fechou sindicatos e diretórios estudantis, prendeu e cassou mandatos de congressistas e opositores, acabaram tomando o caminho da luta armada, embalados por uma volúpia na ação e nas certezas de que ela conduziria a revolução social. Istvan Szabó, cineasta húngaro que dirigiu “Mephisto”, a historia de um ator que vende a alma ao nazismo, disse que gosta de contar histórias de pessoas que passaram por experiências difíceis, sobretudo diante de algum momento político em um dado contexto da Historia que influencia suas vidas e muda seus destinos particulares. “Gosto de contar historias”, disse Szabó, “de pessoas expostas ao vento forte da Historia.” Ao contrário do personagem de “Mephisto”, que vendeu sua alma ao diabo nazista, o que este livro nos mostra é que Beto e seus companheiros de viagem, expostos ao vendaval da História, entregaram a vida a um projeto político revolucionário de transformação social.
No capítulo final de Seu amigo esteve aqui, Cristina Chacel oferece ao leitor uma espécie de making of do livro, com os bastidores da criação, um guia sobre o intenso, difícil e demorado trabalho para desvendar o mistério que cercava o desaparecimento de Carlos Alberto Soares de Freitas. Terminou indo muito além, escrevendo um capítulo novo da história da luta armada, com suas organizações, congressos, divergências, rachas e grandes ações, como o roubo do cofre do ex-governador de São Paulo Ademar de Barros. E, sobretudo, deu dimensão humana a seu personagem principal, que pode ser visto em ação por inteiro, com seu rosto, gestos, hábitos e características pessoais.
Um homem alto, bonito, de olhos verdes, sedutor, que gostava de cinema e literatura, que sabia ouvir, não andava armado, que disputou e perdeu a bela Iara para Cid, o temível capitão Lamarca. Um cara divertido, que gostava de cantar, tinha prazer em ir para a cozinha preparar um bife acebolado, mas que também sabia impor-se, sério, um estudioso do marxismo-leninismo que ministrava cursos de formação política e intelectual para seus companheiros.
O livro e fruto de um trabalho de equipe, um afinado quarteto composto pela narradora, a jornalista Cristina Chacel; Sergio Campos, personagem e patrono da iniciativa, amigo e companheiro de Breno na VAR-Palmares, última pessoa a vê-lo antes de seu desaparecimento; Sergio Ferreira, primo de Beto e também personagem; e a jornalista Flavia Cavalcanti, ex-exilada e militante da mesma organização. Os quatro se embrenharam nessa empreitada tortuosa para qualquer biógrafo, a de desvendar uma vida clandestina. Foram dezenas de entrevistas, depoimentos, viagens, discussões e surpresas. Um incansável trabalho de campo, de fidelidade à verdade e precisão dos fatos, que resultou num texto digno do melhor jornalismo investigativo.
Como se fosse um romance de não ficção, intercalando investigação jornalística, autobiografia e crônica, na fronteira entre os fatos e o relato ficcional, o texto segue os passos do mito criado em torno de um militante desaparecido para devolvê-lo à historia real. Eis então que temos de novo entre nós o “nosso amigo” guerreiro, o que pode não ser um consolo, mas oferece uma valiosa contribuição para a construção da Verdade, e e um soco na cara dos carrascos que o assassinaram.
***
[Álvaro Caldas é jornalista, escritor, autor de Tirando o capuz e Balé da utopia, e professor da PUC-Rio. Foi militante do PCBR e, nos anos 1970, passou dois anos e meio preso.]
ALBA E UNASUL SOB A ÓPTICA MARXISTA
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II Seminário de Pesquisa Interdisciplinar-
Sustentabilidade e Gestão Estratégica
A COMPATIBILIDADE ENTRE INSTITUIÇÕES EM PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO E O DISCURSO TRANSFORMADOR DOS GOVERNOS DE ESQUERDA NA AMÉRICA – LATINA: LIMITES E POSSIBILIDADES A PARTIR DE UMA ABORDAGEM MARXISTA DAS INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS .
FELIPE FERNANDEZ e ROGÉRIO SANTOS DA COSTA