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Arquivo mensal: maio 2012

‘Crowdsourcing’ está transformando a ciência da psicologia


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Pesquisas acadêmicas

 

ACCORDING

‘Crowdsourcing’ está transformando a ciência da psicologia

Ferramenta permitirá amostragem mais heterogênea de cobaias em pesquisas

Estudantes de graduação são os ratos de laboratório da psicologia. Incentivados por prêmios na forma de dinheiro e créditos universitários, eles farão os equivalentes humanos de andar por labirintos e apertar os botões nas câmaras de Skinner. Isto é uma maravilha, pois fornece aos psicólogos uma oferta infindável de cobaias disponíveis. Mas é também um problema porque essas cobaias são em sua maioria brancas, educadas, industrializadas, ricas e democráticas, de modo que não são representativas de populações como um todo. Com efeito, como Dr. Henrich descobriu em sua análise dos principais periódicos acadêmicos de psicologia, um estudante de graduação norte-americano aleatório tem 4.000 vezes mais chances do que um ser humano normal de ser cobaia desses estudos. Inferir conclusões gerais acerca do comportamento humano a partir desses resultados é arriscado. Porém, essa situação está prestes a acabar.

As principais razões pelas quais os estudantes de graduação foram favorecidos no passado é que eles são baratos e fáceis de recrutar pelos acadêmicos. Mas uma nova fonte de oferta está emergindo: o fornecimento coletivo de trabalho online.

O fornecimento coletivo de trabalho online, mais conhecido como crowdsourcing, é um modo de realizar trabalhos através da ação de trabalhadores online remunerados. Várias empresas oferecem o serviço, inclusive o Desk, o CrowdFlower e o Elance. Mas o serviço mais famoso para fins científicos, de longe, é o Mechanical Turk, administrado pela Amazon e batizado em homenagem à máquina jogadora de xadrez do século XVIII que era secretamente operada por um humano.

O Mechanical Turk tem mais de 500 mil pessoas, conhecidas como Turkers, em sua força de trabalho. Isso é uma dádiva para o psicólogo com prazos e sem muito dinheiro. A maioria dos Turkers está disposta a trabalhar por alguns trocados. (A remuneração mediana é de US$ 1,40 por hora). A maioria dos Turkers encara as atividades do site mais como um hobby renumerado do que como um emprego de verdade. E, de modo crucial, eles estão ficando mais cosmopolitas a cada ano que passa. Ainda que 40% ainda sejam norte-americanos, um terço são indianos e o restantes vem de cerca de 100 outros países.

A revolução, então, já começou. Até agora, o Google Scholar, um site devotado a assuntos acadêmicos, registra 3 mil estudos publicados que envolvem experimentos com fornecimento de trabalho coletivo online. Discussões em conferências entre psicólogos, economistas, cientistas políticos, linguistas e cientistas da computação sugerem que isso pode ser a ponta do iceberg. Seria um exagero dizer que o crowdsourcing transformou o mundo todo em um laboratório, mas sem dúvida diminuiu o viés da psicologia.

Fontes:The Economist – The roar of the crowd

China registra avanço na produção científica


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Pesquisas

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Academia Chinesa de Ciências está entre as dez melhores instituições chinesas de 2011 (Reprodução/Internet)

 

China registra avanço na produção científica

País aumentou sua participação na produção dos artigos científicos mais citados do mundo

A China pode ultrapassar a Alemanha e o Reino Unido para se tornar o segundo maior produtor de artigos científicos mais influentes do mundo até 2014. O país asiático aumentou sua participação na produção dos artigos mais citados do mundo (1% do total) de 1,85% (127 de 6.874 artigos) em 2001 para 11,3% (1.158 de 10.238 artigos) em 2011, o que lhe confere o quarto lugar no ranking atual. Já os Estados Unidos, que hoje ocupam o primeiro lugar, reduziram sua participação nas pesquisas mais influentes de 64,3% (4.420 dos 6.874 artigos) em 2001 para 50,7% (5.190 dos 10.238 artigos) em 2011.

Hoje, mais de 6% dos artigos publicados nos periódicos da Nature vêm da China, de acordo com o Nature Publishing Index 2011 – China. Publicado como suplemento, o Index aponta que a China está se tornando líder mundial em publicações de pesquisas científicas, contribuindo com mais de 10% das pesquisas mais citadas do mundo.

Artigos científicos de autores chineses compõem 6,6% (225) dos 3.425 publicados nos periódicos da Nature em 2011, um aumento em relação ao ano anterior, quando produziu 5,3% dos artigos (152). Dos 225 publicados em 2011, 48 foram publicados na Nature Communications, lançada em abril de 2010. No ano de 2000 os autores chineses haviam publicado apenas 12 artigos em periódicos da Nature.

O suplemento analisa a contribuição dos investimentos nacionais, instituições e cidades para a rápida expansão científica da China. A Academia Chinesa de Ciências está entre as dez melhores instituições chinesas de 2011, tendo publicado 62 artigos em periódicos da Nature em 2011. Não é para menos, já que ela possui mais de 100 institutos e quase 50 mil pesquisadores.

O Index mede a produção de artigos de pesquisa de nações e institutos em termos de publicação nos periódicos da Nature em 2011, em comparação aos dois anos anteriores. “O Nature Publishing Index oferece uma forma única de avaliar a produção de pesquisa de alta qualidade de uma instituição ou cidade na China”, explica o editor da Nature Felix Cheung.

Fontes:Nature – China on track for #2 most influential country in science publishing by 2014

O planeta azul tem muita água disponível?


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Meio Ambiente

O planeta azul tem muita água disponível?

A água na Terra é como uma folha de papel de presente recobrindo uma bola de boliche.  Do espaço, ela é quase tudo que vemos, mas sua massa representa apenas 0,023% da composição total do planeta

A Terra é conhecida como o planeta azul. Visto de longe, nosso planeta aparenta ser composto em boa parte por água. Isso acontece porque os oceanos, mares, lagos, calotas polares e rios cobrem mais de 70% dos 510 milhões de km² da Terra. No entanto, se toda a água do planeta fosse magicamente sugada e se agrupasse em uma esfera, como se fosse um satélite aquático, ela se resumiria a uma esfera de apenas 1.385 km de diâmetro. A água na Terra é como uma folha de papel de presente recobrindo uma bola de boliche.  Do espaço, ela é quase tudo que vemos, mas sua massa representa apenas 0,023% da massa do planeta. Qual é a quantidade exata de água existente na Terra?

O satélite aquático da imagem contém 1.386 bilhões de km³ de H2O, dos quais 1.338 bilhões vêm dos oceanos e mares. Com aproximadamente 24 milhões de km³ cada, estão dois grupos: o das calotas polares, geleiras e neves eternas e o da água subterrânea. O restante da água vem, em ordem decrescente do gelo do permafrost, dos lagos, da umidade dos solos, da atmosfera, dos pântanos, dos rios e, enfim, da água presente nos seres vivos, sem a qual não existiríamos. Estima-se que a vida terrestre contenha um pouco mais de 1.100 km³ de água biológica.

Analisando toda essa estatística hídrica, é possível perceber o valor da água doce, que representa apenas cerca de 35 milhões de km³. Ela é a pequena pérola à direita da bolha na imagem ao lado. No entanto, a maior parte dessa pequena pérola está inacessível aos seres vivos, seja porque está congelada ou porque está presa no subsolo. A água de fácil acesso, a que está presente nos lagos doces, pântanos e nos rios representa uma parte bem pequena do total.

Você reparou no pequeno pontinho azul sob a pérola? Essa cabeça de alfinete tem menos de 60 km de diâmetro e representa toda a água doce facilmente disponível para a vida terrestre. É dessa pequena reserva que sete bilhões de seres humanos podem beber, irrigar suas culturas, produzir energia em suas usinas e da qual outros organismos também dependem. Observando essa imagem tomamos perspectiva de que a água é mais rara do que parece.

Fontes:Le Monde – Combien d’eau y a-t-il sur Terre ?

O polêmico novo Código Florestal


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Primeiro ano de governo

Dilma decepciona em direitos humanos, diz AI

Especialista da Ong diz que ‘está claro que ainda há uma recusa do Brasil de se envolver ativamente em políticas nessa área’

Um relatório da Ong Anistia Internacional (AI) divulgado nesta quarta-feira, 23,

ressalta que o primeiro ano do governo Dilma foi uma decepção na questão dos direitos humanos.

A organização dá destaque para as tensões nas áreas rurais e para os deslocamentos de comunidades pobres em função das obras da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 nas áreas urbanas, principalmente no Rio de Janeiro.

O relatório ressalta ainda a luta de comunidades indígenas para interromper o projeto da usina de Belo Monte, no Pará, criticando a postura do governo ante a decisão de uma comissão ligada à OEA, que pediu um adiamento do licenciamento da obra.

O polêmico novo Código Florestal

Em entrevista à BBC, o especialista em Brasil da AI, Tim Cahill, também destacou “o aumento sem muito controle das plantações de cana para a produção de etanol, muitas vezes financiado por bancos estatais brasileiros”, ressaltando que “tal expansão está ligada a um aumento dos problemas de acesso à terra e, em alguns casos, exploração excessiva do trabalhador rural”.

De acordo com o especialista, caso a presidente Dilma aprove o novo Código Florestal, a tensão em algumas áreas rurais pode se agravar ainda mais. Tim Cahill acredita que o novo código possa respaldar quem explora áreas de forma ilegal.

“Apesar de o discurso em favor dos direitos humanos ter marcado o início do governo Dilma, está claro que ainda há uma recusa do Brasil de se envolver ativamente em políticas nessa área”, ressalta Cahill.

Fontes:BBC Brasil – Governo Dilma ‘decepciona’ em direitos humanos, diz Anistia Internacional

Desmatamento

Decisão sobre Código Florestal acontece às vésperas da Rio+20

Jornal ‘Le Monde’ critica demora da presidente Dilma em ‘sair do muro’ e vetar ou não a lei


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Ativismo político contribui para chamar atenção da sociedade brasileira e defender medidas ecológicas (Reprodução/O Globo)

Faltando menos de um mês para a Rio+20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, a decisão da presidente Dilma Rousseff de vetar, total ou parcialmente, o novo Código Florestal ganha ainda mais destaque. Em artigo publicado nesta quarta-feira, 23, em seu site, o Le Monde disse que a lei aprovada pelo Congresso em Brasília abre caminho para o aumento do desmatamento da Amazônia e classificou-a como vergonhosa para o Brasil, especialmente no atual momento.

O jornal francês sublinhou a importância da decisão que chamou de “um desses instantes em que se define uma carreira” e criticou a demora da presidente, que tem até o dia 25 de maio, sexta-feira, para deliberar. Foi ressaltado ainda que Dilma havia se comprometido durante sua campanha eleitoral a não aceitar uma reforma do Código Florestal de 1965, que, depois de aplicado com mais rigor a partir da década de 1990, permitiu reduzir a cada ano por três a superfície desmatada.

A aprovação da lei no Senado foi vista como uma vitória do setor agropecuário, já que demonstra a forte influência dos ruralistas junto aos grupos políticos. Na Câmara, dos 513 assentos, eles tiveram o apoio de cerca de 300 deputados. O fato de dentro do próprio PT apenas a metade dos deputados ser contrária à lei, seria mais uma prova da pressão exercida pelos ruralistas. Eles acusam as leis de proteção ao meio ambiente de impedirem o Brasil de atingir seu verdadeiro potencial econômico.

Essa mudança completa da política de proteção das florestas é a afirmação de um novo paradigma, onde na luta entre ‘produção’ e ‘preservação’ venceria a primeira, escreveu o Le Monde. O jornal apontou que essa disputa, no entanto, está enfrentando dificuldades. Projetos apoiados por Dilma, como criação de rodovias atravessando a Amazônia e a construção de grandes centrais hidroelétricas nos rios amazonenses estão suscitando controvérsias e debates. O ativismo político de vários artistas contribui para chamar atenção da sociedade brasileira e defender medidas ecológicas.

No caso mais recente, o cartunista Mauricio de Sousa foi inclusive criticado e xingado pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária, Assuero Veronez, por usar sua conta no Twitter para pedir que Dilma vete o Código Florestal. “Integre-se ao movimento ‘veta dilma’. duas espécies ameaçadas pelo novo código (des)florestal”, escreveu o criador da Turma da Mônica. Veronez  respondeu à mensagem chamando-o de “babaca ignorante” e dizendo não respeitar “quem usa sua notoriedade para fazer ativismo político sobre assunto que não conhece”.

Expectativa

As intenções da presidente são misteriosas, já que ela não deixou transparecer sua posição quanto à decisão que deverá tomar. A ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira espera um veto total. Já o ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho, que vê vários dos artigos do texto como inaceitáveis, especula que a presidente deva rejeitar vários, como a anistia a desmatadores. Será preciso aguardar até o dia 25 para saber quem está certo.

Fontes:Le Monde – Brésil : le code qui cache la forêt, Terra – Por Código Florestal, vice-presidente da CNA chama Mauricio de Sousa de “babaca ignorante”

RIO + 20, SERÁ UM SIMULACRO VERDE


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RIO + 20, SERÁ UM SIMULACRO VERDE

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A quem interessa de fato a Rio + 20?

A nossa turma de Meio Ambiente, aqui de Arraial do Cabo (IFRJ), irá ver (in loco) o que acontecerá durante a conferência Rio + 20. O encontro será em junho (do dia 20 ao dia 22) e, com toda certeza, estamos ansiosos para participar e fazer as perguntas certas (para os cientistas que encontrarmos por lá). Tudo isso, é claro, sem perder o foco das principais questões, entre elas: “qual será o nosso futuro no planeta terra?”. “Como assim… Nosso futuro no planeta terra?”, de repente você questiona aí do outro lado. Eu explico: “estamos presenciando no nosso dia a dia, que o homem devasta selvagemente o planeta em busca do desenvolvimento. Nós, os ditos civilizados, somos reféns da ignorância do falso progresso e assim conduzimos as nossas vidas para um iminente desastre ambiental. Pareço pessimista? Será? Vamos aos fatos. O homem, com sua fúria em conseguir se sustentar através do poder, perderá sua vez nesse cenário”. “Por quê?”, pergunta você. Eu respondo (parafraseando um texto do Greenpeace): “A terra tem 4,6 bilhões de anos. O seu florescimento, como local habitável, veio depois de bilhões de anos. Ou seja… É um planeta muito novo, se compararmos com o seu tempo de vida no cosmo. Assim como os dinossauros e os grandes répteis; e depois os mamíferos e os primeiros hominídeos (que aprenderam a caminhar eretos), tudo aconteceu muito recente. Principalmente se falarmos da presença do homem moderno na sua superfície”. “E daí… o que isso tem haver com destruição ambiental?”, você questiona. Respondo: “Bem… Foi através do homem que surgiu a revolução industrial, fazendo do planeta (que era um imenso paraíso) um depósito de lixo. As pragas multiplicaram-se; houve a extinção de inúmeras espécies; o homem saqueou do planeta para obter combustíveis; armou-se até os dentes para travar, com suas armas nucleares inteligentes, a última de todas as guerras, que destruirá definitivamente o único oásis da vida no sistema solar. A evolução natural de 4,6 bilhões de anos seria anulada pelo homem (um hóspede muito recente e mal educado que coloca tudo a perder)”. Tudo isso só tem um nome: Falso progresso!!! As discussões na sala de aula esquentaram na última semana. E vários são os pontos analisados por nós. Por exemplo, por que no Brasil os fóruns de discussões (apresentados na Eco-92) não chegaram a base popular? Quais foram os resultados concretos deste evento na vida cotidiana das pessoas? Será que tudo não passou de um tremendo jogo de encenação? Enquanto isso algumas empresas e prefeituras do interior brasileiro começam a se mexer para orquestrar uma conversa de boa vizinhança com o meio ambiente. Pelo que estamos notando (mais uma vez) tudo não passa de um grande simulacro. Tanto o poder público como os empresários, calibrados por enredos grotescos, ensaiam seus discursos na chamada economia verde. Obviamente, nós como ecólogos, observamos que um dos maiores problemas da falta de comprometimento da Eco-92, é exatamente a ausência de uma cultura com novas implementações em condutas pedagógicas, que possa multiplicar a consciência ambiental das pessoas. Por isso as falhas são graves. Faltam agentes transformadores nas comunidades. Os partidos, por sua vez, preferem viver no sonambulismo dos seus contextos de comando e não compreendem o tema com profundidade. Pergunte a qualquer vereador da sua cidade, quais foram os pontos importantes apresentados durante a Eco-92, para saber se ele conseguirá responder.

Ambientalistas X ruralistas Até hoje não sabemos qual caminho a tomar quando o tema é sustentabilidade ambiental. Mais exemplos? O novo código florestal é uma total aberração. O seu juízo de valores míngua o exercício da cidadania. O novo código afetará diretamente centenas de biomas e o bem estar de muitas vidas. Na minha opinião, essa briga é completamente desigual. De um lado há pessoas comprometidas de fato com a questão ambiental; e do outro lado, temos a bancada ruralista (mais poderosa e ameaçadora). Por que a bancada ruralista é mais poderosas do que a dos ambientalistas? Todo o aparato da estrutura burocrática é favorável aos ruralistas. Vamos aos fatos: para apresentar dois relatórios, a bancada contou com o apoio da Embrapa Monitoramento por Satélite, com resultados extremamente discutíveis. Em um deles, conhecido como “Alcance Territorial Indigenista”, serviu para sustentar a tese de um suposto engessamento territorial da agropecuária brasileira pela legislação. O relatório chegou a afirmar que a área disponível para a agropecuária era “negativa”. Já o outro relatório, com o nome “A Dinâmica das Florestas no Mundo”, afirmava que nos últimos 8 mil anos o volume de florestas no Brasil teria saltado de 9,8% para 23,3% em relação ao total existente no planeta. No que esses dados influenciam? No dia 6 de julho de 2010, a comissão especial destinada a votar o relatório sobre o projeto de Lei 1876 de 1999, aprovou o substitutivo de Aldo Rabelo por 120 votos a favor e cinco contra. Quem saiu ganhando? Como sempre, a base ruralista. A minha conclusão é que a bancada ruralista não tem interesse em criar uma cultura ecológica sustentável, e sim garantir o seu império através de dinâmicas capitalistas selvagens, favorecendo práticas de estímulos ao desmatamento.

Ausência de conhecimento E como no Brasil, onde a prática clientelista afeta a maioria dos militantes partidários por se interessar apenas nos seus ganhos políticos, a situação se complica completamente. O princípio do respeito ao patrimônio natural é completamente desvinculado dos debates contidianos. Tudo porque falta conhecimento básico sobre o problema. Recentemente, o nosso professor de Educação Ambiental e Ética Ambiental (João Gilberto, doutor em sociologia, em história e em psicologia) nos passou um exercício focado no artigo da Lei 9795 (Lei da educação ambiental). Um dos pontos que me chamou a atenção foi o Art. 2º que diz: “A educação ambiental é um componente essencial é permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal ou informal”. Achei o art. 2º bastante interessante, pois o seu foco se direciona em valorizar políticas públicas na área ambiental; principalmente, na sua apresentação sobre a democratização da informação e formação das pessoas. Esse princípio, cooperativo na sua extensão social, de ampliar e formatar na sociedade propostas educacionais é, sem dúvida, uma senha para construírmos uma realidade (menos superficial e mais racional) que nos permita ter melhor qualidade de vida. Mas será que isso vai demorar acontecer de fato? A legislação existe! Mas ela consegue ser aplicada na prática, em um país emergente, com forte impulso consumista? Ou melhor, os efeitos da lei são reais? A atual atmosfera de valores, a maioria das pessoas não pensa em viver com o essencial e sim com a quantidade de bens materiais. O que reforça a tese da ignorância sobre o tema. Qual o conceito de ignorante aqui? É quando uma pessoa só tem capacidade de olhar a si mesma e não se permite uma visão ampliada do exterior. Ou seja, não sabe coixistir. Se de um lado há professores, ecólogos, ambientalistas e vários setores da sociedade, preocupados em encontrar soluções para uma permanência duradoura no planeta, do outro lado temos os predadores (a indústria de armas bélicas, do narcotráfico, da prostituição e de facções criminosas), que não permitem a construção de uma sinergia da valorização do conhecimento. No aspecto textual, o art.2º incrementa novas perspectivas; mas, contudo, ele poderá vigorar de fato, no momento em que todas as instâncias sociais permitirem em aderir a essa proposta, que tem como meta desconstruir tudo aquilo que traz danos ao bem estar social. Logicamente esses pontos serão abordados por alguns setores dentro do evento Rio + 20. Nossa turma estará presente. Vamos ver o que acontece.

A marca ecológica das nações


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A marca ecológica das nações

Em 2008 o mundo tinha terra e mar produtivos o suficiente na proporção de 1,8 hectare global por pessoa


A marca ecológica é uma medida do consumo e emissões de dióxido de carbono tanto de indivíduos como de países. Esta medida é expressa pela Global Footprint Network (GFN), uma ONG, em termos de “hectares globais” – o número de hectares de terra e mar necessários para produzir o total das quantidades de carbono consumidas e emitidas.

Isto é calculado a partir da produtividade média de seis tipos de uso do terreno (que podem se sobrepor): terra arável, floresta, pasto, áreas construídas, sequestro de carbono e áreas pesqueiras. A GFN considera que em 2008 o mundo tinha terra e mar produtivos o suficiente na proporção de 1,8 hectare global por pessoa, o último ano para o qual há dados disponíveis.

Se isso estiver certo, os humanos estão esgotando o planeta horrivelmente. Os mais perdulários do mundo são os habitantes do Catar, responsáveis pelo uso do equivalente a 11,7 hectares globais por pessoa. Os americanos são responsáveis por 7,2 hectares globais e os europeus ocidentais vão de 8,3 (Dinamarca) a 4,1 (Portugal). O título dos consumidores mais modestos do mundo é dividido entre os afegãos, timorenses e palestinos, que consumiram ou emitiram cada um apenas 0,5 hectare global.

Fontes:The Economist – Big foot

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Anti-intelectualismo é cada vez maior nas escolas dos EUA


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Proibição de livros gerou polêmica e deu origem aos ‘traficantes de livros’ (Reprodução/Internet)

Anti-intelectualismo é cada vez maior nas escolas dos EUA

Lista de livros proibidos nas escolas após aprovação de lei no Arizona inclui

obras de autores como Isabel Allende, Thoreu e Shakespeare


Isabel Allende

Isabel Allende is among writers whose work has been removed from Arizona schools under an anti-ethnic studies initiative.  Photograph: Koen Van Weel/AFP/Getty Images

A lei estudantil antiétnica aprovada pelo Arizona proíbe ensinamentos que “promovam a derrubada do governo dos Estados Unidos”, “promovam ressentimento para uma raça ou classe de pessoas”, “sejam projetados principalmente para os alunos de um determinado grupo étnico”, e/ou “defendam a solidariedade étnica ao invés de advogar o tratamento dos alunos como indivíduos”. A lista de livros retirados do sistema público de ensino em cidades como Tucson inclui obras de Isabel Allende, Junot Díaz, Jonathan Kozol, Rudolfo Anaya, Sandra Cisneros, James Baldwin, Howard Zinn, Rodolfo Acuña, Ronald Takaki, Jerome Skolnick e Gloria Anzaldúa. Até mesmo A Desobediência Civil, de Henry David Thoreau e A Tempestade, de William Shakespeare foram cortados.

Tentando explicar o que era ofensivo o suficiente para justificar essa decisão e a demissão de seu diretor; Michael Hicks, membro do conselho escolar de Tucson, declarou orgulhosamente que ele não era realmente familiarizado com o currículo. “Eu escolhi não ir a qualquer de suas aulas”, disse ele no The Daily Show. “Por que ir?”, perguntou Hicks, que na mesma entrevista, se referiu a Rosa Parks como “Rosa Clark”.

A situação no Arizona não é um fenômeno isolado. Houve um pequeno aumento infeliz em proibições de livros acadêmicos e demissões, agravado por um descrédito nacional quanto aos professores, seus sindicatos e seu conhecimento em si. Brooke Harris, uma professora da Academia de Excelência em Pontiac, Michigan, foi sumariamente demitida após pedir permissão para deixar que seus alunos angariassem fundos para a família de Trayvon Martin, o jovem negro assassinado na Flórida em fevereiro. Trabalhando em uma escola pública independente, Harris era uma empregada à vontade, logo pouca justificativa foi necessária para sua demissão. Segundo Harris, “me disseram que eu estava sendo paga para ensinar, não para ser uma ativista”.

A lei tem tomado alguns rumos surpreendentes também. Em 2010, a professora Shelley Evans-Marshall foi demitida depois que os pais queixaram-se de uma tarefa na qual ela pediu a seus alunos numa aula de artes que consultassem a lista da American Library Association, dos “100 livros mais controversos”, e escrever uma redação sobre a censura. A queixa contra ela girou em torno de três textos específicos: Siddhartha, de Hermann Hesse; O Sol É Para Todos, de Harper Lee; e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (ela também teria, anos antes, mostrado aos alunos uma versão para adolescentes de Romeu e Julieta, de Shakespeare).

O tribunal considerou que o conteúdo dos ensinamentos de Evans-Marshall envolvia questões “de interesse político ou social para a comunidade”, e que seu interesse na livre expressão superava certos interesses que pertencem à escola. Mas, fatalmente, o tribunal concluiu que “os funcionários do governo não falam como cidadão, para fins da Primeira Emenda”. Assim, o tribunal concluiu que é “a instituição de ensino que tem o direito de liberdade acadêmica, não o indivíduo professor”.

Há um número de fatores em jogo na atual corrente de polêmica. Um deles é um sentido bastante impressionante de privilégio, o sentimento de superioridade confiante que permite que alguém julgue um corpo de trabalho sem ter feito qualquer estudo.  Isso não é mera arrogância, é a mesma mentalidade limitada que permite que alguém como Michael Hicks esteja no comando de um dos principais sistemas escolares norte-americanos sem ainda saber o nome correto de “Rosa Clark”.

Felizmente, há uma reação ocorrendo contra esse anti-intelectualismo. Um dos exemplos mais vibrantes é um grupo de protesto chamado Librotraficante, ou Traficantes de Livros. Organizado por Tony Diaz, um professor da Houston Community College, o grupo tem seguido em caravanas pelo sudoeste norte-americano, criando clubes de livros, estabelecendo “bibliotecas alternativas”, e distribuindo cópias dos livros que foram retirados do currículo das escolas públicas do Arizona.

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Kucinski: ‘Jorrou dinheiro empresarial à repressão política’


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Kucinski

Kucinski: ‘Jorrou dinheiro empresarial à repressão política’

O depoimento de Claudio Guerra, em “Memórias de uma guerra suja”, detalha o envolvimento de empresários com a ditadura. Esse é o aspecto que mais impressionou ao escritor e jornalista Bernardo Kucinski. Sua irmã, Ana Rosa Kucinski, e o cunhado, Wilson Campos, foram sequestrados em 1974 e integram a lista dos desaparecidos. Bernardo atesta: “Está tudo lá: empresas como Gasbras, White Martins, Itapemirim, grupo Folha e o banco Sudameris; o dinheiro dos empresários jorrava para custear as operações clandestinas e premiar bandidos com bonificações generosas”.

Saul Leblon

São Paulo – O livro ‘Memórias de uma guerra suja’, depoimento do ex-delegado do DOPS, Claudio Guerra, a Marcelo Netto e Rogério Medeiros, foi recebido inicialmente com certa incredulidade até por setores progressistas. Há  revelações ali que causam uma rejeição visceral de auto-defesa. Repugna imaginar que em troca de créditos e facilidades junto à ditadura, uma usina de açúcar do Rio de Janeiro tenha cedido seu forno para incinerar cadáveres de presos políticos mortos nas mãos do aparato repressivo.
O acordo que teria sido feito no final de 1973, se comprovado, pode se tornar o símbolo mais abjeto de uma faceta sempre omitida nas investigações sobre a ditadura: a colaboração funcional, direta, não apenas cumplicidade ideológica e política, mas operacional, entre corporações privadas, empresários e a repressão política. Um caso conhecido é o da ‘Folha da Tarde’, jornal da família Frias, que cedeu viaturas ao aparato repressivo para camuflar operações policiais.
Todavia, o depoimento de Guerra mostra que nem o caso da usina dantesca, nem o repasse de viaturas da Folha foram exceção. Esse é o aspecto do relato que mais impressionou ao escritor e jornalista Bernardo Kucinski, que acaba de ler o livro. Sua irmã, Ana Rosa Kucinski, e o cunhado, Wilson Campos, foram sequestrados em 1974 e desde então integram a lista dos desaparecidos políticos brasileiros. Bernardo atesta:’ Esta tudo lá: empresas importantes como a Gasbras, a White Martins, a Itapemirim, o grupo Folha e o banco Sudameris, que era o banco da repressão; o dinheiro dos empresários jorrava para custear as operações clandestinas  e premiar os bandidos com bonificações generosas’.
No livro, Claudio Guerra afirma que Ana Rosa e Wilson Campos – a exemplo do que teria ocorrido com mais outros oito ou nove presos políticos -tiveram seus corpos incinerados no imenso forno da Usina Cambahyba, localizada no município fluminense de Campos.
A incredulidade inicial começa a cair por terra. Familiares de desaparecidos políticos tem feito algumas checagens de dados e descrições contidas no livro. Batem com informações e pistas anteriores. Consta ainda que o próprio governo teve acesso antecipado aos relatos e teria conferido algumas versões, confirmando-as. Tampouco o livro seria propriamente uma novidade  para militantes dos direitos humanos que trabalham junto ao governo.
O depoimento de Guerra, de acordo com alguns desses militantes, teria sido negociado há mais de dois anos, com a participação direta de ativistas no Espírito Santo. A escolha dos jornalistas que assinam o trabalho – um progressista e Marcelo Netto, ex-Globo simpático ao golpe de 64 – teria sido deliberada para afastar suspeitas de manipulação. Um pedido de proteção para Claudio Guerra já teria sido encaminhado ao governo. Sem dúvida, o teor de suas revelações, e a lista de envolvimentos importantes, recomenda que o ex-delegado  seja ouvido o mais rapidamente possível pela Comissão da Verdade.
Bernardo Kucinski, autor de um romance, ‘K’, – na segunda edição – que narra a angustiante procura de um pai pela filha engolida no sumidouro do aparato de repressão, respondeu a quatro perguntas de Carta Maior sobre as “Memórias de uma Guerra Suja”:
Carta Maior Depois de ler a obra na íntegra, qual é a sua avaliação sobre a veracidade dos relatos?
Kucinski – As confissões são congruentes e não contradizem informações isoladas que já possuíamos. Considero o relato basicamente veraz, embora claramente incompleto e talvez prejudicado pelos mecanismos da rememoração, já que se trata da confissão de uma pessoa diretamente envolvida nas atrocidades que relata.
CMPor que um depoimento com tal gravidade continua a receber uma cobertura tão rala da mídia? Por exemplo, não mereceu capa em nenhuma revista semanal ‘investigativa’.
Kucinski – Pelo mesmo motivo de não termos até hoje um Museu da Escravatura , não termos um memorial nacional aos mortos e desaparecidos da ditadura militar, e ainda ensinarmos nas escolas que os bandeirantes foram heróis; uma questão de hegemonia de uma elite de formação escravocrata.   CMDo conjunto dos relatos contidos no livro, quais lhe chamaram mais a atenção?
Kucinski – O episódio específico que mais me chamou a atenção foi a participação direta do mesmo grupo de extermínio no golpe organizado pela CIA para derrubar o governo do MPLA em Angola, com viagem secreta em  avião da FAB. CMO que mais ele revela de novo sobre a natureza da estrutura repressiva montada no país, depois de 64?
Kucinski – Fica claro que as Forças Armadas montaram grupos de captura e extermínio reunindo matadores de aluguel, chefes de esquadrões da morte, banqueiros do jogo do bicho, contrabandistas e narcotraficantes. Chamaram esses bandidos e seus métodos para dentro de si. Esses criminosos, muitos já condenados pela justiça, dirigidos e controlados por oficiais das Forças Armadas, a partir de uma estratégia traçada em nível de Estado Maior, executavam operações de liquidação e desaparecimento dos presos políticos, o que talvez explique o barbarismo das ações. Também me chamou a atenção a participação ampla de empresários no financiamento dessa repressão, empresas importantes como a Gasbras, a White Martins, a Itapemirim, o grupo Folha – que emprestou suas peruas de entrega para seqüestro de ativistas políticos -, e o banco Sudameris, que era o banco da repressão; dinheiro dos empresários jorrava para custear as operações clandestinas  e premiar os bandidos com bonificações generosas . Está tudo lá no livro.

O marxismo é religião?


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O marxismo é religião?

Certa feita, num evento acadêmico, causou acirrada polêmica e furor um comentário sobre as afinidades eletivas entre marxismo e religião. Não foi meu intuito afirmar que o marxismo em geral é uma espécie de religião laica. Apenas chamei a atenção para o fato de que determinados comportamentos, observados em minhas vivências, muito se assemelham a uma forma religiosa de conceber e praticar uma ideologia. Outro dia, por exemplo, a fala de um companheiro, seu tom de voz e gesticulações, aliado ao conteúdo sectário da sua mensagem, mais me parecia uma pregação profética de verdades dogmáticas. Contribuía até mesmo a aparência física do falante, com sua barba branca que assinalava o passar dos anos. Era um discurso de fé e defesa da ortodoxia. Mais parecia que estava diante de um profeta falando para discípulos convertidos. E não é uma questão de idade. Noutra ocasião, observando um jovem acadêmico a defender o marxismo, tive a impressão de estar perante um sacerdote neófito.

Compreendo a paixão que move uns e outros, mas parece-me que são tênues os limites entre a adesão voluntária e racional a uma determinada ideologia – um ismo qualquer – e a transubstanciação desta em uma crença ortodoxa, à maneira religiosa. Parece-me, portanto, que, em determinados contextos, as ideologias laicas adquirem caráter religioso. Então, seus profetas, pequenos sacerdotes e seguidores, acríticos e papagaios de slogans, agem à maneira dos grandes e pequenos inquisidores. E se não nos lançam na fogueira da inquisição laica é, simplesmente, porque não tem o poder.

Felizmente, este tipo de comportamento não é geral. No entanto, parece-me que há uma certa vinculação entre fé e ideologia. É uma hipótese. Será que as ideologias embutem em si um certo messianismo? Não expressam o desejo humano de construir o paraíso aqui na terra? Estou convencido de que os sonhos de sociedades perfeitas são perigosos. O ser humano real é imperfeito. As sociedades criadas pelo humano são imperfeitas. Imaginar a ordem social perfeita é idealismo – ainda que em nome do materialismo dialético.

Bem sei que há marxistas que não são dogmáticos nem agem à maneira religiosa. Mas também há a patrulha ideológica que, diante de qualquer possibilidade de crítica ao cânone, logo buscam os rótulos políticos – quando não o mero xingamento – para afastar os críticos. De qualquer forma, estas reflexões me fizeram lembrar a leitura de Tempos interessantes: uma vida no século XX, do historiador marxista Eric J. Hobsbawm. Neste livro, Hobsbawm faz referências a termos próprios da religião. Por exemplo, ao analisar o Movimento Comunista Internacional após a morte de Stalin, escreve:

“Embora a Igreja Comunista Universal tivesse feito surgir diversos grupos cismáticos e hereges, nenhum dos grupos rebeldes que ela gerou, expeliu ou matou jamais conseguiu estabelecer-se além do âmbito local como rival, até que Tito o fizesse em 1948…” (p. 226).[1]

O marechal Josip Broz Tito, dirigente máximo da ex-Iuguslávia socialista, foi “excomungado” da “Verdadeira Igreja”, até que, em 1955, houvesse a reconciliação com Kruchev. E os comunistas que tiveram que aceitar a excomunhão, agora se viam obrigados a reconsiderar.

Segundo Hobsbawm, “Para os jovens revolucionários de meu tempo, as manifestações de massa eram equivalentes às missas papais para os católicos devotos” (p. 354). É muito interessante o seu depoimento sobre o significado do ser comunista naquela época:

“Para os que, como eu, se tornaram comunistas antes da guerra, e especialmente antes de 1935, a causa do comunismo era em verdade algo a que pretendíamos dedicar nossas vidas, e alguns de fato o fizeram. A diferença crucial veio a ser entre os comunistas que passaram a vida na oposição e aqueles cujos partidos tomaram o poder, e que portanto se tornaram direta ou indiretamente responsáveis pelo que ocorreu em seus regimes. O poder não corrompe necessariamente as pessoas como indivíduos, embora não seja fácil resistir a sua corrupção. O que o poder faz, especialmente em tempos de crise e de guerra, é tornar-nos capazes de realizar e justificar coisas inaceitáveis se fossem feitas por indivíduos privados. Para os comunistas como eu, cujos partidos nunca estiveram no poder nem metidos em situações que exigissem decisões sobre a vida ou a morte de outras pessoas (resistência, campos de concentração), as coisas foram mais fáceis” (p. 150).

Ser comunista nesta fase, segundo o título da autobiografia de Giorgio Amendola, líder comunista italiano antes da guerra, era “Uma escolha de vida” (Una scelta di vita) (p. 150). Exigia dedicação plena ao partido:

“O “partido de vanguarda” leninista era uma combinação de disciplina, eficiência executiva, completa identificação emocional e um sentimento de dedicação total” (p. 155, grifo do autor).

Um exemplo ilustrativo da “fé” no partido é o depoimento de um amigo do autor, Tedy Prager, sobre uma militante comunista, Freddie, que ficou presa sob uma viga após a detonação de uma bomba inimiga despejada em Cambridge, durante a Segunda Guerra Mundial, mas precisamente em 1941:

“Ela gritava que o fogo estava queimando seus pés, e eu continuava a dar machadadas na viga, mas nada acontecia. Pobre Freddie… Não adianta, ela agora gritava, vou morrer. E então, enquanto as lágrimas me vinham aos olhos devido ao desespero e à fumaça, tão exausto que não conseguia levantar o machado, ela bradou: Viva o Partido, viva Stalin… Viva Stalin, gritava ela, e adeus rapazes, adeus Tedy” (citado p. 155).

Segundo Hobsbawm:

“Freddie não morreu, mas teve as pernas amputadas. Na ocasião, nenhum de nós consideraria surpreendente que as últimas palavras de um membro moribundo do Partido fossem para o Partido, para Stalin e para os camaradas. (Naquele tempo, a idéia de Stalin entre os comunistas estrangeiros era tão sincera, tão natural, tão imaculada pelo que se soube depôs, e tão universal quanto a genuína dor que sentimos em 1953 por ocasião da morte de um homem que nenhum cidadão soviético desejaria – ou ousaria – chamar por um apelido como “tio Joe” na Inglaterra ou “Bigodudo” [Baffone] na Itália. Nossas vidas eram para o Partido. Devíamos tudo o que tínhamos e recebíamos de volta a certeza de nossa vitória e a experiência da fraternidade” (p. 155-156).

“Aceitávamos a absoluta obrigação de seguir a “linha” que nos era proposta, mesmo se discordássemos dela, embora fizéssemos esforços heróicos para nos convencer de sua “correção” intelectual e política a fim de defendê-la, como se esperava de nós. Ao contrário do fascismo, que exigia abdicação automática e submissão à vontade do líder (“Mussolini sempre tem razão”) e o dever incondicional de obedecer a ordens militares, o Partido – mesmo no auge do absolutismo de Stalin – apoiava sua autoridade, pelo menos em teoria, no poder de convencimento da razão e do “socialismo científico”. Afinal de contas, supunha-se que fosse baseado numa “análise marxista da situação”, que todos os comunistas deveriam aprender a fazer” (p. 156).

A dedicação abnegada ao partido era plena e incluía, inclusive, aspectos da vida privada e sentimental:

“Fazíamos o que o Partido nos mandava fazer. Em países como a Grã-Bretanha ele não nos requisitava nada de muito dramático. Na verdade, não fosse sua convicção de que aquilo que faziam estava salvando o mundo, os comunistas poderiam sentir-se entediados com as atividades rotineiras de sue Partido, conduzidas segundo o ritual costumeiro dos movimentos trabalhistas ingleses (camarada presidente, minutas de reuniões, relatório de tesoureiro, resoluções, contatos, vendas de livros, e tudo o mais) em casas particulares ou salas de reunião pouco acolhedoras. Mas obedeceríamos a quaisquer ordens que o Partido nos desse. Afinal, a maioria dos quadros soviéticos e do Komintern, no período do terror stalinista, que sabiam o que os esperava, acataram a ordem de regressar. Se o Partido mandasse abandonar o amante ou o cônjuge, obedecia-se. Após 1933 o Partido alemão no exílio ordenou a Margaret Mynatt (mais tarde inspiradora das Obras completas de Marx e Engels em língua inglesa) que fosse de Paris para a Inglaterra, pois precisava de alguém em Londres, e, como a entrada de comunistas alemães conhecidos era negada, foi necessário contar com um camarada com documentação britânica válida. Sem um momento de hesitação ela abandonou o amor de sua vida (assim me disse ela mais tarde) e partiu. Nunca mais o viu (ou seria a viu?) novamente” (p. 156-157).

“Era impensável qualquer relacionamento sério com quem não fosse membro do Partido ou estivesse para ingressar (ou reingressar)” (p. 157).

Este também foi o caso do primeiro casamento do autor:

“Naturalmente ela era também comunista; filiou-se ao Partido quando casamos – naquela época eu consideraria inconcebível casar com que não fosse membro do Partido…” (p. 200).

“Confesso que no momento em que percebi ser capaz de imaginar uma verdadeira relação com alguém que não fosse recruta potencial do Partido compreendi que já não era mais comunista no sentido integral de minha juventude” (p. 157).

Ser comunista pressupunha um ethos, uma moral revolucionária, uma conduta objetiva e subjetiva, a fé no socialismo e no partido:

“Nesses tempos a sociedade deles é uma versão em miniatura da sociedade ideal, na qual os homens são irmãos e sacrificam tudo pelo bem comum sem abandonar sua individualidade. Se isso é possível no âmbito do movimento, por que não será possível em toda parte” (p. 158).[2]

“A essa altura eu havia reconhecido, com Milovan Djilas, que tratou extraordinariamente vem da psicologia dos revolucionários, que “essa é a moralidade de uma seita”, mas que isso é precisamente o que lhes deu tanta força como impulsores da mudança política” (p. 158).

Hobsbawm enfatiza que “o comunismo representou o ideal de transcender o egoísmo e servir toda a humanidade sem exceção” (p. 160). Isto exigia sacrifícios:

“Dureza, até mesmo falta de piedade, fazer o que tinha de ser feito, antes, durante e depois da revolução, era a essência do bolchevique. Era a reação necessária aos tempos” (p. 160-161).

“Na guerra total em que estávamos metidos, não nos perguntávamos se deveria haver limites aos sacrifícios impostos a outrem, mais do que a nós mesmos. Como não estávamos no poder, nem era provável que chegássemos a ele, esperávamos ser prisioneiros, mais do que ser carcereiros” (p. 161)

“Havia partidos comunistas e seus funcionários, como André Marty que aparece em Por quem os sinos dobram, de Hemingway, que se orgulhavam de seu bolchevismo “duro como aço”, e não menos o Partido Comunista soviético, no qual este se juntava à tradição absolutista de poder ilimitado e à brutalidade da existência russa cotidiana para produzir as hecatombes da era stalinista” (p. 161-162).

“… a prova de sua devoção à causa era a disposição de defender o indefensável.[3] Não era o credo cristão Credo quia absurdum (“acredito porque é absurdo”), e sim o constante desafio: “Podem me experimentar mais: como bolchevique, eu não sucumbo” (p. 162).

A fé pressupõe unicamente a crença. Não há algo de religiosidade neste ethos comunista? O leitor pode argumentar que o depoimento de Hobsbawm se refere ao período stalinista, ao período do culto à personalidade. Tem razão. Mas será que o culto aos líderes, a transformação da teoria dita revolucionária em dogma e a defesa da ortodoxia são aspectos restritos ao predomínio do “guia genial dos povos”? Afinal, há ou não manifestações ideológicas autodenominadas marxistas que mais se assemelham a seitas religiosas? Há ou não afinidades eletivas entre marxismo e religião? Qual a sua opinião, caro leitor, cara leitora?


[1] Todas as citações são de: HOBSBAWM, Eric J. Tempos interessantes: uma vida no século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2002 (grifos meus).

[2] Esse trecho é citado pelo próprio autor e refere-se ao que escreveu logo após a crise de 1956, quando se “encontrava mais próximo das convicções da juventude” (p. 158).

[3] Hobsbawm se refere a Theodore Rothstein, fundador do PC britânico, que sofreu muito ao cair em desgraça aos olhos de Moscou.

Propriedade Privada e Trabalho Alienado: desvendando imbricações ocultas


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KARL MARX

Propriedade Privada e Trabalho Alienado:

desvendando imbricações ocultas

ROSALVO SCHÜTZ*

1 – Para além do fato da propriedade privada

Os “Manuscritos de Paris” são um conjunto de apontamentos e de estudos realizados por Karl Marx nos anos 1843/44 em seu exílio em Paris. Estes escritos, publicados apenas em 1932 em Berlin, são também denominados “Manuscritos Econômico-Filosóficos”.

Como o nome revela, eles tematizam simultaneamente questões econômicas e filosóficas. Neles Marx buscava compreender os pressupostos estruturais e sociais da economia política. Sua forma de proceder objetivava, portanto, desvelar a gênese social de conceitos econômicos, uma vez que estes, por serem tomados como fatos dados, e, à medida que mediatizavam as relações humanas da sociedade capitalista, emprestavam, em sua opinião, uma aparente e enganadora naturalidade necessária a esta sociedade.

Mesmo sendo de uma variedade temática incrível, a relação entre trabalho alienado e propriedade privada toma uma importância singular ao longo dos “Manuscritos”, especialmente do primeiro. Nas três primeiras partes deste, Marx faz estudos sobre economistas renomados – entre eles J. B. Say, A. Smith e D. Ricardo – onde se destacam temas como salário, renda da terra e lucro do capital. Percebe-se um claro esforço de Marx a fim de entender os avanços destes economistas e, ao mesmo tempo, de superá-los. Foram os próprios economistas, segundo Marx, que deixaram claro, por exemplo, que, no modo capitalista de produção, a grande maioria das pessoas, que depende exclusivamente da venda de sua força de trabalho para sobreviver, está condenada a uma vida miserável, mesmo que a economia vá bem, pois quanto mais o trabalhador produz mais ele aumenta aquilo que o domina, ou seja, mais ele se torna impotente e relativamente pobre. E, quando a economia está em decadência, o primeiro que sofre as conseqüências disto, sendo submetido a salários de fome ou à miséria absoluta do desemprego, também é o trabalhador. Mesmo admitindo que a única fonte de riqueza e valor é o trabalho, estes mesmos economistas também afirmam uma superioridade dos proprietários em relação aos trabalhadores. Para eles, isto era um fato pressuposto, que resultava naturalmente da realidade.

Segundo Marx, isto só era possível porque a “[…] economia política parte do fato da propriedade privada. Não o explica” (MARX, 1975: 157). E, assim, ela é obrigada a aceitar também suas conseqüências como inevitáveis. O que sugeriria, inclusive, uma analogia com o mundo místico-religioso, onde a realidade só se torna aceitável à medida que dogmas fundamentais são aceitos e pressupostos.

2 – A especificidade da propriedade privada

Do que foi acima exposto decorre, portanto, que, caso se almeje qualquer possibilidade de questionamento ou de transformação da realidade em questão (tematizada pelos economistas apenas a partir de pressupostos dogmáticos), a desmistificação de conceitos, como o de propriedade privada, se coloca como sendo uma tarefa da maior importância. Por isto, a quarta e última parte do manuscrito leva o título “O Trabalho Alienado” (Die entfremdete Arbeit). Marx passa, assim, de um trabalho mais interpretativo de textos a uma perspectiva formuladora, com o objetivo de superar uma “absurda mística da propriedade privada” (Idem: 153) que impediria a humanidade de usufruir apropriadamente as riquezas socialmente produzidas.

Interessante é notar que, nessa época, algo que hoje é aceito com uma extraordinária naturalidade ainda estava em vias de constituição de sua legitimidade social: busca de propriedade privada enquanto motor e fim do agir humano. Ou seja, a busca privada de propriedade, o que, de antemão priva o outro de dela usufruir e que é a forma específica de esta existir na sociedade capitalista. Daí seu caráter privado, identificador de sua especificidade em relação a outras formas, como a propriedade comunitária, social ou mesmo da simples posse. Esta característica específica muito facilmente deixa de ser percebida por nós nos dias atuais. Ela carrega consigo o pressuposto que torna possível a legitimidade social da apropriação privada do trabalho alheio, sem que, para tanto, sejam necessárias ameaças e coações físicas, como era o caso no escravismo, ou mesmo sem precisar recorrer a uma suposta ordem teológica, como era o caso no período feudal. Por esta especificidade de a propriedade na sociedade capitalista não estar suficientemente clara, qualquer ameaça à mesma pode muito facilmente ser convertida em ameaça a toda e qualquer forma de propriedade, inclusive da simples posse. Até mesmo aqueles que não a possuem, ou que são regularmente impedidos de usufruir os frutos de seu próprio trabalho (por sua condição específica de trabalhadores), mesmos estes se sentem em risco com tal suposta ameaça. O que é, sem dúvida, uma artimanha ideológica muito eficiente contra o questionamento da propriedade privada, uma vez que qualquer questionamento é logo sofisticamente convertido em ameaça às próprias condições de existência material das pessoas e mesmo contra sua liberdade.

À época de Marx, esta forma de propriedade ainda não gozava da legitimidade ideológica que tem nos dias atuais. A existência da mesma era, muitas vezes e facilmente, associada a todo tipo de mazelas humanas e sociais. Uma questão citada, por exemplo, por Thomas Morus, em seu livro Utopia, é o processo violento de desapropriação de terras ao qual foram submetidos imensos contingentes da população inglesa, que exerciam sobre estas terras diversas formas de propriedade, que não a privada. A causa da miséria decorrente desses processos de cercamento, processos exercidos a fim de viabilizar a criação de ovelhas, com o objetivo de abastecer as nascentes indústrias têxteis com matéria-prima, era identificada claramente com a apropriação privada das terras. Não foram poucos os teóricos que identificaram todo o tipo de misérias da época com a existência da propriedade privada. Propostas dos socialistas utópicos, como as cooperativistas de Proudhon ou mesmo os falanstérios de Charles Fourier, eram tentativas de se contrapor à mesma, tida como a geradora de uma sociedade e de indivíduos cada vez mais alienados de suas autênticas propriedades humanas e sociais. Segundo Marx, no entanto, estes pensadores, em certa medida, partiam do mesmo pressuposto dos economistas, pois assumiam dogmaticamente a propriedade privada como sendo um fato dado, sem explicá-lo, deixando, assim, de entender a gênese social deste fato.

Para, no entanto, poder questionar algo a partir de sua gênese constituidora, é preciso entender suas condições de possibilidade, ou, em outras palavras, a processualidade social e humana pressuposta. O mérito da reflexão de Marx em relação ao tema, no escrito em questão, é que, em vez de afirmar que a propriedade privada é a causa da alienação, como faziam os socialistas utópicos, afirma o contrário: que o trabalho alienado é a causa (condição de possibilidade) da propriedade privada.

3. Em busca da gênese social da propriedade privada

Marx realiza seu intento teórico à medida que vai desvendando e aprofundando os pressupostos humanos e sociais desta forma específica de propriedade a partir de níveis diferenciados de alienação. Busca, assim, “apreender a conexão essencial entre todo este sistema de alienação […] e o sistema do dinheiro” (Idem: 158), termo utilizado na época para designar o que mais tarde se passaria a chamar, consensualmente, de sociedade capitalista.

Para tanto, Marx assume um fato que os próprios economistas haviam descoberto (do qual muitas vezes não nos damos conta), qual seja, o de que o “trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz” (Idem: 159), já que ocorre que as riquezas produzidas pelo trabalhador são apropriadas por outros. Marx busca, no entanto, investigar os pressupostos ocultos neste fato, ou seja, como é possível que quanto mais o trabalhador produz mais ele valoriza o mundo das coisas e o poder daqueles que o dominam?

Segundo os economistas, este parece ser um destino humano, ou seja, o trabalhador exteriorizar-se em coisas físicas, objetivando-se e aumentando, desta forma, o poder das coisas sobre o poder humano. Dessa forma, a apropriação do objeto no processo de trabalho, uma vez que trabalho é sempre um processo de exteriorização, aparece sempre como sendo alienação de si mesmo. A economia política não ultrapassa este estágio do pensamento, simplesmente identificando objetificação/exteriorização com alienação, e apresentando, assim, a alienação do produto do trabalho como algo naturalizado e necessário. Marx não se satisfaz com esta explicação e procura deduzir outras implicações deste fato. Reflete, por isto, que o trabalhador é duplamente dependente do objeto, ou seja, não apenas porque ele não pode produzir sem ter um mundo sensível com o qual interage, mas também porque precisa deste mundo exterior para se manter como ser vivo, comendo, respirando, etc. Conclui-se, portanto, que a humanidade concreta e viva do homem só pode se realizar à medida que este se relaciona com o mundo exterior.

Neste fato, Marx evidencia uma realidade que não aparecia na afirmação superficial da alienação do trabalho em relação ao objeto. Afinal, se a interação humana com o objeto tem um significado mais amplo do que uma simples objetificação, a alienação do objeto também tem implicações mais amplas e profundas, de forma que na “alienação do objeto do trabalho, resume-se apenas a alienação na própria atividade do trabalho” (Idem: 162). Decorre, portanto, que o próprio processo produtivo já deve ser um processo ativo de alienação, ou seja, não basta distribuir os produtos do trabalho alienado, pois é o próprio processo de trabalho enquanto processo ativo de alienação que precisa ser superado. Em vez de uma alienação factual e estanque, a alienação passa a ser concebida a partir de sua origem processual e social. Esta realidade, segundo Marx, é constatável pelo fato de que, no processo de produção capitalista, o trabalhador se sente infeliz e oprimido, chegando ao extremo de que “o trabalhador só se sente em si fora do trabalho, enquanto no trabalho se sente fora de si. Assim, o seu trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado” (Idem: 162). O trabalhador, neste caso, sente que está se arruinando espiritual e fisicamente. O trabalho não traz satisfação em si, serve apenas como meio para atingir outros fins, pois o trabalhador sabe que o trabalho não é seu, que ele pertence a outro. Ele nem mesmo decide sobre a forma de proceder e a finalidade do mesmo. É apenas um sacrifício necessário.

Como a ação que o trabalhador realiza neste processo é expressão de sua própria vida, é sua própria vida enquanto atividade produtiva que se aliena. Esta reflexão permite que Marx possa perceber um nível ainda mais profundo de alienação implícito ao trabalho alienado, ou seja, a auto-alienação. Esta, no entanto, não é um simples processo de objetificação de um indivíduo, pois a própria atividade do trabalho só é possível à medida que os homens são capazes de uma atividade vital consciente, ou seja, à medida que eles fazem uso de qualidades humanas universais, enquanto seres genéricos, ou, nas palavras de Marx: “como um ser universal, e portanto livre” (Idem: 163). Não é, pois, em um nível puramente intelectual, mas em sua atuação sobre a natureza, ou seja, moldando a natureza conforme sua natureza humana, que o ser humano efetivamente se manifesta como ser livre. Como esta atuação/interrelação com a natureza não lhe pertence mais, é sua liberdade que lhe é usurpada. Dessa forma, suas qualidades propriamente humanas servem apenas como meios, vendidos a alguém, para satisfazer indiretamente suas necessidades animais, como comer, vestir, etc.

Como conseqüência subseqüente, pode-se afirmar que, quando “o homem se aliena de si mesmo, entra igualmente em oposição com os outros homens” (Idem: 166), ou seja, pelo fato de o homem ter se alienado de seu corpo, de sua natureza externa e de sua capacidade de ser livre, ele acaba se alienando também de seu semelhante, uma vez que a própria espécie humana passou a ser algo estranho para ele. No dizer de Marx:

O que se verifica com a relação do homem ao seu trabalho, ao produto do seu trabalho e a si mesmo, verifica-se também com a relação do homem aos outros homens, bem como ao trabalho e ao objeto do trabalho dos outros homens. De modo geral, a afirmação de que o homem se encontra alienado da sua vida genérica significa que um homem está alienado dos outros, e que cada um dos outros se encontra igualmente alienado da vida humana (Idem: 166).

A conclusão a que Marx chega é inédita: a alienação do homem em relação a seu produto, ao processo de produção e a si mesmo, experimenta-se, primeiramente, na relação do homem com os outros homens, desvendando-se, assim, uma inter-relação nas formas de alienação. Dessa forma, a que surgiu por último, a saber, a alienação do homem em relação aos outros homens é, também, condição das anteriores. Ou seja, há uma inquestionável primazia deste último nível de alienação em relação aos demais. O estranhamento e a indiferença dos homens na relação uns com os outros se mostra, portanto, como sendo o fundamento social mais profundo da alienação e não a propriedade privada. Ou, dito de outra forma: toda “auto-alienação do homem, de si mesmo e da natureza, transparece na relação que ele postula entre os homens, si mesmo e a natureza” (Idem: 168).

A possibilidade de que um ser humano se aproprie do produto do trabalho de outro ser humano só é possível à medida que os seres humanos se relacionam entre si na qualidade de seres estranhos. Dizer que o homem se relaciona de forma alienada com seu trabalho significa dizer que outro homem usurpou este poder dele enquanto senhor que o determina e coage. “Por conseguinte, o homem, através do trabalho alienado, não só produz a sua relação ao objeto e ao ato de produção como a homens estranhos e hostis, mas produz ainda a relação dos outros homens à sua produção e ao seu produto e a relação entre ele mesmo e os outros homens” (Idem: 168), ou seja, nesta relação se efetiva a dominação de quem não produz sobre o produtor, a produção e o produto.

Os níveis diferenciados de alienação acima expostos são, portanto, pressupostos sociais e humanos para que alguém possa se apropriar de forma aparentemente legítima do trabalho alheio. A alienação gera a possibilidade de apropriação privada dos produtos do trabalho humano socialmente produzido. A propriedade privada é, pois, fundamentalmente, produto e conseqüência do trabalho alienado, ou, nas palavras de Marx: “A propriedade privada deriva-se assim da análise do conceito de trabalho alienado, ou seja, do homem alienado, do trabalho alienado, da vida alienada do homem estranho a si próprio” (Idem: 168).

4. Perspectiva político-pedagógica

As reflexões de Marx, no escrito em questão, são de uma extrema atualidade e produtividade político-pedagógica. Gostaríamos de chamar atenção para alguns destes possíveis aspectos.

Em primeiro lugar, ao tornar a questão da propriedade privada uma questão que diz respeito a uma processualidade social e a propriedades genuinamente humanas, Marx desmistificou alguns dogmas dos economistas, evidenciando pressupostos e relações de poder e dominação camuflados por estes dogmas. “De fato, ao falar-se de propriedade privada, há quem pense estar a ocupar-se de algo externo ao homem. Mas, quando se fala de trabalho, havemo-nos imediatamente com o próprio homem” (Marx: 171), ou seja, Marx revelou relações de dominação implícitas nos pressupostos da propriedade privada, trazendo, assim, estas relações para a esfera da sociedade e das decisões humanas e políticas.

Em segundo lugar, fica evidente que o simples aumento de salários ou uma distribuição mais eqüitativa dos produtos do trabalho apenas afeta a forma mais superficial do processo de alienação e em nada altera as condições de possibilidade e de reprodução da propriedade privada, uma vez que não é a desigualdade de renda que gera a alienação e a escravidão do homem. Neste sentido, é válida a afirmação de Marx, segundo a qual “um aumento de salários forçado […] não passaria de uma melhor remuneração dos escravos e não restituiria o significado e o valor humanos nem ao trabalhador, nem ao trabalho” (Idem: 170). Desta forma, Marx aponta para a ilusão na qual incorrem teorias que pregam uma igualdade de salários, como forma de superação da propriedade privada, e nos desafia a buscar a superação das raízes sociais e humanas desta condição. Da mesma forma, fica evidente a esterilidade de  propostas emancipatórias que não impliquem simultaneamente transformações nas relações dos seres humanos com a natureza, entre si e do processo produtivo.

Em terceiro lugar, ao demonstrar que é no próprio processo de alienação que se efetivam as condições de possibilidade da propriedade privada, Marx abre um leque incrível para as ações emancipatórias, pois, se o processo de alienação é, ao mesmo tempo, um processo de perda do ser humano de si, dos outros e da natureza, o processo inverso só pode ser um processo de re-apropriação e de potencialização destas propriedades perdidas. Como esta alienação encontra sua expressão mais radical na relação dos seres humanos entre si e com a natureza, sua superação implica, prioritariamente, a superação do isolamento social em que nos encontramos na sociedade capitalista e a construção de uma outra relação com a natureza interna e externa do ser humano.

O processo de emancipação, portanto, é uma tarefa que pode ser empreendido em diversos níveis e esferas sociais, humanas e naturais, sem que seja preciso esperar por um momento ou sujeito redentor ou messiânico que o faça. Emancipação humana torna-se, assim, práxis social engajada, que vai muito além da estreita e grosseira concepção de política, pela qual muitas vezes somos encurralados e paralisados na atualidade.

Bibliografia:

FLICKINGER, Hans-Georg. Marx: nas pistas da desmistificação filosófica do capitalismo. Porto Alegre: L&PM, 1985.

MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1975.

MARX, Karl. Ökonomisch-philosophische Manuskripte. In: Marx/Engels Werke, Ergänzungsband. Berlin: Dietz Verlag, 1973.

SCHÜTZ, Rosalvo. Religião e capitalismo: uma reflexão a partir de Feuerbach e Marx. Porto Alegre: EDIPUCRS. Coleção Filosofia 126, 2001.


* ROSALVO SCHÜTZ é Docente de Filosofia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e Doutor em Filosofia – Universität Kassel-Alemanha. Publicado na REA, nº 87, agosto de 2008, disponível em http://www.espacoacademico.com.br/087/87schutz.htm