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Arquivo mensal: setembro 2011

As ilusões perdidas da pacificação


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Tendências e debates

Protesto de moradores do Complexo do Alemão (Reprodução/UOL)

As ilusões perdidas da pacificação

Problemas no Alemão e nas UPPs são um ‘balde de água fria’ para quem acha mesmo que o tráfico é um ‘câncer’ em uma sociedade sadia.

Por Hugo Souza

(Ilustração: Alviño)

O Jornal Nacional, da Rede Globo, acaba de ganhar em Nova Iorque um Emmy internacional, o “Oscar da televisão mundial”, por sua célebre cobertura ao vivo da expulsão de dezenas de bandidos do Complexo do Alemão e da posterior “sensação de liberdade” naquele conjunto de favelas da zona norte do Rio de Janeiro. Foi a sétima vez em nove anos que o Jornal Nacional chegou à final do Emmy, ganhando o prêmio pela primeira vez.

Talvez o JN volte a ganhar um Emmy no ano que vem se decidir ir a fundo na apuração das inúmeras denúncias de moradores do Alemão sobre arbitrariedades, toques de recolher, humilhações, agressões e intimidações por parte dos militares que ocuparam o complexo de favelas no esteio do escorraçamento dos seus antecessores imediatos em matéria de abusos contra a população local, os traficantes de drogas.

Hoje, pelas ruas do complexo do Alemão, pode-se ver faixas com os dizeres: “O povo do Alemão é humilhado pelo Exército. Sai o Comando Vermelho, entra o Comando Verde” e “Governador trocou seis por meia dúzia. A ditadura continua”. Sobre este tipo de protesto, as autoridades costumam dizer e — a imprensa costuma acreditar — que se trata de “ordem do tráfico”, ou no máximo de “crise de relacionamento entre os militares e a população”.

O presidente da OAB do Rio, Wadih Damous, é um dos que reconhecem que a ocupação militar do Complexo do Alemão não funciona, e pede a implantação “com urgência” de UPPs na área.

‘A UPP não vai resolver todos os problemas’

Os problemas no Complexo do Alemão, carro-chefe da “pacificação” do Rio de Janeiro, aliados à escalada de notícias sobre reclamações e denúncias de moradores de favelas onde já existem Unidades de Polícia Pacificadora, como torturas, revistas vexatórias, invasões de residências e até execuções, constituem um verdadeiro choque de realidade para aqueles que consideram o tráfico de drogas um “câncer social” a ser combatido para salvar uma sociedade supostamente sadia, e não um sintoma de um corpo doente.

Recentemente o coordenador de ensino e pesquisa das UPPs, major Eliezer de Oliveira, reconheceu — um tanto tardiamente ante toda a propaganda de que as favelas “pacificadas” se transformaram em paraísos na terra — o óbvio: “a UPP não vai resolver todos os problemas do Brasil, nem tampouco do Rio de Janeiro”.

Quarenta UPPs para garantir 2014

A ocupação do Complexo do Alemão pelo “Comando Verde” já custou ao Exército R$ 237,5 milhões desde a espetacular expulsão dos traficantes que valeu um Emmy à Globo, em novembro de 2010. O valor é equivalente a quase metade das verbas destinadas à modernização das Forças Armadas brasileiras em 2011.

A previsão era de que os militares deixassem o Alemão agora, em outubro de 2011, mas o prazo foi estendido até junho de 2012 a pedido do governo do Rio, que disse precisar de mais tempo para formar os dois mil policiais que pretende distribuir em quatro UPPs a serem instaladas no complexo de favelas. Caso a média de despesas do Exército na ocupação (R$ 25 milhões por mês) seja mantida, até o meio do ano que vem terão sido gastos R$ 475 milhões no total. Quase meio bilhão para manter o exército no Alemão.

Atualmente existem no Rio de Janeiro 18 UPPs distribuídas por 23 favelas onde moram 280 mil pessoas. Ao todo a secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro quer instalar 40 UPPs na capital fluminense até a Copa do Mundo de 2014.

Se o Bope do capitão Nascimento queria garantir o sono do papa, lá no primeiro “Tropa de Elite”, daqui a três anos estima-se que serão 6,6 mil “pacificadores” para garantir o sono do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e o sucessor do governador Sergio Cabral, que por certo anunciará um novo reforço nas UPPs visando as Olimpíadas de 2016, e por aí vai.

Caro leitor:

– Você acha que a presença do Exército no Complexo do Alemão garante a paz na comunidade?

– A instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) é a melhor solução para garantir o fim da violência nas favelas?

– A violência no Rio de Janeiro pode prejudicar a realização da Copa e dos Jogos Olímpicos?

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Parceria entre China e América Latina pode estar no fim


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The New York Times

Na última década, China se tornou o principal parceiro comercial de países como Chile e Brasil

Parceria entre China e América Latina

pode estar no fim

Vice-secretário de comércio internacional dos

Estados Unidos aposta em retorno de parceiros tradicionais

Enquanto os Estados Unidos e a Europa enfrentam uma realidade financeira terrível, a América Latina segue tranquila, com crescimento contínuo e previsões otimistas para os próximos anos. O relatório divulgado pela JPMorgan na última terça-feira, 27, analisou 40 investidores institucionais na América do Norte e na Europa, que se mostraram esperançosos quanto a oportunidades de investimento na região durante os próximos três meses, e contentes com as melhorias nas relações de investimento.

A maioria desses investidores, que juntos concentram cerca de US$ 57, 3 bilhões de ações ativas em companhias latino-americanas, vêem o Brasil como o país com os padrões de relações de investimento mais alto. O México, juntamente com o Peru, ocupou a última posição, em partes graças à disparidade padrões entre as grandes companhias e as empresas menores.

Os participantes apontam o Brasil e a Colômbia como os países mais promissores para os próximos três anos. A rápida expansão da classe média brasileira promete render um enorme crescimento, enquanto o governo colombiano é atraente para os investidores por suas políticas pró-negócios. A Argentina e a Venezuela são encaradas como as menos promissoras, devido a uma percepção de governos instáveis ou imprevisíveis.

A economia latino-americana está recebendo uma enorme atenção. Um relatório do banco Mundial publicado na semana passada atribui o crescimento da região a seus laços cada vez maiores com a China. Há dez anos, praticamente não havia comércio entre eles; hoje, a China é um dos maiores parceiros comerciais de algumas das potências da região, como o Brasil e o Chile.

Mas a lua-de-mel comercial entre a China e a América Latina pode estar com os dias contados. Francisco J. Sánchez, o vice-secretário de comércio internacional dos Estados Unidos, declarou – em uma visita à Cidade do México para promover negócios – que os latos custos de transportes, longos prazos de entrega e altas tarifas, estavam revertendo essa tendência. “Estamos vendo cada vez mais negócios voltando a esse hemisfério”, declarou Sánchez.

Fontes:The New York Times – Placing a Bet on Brazil

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”Temos necessidade de economistas cultos”.


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”Temos necessidade de economistas cultos”.

Entrevista com Manfred Max-Neef

Manfred Max-Neef estudou economia e fez carreira como empregado da Shell. Em 1957, deu as costas à indústria e se dedicou a estudar os problemas dos países em desenvolvimento. Trabalhou para organizações da ONU e em diversas universidades dos Estados Unidos e da América Latina. Inspirado pelo imperativo de Schumacher “small is beautiful”, desenvolveu teses que denominou de “Economia Descalça” e “Economia em Escala Humana”. Nos anos 90 formulou, com a hipótese do “Umbral”, a ideia de que a partir de determinado ponto do desenvolvimento econômico, a qualidade de vida começa a decair.

Manfred ganhou em 1983 o Right Livelihood Award, conhecido como o Prêmio Nobel Alternativo, dois anos depois de ter publicado o seu livro Economia descalça, sinais do mundo invisível. O economista começa por nos explicar o conceito de economia descalça. A entrevista é de Amy Goodman e está publicada no sítio da revista chilena Mundo Nuevo, 31-08-2011. A tradução é do Cepat. Eis a entrevista.

Bom, é uma metáfora, mas é uma metáfora que se originou de uma experiência concreta. Eu trabalhei em torno de 10 anos da minha vida em áreas de pobreza extrema nas serras, na selva, em áreas urbanas de diferentes partes da América Latina.

No começo deste período estava um dia em uma aldeia indígena na serra do Peru. Era um dia horrível, choveu o tempo todo. Era uma zona muito pobre e na minha frente havia um homem parado na lama (não na favela pobre, mas na lama). E bom, nos olhamos. Era de estatura baixa, magro, com fome, desempregado, cinco filhos, uma esposa e uma avó. Eu era o refinado economista de Berkeley, que ensinava em Berkeley, etc. Nos olhávamos cara a cara e logo me dei conta de que não tinha nada coerente a dizer nessas circunstâncias a este homem, que toda a minha linguagem de economista era inútil. Deveria lhe dizer que ficasse feliz pelo fato de que o PIB havia aumentado 5% ou algo assim? Tudo isto era completamente absurdo.

Então descobri que não tinha uma linguagem apropriada a esse ambiente e que tínhamos que inventar um idioma novo. Essa é a origem da metáfora ‘economia descalça’ que, concretamente, simboliza a economia que um economista deve usar quando se atrever a se entranhar nos bairros pobres. O ponto é que os economistas estudam e analisam a pobreza desde seus luxuosos escritórios, possuem todas as estatísticas, desenvolvem todos os modelos e estão convencidos de que sabem tudo o que é preciso saber sobre a pobreza. Mas eles não entendem o que é a pobreza, esse é o grande problema e é também o motivo pelo qual a pobreza ainda existe. Isto mudou completamente a minha vida como economista: inventei uma linguagem coerente com essas condições de vida.

O que você acredita que devemos mudar?

Oh, quase tudo. Somos dramaticamente idiotas. Agimos sistematicamente contra as evidências que temos. Sabemos exatamente o que não devemos fazer. Não há ninguém que não saiba isto, especialmente os grandes políticos sabem exatamente o que não se deve fazer. E mesmo assim o fazem. Depois do que aconteceu em outubro de 2008, você acharia que vão mudar porque se deram conta de que o modelo econômico não funciona, que inclusive tem um alto nível de risco, dramaticamente arriscado. E se perguntar: qual foi o resultado da última reunião da Comunidade Europeia? Agora são mais fundamentalistas do que antes. De tal modo que a única coisa de que se pode estar certo é que a próxima crise já está vindo e que será o dobro mais forte que a atual. Mas então já não haverá dinheiro suficiente. Essas são as consequências da sistemática estupidez humana.

Se você estivesse à frente da economia, o que faria para evitar outra catástrofe?

Antes de mais nada, temos necessidade novamente de economistas cultos, que saibam história, de onde vêm, como se originaram as ideias, quem fez o que e assim por diante. Em segundo lugar, uma economia que entenda que é subsistema de um sistema finito maior: a biosfera, e como consequência a impossibilidade de ter um crescimento econômico infinito. Em terceiro lugar, um sistema que tenha claro que não pode funcionar sem levar a sério os ecossistemas. Mas os economistas não sabem nada de ecossistemas, não sabem nada de termodinâmica, nada de biodiversidade, são totalmente ignorantes em relação a estes temas. Um economista deve ter claro que se os animais desaparecem, ele também desaparecerá, porque então já não haverá o que comer. Mas ele não sabe que dependemos totalmente da natureza, você se dá conta? Entretanto, para os economistas de hoje a natureza é um subsistema da economia, conceito que é totalmente absurdo!

Além disso, devemos aproximar o consumidor da produção. Eu moro bem no sul do Chile, uma região fantástica onde temos toda a tecnologia para a elaboração de produtos lácteos da máxima qualidade. Há alguns meses estava tomando café num hotel e ao pegar um pacotinho de manteiga descobri que esta vinha da Nova Zelândia, absurdo não lhe parece? E por que acontece uma coisas dessas? Porque os economistas não sabem calcular os custos reais. Trazer manteiga de um lugar que fica a 20.000 quilômetros para um lugar onde se produz a melhor, com o pretexto de que é mais barato é uma estupidez monumental porque não leva em conta o impacto causado sobre a natureza nesses 20.000 km de transporte. Como se fosse pouco, é mais barata porque é subsidiada.

É um caso muito claro em que os preços nunca dizem a verdade.

Tudo tem seu estratagema, sabe? Essas artimanhas causam enormes danos. Ao se aproximar o consumo da produção, se comerá melhor, se terá alimentos melhores e se saberá de onde vêm. Inclusive se poderia chegar a conhecer a pessoa que o produz. Humaniza-se o processo, mas atualmente o que os economistas fazem é totalmente desumanizado.

Não acredita que a própria terra nos forçará a agir de maneira diferente? Estaremos chegando ao fim?

Sim, claro. Alguns cientistas já estão dizendo isso, mas eu ainda não cheguei a esse ponto. Mas muitos acreditam e pensam que é definitivo, que estamos fritos, que dentro de algumas décadas não haverá mais humanos. Eu não creio que tenhamos chegado a esse ponto, mas que estamos próximo e direi que já cruzamos o primeiro dos três rios. Observe o que está acontecendo em todas as partes, é alarmante como a quantidade de catástrofes foi aumentando e se manifesta de todas as formas: tempestades, terremotos, erupções vulcânicas. O número de eventos cresce dramaticamente, é assustador e nós continuamos na mesma.

O que você aprendeu com as comunidades pobres nas quais viveu e trabalhou e que lhe dá esperanças?

A solidariedade das pessoas; o respeito pelos outros; a ajuda mútua; nada de avareza, um valor inexistente dentro da pobreza, quando se está inclinado a pensar que é ali onde mais está presente, que a avareza deveria ser patrimônio dos que menos têm. Não, todo o contrário, quanto mais se tem, mais se quer ter; a crise atual é produto da avareza. A avareza é o valor dominante do mundo atual. Enquanto persistir, estamos acabados.

Quais seriam os princípios que ensinaria aos jovens economistas?

Os princípios da economia devem estar fundamentados em cinco postulados e um valor fundamental.

Primeiro: a economia está para servir as pessoas e não as pessoas para servirem a economia.

Segundo: o desenvolvimento se refere às pessoas, não às coisas.

Terceiro: crescimento não é a mesma coisas que desenvolvimento e o desenvolvimento não necessariamente requer crescimento.

Quarto: não pode existir uma economia com um ecossistema falhando.

Quinto: a economia é um subsistema de um sistema maior e finito: a biosfera. Portanto, o crescimento permanente é impossível.

E o valor fundamental para poder consolidar uma nova economia é que nenhum interesse econômico, sob nenhuma circunstância, pode estar acima da reverência pela vida.

Explica o que acaba de dizer.

Nada pode ser mais importante que a vida. E digo vida, não seres humanos, porque para mim o ponto chave é o milagre da vida em todas as suas manifestações. Mas se predominar o interesse econômico, as pessoas não apenas se esquecem da vida e dos outros seres vivos, mas acabam ignorando os seres humanos. Se analisar esta lista que acabo de mencionar, um a um, verá que o que temos agora é exatamente o contrário.

Voltemos ao terceiro ponto, crescimento e desenvolvimento, e explica melhor.

Crescimento é uma acumulação quantitativa. Desenvolvimento é a liberação de possibilidades criativas. Todo sistema vivo da natureza cresce e quando atinge um determinado ponto deixa de crescer; você já não está mais crescendo, nem ele, nem eu. Mas continuamos nos desenvolvendo, de outro modo não estaríamos conversando neste momento. O desenvolvimento não tem limites, mas o crescimento sim. E este é um conceito muito importante que políticos e economistas ignoram, pois têm verdadeira obsessão pelo fetiche do crescimento econômico.

Trabalhei durante décadas e neste tempo foram realizados muitos estudos. Sou o autor de uma famosa hipótese: a hipótese do limite, que diz que em toda sociedade há um período de crescimento econômico – entendido convencionalmente ou não – que traz uma melhoria na qualidade de vida, mas apenas até certo ponto: o ponto limite, a partir do qual, se há mais crescimento, a qualidade de vida começa a decair. Esta é a situação na qual nos encontramos hoje.

Seu país é o exemplo mais dramático que pode encontrar. No meu livro que será publicado na Inglaterra, intitulado “A economia desmascarada”, há um capítulo chamado “Estados Unidos, um país em desenvolvimento”, o que é uma nova categoria. Atualmente, usamos os conceitos de desenvolvimento, subdesenvolvimento e em desenvolvimento. Agora temos o novo conceito de em desenvolvimento e seu país é o melhor exemplo, no qual o 1% dos norte-americanos estão cada vez melhor, melhor e melhor, ao passo que 99% estão em decadência em todos os sentidos. Há pessoas que moram em seus carros, sabe? Agora dormem em seus carros, estacionados em frente a que um dia foi sua casa. Milhares, milhões de pessoas perderam tudo. Mas os especuladores, os que criaram todo este problema, esses estão fantasticamente bem. Para eles não há problemas.

Então, como mudaria as coisas?

Bom, não sei como mudá-las. Quer dizer, sozinhas vão mudar, mas de maneira catastrófica. Para mim não seria estranho se de uma hora para a outra milhões de pessoas saíssem às ruas dos Estados Unidos para se manifestar. Não sei, mas poderia acontecer. Não sei. A situação é absolutamente dramática e se supõe que é o país mais poderoso do mundo. E ainda nestas condições, seguem com suas guerras absurdas gastando bilhões e trilhões. Treze trilhões de dólares para os especuladores e nem um só centavo para as pessoas que perderam suas casas! Que tipo de lógica é essa?

Sociedade Brasileira de Economia Ecológica
Campus Universitário Darcy Ribeiro – Gleba A, Bloco C – Av. L3 Norte, Asa Norte – Brasília-DF, CEP: 70.904-970
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Governos miram bolsos dos ricos


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The Economist

Governos miram bolsos dos ricos

Impostos sobre a população mais rica devem aumentar nos países desenvolvidos, mas existem maneiras mais eficazes de reverter os déficits

As trombetas soaram e os cães começaram a latir. Por todos os países desenvolvidos, a busca de mais impostos sobre os mais ricos começou. Recentes medidas de austeridade na França e na Itália trouxeram um aumento de 3% nas cobranças àqueles com rendas superiores a € 300 mil. Os conservadores britânicos estão sendo atacados por considerar o abandono da taxa “temporária” de 50% sobre ganhos acima de £ 150 mil, dos trabalhistas. Agora Barack Obama elaborou um novo plano de redução dos déficits que aponta os aumentos de impostos para os ricos, incluindo uma “regra Buffett”, que garante que nenhuma família que ganhe mais de US$ 1 milhão por ano pague menos impostos que a “classe média” (Warren Buffett afirmou que, apesar de ser um bilionário, ele paga menos impostos que sua secretária). Atingir os ricos para reverter o déficit não é “guerra de classes”, disse Obama. “É matemática”.

Na verdade, não se trata de pura matemática. O dilema de como taxar os milionários depende mais dos julgamentos políticos sobre o tamanho correto do Estado e papel apropriado da redistribuição. A matemática diz que os déficits poderiam ser controlados somente com os cortes de gastos – como defendem os oponentes republicanos de Obama. Guerra de classes pode ser um termo ultrapassado, mas ele captura um debate fundamental nas sociedades ocidentais: quem deve sofrer para que as finanças públicas sejam colocadas nos eixos?

Existem três boas razões para que os mais ricos paguem mais impostos – embora nenhuma dela se enquadre nos modelos que os governos do mundo rico estão propondo atualmente.

Em primeiro lugar, os déficits ocidentais não deveriam ser revertidos somente com cortes de gastos. Gatos públicos certamente deveriam ser afetados: há inúmeras maneiras de diminuir o tamanho do monstro governamental, e estudos de antigos programas de cortes de déficits sugerem que eles têm mais sucesso quando os cortes são predominantes. A proporção britânica de quatro pra um está correta.

Mas como essa proporção sugere, a experiência também mostra que impostos mais altos fazem parte da receita. Nos Estados Unidos, os impostos estão mais baixos do que nunca, apo uma série de reduções. Lá, e no resto do mundo, impostos devem ser aumentados para reverter esse quadro.

Em segundo lugar, há um argumento político para o aumento dessa nova recita oriundo dos bolsos dos ricos. Cortes de gastos caíram desproporcionalmente sobre os mais pobres, e mesmo antes da crise, as rendas médias já estavam estagnadas. Enquanto isso, a globalização vem premiando os vencedores de maneiras cada vez mais generosas. O apoio dos eleitores à austeridade atual depende de uma porção desproporcional de qualquer nova receita que venha dos mais ricos.

Mas como? Até agora os governos se concentraram no aumento das taxas de impostos sobre a renda, algo a que a maioria dos ricos responde rapidamente. Capitalistas mudam sua renda para formatos menos suscetíveis a impostos, como ganhos de capital; eles se mudam; eles trabalham menos; eles assumem menos riscos empresariais. Ainda que seja difícil precisar o tamanho desses efeitos, o tamanho do maior nível também faz diferença, logo os 50% dos britânicos são mais perigosos que a proposta de Obama, de aumentar a maior taxa de renda fiscal federal de 35% para 39,6%. Alguém ganhando US$ 1 milhão paga mais impostos em Londres do que em qualquer outra capital financeira – uma loucura para um local com tamanha mobilidade de pessoas ricas. A desculpa de que os impostos eram piores nos anos 1970 também não inspira confiança alguma.

Considerando a necessidade de um crescimento rápido no mundo rico, os governos devem estar atentos aos violentos aumentos de impostos – especialmente por que eles são desnecessários. De fato, o terceiro argumentos para coletar mais dinheiro dos ricos é que isso pode ser feito sem que as taxas marginais de impostos sejam aumentadas, mas sim, tornando o código fiscal mais eficiente.

O espaço para realizar tudo isso é mais óbvio nos Estados Unidos, que dependem muito mais dos impostos sobre renda do que outros países, e tem uma enormidade de deduções que vão desde pagamentos de juros em hipotecas a benefícios de saúde oferecidos por empregadores, o que faz com que os impostos sejam impostos sobre bases muito estreitas. Se livrar das deduções simplificaria o código e aumentariam cerca de US$ 1 trilhão por ano. Como os principais beneficiados são milionários, pessoas mais ricas pagariam a maior parte. E como as taxas marginais permaneceriam intocadas, tal reforma os inibiria menos na criação de suas fortunas.

Na Europa, onde os sistemas fiscais são mais eficientes, uma opção seria passar a maior parte do fardo da renda para a propriedade, que coletaria mais dos ricos e teria um impacto menor em sua disposição de correr riscos. O “imposto sobre mansões” proposto pelos Democratas Liberais teria impacto menor que a taxa de 50%. E em ambos os lados do Atlântico há espaço para diminuir a diferença entre as taxas de impostos sobre salários e bônus, e sobre dividendos e ganhos de capital. Essa diferença explica porque Buffett, cuja maior parte da renda vem de ganhos de capital e dividendos, paga menos impostos que sua secretária. Essa diferença também foi explorada por fundos de cobertura e pelo ramo de private equity, e pelos bilhões que eles coletam.

Essa é a barganha básica a ser realizada. Imagine um sistema fiscal que aproxime as maiores taxas de salário e capital, e que eliminasse virtualmente todas as deduções. Para evitar que investimentos fossem duplamente taxados, esse sistema teria que se livrar dos impostos corporativos, e o que permitira um piso muito menos dos impostos sobre a renda. O resultado? Uma coleta fiscal maior sobre os ricos, sem que o dinamismo econômico fosse prejudicado. Esse seria um bom motivo para que as trombetas soassem.

Fontes:The Economist – Hunting the rich

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Velocidade da luz experimentos dar resultado desconcertante na CernComments


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Gran Sasso sign The neutrinos are fired deep under the Italian Apennines at Gran Sasso

Velocidade da luz experimentos dar resultado

desconcertante na CernComments

Por Jason Palmer

Ciência e tecnologia repórter, BBC News

Os neutrinos são disparados de profundidade sob os Apeninos italianos no Gran Sasso Continue lendo a história principal
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Velocidade da luz: Flying na fantasia
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Resultados intrigantes da Cern, a casa do Large Hadron Collider, tem confundido os físicos porque as partículas subatômicas parecem ter batido a velocidade da luz.

Neutrinos enviadas através do solo do Cern em direção ao laboratório de Gran Sasso 732 quilômetros de distância na Itália parecia mostrar-se uma pequena fração de um início de segundo.

Os resultados – que ameaça derrubar um século da física – foram colocados on-line para análise por outros cientistas.

Nesse meio tempo, o grupo diz que está sendo muito cauteloso sobre suas reivindicações.

Eles vão discutir o resultado em detalhes em uma conferência no Cern, na tarde de sexta-feira, que pode ser visto online.

“Tentamos encontrar todas as explicações possíveis para isso”, disse o autor do relatório, Antonio Ereditato da colaboração Opera.

“Queríamos encontrar um erro – erros banais, os erros mais complicado, ou efeitos desagradáveis ​​- e nós não”, disse à BBC News.

“Quando você não encontrar nada, então você diz” Bem, agora eu sou obrigado a sair e pedir à comunidade para fiscalizar isso. “

Se apressar travado?
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Iniciar Citação
Nós queremos ser ajudados pela comunidade no entendimento nosso resultado louco – porque é louco ”
Fim de Citação
Antonio Ereditato

Colaboração Opera

Velocidade da luz: Flying na fantasia

A velocidade da luz é o limite do Universo velocidade final, e grande parte da física moderna – conforme estabelecido em parte por Albert Einstein na sua teoria da relatividade especial – depende da idéia de que nada pode ultrapassá-lo.

Milhares de experimentos foram realizados para medi-lo cada vez mais precisamente, e nenhum resultado jamais viu uma partícula quebrar o limite.

Mas o Dr. Ereditato e seus colegas vêm realizando um experimento para os últimos três anos que parece sugerir neutrinos têm feito exatamente isso.

Neutrinos vêm em um número de tipos, e tem sido visto recentemente de mudar espontaneamente de um tipo para outro.

A equipe prepara um raio de apenas um tipo, neutrinos do muão, enviando-os a partir Cern a um laboratório subterrâneo em Gran Sasso, na Itália para ver quantos aparecem como um tipo diferente, neutrinos do tau.

No curso de fazer os experimentos, os pesquisadores notaram que as partículas mostrou até 60 bilionésimos de um segundo mais cedo do que a luz seria mais a mesma distância.

Esta é uma pequena mudança fracionária, mas aquela que ocorre de forma consistente.

A equipe mediu os tempos de viagem de cachos neutrino cerca de 15.000 vezes, e ter atingido um nível de significância estatística de que nos círculos científicos contaria como uma descoberta formal.

Mas o grupo entende que o que é conhecido como “erros sistemáticos” poderia facilmente fazer um olhar resultado errôneo como uma quebra do limite de velocidade final, e que os motivou a publicar suas medições.

“Meu sonho seria que outro experimento, independente encontra a mesma coisa – então eu seria aliviada”, disse Dr Ereditato.

Mas, por enquanto, explicou, “não estamos afirmando coisas, queremos apenas para ser ajudado pela comunidade em compreender o nosso resultado louco – porque é louco”.

Robôs têm dia de glória em espetáculo de dança


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The Economist

Espetáculo da dança usa helicópteros programados por pesquisadores do MIT

Robôs têm dia de glória em espetáculo de dança

‘Seraph’ usa dois helicópteros quadrotores, que podem ser usados na criação de táxis-robôs em Cingapura

Enquanto soam os violinos, um dançarino solitário baila graciosamente pelo placo do Joyce Theatre em Nova York. Mas essa não é a performance de um solista. Dois discos voadores o perseguem e rodopiam sobre ele no ar. Dança moderna e robótica pode soar como uma combinação inusitada, mas o grupo de dança Pilobolus vem apresentando um número chamado Seraph, com a ajuda desses convidados especiais – robôs aéreos programados pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

O Pilobolus é famoso por danças que incorporam elementos inusitados. Poucos, no entanto foram tão estranhos quanto os dois helicópteros que acompanharam Matt Del Rosario no palco do Joyce. Os quadrotores, como são tecnicamente conhecidos, são pequenos robôs de vigilância criados pela Ascending Technologies, uma empresa alemã, e controlados por membros do Laboratório de Robótica (DRL) do setor de Inteligência Artificial e Ciência da Computação do MIT. Os pesquisadores do DRL escrevem programas que permitem que grupos de máquinas coordenem suas ações sem intervenção humana.

 Robôs dançantes enfeitam o palco (Reprodução/Economist)

Durante os dez minutos de Seraph, os quadrotores se reviram, flertam, enlouquecem, lamentam e se alegram, ou pelo menos parecem fazer isso para os olhos do público, variando sua velocidade e a fluidez de seus movimentos. Quando a coreografia exige que os robôs “pareçam felizes”, por exemplo, eles flutuam como borboletas, um movimento que não é essencial para a vigilância. Eles também se balançam como pêndulos e saltam como pula-pulas.

A maior parte dos movimentos, é importante ressaltar, é resultado da habilidade de Will Selby e Danny Soltero, os pilotos dos quadrotores, e não dos softwares. Mas os pesquisadores do DRL ainda esperam aprender algo com o exercício. Esquivar do dançarino, por exemplo, está dando ideias de como voar por florestas, e as luzes dos robôs – cuja frequência e mistura de cores intensificam as emoções do espetáculo – estão sendo adaptados para um projeto que pretende colocar uma frota de táxis robôs nas ruas de Cingapura.

A maior parte do projeto, no entanto, é pura diversão. De acordo com Sotero, o público sai com a impressão de que os dois robôs têm personalidades próprias. Como observa Itamar Kubovy, diretor-executivo do Pilobolus, “observar a mesma realidade por lentes diferentes pode dar origem a ideias de formas diferentes”. Quem disse que arte e ciência não se misturam?

Fontes:The Economist – Invitation to the dance

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Futuro incerto para faculdades de administração


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The Economist

Número de inscrições para MBAs caíram, e alunos passaram a apostar em mestrados especializados

Futuro incerto para faculdades de administração

Pesquisa revela que a maioria das universidades do mundo registrou queda na procura por MBAs

O ultimo relatório do Graduate Management Admission Council (GMAC) sobre inscrições para as faculdades de administração é duro de ler. De acordo com os dados do GMAC, mais de dois terços das faculdades ao redor do mundo apontam quedas enormes nas inscrições para seus programas de MBA de dois anos, e 57% delas também relatam uma queda nos programas de um ano.

Vários fatores podem estar contribuindo para esse cenário. As inscrições atingiram um número recorde no ano anterior, então parte dessa queda é um simples retorno à normalidade. No entanto, isso não justifica toda a queda.

Dave Wilson, presidente do GMAC, diz que talvez na haja uma queda tão enorme no número de pessoas fazendo inscrições, e sim que essas pessoas estejam fazendo inscrições para menos escolas do ramo. Essa é uma declaração interessante, porque uma explicação poderia estar no fato de mais estudantes se inscrevendo apenas em programas locais, nos quais as escolhas são limitadas. Se for verdadeira, essa explicação se encaixa nas projeções de muitos que preveem um futuro difícil para as faculdades de administração.

O número de escolas de administração está crescendo, mas o preço das mensalidades não está caindo. Enquanto isso, em um mercado incerto, um MBA de uma escola mediana não é retorno garantido , e isso polarizou as inscrições. O enorme número de escolas globais de elite terão um aumento nas inscrições, já que seu status será encarado como uma garantia de futuro no ramo. Enquanto isso, programas locais também ganharão um estímulo, por não terem custos extras ou obrigarem seus alunos a muita vezes ter que abandonar seus empregos.

Isso deixa várias escolas respeitáveis, mas fora da elite, no meio-termo, e em busca de uma estratégia de sobrevivência. Para Dipak Jain, o professor de marketing que agora preside o INSEAD, a solução está numa maneira de se diferenciar das demais.

Confirmando essa tese, a pesquisa do GMAC também revela que os mestrados especializados no ramo da administração tiveram um aumento de popularidade. Cerca de 80% das escolas pesquisadas tiveram aumentos nos mestrados em finanças e contabilidade. Com a luta pelos nichos se tornando cada vez maior, essa tendência deve continuar. Nem todos devem sobreviver.

Fontes:The Economist – MBA applications: How to beat the drop

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A nacionalização do marxismo no Brasil


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A nacionalização do marxismo no Brasil

Gildo Marçal Brandão

Numa pesquisa recente feita artesanalmente com um pequeno mas senior
grupo de economistas, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos, sobre
quais seriam as obras e autores brasileiros mais importantes do século XX, as
respostas indicaram não estudos teóricos ou empíricos executados segundo
sofisticados manuais metodológicos, mas Casa Grande e Senzala (1933) e Sobrados
e Mocambos
(1936), de Gilberto Freyre, Formação Econômica do Brasil (1954), de Celso Furtado, Os Donos do Poder (1958), de Raymundo Faoro, Raízes do
Brasil
(1936), de Sérgio Buarque de Hollanda, Coronelismo, Enxada e Voto (1948), de Victor Nunes Leal, Formação
do Brasil Contemporâneo
(1942) e Evolução Política do Brasil (1933),
de Caio Prado Jr., A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá (1952) e A
Integração do Negro na Sociedade de Classes
(1964), e outros, de Florestan Fernandes, Populações Meridionais do Brasil (1920) e Instituições
Políticas Brasileiras
(1949), de Oliveira Vianna, e Os Sertões
(1902), de Euclides da Cunha [1].

Pode ser que resida aqui uma anomalia. Tomando como padrão as ciências
exatas – que progridem esquecendo seus fundadores – e desconsiderando a
natureza das ciências sociais – cujo trabalho, sob certo aspecto, se assemelha
ao de Penélope, que para atingir seus objetivos necessita refazer seu próprio
caminho -, uma interpretação positivista não hesitaria em qualificar tal
situação como resistência à absorção dos procedimentos metodológicos e técnicos
que caracterizariam a verdadeira ciência, indicação de o quanto estamos
atrasados no terreno da profissionalização e institucionalização do saber.

Fora desse sectarismo, no entanto, o que a lista evidencia é que
historicistas e anti-historicistas, holistas e individualistas metodológicos,
humanistas e cientificistas, aprendemos todos a pensar o Brasil com aqueles
pensadores. Essa realidade, parte ineliminável da experiência intelectual de
cada um de nós e de cada geração dos 80 aos 21 anos, é por si só suficiente
para tornar risível o dar de ombros com que por vezes se os considera – como
alquimistas diante dos químicos, como literatura para o deleite dominical do
espírito, como relevantes tão-somente do ponto de vista da história da ciência.
Apesar do caráter datado de muitas de suas proposições teóricas e análises
empíricas, continuam a ser lidos como testemunhas do passado e como fonte de
problemas, conceitos, hipóteses e argumentos para a investigação científica do
presente.

O que talvez seja peculiar desse momento é a extensão em que estão sendo
tomados como objetos de análise em si mesmos, a quantidade de comentários que
estão sendo produzidos sobre suas idéias, o uso que se está fazendo da história
intelectual como instrumento e perspectiva para repensar a evolução histórica e
a problemática política contemporânea do país. Com efeito, além da emergência
ou renovação das disciplinas que tematizam os problemas do viver em transição –
como a violência em suas diversas formas, o fenômeno da pluralização religiosa,
a explosão de associativismo, as redefinições das relações de gênero, a
requalificação das relações raciais, as condições sociais para o exercício da
cidadania, o funcionamento das instituições democráticas, a ascensão da mídia a
um papel de primeiro plano na formação da vontade política da população, o
processo de globalização e criação de blocos econômicos regionais, as mudanças
nas relações internacionais, etc. -, uma das características mais salientes das
ciências sociais que estamos fazendo é o crescimento e a diversificação dessa
área de pesquisa que vem sendo chamada com maior ou menor propriedade de
“pensamento político” ou “pensamento social brasileiro”.

Mas por que agora e não antes?

Minha primeira hipótese é que, sem diluir a diferença entre o ensaio e a
investigação científica, apenas uma comunidade acadêmica consciente da própria
força pode confessar suas dívidas intelectuais para com os ensaístas. A segunda
é que há uma íntima relação entre o caráter cíclico do interesse por esses pensadores
e a dinâmica histórica e cultural da política brasileira, ou mais
especificamente, alguma conexão de sentido na coincidência entre essa explosão
intelectual e a conjunção crítica – mudança global e, sob certo aspecto,
concentrada no tempo, que está forçando a reorganização das esferas de nossa
existência e a reformulação dos quadros mentais que até agora esquematizavam
nosso saber – que estamos vivendo, apenas comparável aos períodos abertos pela
Abolição e pela Revolução de 30 [2]. A terceira é que a forma narrativa
específica que aqueles pensadores consolidaram está longe de ser um fenômeno de
juventude: é um gênero de maturidade, supondo acumulação intelectual prévia e
refinamento estilístico.

De fato, a pesquisa sobre o pensamento político prolonga uma tradição
intelectual que se foi acumulando desde, pelo menos, a década de 70 do século
passado. Como espécie acadêmica, no entanto, ela autonomizou-se dos estudos
literários apenas nos anos 50, quando se tornou agudo o debate sobre os grandes
rumos a dar ao desenvolvimento econômico, a universidade se consolida e a
direção intelectual e moral até então exercida pelo pensamento católico se vê
desafiada por uma variedade de correntes que têm em comum o materialismo e o
progressivismo. Definiu alguns de seus principais esquemas interpretativos no
final da década de 70, quando se tornou evidente que a associação “necessária”
entre industrialização e democracia não passava de equação otimista, a
investigação sobre a natureza do estado se impôs, o exame das bases conceituais
do autoritarismo – formuladas em grande estilo no início da era Vargas – vem
para o primeiro plano e a universidade foi deixando de sofrer a competição com
agências produtoras de idéias como os partidos programáticos da velha esquerda.
E sai da periferia para a cidadania intelectual plena apenas nesse final de
século, quando a exaustão do estado nacional-desenvolvimentista se manifesta
por todos os poros, a especialização exacerba a fragmentação do mundo
intelectual e a sociedade se vê diante do imperativo de reformular suas
instituições e redefinir seu lugar no mundo ou perecer.

Tudo se passa como se o esforço de pensar o pensamento se acendesse nos
momentos em que a nação e sua intelectualidade se vêem constrangidas a refazer
espiritualmente o caminho percorrido antes de embarcar numa nova aventura –
para declinar ou esmaecer em seguida. Seguramente, há algo aqui da coruja de
Minerva, que só alça vôo ao anoitecer. Mas se temos de usar a metáfora
hegeliana, conviria levá-la até o fim e reconhecer que, justamente porque não
há como ter “uma perspectiva adequada sobre a época atual sem recolhermos a
exemplaridade dessa herança”, a reflexão sobre o pensamento político,
totalizante por natureza, pode nos levar a perceber sinais da aurora que
vislumbram a estrutura do novo mundo.

Aceita a legitimidade da questão da herança, trata-se agora de focalizar
uma de suas vertentes mais significativas e observar uma das mais consistentes
tentativas de confrontá-la com a sua história e com o nosso tempo. O trabalho
que o leitor tem em mãos – originariamente uma dissertação de mestrado que
recebeu menção honrosa no Prêmio Lourival Gomes Machado para as melhores teses
defendidas em 1997 no Departamento de Ciência Política da Universidade de São
Paulo – é uma análise circunstanciada do aspecto político da obra do
historiador Caio Prado Jr. e, ao mesmo tempo, uma defesa apaixonada, mas não
acrítica, da grandeza e da atualidade de seu pensamento. Atente-se para a
singularidade e as dificuldades do empreendimento. Dos três pais fundadores da
moderna ciência social brasileira – Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de
Hollanda, Caio Prado Jr. -, este que já foi considerado o mais sólido, é hoje,
provavelmente, o menos lido e o mais difícil de ser analisado. Podemos estabelecer
o célebre prefácio de Antonio Candido a Raízes do Brasil e a aula magna
de Fernando Henrique Cardoso no Instituto Rio Branco sobre os “livros que
inventaram o Brasil”, como os marcos desse capítulo da história das idéias pela
qual a sociologia gilbertiana e – acrescente-se – a oliveiraviannista – foram
sendo reabilitadas num contexto de deificação de Sérgio Buarque de Hollanda e
minimização de Caio Prado Jr.. Parte dessa mudança tem a ver com o desprestígio
atual do marxismo, que relegou esse autor ao segundo plano; parte com o êxito
de sua obra, com o fato de que muitos de seus conceitos, hipóteses e
resultados, revolucionários a seu tempo, foram incorporados à “ciência normal”
e integrados ao nosso universo mental; e parte ainda com as transformações
ideológicas, troca de lealdades políticas, reconstrução das referências
intelectuais ocorridas na universidade e fora dela, como reflexo e resposta às
transformações mundiais em curso. A suspeita de que, no caso, as razões
políticas pesam mais é o combustível para a exploração das razões intelectuais
capazes de contrariar essa volubilidade da fortuna, que diz mais da época do
que da obra considerada.

Convém chamar atenção, desde já, para a linguagem tensa, nem sempre
elegante, mas sempre viva com que Bernardo Ricupero escreve. Ela reflete um
cérebro em ebulição, lutando para domar uma multiplicidade de idéias e
referências históricas, uma combinação pouco usual de juventude e erudição que,
além disso, não teme se confrontar com o mundo. Observe-se a consciência
metodológica que comanda a pesquisa, a forma como a exposição segue o processo
de investigação. Ainda que não se atenha ao contextualismo lingüístico de
Skinner, sua análise parte do contexto intelectual e não meramente social ou
econômico do pensamento de Caio Prado Jr. e se preocupa em descrever seus
principais interlocutores, as forças culturais e políticas que delimitam o
campo intelectual e político no qual se move. Dele reconstrói o suficiente para
situar a obra. Mas o quadro que delineia não é mera somatória de seus elementos
nem tal contexto vem tratado como condicionante externo, “sociológico” por
assim dizer, mas como pressuposto que vai sendo reposto pela análise interna do
texto, como parte integrante dele. Mapear conceitos e estruturas conceituais e
ver como se articulam com a perspectiva política mobilizada – eis o núcleo do
trabalho. Percorrido esse caminho, é possível retornar ao contexto e examinar a
influência e a permanência dessa visão teórica e concepção política na esquerda
brasileira.

Posta a questão dessa maneira, fica claro porque o caminho escolhido não
podia ser o da biografia, seja psicológica seja intelectual; nem o da
sociologia, seja a dos intelectuais ou de suas instituições. Também importa
pouco saber se o autor era ou deixava de ser um aristocrata de nascença, pois
não cabe explicar uma estrutura teórica ou um problema intelectual como o da
qualidade de seu marxismo, ou mesmo sua arraigada subestimação da densidade e
do alcance da industrialização brasileira, pela evocação de sua “origem de
classe”. Em nenhum momento a produção intelectual é lida como reflexo
ideológico de base material ou de grupo social preexistente. Não se trata,
tampouco, de reduzir idéias às estratégias micropolíticas das coteries
as quais confere eventualmente identidade institucional, nem de estudar a
miríade de obras medíocres pelas quais uma determinada compreensão das coisas
se refrata e se propaga.

Trata-se, isto sim, de submeter à teste empírico o suposto segundo o
qual as obras-primas, os textos fundacionais, as grandes criações culturais são
mais capazes – porque mais coerentes, mais amplas, mais profundas e mais
autônomas – de revelar a natureza de uma época e a consistência de uma
concepção política. A análise concentra-se num aspecto específico de um todo
mais vasto, mas a abordagem utilizada permite interpelar as idéias de Caio
Prado Jr. – aí sim, sem reducionismos – como momentos da constituição de um
ator específico – o marxismo no Brasil -, como tentativas de diagnosticar e
resolver problemas reais, de dirigir política e culturalmente a ação de forças
sociais determinadas.

A leitura de Bernardo Ricupero situa-se numa determinada linhagem,
pressupõe e completa anteriores abordagens: se a de Fernando A. Novais apanhava
o sentido do Caio Prado Jr. historiador, se a de Rubem Murilo Leão Rego
esmiuçava o sociólogo que fez da questão agrária o ponto nevrálgico para
repensar a sociedade toda, se a de Carlos Nelson Coutinho revelava um marxista
latino-americano cuja sensibilidade para com a modalidade do desenvolvimento
capitalista tornava-o comparável apenas aos grandes internacionais, a de
Bernardo Ricupero visa – e deve ser o primeiro a fazê-lo sistematicamente –
problematizar o sentido do Caio Prado Jr. político e teórico da política. Não é
demasiado insistir na delicadeza do projeto, que confronta a parte não apenas
mais polêmica, mas também a mais vulnerável desse pensamento.

Seguindo a sugestão de Fernando A. Novais, Ricupero mostra como a visão
que Caio Prado tem da política nasce organicamente do seu trabalho de
historiador e como a perseguição incansável de uma problemática básica – as
questões da construção nacional e das possibilidades de mudança inscritas no
processo histórico – conforma o esforço tenaz para fazer a crítica de todo
projeto político que não nasça das determinações do próprio processo [3]. Caio,
entretanto, é um notável historiador e um analista político nem sempre arguto e
é este nó, admitido com clareza que o distingue tanto das leituras apologéticas
quanto da crítica superficial, que Bernardo quer desatar. Explora, assim, as
múltiplas e contraditórias relações entre debilidades historiográficas e
acertos políticos, entre miopia prática e acuidade analítica. Demonstra como a
problemática da passagem da estrutura colonial para a estrutura nacional está
na origem de seu nacionalismo político e a estreiteza deste tem a ver com a
parada a meio caminho de seu trabalho de historiador – cuja revelação da
natureza comercial do empreendimento colonizador sugeriu mas não realizou uma
consideração do movimento do conjunto do mundo colonial; e sua subestimação do
escopo da substituição industrial de importações não pode ser vista à parte,
mas faz corpo com sua precária percepção da questão democrática tal como se
apresentou na política concreta. Ao mesmo tempo, Caio Prado jamais embarcou na
canoa da esquerda para a qual sua crítica abriu caminho, assim como sua
desconfiança quanto à natureza da industrialização vacinou-o contra a “equação
otimista” que seus companheiros de partido alimentaram; num certo sentido, o
que poderia ser caracterizado como seu udenismo político aguçou sua
sensibilidade para com fenômenos, como o do peso da burocracia e do estado no
tipo de capitalismo realmente existente, que seus contemporâneos encararam
acriticamente.

Recusando avaliar esse pensamento por metro externo a ele, Bernardo
mostra como muitos de seus desencontros com a realidade são exacerbações de
descobertas, nascem da extraordinária coerência de sua obra. As respostas que
dá aos diferentes problemas não são independentes umas das outras: a questão,
portanto, tem a ver menos com as teses que defendeu e as posições que adotou,
do que com o método e a forma de usá-lo.

O que está em jogo, então, não é apenas a singularidade de Caio Prado
Jr., mas, através dela, o destino do marxismo no Brasil. A perspectiva adotada
– investigar um caso de aculturação de um conjunto de idéias elaboradas em e
para outra realidade, verificar como se constitui um novo pensamento político –
diferencia o trabalho de Bernardo Ricupero de uma historiografia formalista que
sequer contempla a hipótese e para a qual as idéias são por definição
autóctones e funcionais aos grupos que as produzem. Dado que o capitalismo é um
só e o mesmo em toda parte, reza esta orientação, e que elas são produto social
como qualquer outro, falar em descompasso, desajuste, inadequação, dualidade,
não passa de paradoxo verbal ou capitulação insuportável à “ideologia
nacional”. Mas ao contrário da maioria dos estudos da emigração das idéias, que
de modo tosco ou sofisticado enfatizam o mimetismo e não avançam além da
reiteração da diferença entre país legal e país real, a análise de Bernardo não
se limita a constatar o transplante, invectivar a desadaptação ou reconhecer a
inapetência que nos faz, ao imitar, recriar. A originalidade da cópia é
demonstrada especificando em que consiste, como foi produzida e quais os seus
resultados, o modo pelo qual uma determinada teoria, sendo ela mesma, não
obstante é outra. A hipótese básica é que estamos diante de caso bem sucedido
de assimilação e recriação de um conjunto de idéias, de uma orientação teórica
e metodológica que prova sua fecundidade heurística dando conta de situação
distinta da qual nasceu para dar expressão e, ao conseguir isso, revela-se como
universal. A “nacionalização” dessa teoria não é então um fenômeno unívoco, mas
duplamente articulado, sugerindo, como diz um belo achado do texto, solução
positiva para o dilema proposto por Gramsci sobre a “tradutibilidade” das linguagens científicas. Assim, o que poderia parecer uma obviedade
ou um doutrinarismo – a suposição de que “boa parte do interesse pela obra de
Caio Prado Jr. provém precisamente de sua associação com o marxismo” – é
desnaturalizado, revela sua face heurística.

Tal “nacionalização”, portanto, não se esgota nela mesma. A
extraordinária substituição cultural de importações que implica deve ser vista
como parte do processo de autonomização da cultura brasileira, como aporte a
mercado interno de idéias capaz de regular suas trocas com o mercado mundial.
Ao longo dos anos 30 aos 80, o marxismo acaba por se constituir numa “cultura”
em sentido sartreano, por destilar uma série de problemas, hipóteses, formas de
abordagens, controvérsias, resultados ou fracassos analíticos que vão
constituir um fundo comum ao qual a comunidade científica é obrigada a se
referir no enfrentamento das questões postas pela circunstância histórica.
Nesse processo, a identidade dos intelectuais vai deixando de ser dada pela sua
“filiação a uma grande marca registrada do mercado intelectual mundial” e passa
a depender da “consistência das respostas dadas aos problemas postos pelo nosso
desenvolvimento e evolução histórica”, pela capacidade de repensar a
problemática mundial contemporânea de ótica própria e à altura do que há de
mais avançado internacionalmente.

É este o caso de Caio Prado Jr., nos
mostra Bernardo Ricupero.

———-

Gildo Marçal Brandão é professor de Ciência Política da USP.
Publicado como prefácio a Bernardo Ricupero. Caio Prado Jr. e a
nacionalização do marxismo no Brasil
(São Paulo: Editora 34, 2000).

———-

Notas

[1] Cf.
Simon Schwartzman. “As ciências sociais brasileiras no século XX”, nov. 1999,
mimeo. O autor esclarece que a amostragem utilizada, restrita à lista de
cientistas sociais com os quais se corresponde via Internet, foi de 49
intelectuais, dos quais 10 sociólogos, 13 cientistas políticos, 14 economistas,
6 antropólogos, alguns historiadores e gente proveniente da área de direito,
filosofia e administração. O livro de Fernando Henrique Cardoso e Enzo
Falletto, Dependência e Desenvolvimento na América Latina, 1970, teria
sido citado como um dos mais influentes, não sendo entretanto reconhecido como
de mérito eqüivalente aos demais.

[2] Para o conceito de conjunção
crítica, Kurt von Mettenheim. “Conjunções Críticas da democratização: as
implicações da Filosofia da História de Hegel para uma análise histórica
comparativa”. In: Célia Galvão Quirino, Cláudio Vouga e Gildo Marçal Brandão
(Orgs.). Clássicos do Pensamento Político. São Paulo: Edusp/Fapesp,
1998.

[3] Francisco C. Weffort. “A Cultura e
as Revoluções da Modernização”. Brasília: Ministério da Cultura, jan. 2000,
mimeo, p. 2.

[4]
Também premiada em 1997, a dissertação de Gabriela Nunes Ferreira, Centralização e Descentralização no
Império: o debate entre Tavares Bastos e visconde de Uruguai
, foi publicada
em 1999 nesta coleção. A dissertação de Vera Alves Cepeda, Raízes do Pensamento Político de Celso
Furtado: desenvolvimento, nacionalidade e estado democrático
, e a tese de
Luiz Guilherme Piva, Ladrilhadores e Semeadores – a modernização brasileira
no pensamento político de Oliveira Vianna, Sérgio Buarque de Hollanda, Azevedo
Amaral e Nestor Duarte
, esta orientado por Boris Fausto, premiadas em 1998,
deverão ser editadas em breve.

[5] Em
“Caio Prado Jr. na historiografia brasileira”. In: Reginaldo Moraes, Ricardo
Antunes e Vera B. Ferrante (Orgs.). Inteligência Brasileira. São Paulo:
Brasiliense, 1986, p. 22.

[6] Cf. Roberto Schwarz. “Entrevista a
Gildo Marçal Brandão e Oswaldo Louzada Filho”. Encontros com a Civilização
Brasileira
, Rio de Janeiro, n. 15, Ed. Civilização
Brasileira, 1979.

Diploma não garante estabilidade financeira


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The Economist

 

 

Oferta de estudantes universitários formados está aumentando rapidamente (Reprodução/Brett Ryder

Diploma não garante estabilidade financeira

Há boas razões para pensar que a recente queda – instada pela recessão – na
demanda por graduados ocidentais tornar-se-á algo estrutural*

Gastar três ou quatro anos numa universidade aumenta as chances de se conseguir um
emprego bem pago e estável? Os mais velhos sempre nos falaram que a educação é
o melhor modo de nos prepararmos para prosperar num mundo globalizado. Mas o
passado é um guia confiável para o futuro? Ou estamos vivendo o início de uma
nova fase de relações entre empregos e educação?

Há boas razões para pensar que a recente queda – instada pela recessão – na
demanda por graduados ocidentais tornar-se-á algo estrutural. A tempestade de
destruição criativa que chacoalhou tantos operários ao longo das últimas
décadas está começando a atingir as elites cognitivas também.

A oferta de estudantes universitários formados está aumentando rapidamente. A
revista Chronicle of Higher Education calcula que entre 1990 e 2007, o
número de estudantes matriculados em universidades aumentou em 22% na América
do Norte, 74% na Europa, 144% na América Latina e 203% na Ásia. Em 2007, 150
milhões de pessoas frequentavam universidades ao redor do mundo, das quais 70
milhões se encontravam na Ásia.

Ao mesmo tempo, a demanda por trabalho especializado está sendo reconfigurada pela
tecnologia, de modo semelhante a como a demanda por trabalho agrário foi
reconfigurada no século XIX e o trabalho industrial no século XX. Computadores
não só conseguem desempenhar tarefas repetitivas muito mais rápido que humanos.
Eles também poderm servir de ferramenta para que amadores realizem o trabalho
outrora realizado por profissionais.

Vários economistas, Paul Krugman inclusive, começaram a argumentar que sociedades
pós-industriais serão caracterizadas não por um crescimento ininterrupto na
demanda por trabalhadores bem educados, mas por um grande “esvaziamento”, à
medida que empregos de nível médio são destruídos por máquinas inteligentes, o
que diminui a criação de empregos de alto nível. David Autor, do Massachusetts
Institute of Technology (MIT), salienta que o principal efeito da automação na
era da informática não é o de destruir empregos operários, mas o de destruir
qualquer emprego que possa ser reduzido a uma rotina. Alan Blinder, da
Princeton University, argumenta que os empregos que as pessoas com nível superior
têm desempenhado tradicionalmente são mais ‘exportáveis’ do que aqueles com
salários baixos. Um encanador ou motorista de caminhão não pode fazer o seu
trabalho a partir da Índia. Um programador de software pode.

Os jornais estão lutando uma batalha inglória contra a blogosfera. As
universidades estão trocando professores com dedicação exclusiva por equipes de
substitutos. Escritórios de advocacia estão terceirizando trabalhos de rotina,
e até médicos estão sendo ameaçados à medida que pacientes encontram
aconselhamento online e tratamento nos novos centros de saúde do Walmart. Esta
reconfiguração também tornará a vida muito menos previsível e aconchegante para
a próxima geração de graduados.

*Texto traduzido e adaptado pelo Opinião e Notícia

Fontes:Economist – Angst for the educated

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