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“João de Deus” e a reinvenção do Populismo Católico


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“João de Deus” e a reinvenção do Populismo Católico

  Revista Espaço Acadêmico in colaborador(a), religiões

por UBIRACY DE SOUZA BRAGA*

Pelas regras da Igreja Católica, o processo de beatificação só poderia ser aberto cinco anos depois da morte da pessoa. Essa regra canônica pode ter sido dispensada pelo atual papa pelo fato de que Bento XVI foi seu colaborador mais próximo durante mais de 20 anos. Na igreja dos primeiros séculos o martírio representou o sinal de santidade da pessoa. Hoje, trata-se de um processo no âmbito do Direito Canônico, no qual é verificada a vida conforme as virtudes morais entendido como “grau heroico”, melhor dizendo, além do comum, e é necessário que a igreja reconheça o acontecimento de dois milagres (um para a beatificação e outro para a canonização) por intercessão do falecido.

Se o populismo (популизм), na expressão de V. Tvardovskaia (1972)no sentido simplificado do termo,pode ser entendido como um processo mediante o qual “o popular se torna conhecido” (cf. Weffort, 1968b), quando uma multidão de 400 mil pessoas reunidas na Praça de São Pedro, no Vaticano, durante o funeral do Papa João Paulo II, em abril de 2005 gritava: “Santo Súbito!” temos assim, “sinais” (cf. Ginzburg, 1992: 158 e ss.) de que o papa reinventava o “populismo católico” para o mundo. Ipso facto esta expressão fará com que “João de Deus” – como é conhecido no Brasil –seja beatificado seis anos após a sua morte. Normalmente, como sabemos, a igreja leva cinco anos só para iniciar todo o processo. Além disso, temos um fato político-religioso novo: o processo se deu mais rápido, porque este era um desejo do povo, que queria que ele fosse canonizado já no dia de seu funeral. Com 27 anos de pontificado, “João de Deus” foi o terceiro papa a passar mais tempo no cargo, perdendo apenas para São Pedro (30 d.C. – 67 d. C.) e Pio XII (1846-1878).

Além disso, ele foi o primeiro papa a rezar em uma sinagoga, em Roma (Itália), o primeiro a entrar em uma mesquita em um país islâmico, em Damasco, na Síria, e o primeiro a presidir um encontro de líderes das maiores religiões mundial, no ano 1986. Não devemos perder de vista, que no ano de 1981, o extremista turco Melhmet Ali Ağca tentou matar o papa, atirando na Praça São Pedro. Nascido a 9 de janeiro numa famíliapobre da Turquia foi o terrorista que cometeu o atentado contra o Papa João Paulo II em 13 de maio de 1981, quando este circulava “em carro aberto” pela Praça de São Pedro no Vaticano. Em segundo lugar João Paulo II será o primeiro pontífice em mil anos a ser beatificado pelo seu sucessor. O processo foi aberto em junho de 2005, por iniciativa do papa Bento XVI, a quem coube decidir pela aceleração da beatificação, sob alegativa de que “não pretendiam esperar os cinco anos de morte previstos no Código de Direito Canônico”. Pragmaticamente falando, em janeiro deste ano, o papa Bento XVI aprovou decreto atribuindo um milagre a seu antecessor, o que abriu a démarche para a beatificação. O milagre atribuído a Karol Wojtyla é a cura, aparentemente inexplicável, da freira francesa Marie Simon-Pierre, de 50 anos.

As respostas às práticas populares em “nome” de uma democracia foram sempre abafadas com sangue e terror psíquico pelo Estado Soviético como demonstra cabalmente Alexander Issaiévich Soljenítsin, no conhecido livro Умдиаметромпа-де-ВидаИван Deníssovitch (Um dia na vida de Ivan Deníssovitch), e todas essas práticas passavam como por despercebido a todo Mundo, devido à política de censura perversa e masoquista da mídia e de perseguição a jornalistas ou quaisquer um que se opusesse ao governo central – isto é o que se chamava sociologicamente “Cortina de Ferro”, derrubada com a política da Glasnost, de Mikhail Gorbachev, o então presidente soviético. Quando a notícia era inevitável e caía sob aclamação do público mundial, como ocorreu com o Sindicato Solidariedade, na Polônia Solidarność; nome completo: “União Comercial auto-governativa ´Solidariedade`”, melhor dizendo, Niezależny Samorządny Związek Zawodowy ´Solidarność` é “uma união federativa comercial fundada em setembro de 1980 nos Portos de Lenin, originalmente liderada por Lech Wałęsa”.

Do ponto de vista histórico, vale lembrar, que ela fora a primeira união comercial não comunista em um país dito comunista e que KarolWojtyla tão bem a reconhecia e certamente apoiava.

O indivíduo, ator, identidade, grupo social, classe social, etnia, minoria, movimento social, partido político, corrente de opinião pública, poder estatal, todas estas “manifestações de vida” no sentido simmeliano do termo, não mais se esgotam no âmbito da sociedade nacional, o que nos faz admitir que a diferenciação em comunidades locais, tribos, clãs, grupos étnicos, nações e até mesmo Estados, perderam ao menos algo do seu significado anterior. Na sociedade global, de outra parte, generalizam-se as relações, os processos e as estruturas de dominação e apropriação, antagonismo e integração. Modificam-se os indivíduos, as coletividades, as instituições, as formas culturais, os significados das coisas, gentes e ideias, vistos em configurações histórico-sociais. Enfim, se as ciências sociais nascem e desenvolvem-se como forma de autoconsciência científica da realidade social, pode-se imaginar que elas podem ser seriamente desafiadas quando essa realidade já não é mais a mesma. Nesse sentido é que a formação da sociedade global pode envolver novos problemas epistemológicos, além de ontológicos.

Enfim, para concordarmos com Leonardo Boff (2000; 2007; 2009; 2010),

temos que desenvolver urgentemente a capacidade de somar, de interagir, de religar, de repensar, de refazer o que foi desfeito e de inovar. Esse desafio se dirige a todos os especialistas para que se convençam de que a parte sem o todo não é a parte. Da articulação de todos estes cacos de saber, redesenharemos o painel global da realidade a ser compreendida, amada e cuidada. Essa totalidade é o conteúdo principal da consciência planetária, esta, esta sim, a era da luz maior que nos liberta da cegueira que nos aflige” (Boff, 2007; 2010).

Do ponto de vista teórico-metodológico Carlo Ginzburg tem um percurso de pesquisa dos mais originais e criativos, que extravasa o quadro dahistoriografia italiana (cf. Ginzburg, 1991: 169 e ss.) e mesmo da historiografia europeia. A sua obra, com efeito, introduziu diversas rupturas nas maneiras de pensar em História, mobilizou metodologias e instrumentos de conhecimento oriundos de outras áreas de saber, estabeleceu novas zonas de dialogo com as restantes ciências humanas e sociais, nomeadamente com a antropologia e a filosofia (cf. Ginzburg, 1991: 203 e ss.). Enfim, trata-se aqui de uma intervenção ativa, que procura inverter as relações tradicionais de subordinação da História no que diz respeito à produção dos meios de conhecimento, centrada numa forte preparação filológica, caracterizada pela atenção ao detalhe, ao estudo de caso, à analise do processo significativo, com a valorização dos fenômenos aparentemente marginais, como os ritos de fertilidade, ou dos casos obscuros, protagonizados pelos pequenos e excluídos, cuja verdadeira dimensão cultural e social vem sendo valorizada (cf. Ginzburg, 1988: 96 e ss.).

Outro aspecto relevante na vida política de João Paulo II é que ele foi louvado como grande liderança na arena politica internacional. Só ao Brasil, o pontífice realizou três visitas oficiais. A primeira, em 1980, foi a mais marcante. Com apenas dois anos de pontificado, João Paulo II desembarcou em Brasília no dia 30 de junho, onde se ajoelhou e beijou o chão. O gesto célebre, que ele repetia sempre que visitava um país pela primeira vez, virou a sua marca. Na ocasião de sua primeira viagem ao país, o papa percorreu treze cidades em apenas doze dias. O evento mais marcante de sua passagem foi a celebração de uma missa campal no maior estádio do mundo, o Maracanã, no Rio de Janeiro, no vigor de seus 58 anos para cerca de 160 mil fiéis presente, cantando o refrão da música tema de sua visita ao país. Foi nessa primeira visita que o papa veio a Fortaleza e durante a sua passagem ele celebrou uma missa para um Estádio Castelão que atraiu cerca de 120 mil pessoas contando ainda com a presença do Frei Aloisio Lorscheider.

Finalmente, conversar com alguém no “campo da contemplação” é utopia pois a  palavra etimologicamente foi cunhada a partir dos radicais gregos οὐ, e τόπος, portanto, o “não-lugar” ou “lugar que não existe”, posto que positivamente a palavra tanto no plano de análise teórica ou mesmo na esfera de análise ideológica suscita dúvidas e alimenta controvérsias. E desde já vamos apenas lembrar acerca do uso de determinadas palavras que tiveram, desde o princípio de sua origem, um sentido subjetivo. Uma delas é o dekeō (dokē, etc) que se refere a pensar, esperar, acreditar, ter em mente, sustentar uma opinião, relacionado com a doxa, opinião. Conceitos igualmente relacionados são dekomai – aceitar, esperar; dokimos – aceite, aprovado; e dokeuō – esperar, ver atentamente, estar de emboscada. Assim como, a palavra peithō, persuadir, com o significado de conquistar, de fazer as coisas parecerem plausíveis ou prováveis – subjetivamente prováveis, e como é óbvio, não existem quaisquer dúvidas acerca do significado fundamentalmente subjetivo destas palavras, que desempenham um importante papel na história da Filosofia desde os tempos mais remotos.

Em determinado momento de minha vida um “crítico” da universidade de São Paulo advertiu-me que o título de meu trabalho era enganoso. Não o levei a sério porque ele é jornalista. Estão fazendo doutorado ex nunc, mas continuam sendo jornalistas. Quando fazem crítica, deixam de serem jornalistas. Quando atuam como jornalistas, não fazem crítica. Nessa área de conhecimento, salvo honrosas exceções1, sobretudo fora do círculo da TV, por mais que queiram ou se esforcem com a disciplina do pensamento teórico e empírico, não exercem a crítica analítica com base no conhecimento científico estruturado em categorias e conceitos, mas inegavelmente detêm o domínio das “palavras e das coisas”, portanto, sobre o domínio e controle da informação, que em seu sentido alargado refere-se a elemento de conhecimento relativo a um sujeito “mais ou menos conhecido”,“plus ou moins connú” (cf. Fouquié & Saint-Jean, 1962).

Karl Marx e Friedrich Engels em Libertà di Stampa e Censura (cf. o original Presse freiheit und Zensur, 1969) percebem “estes que a liberdade de imprensa é um pré-requisito natural para a formação da opinião pública e, em seguida, um sistema democrático de relações (…). Estavam cientes deste fato ao longo da vida. A partir dos escritos iniciais de Marx, um jornalista político em 1842 para a carta de Friedrich Engels a Bebel de 1892, a defesa da liberdade de imprensa contra a censura e corre intromissão burocrática como um fio para todos os seus trabalhos” Marx & Engels, 970:21).

Marx-Engels-Forum in 1986.

Vejamos alguns exemplos contemporâneos. Há pouco Carlo Ginzburg no livro Occhiacci dilegno – Nove riflessioni sulla distanza (1998, edição consultada, 2001) nos deu um bom exemplo – para o que nos interessa -, sobre a interpretação jornalística, nesse caso ocorrida em 1986 na Itália. O capítulo é intitulado “Um lapso do papa Wojtyla” e diz respeito à discussão sobre o pedido de perdão aos judeus pela Igreja católica assumida corajosamente quando o papa visitou uma sinagoga em Roma. A visita de João Paulo II havia sido anunciada; jornalistas do mundo inteiro esperavam no meio da multidão. O rabino-chefe, ElioToaff, e o presidente da comunidade judaica de Roma, Giacomo Saban, recordaram a perseguição a que os judeus haviam sido submetidos por gerações a fio, em particular os judeus romanos; recordaram igualmente as humilhações, as mortes, os lutos. As palavras do papa foram: “Caros amigos e irmãos, judeus e cristãos”. No Avvenire de 8 de outubro, Gian Franco Svidercoschi tachou de “leviandade e superficialidade” o que Ginzburg escreveu sobre tal expressão com que o papa Wojtyla se dirigiu aos judeus na visita à sinagoga.

Nas palavras do papa, afirma Ginzburg, eu via um eco, que me parecia e ainda me parece óbvio, do trecho da “epístola aos Romanos” (9: 12) em que Paulo aplica a judeus e gentios convertidos ao cristianismo a profecia do Gênesis (25: 23) sobre Esaú e Jacó: “O mais velho será servo do mais moço”. Se há um texto fundador do antijudaísmo cristão, é esse. Mas depois de analisar a possibilidade de ter sido uma alusão consciente – que, naquele lugar e naquela circunstância, teria tido um sabor inoportuno, Ginzburg observou que o conjunto do discurso do papa Wojtyla excluía tal possibilidade. Isto porque, para ele Svidercoschi descreve o lapso do papa Wojtyla como um “lapso freudiano”.

O texto a que Svidercoschi alude é símbolo político polonês, um credo político-religioso escrito por Mickiewicz em italiano e polonês, datado de Roma, 29 de março de 1848: “A toda Israel, nosso irmão mais velho da igualdade (…) de todos os direitos político-civis”. Evidentemente ele foi induzido ao erro pelo título do artigo publicado em Repubblica, “O lapso freudiano do papa Wojtyla”. A conclusão que Ginzburg chega é a seguinte: Mas quem, como Svidercoschi, é jornalista, deveria saber que os títulos são inseridos na redação. Se tivesse lido menos apressadamente meu artigo, Svidercoschi teria percebido que eu mencionava isso sim, o lapso inconsciente, mas recusava a interpretá-lo, como Freud teria feito, em termos de psicologia individual.

Bibliografia geral consultada:

AGOSTINHO, Santo, A Doutrina Cristã, São Paulo: Edições Paulinas, 1991; AQUINO, Tomás de, Summa Theologica. 2ª edição. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1980-1981;BOFF, Leonardo, A Nova Era: A Consciência Planetária. Rio de Janeiro: Record, 2007; Idem, “Uma história épica: Irmãs negras”. In: Diário do Nordeste. Fortaleza, 23 de novembro de 2009; Idem, “A Sociedade Mundial da Cegueira”. In: Jornal O Povo, Fortaleza, 22.02.2010; GINZBURG, Carlo, “Um lapso do Papa Wojtyla”. In: Olhos de madeira. Nove reflexões sobre a distância. São Paulo: Companhia das Letras, 2001; Idem, “O inquisidor como antropólogo: Uma analogia e suas implicações”. In: GINZBURG, Carlo “et alii”, A Micro-História e outros ensaios. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 1991; Idem, Miti, Emblemi, Spie – Morfologia e storia. Rorino: Einaudi Editore, 1992; MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, Libertá di Stampa e Censura.Bologna: Guaraldi Editore, 1970; TVARDOVSKAIA, Valentina Aleksandrovna,El Populismo Russo. México, Siglo XXI, 1972; BRAGA, Ubiracy de Souza, “O Modelo Wittgenstein de Verdade Apodítica. Linguagem Ideal ‘versus’ Linguagem Ordinária”. In: Revista Políticas Públicas e Sociedade. Fortaleza. Ano I. n˚ 1, março de 2003; Idem, “O Modelo Wittgenstein de Verdade Apodítica: Linguagem ideal “versus” linguagem ordinária?”. Ensaio disponível em: www.políticasuece.com.br; FOUQUIÉ, Paul & SAINT-JEAN, A., Dictionaire de la Langue Philosophique. Paris: PUF – Presses Universitaires de France, 1962; WEFFORT, Francisco C., Classes Populares e Política (Contribuição ao Estudo do ´Populismo`). Tese de Doutorado. F. F. L. C. H/ USP. São Paulo, 1968a; Idem, “El Populismo em la Política Brasileña”. In: Brasil Hoy. México: Siglo Veintiuno Editores, 1968b, entre outros.


* UBIRACY DE SOUZA BRAGA é Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências, DSc. junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Ambiente: O futuro não está danificado. Ainda.


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Ambiente: O futuro não está danificado. Ainda.

Por Matthieu Ricard
The New York Times | Opinião
Enviado: 23 de junho de 2011

Quando, no início da manhã, eu me sento na frente do meu relvado pouco numa
calma Chapel Hill, duas horas de Kathmandu, no Nepal, meus olhos se em
centenas de quilômetros de altos picos do Himalaia levantando-se com o
sol brilhando. A serenidade da paisagem natural combina perfeitamente com a paz interior. É realmente um longo caminho da vida frenética da cidade viveu.

Mas agora eu sei a paz que o mundo não escapa para baixo – ou a ciência que já estudou. Trabalhando
com o mundo mais complexo real em 30 clínicas e escolas que
Karuna-Shechen, a fundação que ele criou com amigos e apoiantes
dedicados operacional no Tibete, Nepal e Índia. E
agora, depois de 40 anos entre as majestosas montanhas, eu me tornei
muito consciente das devastações das mudanças climáticas sobre os
Himalaias e do planalto tibetano. De onde
eu me sento no meu gramado pouco, é muito triste para testemunhar como
os picos do Himalaia estão se tornando mais e mais cinza, enquanto as
geleiras ea neve derreter.

O debate sobre a mudança climática é impulsionado principalmente por pessoas que vivem nas cidades, onde tudo é artificial. Eles realmente não experimentar as mudanças que ocorrem no mundo real. A
grande maioria dos tibetanos, nepaleses e butaneses que vivem as
pessoas em ambos os lados do Himalaia nunca ouviram falar do aquecimento
global, eles têm pouco ou nenhum acesso à mídia. No
entanto, todos dizem que o gelo não se forma tão grosso quanto antes
nos lagos e rios, as temperaturas de inverno são cada vez mais quente e
as flores da primavera chegar mais cedo. O que eles sabem que esses são sintomas de perigos muito maiores.

No belo reino do Butão, onde passei nove anos, uma pesquisa recente pelo
especialista apenas em geleiras do país, Kharma Thoeb têm demonstrado
que uma morena [1] [1] de uma barragem natural que separa os dois lagos
glaciais Lunana área, agora é apenas 31 metros de profundidade, em comparação com 74 metros que eu tinha em 2003. Se
este muro dá lugar, cerca de 53 milhões de metros cúbicos de água vai
correr para o vale de Punakha e Wangdi, causando imensos danos e perdas
de vida. No total existem 400 lagos
glaciais no Nepal e Butão, que pode quebrar seus diques e áreas de
inundação povoados nos vales mais baixos. Se as inundações ocorrem, as geleiras será reduzida ainda mais. Isso fará com que a seca, como os córregos e rios não são alimentados pelo degelo.

Climatologistas chineses têm chamado as geleiras do Himalaia e outras montanhas
importantes localizadas no planalto tibetano, o “terceiro pólo” do nosso
planeta doente. Há 40 mil geleiras
grandes e pequenos no platô tibetano e esta área está derretendo a uma
taxa de três a quatro vezes mais rápido que a pólos Norte e Sul. De
fusão é particularmente rápido no Himalaia pela poluição que se
deposita na neve e geleiras são obscuras, o que os torna mais
absorventes de luz.

De acordo com agências internacionais de desenvolvimento, quase metade da população
da China, Myanmar, Tailândia, Laos, Camboja, Vietnã, Índia e Paquistão
depende da bacia hidrográfica do platô tibetano para a sua agricultura,
fornecendo água em geral, e, portanto, de sobrevivência. As consequências da seca nesses grandes rios serão catastróficas.

Quando eu tinha 20 anos, fui contratado como pesquisador no laboratório de
genética celular de François Jacob, que tinha acabado de ser agraciado
com o Prêmio Nobel. Lá, eu trabalhei por seis anos para obter seu doutorado. Vida estava longe de ser chato, mas algo essencial estava faltando.

Tudo mudou em Darjeeling no norte da Índia, em 1967, quando me encontrei com
vários notáveis ​​seres humanos, que para mim ilustrar o que uma vida
plenamente humana pode ser. Estes mestres
tibetanos, que tinham acabado de fugir da invasão comunista do Tibet,
irradiando bondade interior, serenidade e compaixão. Voltando
a partir desta primeira viagem, percebi que eu tinha encontrado uma
realidade que poderia inspirar a minha vida e dar sentido e significado.
Em 1972, decidi mudar-se para
Darjeeling, na sombra do Himalaia para estudar com os grandes mestres
tibetanos Dilgo Khyentse Rinpoche Kangyur Rinpoche.

Na Índia e Butão, viveu uma vida bela e simples. Eu
vim a entender que, enquanto algumas pessoas podem ser naturalmente
mais felizes que outros, a felicidade continua vulnerável e incompleta,
que a realização da felicidade duradoura, como uma maneira de ser, exige
um esforço sustentado na formação da mente eo desenvolvimento de qualidades tais como paz interior, cuidado e amor desinteressado.

Então, um dia, em 1979, pouco depois de nosso mosteiro no Nepal tinha sido
equipado com uma linha de telefone, alguém me ligou da França para
perguntar se eu gostaria de participar de um diálogo com meu pai, o
filósofo Jean-François Revel. Eu disse “é
claro”, mas eu nunca iria ouvir essa pessoa novamente, e eu não acho
que o meu pai, um agnóstico reconhecido, gostaria de ter um diálogo com
um monge budista, até mesmo seu filho. Mas
para minha surpresa, ele prontamente aceitou, e passou 10 dias
maravilhosos no Nepal, discutindo muitas questões sobre o sentido da
vida. Esse foi o fim da minha vida tranquila e anônima, eo início de uma maneira diferente de interagir com o mundo. O
livro que surgiu a partir deste encontro, O Monge eo Filósofo,
tornou-se um best-seller na França e foi traduzido para 21 línguas.

Percebi que muito mais dinheiro do que eu jamais imaginei viria meu caminho. Desde
que eu não conseguia me ver comprar um imóvel na França ou em outro
lugar, achei a coisa mais natural do mundo vai doar toda a renda e os
direitos dos mesmos, e todos os livros que vêm depois, para ajudar os outros. A
fundação criada para essa finalidade, agora chamado de Karuna-Shechen,
que implementa e mantém projetos educacionais e humanitários em toda a
Ásia.

Projetos humanitários tornaram-se o foco central da minha vida com alguns voluntários amigos
dedicados e generosos benfeitores, e sob a inspiração do meu abade do
mosteiro, Rabjam Rinpoche, temos construído e executado clínicas e
escolas no Tibete, Nepal e A Índia, que tratou cerca de 100 mil pacientes por ano e fornecer educação para cerca de 10.000 crianças. Conseguimos fazê-la gasta apenas quatro por cento das despesas com o nosso orçamento.

Minha vida se tornou definitivamente mais agitado, mas eu descobri ao longo
dos anos para tentar transformar a si mesmo para transformar o mundo
melhor trazer satisfação duradoura, e acima de tudo, o dom
insubstituível de altruísmo e compaixão.

Imagine um navio afundando e você precisa de todo o poder disponível para operar as bombas para drenar a subida das águas. Os
passageiros de primeira classe, se recusam a cooperar, porque eles são
quentes e quiser usar o ar condicionado e outros aparelhos. Os passageiros de segunda classe, passam o tempo todo tentando ser movido para a primeira classe. O navio está afundando e todos os passageiros são afogados. É aí que estamos tomando a abordagem atual para as mudanças climáticas.

Se as pessoas percebem isso ou não, suas ações podem ter efeitos
desastrosos – como as mudanças ambientais no Himalaia, o Círculo Polar
Ártico e muitos outros lugares estão nos mostrando. O
consumismo desenfreado dos mais ricos do nosso planeta, cinco por cento
é o maior contribuinte para a mudança climática trará dificuldades
adicionais para os mais pobres 25 por cento, que enfrentam as piores
conseqüências. De acordo com o
Departamento de Energia, em média, um afegão produz 0,02 toneladas de
CO2 por ano, um nepalês e um tanzaniano 0.1, 10 toneladas um britânico,
um americano de 19 toneladas e 51 toneladas do Qatar, que é 2,500 vezes mais do que um afegão.

O consumismo desenfreado opera sob a premissa de que outros são apenas ferramentas para uso, e que o ambiente é uma mercadoria. Essa atitude encoraja a dor, egoísmo e desrespeito pelos outros seres vivos eo meio ambiente. As pessoas raramente são motivados a mudar o nome de algo para o seu futuro ea próxima geração. Eles
pensam: “Bem, nós vamos lidar com isso quando ela chega.” Resisti a
idéia de desistir do que você gosta apenas para evitar os efeitos
desastrosos de longo prazo. O futuro não está danificada ainda.

Sociedade altruísta é aquele em que nos preocupamos não só para nós e nossos
parentes mais próximos, mas pela qualidade de vida de todos os membros
atuais da sociedade, enquanto nós estamos conscientemente preocupados
com o destino das gerações futuras.

Em particular, temos de fazer progressos significativos no que diz
respeito à maneira como tratamos os animais como objetos de produtos de
consumo e industrial, não como seres vivos lutando por seu bem-estar e
querem evitar o sofrimento. Cada ano,
mais de 150 bilhões de animais terrestres são mortos em todo o mundo
para consumo humano e cerca de 1.500.000 milhões de animais marinhos. Nos
países ricos, 99 por cento destes animais da terra são criados e
abatidos em explorações agrícolas da fábrica, e viver apenas uma fração
de sua vida. Além disso, de acordo com a
ONU ea FAO relatórios sobre mudança climática, a produção de gado é
responsável por uma maior proporção (18 por cento) das emissões de gases
de efeito estufa do que sector dos transportes global. Uma solução poderia ser a de comer menos carne!

Como o Dalai Lama tem dito muitas vezes, a interdependência é um conceito
budista central que leva a uma compreensão mais profunda da natureza da
realidade e da consciência de responsabilidade global. Uma
vez que todos os seres estão interligados, e todos, sem exceção, querem
evitar o sofrimento e alcançar a felicidade, esse entendimento é a base
para o altruísmo e compaixão. Por sua vez, conduz naturalmente à atitude e prática da não-violência para os seres humanos, animais e ao meio ambiente.

Nota:
Matthieu Ricard foi um cientista genético celular 40 anos atrás, quando
ele decidiu viver no Himalaia e se tornar um monge budista. Ele é um fotógrafo e autor de vários livros, incluindo “Felicidade: Como crescer a habilidade mais importante para a vida”. Ele vive no Nepal e participou em mais de 100 projetos humanitários.

Traduzidos para o espanhol por Lorraine Wong.

10 º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE FRANCISCO VARELA


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Francisco Varela, em Dharamsala, 1994.

10 º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE FRANCISCO VARELA:

 o homem que começou o diálogo entre ciência e do Dalai Lama

Este ano marca 10 anos desde a morte deste grande homem, um biólogo e neurocientista que estuda a fenomenologia da vida. Em
seu país natal, o Chile, não é uma reminiscência nem o seu importante
legado para o mundo da ciência, ou talvez só dá lugar a um “mais
científica” do mundo. Para a comunidade
budista no Ocidente, no entanto, Varela se torna um elo crucial entre as
tradições contemplativa deste caminho espiritual eo estudo científico
da mente.

Francisco Varela não
ter reconhecido suas realizações através de práticas contemplativa que
visa transformar a mente, eles conseguem remover alguma medida atitude
natural dualista dos homens. Dar crédito a
estas práticas não é comum, no entanto Francisco Varela foi escalado
para eles e como biólogo e científica reconheceu a grande contribuição
do budismo para a fenomenologia da experiência.

Em
um de seus livros diz, “… uma das coisas bonitas que nos dão a
tradição budista, não é o seu grau de ingenuidade, e os budistas são tão
dualista como nós, mas a sua tradição filosófica ea fenomenologia da
experiência. O budismo nunca perdeu de
vista esse, … Budismo é uma verdadeira mina de ouro de observações
acumuladas de pragmática know-how … são 25 séculos de experiência …
“e descreve o budismo como” uma fenomenologia aplicada à ter
o rigor em filosofia e enraizada na prática, “…” têm em comum com a
ciência, experiência de campo, testes de campo e no campo da
auto-crítica … “

Não podemos deixar de mencionar a grande empatia surgiu entre Francisco Varela e figura emblemática da SS O
XIV Dalai Lama, ambos trabalhando sobre estes aspectos da ciência e da
tradição budista, cada um especializado em seu próprio dá a outros a sua
maior experiência. Na reunião anual da Society for Neuroscience, em Washington DC o
Dalai Lama disse: “… a áreas específicas da ciência Eu tenho
explorado ao longo dos anos têm sido a física subatômica, cosmologia,
biologia e psicologia. Devido à minha
pouca experiência nestes domínios, estou profundamente grato e
agradecido pela generosidade horas compartilhou comigo, que foram meus
professores de mecânica quântica, Carl von Weiszacker e David Bohm eo
campo da biologia, especialmente neurociência meus agradecimentos são devidos a Robert Livingstone e Varela Francisco … “

Ele acrescentou:

“Orientação da tradição budista tem sido largamente a compreensão da mente humana e suas funções variadas. A
suposição aqui é que, através da realização de internalização na psique
humana pode encontrar formas de transformar nossos pensamentos, emoções
e tendências por trás dessas e, assim, alcançar uma vida plena e
satisfatória. É neste contexto que a
tradição budista desenvolveu uma classificação ricos de estados mentais e
técnicas específicas para a refinação contemplativa qualidades mentais.

Esta é talvez a maior
descoberta perpetrados por Varela, suas conseqüências ainda estão por
ser visto na profundidade e dimensões conforme o caso.

Francisco
Varela foi fundamental para a formação do “Mind & Life” Instituto
tem agora o apoio e contribuição científica de profissionais de
destaque, bem como as principais mestres espirituais do budismo.

Ana-Maria Clasing


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Publicações

Publicações coescritas com Humberto Maturana

  • «De Máquinas e Seres Vivos: Uma teoria sobre a organização biológica». Editorial Universitária, Santiago de Chile, 1973. (revisada em 1995 com um prefacio). Nesta publicação avança-se a teoria da autopoiesis.
  • «A Árvore do Conhecimento: As bases biológicas do entendimento humano». Editorial Universitária, Santiago, 1985. Continuação mais elaborada do livro anterior.

O FUTURO DO CARVÃO VEGETAL NA SIDERURGIA


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O FUTURO DO CARVÃO VEGETAL NA SIDERURGIA

EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA PRODUÇÃO E CONSUMO DO CARVÃO VEGETAL

Omar Campos Ferreira
omar@ecen.com

Mostrou-se noNº 20 da e&e que o carvão vegetal é usado preponderantemente na produção de ferro-gusa e aço. As usinas integradas tendem, na atualidade, a utilizar o coque de carvão mineral. Tem-se informação de que a usina a carvão vegetal da Belgo-Mineira, em Monlevade-MG, está em vias de desativar os altos fornos a carvão vegetal em favor de um único alto-forno a coque. A se confirmar a tendência, o carvão vegetal ficará confinado ao mercado de produtores independentes de ferro-gusa, à produção de ferro-ligas em algumas regiões onde existem ainda reservas de florestas plantadas ou de matas nativas exploráveis sob o regime de manejo, e à complementação da sucata nos fornos elétricos a arco.

O estudo sobre o mercado de ferro primário citado anteriormente mostra, entretanto, que o carvão vegetal poderia sustentar um esforço de exportação de ferro-gusa para uso em fornos elétricos, cuja demanda mundial deverá crescer para atingir a 63 milhões de toneladas em 2.010. Os dados sobre o sistema integrado biomassa-tubos sem costura, a seguir, foram obtidos da referência (1).

A madeira para a produção do carvão provém de uma plantação de 58.000 ha, com várias espécies de eucalipto (E. Camaldulensis, Cloesiana, Urophylla e Pellita) selecionadas como bem adaptáveis ao clima e solo da região de Noroeste de Minas Gerais. Modernas práticas de silvicultura foram observadas com os objetivos de preservar parte do cerrado nativo e a fauna, produzindo carvão de boa qualidade e a custos convenientes. A fotografia seguinte mostra uma plantação da Mannesmann Florestal S. A , vendo-se ilhas de mata nativa ligadas por corredores ecológicos que facilitam o trânsito de animais de grande porte e preservam pássaros e insetos que atuam como controladores biológicos de pragas. A produtividade alcançada nas plantações antigas é de 9 t/ha.a de madeira seca e de 14 t/ha.a nas mais recentes que utilizam mudas melhoradas. Espera-se atingir a 18 t/ha.a com o emprego de clones já disponíveis comercialmente (1).

Descrição: http://ecen.com/eee20/image118.gif

INVENTÁRIO DE CARBONO.

Na prática atual, o eucalipto é cortado no 70 , 140 e 210anos sem a necessidade de replantio (rebrota). Assim, mantém-se um estoque permanente de madeira em pé, enquanto perdura a produção da siderúrgica, correspondente aos 6 anos de crescimento da planta. Realizado o corte, as raízes, galhos menores e folhas são deixados no local, constituindo um estoque adicional de carbono. Os cálculos de inventário de carbono são feitos com base na cinética de desenvolvimento da planta (1) e na análise elementar da madeira (2).

Análise elementar da madeira (% de massa seca)

Carbono

Oxigênio

Hidrogênio

Nitrogênio

Cinzas

Água

47,0

41,0

5,7

0,3

0,8

20,0

Descrição: http://ecen.com/eee20/image119.gif

O gráfico mostra que a massa de carbono contida no tronco, na época do corte (entre 72 e 84 meses) é aproximadamente igual à massa contida nas demais partes da árvore. A figura seguinte mostra esquematicamente o balanço de massa no processo (1).

Descrição: http://ecen.com/eee20/image120.gif

Inventário de carbono (por tonelada de tronco abatido, base seca)

Biomassa

Carbono

CO2

O2

Tronco abatido

1,00

0,47

1,73

1,26

Troncos acumulados em 6 anos

3,00

1,41

5,19

3,77

Raízes, 70ano

2,99

1,40

5,13

3,73

Galhos acum. 6 anos

0,48

0,23

0,83

0,60

Folhas acum. 6a

0,33

0,17

0,62

0,45

Estoque total

6,80

3,21

11,76

8,56

A tabela acima mostra que, para cada tonelada de carbono posto em circulação no processo produtivo, a plantação armazena 6,8 t de carbono nos troncos em desenvolvimento e nas partes não processadas.

EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA PRODUÇÃO DO CARVÃO VEGETAL.

O cálculo da massa de gases emitidos é feito a partir da análise elementar dos gases não condensáveis, representando 25% da massa de madeira seca carbonizada, reproduzida abaixo (2)

Gases não condensáveis ( % de massa )

Hidrogênio 0,63 Metano 2,43
CO 34,0 Etano 0,13
CO2 62,0

Os parâmetros de conversão , já apresentados no Relatório Parcial, são os seguintes:

·       Densidade aparente da madeira (eucalipto) empilhada = 0,62 t/st

·            Densidade aparente do carvão a granel = 0,25 t/m3

·       Rendimento da carbonização (m3carvão/st) (3) = 0,50 m3 / st

·       Consumo específico de carvão na redução (3) = 2,9 m3/ t gusa

Em unidades métricas, 1 t de ferro-gusa requer 0,725 t de carvão vegetal, produzido a partir de 3,6 t de madeira.

Na prática atual, 5% da massa de madeira enfornada é queimada para aquecer a carga do forno. A composição da fumaça liberada nesta fase não é conhecida. Considerando a pequena massa queimada, supõe-se a conversão completa do carbono em CO2 equivalente

Com estes dados, a emissão calculada para a produção do carvão vegetal é mostrada a seguir:

Descrição: http://ecen.com/eee20/image121.gif

EMISSÃO NA PRODUÇÃO DO CARVÃO VEGETAL.

INSUMO PRODUTO EMISSÃO
0,05 t madeira calor CO2 0,086 t
0,95 t madeira 0,19 t carvão CO2 0,147 t
CO 0,081 t
CH4 0,006 t
C2H6 <0,001t

EMISSÃO NA REDUÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO-GUSA.

Referindo a emissão a 1 t de madeira enfornada e levando em conta a perda de 10% do carvão (4) no manuseio e no transporte, a massa de carvão que entra no alto-forno é 0,17 t. O consumo específico de carvão é de 2,9 m3 / t gusa (5) ou 0,725 t carvão / t gusa, de forma que a massa de gusa produzida por tonelada de madeira enfornada é de 0,23 t. O teor típico de carbono no ferro-gusa é de 4,3% em massa.

Com estes dados, o balanço de carbono na redução é o apresentado a seguir:

BALANÇO DE CARBONO NA REDUÇÃO

Entrada de carbono 0,17 t de carvão com 86% de carbono fixo 0,146 t
Saídas de carbono 0,23 t gusa 0,010 t
Gás de alto-forno (balanço) 0,136 t

A composição do gás de alto-forno a carvão vegetal e a emissão gasosa por tonelada de madeira enfornada estão apresentadas na tabela a seguir:

Emissão gasosa na redução com carvão vegetal por tonelada de madeira enfornada

Gás CO2 CO CH4 H2 N2
% massa 28,8 20,3 0,3 0,4 50,1
Massa – t 0,039 0,028 0,408×10-3 0,54×10-3 0,068

EMISSÃO TOTAL NA PRODUÇÃO DO CARVÃO E NA REDUÇÃO.

Na tabela a seguir estão consolidadas as emissões relevantes na produção do carvão e na redução do minério de ferro por tonelada de madeira enfornada.

Gás CO2 CO CH4
Produção do carvão 0,233 t 0,081 0,006
Redução 0,039 0,028 < 0,001
Total 0,272 0,109 0,006

É útil exprimir a emissão por tonelada de ferro-gusa produzido que se mostra na tabela seguinte:

Gás CO2 CO CH4
Emissão / t de gusa 1,18 0,47 0,026

EMISSÕES COMPARADAS NO CICLO COMPLETO DE PRODUÇÃO DE AÇO COM COQUE DE CARVÃO MINERAL E COM CARVÃO VEGETAL.

A produção de aço compreende a redução do minério (alto-forno) e a descarbonetação do ferro primário (forno básico a oxigênio). O diagrama a seguir (R), referente à rota de produção da MANNESMANN S.A., apresenta uma comparação das emissões de CO2 no ciclo com coque e com carvão vegetal. Os dados referem-se a usina utilizando no alto-forno 80% de sinter de finos de minério de ferro e 20% do minério de granulado e 20% de sucata no forno básico a oxigênio.

Figura co2

Para comparar os resultados dos cálculos mostrados anteriormente com os do trabalho acima (1), as emissões de gases são expressas em massa de carbono contido, visto que o mesmo não discrimina os compostos de carbono emitidos, e limitar a comparação às etapas de carbonização e de redução.

Massas de carbono contido:
Este relatório : Massa contida no CO2 = 1,18 t x 12/44 = 0,322 t
Massa contida no CO = 0,47 t x 12/28 = 0,202 t
Massa total = 0,522 t
Trabalho acima
Massa total = 2,11 t x 12/44 = 0,575 t

A diferença relativa entre os dois resultados é da ordem de 10%, o que pode ser explicado pela adoção de índices diferentes, já que a dispersão de valores mencionados nos trabalhos consultados supera a diferença.

Os autores do trabalho concluem que a análise comparada das rotas a coque e a carvão vegetal endossa a proposta de estabelecimento de crédito internacional, ou bônus, pelo seqüestro de carbono e pela regeneração de oxigênio. Conforme se vê no diagrama apresentado, a rota coque libera 1,65t de CO2e fixa 1,536 t de O2 por tonelada de aço produzido, ao passo que a rota a carvão vegetal seqüestra 16,336 t de CO2e regenera 1,536 t de O2 por tonelada de aço produzido, no ciclo completo desde a plantação do eucalipto até a produção do aço. Em adição, a rota a coque libera 7 kg de óxido de enxofre (SO2), emissão esta praticamente ausente na rota a carvão vegetal.

A questão em exame comportaria estudos mais refinados, incluindo, do lado do carvão vegetal, análise dos insumos energéticos diretos (acionamento de máquinas usadas na moderna indústria do carvão vegetal, p. ex.) e indiretos (energia empregada na extração e beneficiamento dos nutrientes aplicados na assistência à floresta plantada, p. ex.). Estudo deste tipo foi aplicado à produção do álcool da cana de açúcar, mostrando que a eficiência exergética da fase industrial é da ordem de grandeza dos melhores processos industriais, enquanto que a eficiência na fase agrícola, considerada a fatalidade da incidência da radiação solar na terra e do ciclo hidrológico, ou seja, não se atribuindo custo exergético à energia solar e à chuva, supera os 400% (6).

Observe-se que a redução em forno elétrico, com carga mista de ferro-gusa de carvão vegetal e sucata, reduziria a emissão na proporção da sucata empregada. Todavia, esta vantagem só é real se a eletricidade for de origem renovável (hidroelétrica ou termo elétrica a biomassa), visto que a eficiência dos melhores ciclos termodinâmicos ainda é da ordem de 50%, ou seja, para produzir 1 kWh de eletricidade é necessário empregar, no mínimo, 1.900 kcal que os países industrializados obtêm da conversão de combustíveis fósseis, com emissão de gases de efeito estufa, conforme apresentado em trabalho anterior (e&e).

As considerações acima mostram as condições singulares do Brasil para liderar um movimento no sentido do estabelecimento do sistema de bônus pelo seqüestro do carbono e concomitante regeneração do oxigênio, evitando o apelo à energia núcleo-elétrica, de riscos tão ou mais graves que os representados pelo uso de combustíveis fósseis. Um estudo econômico, empregando o conceito de energia eqüivalente ou, melhor ainda, o conceito de exergia, permitiria quantificar o valor do bônus. Trata-se de trabalho de grande fôlego, muito além das dimensões deste relatório.

CONCLUSÕES.

As condições de produção e de uso do carvão vegetal na siderurgia examinadas neste trabalho indicam que a indústria de carvão pode atingir a plena maturidade, em função da prevista elevação do preço do petróleo que puxaria os preços dos demais vetores energéticos. Estudos internacionais consultados consideram possível o retorno a economia energética baseada no carvão mineral para produzir combustíveis líquidos sintéticos (7).

Da mesma forma que o álcool combustível, o carvão vegetal concorre com um combustível-redutor fóssil, de custo forçosamente inferior e que, por sua vez, concorre com outro combustível fóssil, o gás natural, cujo uso vem ganhando impulso devido às suas múltiplas aplicações. Assim, o carvão vegetal deve ser considerado por suas vantagens ecológicas e sociais, de vez que o setor emprega numerosa mão de obra pouco qualificada, ocupa terras de valor marginal, por serem pouco adequadas à produção agrícola, além de gerar renda em regiões onde as alternativas de emprego não são particularmente favoráveis ao trabalhador. O potencial de seqüestro de carbono e de regeneração do oxigênio, aliado à melhor qualidade do gusa de carvão vegetal como fonte de metal virgem para os fornos elétricos a arco, qualifica este combustível como fator de motivação para as negociações internacionais relacionadas com o clima global.

PROGRAMA DO CARVÃO VEGETAL.

Em meados da década de 70, a Fundação João Pinheiro, órgão ligados à secretaria do Planejamento do Governo de Minas Gerais, definiu um programa de estudos e de pesquisas visando a caracterização do carvão vegetal, a otimização do processo de carbonização e o melhoramento dos fornos usados no setor. A entidade executora do programa foi a Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC – que operou em articulação com o Instituto Estadual de Florestas. O CETEC desenvolveu os trabalhos de laboratório (análises da madeira e do carvão, ensaios de friabilidade, determinação do poder calorífico), estudos econômicos sobre a produção da madeira e do carvão e formulou projetos de Normas Técnicas propostos à Associação Brasileira de Normas Técnicas. Várias reuniões técnicas foram promovidas pelo CETEC com a participação de empresas siderúrgicas (ACESITA, MANNESMANN, BELGO-MINERIA, entre outras) e de fabricação de equipamentos.

Um programa de formação de pessoal foi estabelecido entre a Universidade Federal de MG (Departamento de Engenharia Metalúrgica) e a ACESITA, resultando em enfoque especial para o carvão vegetal nos trabalhos de dissertação (12 dissertações apresentadas entre 1981 e 1998, com maior concentração na década de 80, relacionadas com modelamento matematico de processos, diagnóstico energético, tratamento térmico, injeção de finos de carvão, produção do sinter, mistura de coque e carvão vegetal, etc.). Uma coletânea de trabalhos apresentados está na série Publicações Técnicas do CETEC ( n004 a 08) que se constitui importante fonte de consulta no tema.

A ACESITA operou, nesse período, uma bateria de fornos de carbonização experimentais, complementando os recursos do CETEC e da UFMG. Realizou ainda experimentos com motores Otto e Diesel usando gás de carvão (gasogênio), com resultados considerados satisfatórios na ocasião. Pesquisou ainda o uso do carvão vegetal em motores de bombas de irrigação e em grupo motor-gerador. Não foram realizados ensaios de emissão pelos motores, visto não estar estabelecida, na época, a legislação pertinente.

Passados os efeitos dos choques do petróleo, as pesquisas foram sendo gradativamente abandonadas e o Programa do Carvão Vegetal seguiu uma trajetória parecida com o do Programa do Álcool. Na atualidade, poucas empresas de siderurgia integrada ainda consideram esta alternativa ao coque, entre elas a MANNESMANN. O consumo de carvão pelos produtores independentes de ferro-gusa, mostrado no gráfico abaixo, também apresenta tendência de queda.

Descrição: http://ecen.com/eee20/image122.gif

REFERÊNCIAS.

1-CO2, O2 AND SO2 OVERAL BALANCE FOR THE IRON AND STEEL PRODUCTION THROUGH THE USE OF BIOMASS OR COAL BASED INTEGRATED PROCESSES.Ronaldo Santos Sampaio e Maria Emília Antunes Resende

2 –PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE CARVÃO VEGETAL. Publicação Técnica n. 8 – CETEC – 1982

3 –COMPETITIVIDADE E PERSPECTIVAS DA INDÚSTRIA MINEIRA DE FERRO- GUSA. SINDIFER / FIEMG – 1997

4 –STATE OF THE ART REPPORT ON CHARCOAL PRODUCTION IN BRASIL. FLORESTAL ACESITA S. A – 1982

5 –ANUÁRIO ABRACAVE (vários anos)

6 –ANÁLISE EXERGÉTICA DA PRODUÇÃO DE ETANOL DA CANA DE AÇÚCAR. Otávio de Avelar Esteves – Dissertação de Mestrado – CCTN/UFMG – 1995

7 –ENERGY IN A FINITE WORLD. International Institute for Applied Systems Analysis – 1981

8 –BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL.

A curiosa síndrome do sotaque estrangeiro


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Neurologia

A síndrome pode ser provocada por isquemias cerebrais, hemorragias ou traumas

A curiosa síndrome do sotaque estrangeiro

Pacientes com a doença acabam sendo tratados como malucos por amigos e familiares.

Por Fernanda Dias

De uma hora para outra, a pessoa passa a falar com um sotaque diferente, aparentemente estrangeiro. A família e os amigos começam a achar que é brincadeira, depois indicam um psicólogo. Mas, a resposta para esse tipo de problema, em geral, está nos consultórios de outro tipo de especialista: os neurologistas. A síndrome do sotaque estrangeiro, como o distúrbio é chamado, pode ser provocada por isquemias cerebrais, hemorragias ou traumas.

“Na maioria das vezes, ela está atrelada a uma lesão estrutural súbita no cérebro. Que eu tenha conhecimento, em apenas um paciente, a causa não ficou definida. E são raríssimos os casos de o problema ser oriundo de uma causa psicogênica”, explica Paulo Bertolucci, professor de neurologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para ele, o caso recente de uma americana que saiu de uma cirurgia odontológica com sotaque parecido com o britânico pode ter sido provocado por uma embolia e uma isquemia após a anestesia.

A fala da pessoa afetada continua compreensível, mas o ritmo é que torna-se incomum. Bertolucci explica que a modificação na cadência não quer dizer que a pessoa adquiriu um idioma diferente ou que está pronunciado de forma parecida com uma outra língua que ela já falava. Na verdade, a síndrome do sotaque estrangeiro não apresenta característica de nenhum idioma existente. “Os dois pacientes que já atendi com essa disfunção tinham um sotaque que parecia de um falante de inglês. Mas, se você pega um nativo do idioma, ele não reconhece a semelhança”, afirma Bertolucci.

Segundo o especialista, o que acontece, na maioria dos casos, é que a área responsável pela linguagem no cérebro é afetada e ocorre uma mudança nos pontos de articulação da fala. Quando crianças, aprendemos esses pontos, que são característicos do idioma que usamos. Ao alterarmos esses pontos de produção de fonemas, acabamos falando com outra entonação.

O tratamento é basicamente feito com fonoaudiólogos. Bertolucci ressalva, no entanto, que as sessões podem suavizar o problema, embora mas seja difícil o paciente voltar a falar normalmente como antes. Um tratamento psicológico pode ser feito para ajudar o portador da síndrome do sotaque estrangeiro a retomar sua autoestima e sua identidade:

“A síndrome não provoca nenhuma limitação séria no dia a dia. Pode até afetar a linguagem propriamente dita, mas essa é uma condição mais rara ainda. O problema é mais psicológico já que essas pessoas adquirem um sotaque aparente de outro lugar sem terem optado por isso. Um sergipano que eu atendi me disse que o que lhe incomodava era esse jeito de falar de gringo. Ele virou uma coisa que ele não queria”.

Ainda são muito poucos os casos registrados da doença, até porque muitas das vezes não é feito um diagnóstico correto. No Brasil, Bertolucci estima que haja apenas 12 casos relatados. Diante da falta de conhecimento sobre o problema, o especialista ressalta que é importante que tanto a população quanto a comunidade médica recebam mais informações sobre a doença:

“A família acha que a pessoa pirou de vez ou que amanheceu incorporando um espírito. Depois, procuram psiquiatras, que muitas vezes não conhecem a síndrome. Mas, devemos ficar atentos a essa possibilidade para ajudarmos quem tem o problema a enfrentá-lo sem se sentir um maluco. É fundamental deixar claro que isso é uma condição neurológica, e não que a pessoa está zureta”.

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Implantes ajudam a recuperar memória


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Biotecnologia

Pesquisadores usam algumas das técnicas para interpretar a atividade neural

Implantes ajudam a recuperar memória

O implante demonstra, pela primeira
vez, que uma função cognitiva pode ser melhorada com um dispositivo que simula
o padrão cerebral

Cientistas criaram um implante para o
cérebro que recupera o funcionamento da memória perdida e fortalece a
recordação de novas informações. A pesquisa das universidades Wake Forest e
Southern California é um passo fundamental para o desenvolvimento de neuropróteses
para consertar déficits de demência, AVC e contusões cerebrais em humanos.

Apesar de ainda não ter sido testado
com humanos, o implante demonstra, pela primeira vez, que uma função cognitiva
pode ser melhorada com um dispositivo que simula o padrão de descargas neurais.
Recentemente, neurocientistas desenvolveram implantes que permitem que pessoas
com paralisia movam membros com próteses ou ativem um cursor de computador
apenas com seus pensamentos.

Na pesquisa, publicada nesta
sexta-feira, 17, os pesquisadores usam algumas das técnicas para interpretar a
atividade neural, mas eles interpretam esses sinais internamente para melhorar
a função cerebral em vez de ativar anexos exteriores. “Nós estamos apenas
arranhando a superfície quando se trata de interações com o cérebro, mas este
experimento mostra as possibilidades e o grande potencial de se interagir com o
cérebro desta maneira”, afirma Daryl Kipke da Universidade de Michigan.

Metodologia

Em uma série de experimentos, os
cientistas condicionaram ratos a lembrarem qual de duas alavancas idênticas
eles deveriam pressionar para conseguir água. O rato via a primeira alavanca e,
depois de distraído, tinha que lembrar que tinha que pressionar a outra
alavanca para receber a água. Esse treinamento repetitivo ensina os ratos a
regra geral, mas em cada tentativa ele deve lembrar qual das duas alavancas
apareceu primeiro para escolher a segunda opção.

Os ratos, então, tiveram implantados
pequenos eletrodos, que ficaram fixados desde o topo da cabeça até duas partes
do hipocampo cruciais na formação de memórias novas, tanto em ratos quanto em
humanos. As duas partes, chamadas de CA1 e CA3, se comunicam enquanto o cérebro
aprende e armazena novas informações. Os cientistas, então, gravaram essas
informações no computador.

Para conseguir testar o implante, os
pesquisadores usaram uma droga para desligar as atividades do CA1. Sem ele
funcionando, os ratos não poderiam lembrar que alavanca puxar. Eles lembravam a
regra geral, mas não qual das duas eles tinham visto primeiro.

Os pesquisadores, tendo gravado o
sinal apropriado do CA1 no computador, simplesmente emitiram o mesmo sinal, e
os ratos lembraram. O implante atuou como se fosse o próprio CA1 — pelo menos
para essa função.

Os autores da pesquisa disseram que,
com a tecnologia sem fio e chips de computadores, o sistema pode facilmente ser
implantado em humanos, com certos obstáculos técnicos e teóricos. O primeiro é
que para funcionar, o implante deve gravar primeiro os sinais para depois
reproduzi-los, mas em pessoas com problemas de memória esses sinais podem ser
muito fracos. Fora isso, memórias humanas são ricas e complexas, ou seja,
implantes nessa área serão limitados.

Mesmo assim, o implante pode ajudar
pessoas que vivem com um paciente em um quadro de demência, lembrando onde fica
o banheiro, por exemplo.

Fontes:The New York Times – Memory Implant Gives Rats Sharper
Recollection

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A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global


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A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global

A crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente – uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global. O artigo é de Giovanni Alves.

Giovanni Alves (*)

Data: 08/06/2011

A crise financeira de 2008 expõe com candência inédita, por um lado, a profunda crise do capitalismo global e, por outro, a débâcle político-ideológico da esquerda socialista européia intimada a aplicar, em revezamento com a direita ideológica, os programas de ajustes ortodoxos do FMI na Grécia, Espanha e Portugal, países europeus que constituem os “elos mais fracos” da União Européia avassalada pelos mercados financeiros.

Aos poucos, o capital financeiro corrói o Estado social europeu, uma das mais proeminentes construções civilizatórias do capitalismo em sua fase de ascensão histórica. Com a crise estrutural do capital, a partir de meados da década de 1970, e a débâcle da URSS e o término da ameaça comunista no Continente Europeu, no começo da década de 1990, o “capitalismo social” e seu Welfare State, tão festejado pela social-democracia européia, torna-se um anacronismo histórico para o capital. Na verdade, a União Européia nasce, sob o signo paradoxal da ameaça global aos direitos da cidadania laboral. É o que percebemos nos últimos 10 anos, quando se ampliou a mancha cinzenta do desemprego de longa duração e a precariedade laboral, principalmente nos “elos mais fracos” do projeto social europeu. Com certeza, a situação do trabalho e dos direitos da cidadania laboral na Grécia, Espanha e Portugal deve piorar com a crise da dívida soberana nestes países e o programa de austeridade do FMI.

Vivemos o paradoxo glorioso do capital como contradição viva: nunca o capitalismo mundial esteve tão a vontade para aumentar a extração de mais-valia dos trabalhadores assalariados nos países capitalistas centrais, articulando, por um lado, aceleração de inovações tecnológicas e organizacionais sob o espírito do toyotismo; e por outro lado, a proliferação na produção, consumo e política, de sofisticados dispositivos de “captura” da subjetividade do homem que trabalha, capazes de exacerbar à exaustão, o poder da ideologia, com reflexos na capacidade de percepção e consciência de classe de milhões e milhões de homens e mulheres imersos na condição de proletariedade.

Deste modo, a crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente – uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global.

Ora, uma parcela considerável de intelectuais e publicistas europeus têm uma parcela de responsabilidade pela “cegueira ideológica” que crassa hoje na União Européia. Eles renunciaram há tempos, a uma visão critica do mundo, adotando como único horizonte possível, o capitalismo e a Democracia – inclusive aqueles que se dizem socialistas. Durante décadas, educaram a sociedade e a si mesmos, na crença de que a democracia e os direitos sociais seriam compatíveis com a ordem burguesa. O pavor do comunismo soviético e a rendição à máquina ideológica do pós-modernismo os levaram a renunciar a uma visão radical do mundo. Por exemplo, na academia européia – que tanto influencia o Brasil – mesmo em plena crise financeira, com aumento da desigualdade social e desmonte do Welfare State, abandonaram-se os conceitos de Trabalho, Capitalismo, Classes Sociais e Exploração. Na melhor das hipóteses, discutem desigualdades sociais e cidadania…

Há tempos o léxico de critica radical do capitalismo deixou de ser utilizado pela nata da renomada intelectualidade européia, a maior parte dela, socialista, satisfeita com os conceitos perenes de Cidadania, Direitos, Sociedade Contemporânea, Democracia, Gênero, Etnia, etc – isto é, conceitos e categoriais tão inócuas quanto estéreis para apreender a natureza essencial da ordem burguesa em processo e elaborar com rigor a crítica do capitalismo atual. Na verdade, para os pesquisadores da “classe média” intelectualizada européia, muitos deles socialistas “cor-de-rosa”, a esterilização da linguagem crítica permite-lhes pleno acesso aos fundos públicos (e privados) de pesquisa institucional.

É claro que esta “cegueira ideológica” que assola o Velho Continente decorre de um complexo processo histórico de derrota do movimento operário nas últimas décadas, nos seus vários flancos – político, ideológico e social: o esclerosamento dos partidos comunistas, ainda sob a “herança maldita” do stalinismo; a “direitização” orgânica dos partidos socialistas e sociais-democratas, que renunciaram efetivamente ao socialismo como projeto social e adotaram a idéia obtusa de “capitalismo social”; o débâcle da União Soviética e a crise do socialismo real, com a intensa campanha ideológica que celebrou a vitória do capitalismo liberal e do ideal de Democracia. A própria União Européia nasce sob o signo da celebração da globalização e suas promessas de desenvolvimento e cidadania. Last, but not least, a vigência da indústria cultural e das redes sociais de informação e comunicação que contribuíram – apesar de suas positividades no plano da mobilização social – para a intensificação da manipulação no consumo e na política visando reduzir o horizonte cognitivo de jovens e adultos, homens e mulheres à lógica do establishment, e, portanto, à lógica neoliberal do mercado, empregabilidade e competitividade.

Na medida em que se ampliou o mundo das mercadorias, exacerbou-se o fetichismo social, contribuindo, deste modo, para o “derretimento” de referenciais cognitivos que permitissem apreender o nome da “coisa” que se constituía efetivamente nas últimas décadas: o capitalismo financeiro com seu “moinho satânico” capaz de negar as promessas civilizatórias construídas na fase de ascensão histórica do capital.

Não deixa de ser sintomático que jovens de classe média indignados com a “falsa democracia” e o aumento da precariedade laboral em países como Portugal e Espanha, tenham levantado bandeiras inócuas, vazias de sentido, no plano conceitual, para expressar sua aguda insatisfação com a ordem burguesa. Por exemplo, no dia 5 de junho de 2011, dia de importante eleição parlamentar em Portugal, a faixa na manifestação de jovens acampados diante da célebre catedral de Santa Cruz em Coimbra (Portugal), onde está enterrado o Rei Afonso Henriques, fundador de Portugal, dizia: “Não somos contra o Sistema. O Sistema é que é Contra Nós”. Neste dia, a Direita (PSD-CDS) derrotou o Partido Socialista e elegeu a maioria absoluta do Parlamento, numa eleição com quase 50% de abstenção e votos brancos. Enfim, órfãos da palavra radical, os jovens indignados não conseguem construir, no plano do imaginário político, uma resposta científica e radical, à avassaladora condição de proletariedade que os condena a uma vida vazia de sentido.

Na verdade, o que se coloca como tarefa essencial para a esquerda radical européia – e talvez no mundo em geral – é ir além do mero jogo eleitoral e resgatar a capacidade de formar sujeitos históricos coletivos e individuais capazes da “negação da negação” por meio da democratização radical da sociedade. Esta não é a primeira – e muito menos será a última – crise financeira do capitalismo europeu. Portanto, torna-se urgente construir uma “hegemonia cultural” capaz de impor obstáculos à “captura” da subjetividade de homens e mulheres pelo capital. Para que isso ocorra torna-se necessário que partidos, sindicatos e movimentos sociais comprometidos com o ideal socialista, inovem, isto é, invistam, mais do que nunca, em estratégias criativas e originais de formação da classe e redes de subjetivação de classe, capazes de elaborar – no plano do imaginário social – novos elementos de utopia social ou utopia socialista. Não é fácil. É um processo contra-hegemônico longo que envolve redes sociais, partidos, sindicatos e movimentos sociais. Antes de mais nada, é preciso resgatar (e re-significar) os velhos conceitos e categorias adequadas à critica do capital no século XXI. Enfim, lutar contra a cegueira ideológica e afirmar a lucidez crítica, entendendo a nova dinâmica do capitalismo global com suas crises financeiras.

Ora, cada crise financeira que se manifesta na temporalidade histórica do capitalismo global desde meados da década de 1970 cumpre uma função heurística: expor com intensidade candente a nova dinâmica instável e incerta do capitalismo histórico imerso em candentes contradições orgânicas.

Na verdade, nos últimos trinta anos (1980-2010), apesar da expansão e intensificação da exploração da força de trabalho e o crescimento inédito do capital acumulado, graças à crescente extração de mais-valia relativa, a produção de valor continua irremediavelmente aquém das necessidades de acumulação do sistema produtor de mercadorias. É o que explica a financeirização da riqueza capitalista e a busca voraz dos “lucros fictícios” que conduzem a formação persistente de “bolhas especulativas” e recorrentes crises financeiras.

Apesar do crescimento exacerbado do capital acumulado, surgem cada vez mais, menos possibilidades de investimento produtivo de valor que conduza a uma rentabilidade adequada às necessidades do capital em sua etapa planetária. Talvez a voracidade das políticas de privatização e a expansão da lógica mercantil na vida social sejam estratégias cruciais de abertura de novos campos de produção e realização do valor num cenário de crise estrutural de valorização do capital.

Ora, esta é a dimensão paradoxal da crise estrutural de valorização. Mesmo com a intensificação da precarização do trabalho em escala global nas últimas décadas, com o crescimento absoluto da taxa de exploração da força de trabalho, a massa exacerbada de capital-dinheiro acumulada pelo sistema de capital concentrado, não encontra um nível de valorização – produção e realização – adequado ao patamar histórico de desenvolvimento do capitalismo tardio.

Deste modo, podemos caracterizar a crise estrutural do capitalismo como sendo (1) crise de formação (produção/realização) de valor, onde a crise capitalista aparece, cada vez mais, como sendo crise de abundância exacerbada de riqueza abstrata. Entretanto, além de ser crise de formação (produção/realização) de valor, ela é (2) crise de (de)formação do sujeito histórico de classe. A crise de (de)formação do sujeito de classe é uma determinação tendencial do processo de precarização estrutural do trabalho que, nesse caso, aparece como precarização do homem que trabalha.

Ora, a precarização do trabalho não se resume a mera precarização social do trabalho ou precarização dos direitos sociais e direitos do trabalho de homens e mulheres proletários, mas implica também a precarização-do-homem-que-trabalha como ser humano-genérico. A manipulação – ou “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital – assume proporções inéditas, inclusive na corrosão político-organizativa dos intelectuais orgânicos da classe do proletariado. Com a disseminação intensa e ampliada de formas derivadas de valor na sociedade burguesa hipertardia, agudiza-se o fetichismo da mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social, que tendem a impregnar as relações humano-sociais, colocando obstáculos efetivos à formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da classe social do proletariado.

Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica – da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.

Imerso em candentes contradições sociais, diante de uma dinâmica de acumulação de riqueza abstrata tão volátil, quanto incerta e insustentável, o capitalismo global explicita cada vez mais a sua incapacidade em realizar as promessas de bem-estar social e emprego decente para bilhões de homens e mulheres assalariados. Pelo contrário, diante da crise, o capital, em sua forma financeira e com sua personificação tecnoburocrática global (o FMI), como o deus Moloch, exige hoje sacrifícios perpétuos e irresgatáveis das gerações futuras.

Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor.

Apesar da crise estrutural, o sistema se expande, imerso em contradições candentes, conduzido hoje pelos pólos mais ativos e dinâmicos de acumulação de valor: os ditos “países emergentes”, como a China, Índia e Brasil, meras “fronteiras de expansão” da produção de valor à deriva. Enquanto o centro dinâmico capitalista – União Européia, EUA e Japão – “apodrece” com sua tara financeirizada (como atesta a crise financeira de 2008 que atingiu de modo voraz os EUA, Japão e União Européia), a periferia industrializada “emergente” alimenta a última esperança (ou ilusão) da acumulação de riqueza abstrata sob as condições de uma valorização problemática do capital em escala mundial (eis o segredo do milagre chinês).

Portanto, crise estrutural do capital não significa estagnação e colapso da economia capitalista mundial, mas sim, incapacidade do sistema produtor de mercadorias realizar suas promessas civilizatórias. Tornou-se lugar comum identificar crise com estagnação, mas, sob a ótica do capital, “crise” significa tão-somente riscos e oportunidades históricas para reestruturações sistêmicas visando a expansão alucinada da forma-valor. Ao mesmo tempo, “crise” significa riscos e oportunidades históricas para a formação da consciência de classe e, portanto, para a emergência da classe social de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e estão imersos na condição de proletariedade. Como diria Marx, Hic Rhodus, hic salta!

(*) Giovanni Alves é professor da UNESP, pesquisador do CNPq, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra/Portugal e autor do livro “Trabalho e Subjetividade – O “espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Editora Boitempo, 2011). Site: http://www.giovannialves.org /e-mail: giovanni.alves@uol.com.br

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17893&boletim_id=927&componente_id=15019

Os sete samurais?


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Economia

o Cade iniciou um processo para considerar válida ou não a fusão da Sadia com a Perdigão

Os sete samurais?

O poder atribuído aos sete conselheiros do CADE gera soluções que em nada beneficiam os consumidores.

Por José L. Carvalho*

Em 2009, a fusão da Sadia com a Perdigão, que resultou na criação da BRF – Brasil Foods, foi recebida pelas autoridades governamentais como um importante evento na caminhada da internacionalização das empresas brasileiras. Como ocorre em situações como essa, o Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica iniciou um processo para considerar válida ou não essa fusão, tendo como referencial um possível poder de monopólio que tal ação pudesse promover. (Comente aqui)

Leis antitruste têm por objetivo proteger o cidadão contra concentração de poder econômico representado por um monopólio ou por práticas deletérias à competição. A questão relevante é quais os custos dessa proteção e que benefícios ela efetivamente produz. Se levarmos em conta que um monopólio só se sustenta com a proteção do governo – excluídos os monopólios naturais que por isso mesmo são explorados sob a forma de concessão pública – os custos podem ser maiores que os benefícios.

Leia também: Relator do Cade se posiciona contra fusão entre Sadia e Perdigão

Leia também: Cade: fusão entre Sadia e Perdigão pode aumentar preço de alimentos processados

Leia também: As maiores fusões e aquisições no Brasil em 2009

Um claro exemplo nos é fornecido pela ação contra a IBM, denunciada pelo Departamento de Justiça dos EUA em 1969, como monopolista no mercado de computadores de grande porte. Em janeiro de 1982 o Departamento de Justiça suspendeu a ação uma vez que com o advento do microcomputador, seu argumento central não tinha mais significado.

Alguém poderia argumentar que o processo no Brasil é mais rápido uma vez que o julgamento do Cade é administrativo. É verdade, e isso é na realidade um imperdoável erro de nossa legislação. George J. Stigler, falecido em 1991, recebeu o premio Nobel de Economia em 1982 pelos seus trabalhos sobre a economia da informação e sobre regulamentação econômica. Em seus muitos estudos sobre regulamentação econômica ele nos deixou uma longa lista do que não deve ser feito quando da organização de uma agencia ou ente regulador. De sua lista menciono apenas dois conselhos:

1. os reguladores não podem ter nenhum poder discricionário;

2. a lentidão dos processos judiciais não deve ser usada como desculpa para a adoção de um processo administrativo para julgar o réu.

O Cade não tem essas duas características. É muito poder concentrado nas mãos de sete cidadãos!! Sadia e Perdigão partem para o tudo ou nada.

A forma como a companhia conduziu a defesa do negócio é considerada “desastrosa”. Ao afirmar que não admite vender uma das suas duas marcas principais – Perdigão e Sadia – e que irá à Justiça caso essa seja a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a BRF colocou em segundo plano sua estratégia de defesa no caso. De acordo com especialistas, ao pressionar os conselheiros do órgão, ameaçando recorrer ao Judiciário, a empresa pode ter dado um motivo a mais para ter seus interesses contrariados no julgamento desta quarta. Relator do Cade vota contra fusão entre Sadia e Perdigão.

O conselheiro relator do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no caso Sadia-Perdigão, Carlos Ragazzo, terminou há pouco nesta quarta-feira, 8, a leitura de seu relatório e votou pela reprovação da fusão entre as duas companhias. … “O cenário que foi mostrado pela BRF é extremamente danoso ao consumidor e torna a aprovação impossível. As duas empresas respondem por mais de 50% do mercado de processados. Chegando a 90% em outros. Concorrentes não chegam à fatia de 10% desse mercado”, disse o relator.”

Ora, o argumento do Sr. Relator é torpe. Se hoje, o mercado está concentrado nessas duas empresas e a entrada é livre a qualquer outro investidor, vender qualquer uma das marcas pelo seu valor de mercado não terá comprador. O valor de mercado da marca é representado pelo valor presente do fluxo de benefícios líquidos que a marca poderá gerar ao seu proprietário. Como, nas condições atuais, nenhum investidor está disposto a entrar no mercado ou a expandir seus negócios, a venda de qualquer das duas marcas pelo valor de mercado não terá comprador, porquanto seu preço de compra capitalizará todos os ganhos associados à marca. Além disso, a competição doméstica pode ser ampliada pela importação.

O poder discricionário atribuído ao Cade, em casos como esse, gera soluções que em nada beneficiam os consumidores (lembra-se da compra da Kolynos pela Colgate?), uma vez que esse Conselho não tem como abrir o mercado interno à competição estrangeira.

Os sete do Cade não são os samurais de Akira Kurosawa.

* José L. Carvalho é vice-presidente do Instituto Liberal

Fontes:Instituto Liberal – Os sete samurais

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A PERSONALIDADE NEURÓTICA DO NOSSO TEMPO


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A PERSONALIDADE NEURÓTICA DO NOSSO TEMPO

Resenha

Karen Horney busca apresentar uma descrição precisa da pessoa neurótica, os conflitos que impulsionam essas
pessoas, suas ansiedades, seu sofrimento e as inúmeras dificuldades que as
pessoas têm consigo mesmas e com as demais pessoas em relacionamentos interpessoal.
Ela concentrou seu tema na estrutura de caráter que aparece constantemente em
quase todas as pessoas neuróticas de nosso tempo, de um modo ou de outro. Ela
considera que os conflitos existentes e as tentativas do neurótico na busca de
resolver esses conflitos são de extrema importância. Enfatiza que as
dificuldades neuróticas reais são geradas não apenas por experiências
individuais incidentais, mas também pelas condições culturais específicas em
que as pessoas vivem e que as condições culturais influenciam as experiências
individuais e determinam sua forma particular. Toda a sua fundamentação repousa
sobre bases freudianas, com algumas divergências pessoais as quais Horney pontua claramente.

Horney descreve neurose como “um distúrbio psíquico suscitado por medos e defesas contra estes medos, e por
tentativas para encontrar soluções conciliatórias para tendências em conflito”
e que convém receber esse nome quando afastar dos padrões comuns à cultura considerada.

Como ela busca considerar as formas pelas quais a neurose afeta a personalidade limitou a investigação em duas direções:
num tipo de neurose cuja personalidade do indivíduo permanece intacta, sendo a
neurose uma situação externa cheia de conflitos¹ (ela não está interessada
nesse tipo); um outro tipo de neurose que é a neurose de caráter, condições em
que o principal distúrbio encontra-se nas deformações do caráter, resultante de
um efeito insidioso processo crônico que pode ter início na infância ou de um
conflito de situação real de história da vida da pessoa que pode mostrar que
esses traços difíceis já estavam presentes há algum tempo. Seu direcionamento
volta-se, também, para os próprios distúrbios de caráter, pois as deformações
da personalidade são uma constante das neuroses, o caráter que influi na conduta humana.

Horney constata que os conteúdos dos conflitos centrais e suas inter- relações eram semelhantes em todas as
personalidades neuróticas. O fato de que a maioria dos indivíduos de uma
cultura procura enfrentar os mesmos problemas, conclui-se que tais problemas
foram criados pelas próprias condições existentes naquela cultura. Isso não
quer dizer que não haja pessoas neuróticas com peculiaridades essenciais
comuns, mas que essas similaridades são básicas e produzidas pelas dificuldades
existentes localizadas num determinado tempo e numa cultura.

Horney enfatiza que a pressuposição atinente à relação entre cultura e neurose precisa ser pesquisada de forma
cautelosa e através de observação de atitudes visíveis ao observador superficial,
as atitudes podem ser: atitudes relativas a dar e obter afeição (excessiva
dependência da provação dos outros ou da afeição); atitudes relativas à
avaliação do próprio eu (sentimentos de inferioridade e inadequação); atitudes
relativas à auto- afirmação (inibições explícitas); agressividade (ações
dirigidas a outrem, ataques, desdém); sexualidade (necessidade compulsiva de
atividade sexual ou inibições de exercer essa atividade). Horney explicita que
se faz necessário entender esses processos dinâmicos que dão origem as atitudes
mencionadas, e abaixo discorrer-se-á sobre alguns assuntos importantes. Segundo ela:

A ansiedade é o centro motriz das neuroses e às vezes é confundida com o medo. Ambas são reações proporcionais ao
perigo, porém, no caso do medo, o perigo é manifesto e objetivo, e no caso da
ansiedade é proporcional ao significado que a situação tem para a pessoa sendo
as razões por que a pessoa fica ansiosa desconhecidas. Fazer tal distinção
faz-se necessário, visto que a tentativa de arrancar do neurótico a sua
ansiedade é inútil, pois a maneira que a ansiedade se prende à situação se dará
pela maneira que a pessoa lida com tal situação. Alguns elementos que aparecem
nos efeitos da ansiedade podem ser insuportáveis para a pessoa. Um dos elementos,
por exemplo, é a sensação de inutilidade, outro, é a aparente irracionalidade
que abrange fatores culturais, individuais podendo ser encarada como algo inferior.

A ansiedade é um desafio para o indivíduo encará-la, pois sua presença implícita indica que há algo
desarranjado e é um incentivo a procurar algo dentro de nós mesmos. Em nossa
cultura, há quatro maneiras de escapar à ansiedade: racionalizando-a
(transformar a ansiedade em um medo racional); negando-a (negar a existência da
ansiedade); narcotizando-a (pode ser feito por meio de bebidas alcoólicas ou de
entorpecentes); evitando pensamentos, sentimentos, impulsos e situações que possam despertá-la.

A ansiedade pode estar oculta sob impressões de desconforto físico ou disfarçada de diferentes modos que pareçam
irracionais ou injustificados, no entanto verifica-se que ela é sempre o
elemento fomentador das inibições que trata da incapacidade para fazer, sentir
ou pensar certas coisas, e sua função é evitar a ansiedade que surgiria caso a
pessoa tentasse sentir ou pensar tais coisas.

Freud apud Horney coloca que o fator subjetivo implícito na ansiedade está em nossos próprios impulsos instintivos,
ou seja, tanto o perigo antecipado pela ansiedade como a sensação de impotência
ante ele são evocados pela força explosiva de nossos próprios impulsos. A
princípio, qualquer impulso pode produzir ansiedade. A ansiedade está ligada,
ao menos aparentemente, aos desejos sexuais, pessoas neuróticas, muitas vezes,
se mostram angustiadas face às relações sexuais ou apresentam inibições nesse
fator como resultado da ansiedade. Porém, uma análise mais detalhada revela que
a base da ansiedade não está nos impulsos sexuais como tais, mas sim, em
impulsos hostis associados e estes, tais como a de subjugar ou humilhar o parceiro
no ato sexual. Na grande maioria das pessoas não é nada evidente a conexão
causal entre a hostilidade e a ansiedade neurótica; a repressão da hostilidade
pode apresentar diversas conseqüências psicológicas. Reprimir uma hostilidade
pode significar fazer -de -conta que tudo está bem para abster-se de lutar por
aquilo que a pessoa deseja. Caso a hostilidade seja reprimida quando os
interesses da pessoa estiverem sendo atados, esta poderá facilitar a outrem
tirar proveito dela. Caso a hostilidade seja reprimida, a pessoa pode não ter a
idéia de que é hostil. Pelo processo de repressão à hostilidade (ou seja,
repressão da raiva) é afastada a percepção consciente e esta pode ficar
ruminando como uma paixão. A expansão da repressão à hostilidade pode ser restringida
de três formas: a consideração das circunstâncias de cada situação mostra-lhe o
que não pode fazer com um inimigo (ou suposto inimigo); se a ira se dirige
contra alguém que se admira essa ira irá se integrar na totalidade de seus
sentimentos; e, por fim, tendo em vista que o homem desenvolve um certo senso
do que é ou não apropriado fazer, isso limitará os impulsos hostis. O indivíduo
registra a existência do sentimento reprimido em si mesmo pelo fato de não
haver uma alternativa rigorosa entre consciente e inconsciente, mas de haver,
conforme Sullivan apud Horney, vários níveis de consciência. O impulso
reprimido não só é eficaz, mas, também, em nível mais profundo da consciência o
indivíduo tem noção de sua presença.

A repressão da hostilidade pode ser suficiente por si mesmas para a criação da ansiedade desde que a hostilidade e
sua ameaça potencial para os interesses de outros sejam suficientemente
grandes. Esses processos suscitados pela hostilidade reprimida têm como
resultado o sentimento de ansiedade que, na verdade, a repressão produz
exatamente o estado que caracteriza a ansiedade: uma sensação de impotência
ante o que se sente como um perigo que nos ameaça do exterior. Porém, o fato de
a repressão da hostilidade conduzir à produção de ansiedade, não implica que
deva haver ansiedade manifesta sempre que isto ocorrer, pode ocorrer de a
ansiedade ser afastada por um dos artifícios defensivos.

O conceito de ansiedade proposto por Horney foi desenvolvido por métodos psicanalíticos. Porém difere do pensamento
de Freud em vários aspectos.

Horney assinala que Freud coloca que a ansiedade resulta de uma repressão de impulsos (impulso sexual com uma
interpretação fisiológica), e que depois, ele conceituou ansiedade neurótica
como originada do medo dos impulsos cuja descoberta ou busca de satisfação
acarretará um perigo externo (refere-se à agressividade). Freud coloca, ainda,
que na infância estamos predispostos a reagir ansiosamente, Horney diz a esse
respeito que de fato em neuroses de caráter, sempre se constata que a formação
da ansiedade começa na primeira infância ou que pelo menos se deram as
fundações da ansiedade básica resultando, a partir daí, seu desenvolvimento
rumo a uma evolução para uma neurose, porém, não se pode ser categórico a ponto
de se dizer que a ansiedade como um todo é uma reação puramente infantil.

Uma situação conflitiva real pode servir para explicar uma ansiedade, caso encontremos uma situação criadora de
ansiedade numa neurose de caráter, faz-se necessário levar em conta ansiedades
preexistentes com o objetivo de explicar por que naquele caso particular a
hostilidade apareceu e foi reprimida. Para entender como começou o
desenvolvimento da ansiedade, também, faz-se necessário remontar à infância,
porém, Horney coloca que está mais interessada na estrutura atual da
personalidade neurótica. Ela verificou que o denominador comum a todas as
histórias da infância é um ambiente em que aparecem variáveis e combinadas de
diferentes formas. O mal funcionamento se dá sempre pela falta de um autêntico
calor humano e afeição, o que pode consistir da incapacidade dos pais da
criança oferecer a esta carinho e afeição. Atos ou atitudes por parte dos pais
podem despertar a hostilidade na criança em ações como preferência por outros
filhos, repreensões injustas, mudanças imprevistas de indulgência excessiva
para rejeição desdenhosa, promessas não cumpridas, entre outros comportamentos.
O fator que desperta hostilidade na criança seria, principalmente, a frustração
de seus desejos, especialmente os da esfera sexual, e ao ciúme. É possível que
esta surja em parte por causa da atitude proibitiva da cultura em relação ao
prazer em geral e à sexualidade infantil em particular, quer esta se refira à
curiosidade sexual, masturbação ou brincadeiras libidinosas com outras
crianças, porém a frustração não é a única fonte de hostilidade rebelde. O
ciúme pode ser uma origem de ódio nas crianças e no adulto e, o ciúme do
neurótico pode se apresentar como fator proveniente da falta de carinho e do
espírito de competição.

Existem várias razões pelas quais uma criança criada num ambiente que apresenta membros da família neuróticos reprima
a hostilidade: incapacidade, medo, amor ou sentimentos de culpa. Após os dois
anos de idade a criança apresenta um grande crescimento da sua dependência
biológica em relação aos pais passando para uma dependência que abrange a vida
mental, intelectual e espiritual. Há muitas diferenças individuais no grau em
que as crianças continuam dependendo dos pais em função do que os pais buscam
na educação dos filhos, se a tendência é tornar o filho forte, corajoso,
independente, ou se a tendência é abrigar o filho, fazê-lo obediente. O lema
para essa tendência pode ter vários significados e ter várias combinações
levando a criança a recalcar sua hostilidade gerando a ansiedade: “tenho de
reprimir minha hostilidade porque preciso de você”; “tenho de reprimir minha
hostilidade porque tenho medo de você”; “tenho de reprimir minha hostilidade
por ter medo de perder o seu amor”; “tenho de reprimir minha hostilidade porque
eu seria uma criança má se me sentisse hostil”. A ansiedade infantil é um fator
necessário, mas não causa suficiente e única para o desenvolvimento de uma
neurose. Parece que condições favoráveis logo no início da vida ou influências
neutralizantes de qualquer espécie, podem deter um desenvolvimento neurótico
explícito, caso isso não ocorra pode se desenvolver os processos que constituem uma neurose.

A reação de hostilidade e ansiedade restringe-se ao meio que levou a criança a adotá-la ou se evolui para uma
atitude generalizada de hostilidade e ansiedade para com as pessoas. Quanto
mais difíceis forem as experiências da criança no seio da família mais propensa
a desenvolver reações de ódio para com os pais e com outras crianças como uma
atitude de desconfiança ou desdém em relação aos outros. Quanto mais a criança
disfarçar seu rancor contra a família, mais ele projetará sua ansiedade sobre o
mundo exterior e assim convencer-se-á que o mundo, em geral, é perigoso e assustador.

As reações individuais agudas a provocações individuais cristalizam uma atitude de caráter que por si só não
constitui uma neurose, mas é campo fértil em que uma neurose bem definida
poderá brotar a qualquer instante. A ansiedade básica está inextrincavelmente entrelaçada
com uma hostilidade básica. A ansiedade básica é o suporte de todas as relações
com outras pessoas e continua a existir quando não existe um estímulo
particular na situação concreta. Em simples neuroses de situação não há a
ansiedade conflitiva concreta da parte de indivíduos cujas relações
interpessoais não estão conturbadas. As neuroses são encontradas entre pessoas
sadias que se mostram incapazes de enfrentar a existência do conflito e de
tomarem uma decisão sobre ele. A diferença entre neurose de situação e de
caráter é que a primeira apresenta mais facilidades terapêuticas, enquanto que
a segunda se apresenta mais difícil de se resolver, podendo o tratamendo ser mais demorado.

A ansiedade básica apresenta-se mais ou menos a mesma, variando em extensão e intensidade. Ela pode ser como uma
sensação de ser pequeno, insignificante, indefeso, abandonado, ameaçado num
mundo disposto a abusar, ludibriar, atacar, humilhar, atraiçoar, invejar. Nas
neuroses raramente há a percepção da existência da ansiedade básica, ou da
hostilidade básica, ou pelo menos do peso e valor que ela tem para a vida
global do indivíduo. A ansiedade básica tem repercussões precisas na atitude da
pessoa para consigo mesma e para com os outros. Quanto mais intolerável a ansiedade,
mais exaustiva tem de ser as medidas de proteção. Em nossa cultura, há quatro
formas que a pessoa procura proteger-se contra a ansiedade básica: afeição (“se
você me ama não me magoará”), submissão (“se eu ceder não serei magoado”),
poder (“se eu tiver poder, ninguém poderá magoar-me”) e retraimento (“se eu me
retrair, nada poderá magoar-me”). Para avaliar o papel desempenhado nas
neuroses por essas tentativas de proteger-se contra a ansiedade básica é
importante perceber sua intensidade potencial. Elas são impulsionadas por uma necessidade de reafirmação.

Os impulsos que exercem a função principal nas neuroses são o desejo de afeição e o poder de controle. A afeição
é tão freqüente nas neuroses e facilmente identificável que pode ser indicada
como um dos indicadores mais seguros da existência de ansiedade e sua
intensidade aproximada. O neurótico se vê ante o dilema de ser incapaz de amar
e apresenta uma grande necessidade do amor dos outros. Qual seria o significado
do que é o amor em nossa cultura? Ele seria a capacidade de dar e receber
afeição, porém é muito difícil dizer o que é o amor, o mais fácil seria dizer o
que não é amor, mas sabe-se que é não impor, como o neurótico muito faz e que
implica uma exigência hostil. É certo que queremos algo da pessoa que gostamos,
queremos satisfação, lealdade, auxílio, até mesmo, sacrifício, quando
necessário, isto é indício de saúde mental ser capaz de exprimir tais desejos
ou mesmo de lutar por sua consecução. O neurótico luta desesperadamente para
conseguir qualquer espécie de afeto só com o intuito de reafirmar-se. Muitas
dessas relações são sustentadas sob o disfarce de amor sob uma convicção
subjetiva de ligação, quando na realidade o amor é apenas apego da pessoa à
outra para lhe satisfazer as suas necessidades próprias. A pessoa neurótica
cujo artifício defensivo é uma busca intensa por afeição, dificilmente percebe
sua incapacidade de amar. A maioria dessas pessoas confunde a própria
necessidade que tem dos outros com uma inclinação para o amor e o motivo para
defender essa ilusão é que, renunciar a ela significa a pessoa colocar à mostra
o dilema de sentir-se hostil às pessoas e, não obstante, desejar sua afeição.
Outra dificuldade que o neurótico encontra ao procurar satisfazer sua fome por
afeição é que este é incapaz de aceitá-la. O indivíduo se defronta com a
descrença ou sente excitados sua desconfiança e medo e não acredita no afeto
porque está convencido de que ninguém pode amá-lo. A afeição oferecida a uma
pessoa nessas condições pode despertar franca ansiedade na mesma. As provas de
afeto podem manifestar o medo da dependência emocional que é um perigo real
para quem quer que não possa viver sem afeto de outrem, e qualquer coisa que
vagamente sugira isso pode provocar uma oposição desesperadora, já que tal
resposta rapidamente invoca o perigo da dependência. Para uma pessoa impedida
por sua ansiedade básica e que, conseqüentemente, procure afeto para
proteger-se, as probabilidades de obter esse tão desejado afeto são precárias e
a própria situação que cria a necessidade interfere com sua satisfação.

As necessidades de afeição neurótica e infantil têm em comum um único elemento, a sua importância, porém ambas tem uma
base diferente. A necessidade neurótica desenvolve-se de acordo com condições
diversas e que são: ansiedade, não se achar digno de ser amado, incapacidade
para acreditar em qualquer afeição, e hostilidade contra todos. Uma
característica na necessidade neurótica de afeição é a sua natureza compulsiva,
pois para o neurótico, a conquista de afeição constitui uma necessidade vital.
A necessidade neurótica de afeição pode focalizar-se numa única pessoa –
marido, esposa, médico, amigo – ou a certos grupos de pessoas, talvez aqueles
que revelam interesses em comum ( grupo político ou religioso, ou limitar-se a
um dos sexos). No que toca a esta questão do papel da afeição, podem
distinguir-se três tipos de pessoas neuróticas. No primeiro grupo não há a
menor dúvida de que as pessoas anelam por afeição, sob qualquer forma que esta
se apresente, por quaisquer meios que possam consegui-la. As do segundo grupo
esforçam-se por alcançar afeição, mas, se não a obtém, em alguma relação
interpessoal – e como regra tendem a fracassar. O terceiro grupo é de pessoas
que foram tão severamente maltratadas, no começo da vida, que sua atitude
consciente passou a ser de profunda descrença em qualquer afeição.Todas as
características da necessidade neurótica de afeição têm em comum o fato de as
próprias tendências conflitivas do neurótico barrarem o caminho a essa afeição.
Qualquer omissão em satisfazer as exigências do neurótico, ao seu modo , é
considerado uma repulsa. A conexão entre sentir-se repelido e ficar irritado
permanece inconsciente. A hostilidade provocada pela sensação de ser repelido
contribui bastante para manter a ansiedade alerta ou mesmo para fortalecê-la. É
um fator importante no estabelecimento de um círculo vicioso, de que é difícil
sair. Como o neurótico espera, com suas ameaças, obter aquiescência às suas
exigências, não as porá em prática enquanto tiver esperança de conseguir seus
fins por outra forma. Se perder essa esperança, poderá concretizá-las sob a
tensão do desespero e do desejo de vingança.

A necessidade neurótica de afeição pode
às vezes, assumir a forma de paixão sexual ou de desejo sexual incontestável. O
ciúme é considerado oriundo de rivalidade ente irmãos ou do complexo de Édipo;
o amor irrestrito, do erotismo oral; a cobiça é explicada como erotismo anal
etc., porém foi percebido que todas as atitudes e reações são da mesma natureza,
partes constitutivas de uma estrutura total. Até certo ponto, a expressão
sexual da necessidade de afeto depende das circunstâncias externas favorecem-na
ou não. Depende da diferença da cultura, da vitalidade e do temperamento
sexual. E, finalmente, depende de que a vida sexual da pessoa seja
satisfatória, pois, se não o for, é mais provável que ela reaja de uma forma
sexual. Porém tais fatores não bastam para explicar diferenças individuais
básicas podendo ocorrer diversas variações entre um indivíduo e outro. A
sexualidade torna-se a principal via de acesso a outras pessoas e, por isso,
assume uma grande importância. Em nossa cultura, temos a tendência a encarar
com orgulho e contentamento a nossa atitude liberal em face a sexualidade.
Sabe-se que hoje houve uma mudança para melhor, em relação ao passado, pois
dispomos de maior liberdade nas relações sexuais e de uma maior capacidade para encontrar nelas satisfações.

Segundo Horney há muitas provas de que nas neuroses de adultos todas as características de amor e ciúme que Freud
descreveu como inerentes ao complexo edipiano, podem ter existido na infância,
mas que, para ela, é muito menos freqüente. Ela acredita que o complexo
edipiano, ao invés de processo primário das espécies, é produto de diversos processos
de diferentes espécies. Nas situações familiares que proporcionam um solo
fértil para o desenvolvimento de um complexo edipiano, geralmente muito medo e
hostilidade são despertados na criança e sua repressão provoca o aparecimento
de ansiedade. Na verdade, de acordo com Freud apud Horney, um complexo de Édipo
plenamente desenvolvido mostra todas as tendências como exigências excessivas
de amor incondicional, ciúme, dominação, ódio devido à rejeição – típicas da
necessidade neurótica de afeição. Para ela, o complexo de Édipo, em tais casos,
não é, pois, a origem da neurose, mas sim, ele próprio, uma formação neurótica.

A procura de afeição é uma maneira freqüentemente usada para conseguir-se tranqüilidade interior em face da
ansiedade; outra é a luta pela conquista de poder prestígio e posses. A obtenção de afeto significa conseguir reafirmar-se por meio de contato intenso
com outras pessoas, ao passo que a busca de poder, do prestígio e de posses
implica em conseguir reafirmação afrouxando o contato com os outros e
fortalecendo sua própria posição normal. O desejo de dominar, de alcançar
prestígio, de adquirir riqueza, e o desejo de obter afeto não são traços
neuróticos. A sede de poder do neurótico brota da ansiedade, do ódio e de
sentimentos de inferioridade, ou seja, a aspiração normal ao poder nasce da
força e a aspiração neurótica, da fraqueza. Os esforços neuróticos em busca de
poder, prestígio e posses servem não só como defesa contra a ansiedade, mas
também como um canal de descarga para a hostilidade reprimida. A busca de poder
serve como defesa contra a impressão de desmerecimento (um dos elementos
básicos da ansiedade). As metas e funções da busca neurótica de poder,
prestígio e posses são:

Metas Reafirmação contra Hostilidade sob a forma de lei
PoderPrestígioPosses InsegurançaHumilhaçãoIndigência Tendência para oprimirTendência para humilharTendência para espoliar outros

Os meios de obter poder, prestígio e
posses variam de cultura para cultura. A competição neurótica difere da normalem três aspectos.

Primeiramente, o neurótico, constantemente, compara-se com os
outros, mesmo em situações onde isso não seja o caso. A segunda diferença é que
a ambição do neurótico não é só realizar mais do que outros ou ter maior êxito
que eles, mas, igualmente, ser ímpar e excepcional. A terceira diferença é a
hostilidade implícita nas ambições neuróticas, cuja atitude é a de que ninguém
senão eu devo ser bonito, capaz, vitorioso. A hostilidade é inerente a toda
competição intensa, posto que a vitória de um dos competidores pressupõe a
derrota do outro. Há muita ansiedade associada aos impulsos frustradores em
virtude de o neurótico supor que os outros, após um malogro, se sentirão tão
magoados e vingativos quanto ele. Por conseguinte, fica ansioso quanto a magoar
os outros e abstém-se de tomar conhecimento de suas tendências frustradoras
acreditando e insistindo que elas são de fato justificáveis. Todos esses
impulsos destrutivos, implícitos na ânsia neurótica de poder, prestígio e
posses entram na luta competitiva. O neurótico se torna importante por si
mesmo, independente de quaisquer desvantagens ou sofrimentos que possam
acarretar. A habilidade para humilhar, explorar ou burlar outros se converte
num triunfo de sua superioridade ou, se falhar, numa derrota. Muito da raiva
manifestada pelo neurótico quando incapaz de tirar proveito dos outros se deve
a esse sentimento de derrota. Há duas formas principais de encobrir os impulsos
frustradores ou depreciativos: disfarçando-os sob uma atitude de admiração ou
intelectualizando-os por meio de ceticismo. O amor pode ser empregado para
compensar os impulsos frustradores que nascem da ambição. A admiração ou o amor
pode servir como compensação para impulsos frustradores da seguinte forma:
impedindo que os impulsos destrutivos aflorem à consciência; eliminando,
totalmente, o espírito de competição graças à criação de uma distância
intransponível entre si próprio e o competidor; proporcionando um certo meio de
desfrutar o sucesso ou dele participar; apaziguando o competidor e
precavendo-se, assim, contra sua vingança.

Devido a seu caráter destrutivo, o
espírito de competição nas pessoas neuróticas dá lugar a uma ilimitada
ansiedade e, conseqüentemente, leva-as fugir à competição. Resta saber de onde
provém essa ansiedade. Uma das causas é o medo de retaliação contra a sede
implacável de ambição. O medo à retaliação por si só não leva a inibições, pode
ter como resultado um ajuste de contas a sangue-frio com a inveja, a rivalidade
ou a malícia, imaginária ou real, dos outros, ou então uma tentativa para
ampliar o poder do indivíduo considerado, de modo a defender-se contra qualquer
malogro. A pessoa neurótica irá seguir dois caminhos incompatíveis: um anelo
agressivo por uma dominação do tipo ninguém senão eu e, simultaneamente, um
desejo exagerado de ser amado por todos. A principal razão pela qual o
neurótico teme suas próprias ambições e exigências é o temor de perder o afeto
dos outros. É na necessidade de justificativa que, mais do que qualquer outra
coisa possibilita um elemento de sutil insinceridade furtiva que impregna a
personalidade, ainda que a pessoa possa ser, fundamentalmente, honesta. Essa atitude
hipócrita é bastante confundida com uma atitude narcisista. O produto direto da
ansiedade, latente na competição neurótica, é o temor ao fracasso e ao sucesso.
O temor ao fracasso é uma expressão do medo de ser humilhado: qualquer falha
converte-se em catástrofe. Via de regra o neurótico não tem conhecimento de sua
ansiedade, percebendo apenas suas conseqüências. De modo geral, o neurótico
considerará mais garantido não fazer as coisas que fazer. Sua máxima é: “fique
no cantinho, seja majestoso, e, sobretudo, não chame atenção”. Em muitos
neuróticos, a ansiedade referente à hostilidade dos outros é tão grande que
temem o sucesso, mesmo estando certos de consegui-lo. O neurótico é meticuloso,
registra com uma penosa exatidão, todos os mil e um pequenos incidentes da vida
real que não combinam com sua ilusão consciente. O neurótico pode ir a dois
extremos, ao mesmo tempo em que se sente mais do que convicto de seu valor
excepcional pode estranhar-se de que alguém o leve a sério. Facilmente sente-se
magoado, desprezado, negligenciado, esquecido, e reage com ressentimento
vingativo proporcional. Pode dirigir-se contra pessoas que querem ajudá-lo, e
ao no mesmo instante pode ser completamente incapaz de sentir e formular
acusações contra as pessoas que, realmente, lhe fizeram mal.

Os sentimentos de culpa parecem exercer
papel saliente no quadro aparente das neuroses. Em algumas pessoas neuróticas,
esses sentimentos manifestam-se aberta e abundantemente; em outras aparecem
disfarçados, porém sua presença é indicada pela conduta, atitudes e maneiras de
pensar e reagir. A pessoa neurótica pode mostrar-se inclinada a considerar-se
responsável por seus sofrimentos, julgando que não merece ter melhor sorte.
Pode, também se sentir, inegavelmente, mais à vontade, e até mesmo perder
alguns de seus sintomas neuróticos, se ocorre uma adversidade (perder seus bens
ou ser vítima de um acidente). Os sentimentos de culpa e de inferioridade, não
são de modo algum indesejáveis; a pessoa neurótica mostra-se bem longe de
querer livrar-se deles. De fato, insiste em sua culpa e resiste a toda
tentativa para isentá-la das mesmas. O neurótico procura dissimular a ansiedade
sob sentimentos de culpa, teme as conseqüências prováveis e antecipa
conseqüências completamente desproporcionais à realidade e a natureza destas
que dependerá das circunstâncias. O medo de reprovação é muito comum nas
neuroses. Quase todo neurótico receia excessivamente ou mostra-se supersensível
ao ser reprovado, criticado, acusado, desmascarado. Este medo é interpretado
como um indício de sentimentos de culpa latentes, ou seja, ele é considerado
uma resultante de tais sentimentos. O fator principal pelo qual o neurótico se
preocupa em ser descoberto e rejeitado é devido a discrepância entre a fachada
que ele apresenta tanto ao mundo quanto a si mesmo e as tendências recalcadas
que jazem escondidas por detrás de tal fachada, a insinceridade da parte
neurótica de sua personalidade é responsável pelo medo de reprovação, é essa
insinceridade que o neurótico teme ser descoberta. O neurótico procura várias
maneiras para proteger-se da reprovação como a procura de refúgio na
ignorância, na doença ou na incapacidade. Se a incapacidade não é eficaz ou
aplicável numa dada situação, a doença pode servir à mesma finalidade. A enfermidade
pode servir como fuga a dificuldades ou, ainda, como uma venda contra a
percepção de que o medo está fazendo-o recuar ante uma situação que deveria ser
enfrentada. Outra defesa é a impressão de estar sendo vítima, sentindo-se
maltratado, o neurótico guarda-se contra as censuras por suas próprias
tendências para abusar dos outros; sentindo-se negligenciado, impede as
censuras por suas tendências para dominar. As atitudes auto-recriminatórias
evitam que o neurótico perceba a necessidade de modificar-se e, de fato,
constituem um substitutivo para a modificação. Para o neurótico, isso é muito
mais árduo porque as atitudes lhe são impostas pela ansiedade, e este fica
assustado com a possibilidade de ter de modificar-se, se esquiva a admitir a
necessidade de fazê-lo. O neurótico, também pode enganar-se quanto à
necessidade de modificação intelectualizando seus problemas. Essa atitude
intelectualizada é usada como uma defesa que os impede de experimentar o que
quer que seja emocionalmente e, portanto, de perceberem que tem de
modificar-se. As auto-recriminações também podem servir para afastar o perigo
de acusar os outros, pois pode parecer mais seguro carregar a culpa nos
próprios ombros. Freud apud Horney reconhece que os sentimentos de culpa
originam-se do medo, pois pressupõe que o medo contribui para a criação do
superego, em que vê o responsável por tais sentimentos; porém ele crê que as
exigências da consciência e os sentimentos de culpa uma vez estabelecidos,
funcionam como uma força irrevogável. Uma vez aceito que os sentimentos de
culpa não são por si mesmos a força motivadora primária, torna-se importante
ter em mente certas teorias analíticas que foram construídas partindo da
hipótese de que os sentimentos de culpa (particularmente os de caráter difuso),
a que Freud deu o nome provisório de sentimentos de culpa inconscientes – e que
são da máxima importância na geração das neuroses (a da reação terapêutica
negativa; a do superego como uma estrutura interior; masoquismo moral, que
explica o sofrimento imposto a si próprio como resultante de uma necessidade de
ser punido).

A pessoa neurótica arrasta uma soma
enorme de sofrimento e recorre a este sofrimento como meio de atingir certas
metas que, devido aos dilemas presentes, são difíceis de alcançar de outra
maneira.

O termo masoquismo originariamente
referia-se a perversões e fantasias sexuais, em que satisfação sexual é obtida
por intermédio de sofrimento (a pessoa apanha, é torturada, violentada,
escravizada, humilhada). Freud reconheceu que essas perversões e fantasias
sexuais são afins de tendências generalizadas para sofrer, isto é, aquelas sem
qualquer base sexual aparente (masoquismo moral) considerando que nas
perversões e fantasias sexuais o sofrimento visa a uma satisfação concreta. A
diferença entre as perversões sexuais é o chamado masoquismo moral que está
relacionado ao grau de consciência. A obtenção de satisfação por meio do
sofrimento é um grande problema mesmo nas perversões, mas torna-se mais
intrincado nas tendências generalizadas. Uma das explicações para o masoquismo
é a de Freud sobre a hipótese do instinto de morte que visa a autodestruição,
quando associada a impulsos libidinosos. A impressão superficial é que o
neurótico sofre mais do que é autorizado pela realidade. Ele dá a impressão de
que algo em seu íntimo apega-se a toda oportunidade de sofrer, que pode dar um
jeito para transformar circunstâncias fortuitas em algo doloroso e que ele
reluta em abrir mão do sofrimento. O sofrimento pode ter o valor de uma defesa
direta para o neurótico, e pode ser o único modo pelo qual ele se protege
contra perigos iminentes. Nesse sofrimento não há vantagens aparentes a serem
obtidas, nem uma platéia que possa ser impressiona, nem compaixão a ser
conquistada, nem um triunfo ao impor sua vontade a outros. O princípio que
opera nesse processo é dialético, encerrando a verdade fisiológica de que em
certo ponto a quantidade se converte em qualidade. Embora o sofrimento seja
penoso, o abandono do eu a um sofrimento excessivo servir de anestésico contra
a dor. Nas fantasias masoquistas o denominador comum é um sentimento de se ser
desprovido de vontade e de poder e de estar sujeito ao domínio de outrem, cada
forma de manifestação tem suas implicações e peculiaridades. Freud apud Horney
coloca que os impulsos masoquistas são um fenômeno essencialmente sexual, tendo
apresentado teorias para explicá-los. Ele olhou o masoquismo como um aspecto de
uma fase, bem definida e determinada biologicamente, do desenvolvimento sexual,
a chamada fase anal-sádica. Mais tarde completou a hipótese de os impulsos
masoquistas terem uma afinidade à natureza e implicarem algo parecido como uma
manifestação da vontade de ser mulher e sua última posição é que as tendências
masoquistas são uma combinação de impulsos sexuais e de autodestruição,
cabendo-lhe o papel de evitar que os impulsos de autodestruição causem no
indivíduo. A posição de Horney é que os impulsos masoquistas não são um
fenômeno essencialmente sexual, nem resultante de processos determinados
biologicamente, mas originam-se de conflitos personalísticos. Sua meta não é o
sofrimento. O sofrimento neurótico não é o que a pessoa quer, porém, o que ela
paga é a satisfação que busca não é o sofrimento em si mesmo, mas uma renúncia
do eu.

A cultura moderna baseia-se, economicamente,
no princípio da competição individual. Cada indivíduo tem de lutar com outros
indivíduos do mesmo grupo, tem de ultrapassá-los e, freqüentemente, tem de
repeli-los. A vantagem de alguém é comumente a desvantagem de outrem. O
resultado psíquico desta situação é uma tensão difusa de hostilidade entre os
indivíduos: todos são competidores reais ou potenciais uns dos outros. A
competição, assim como a hostilidade potencial que acompanha, está embrenhada
em todas as relações humanas. O espírito de competição é um dos fatores
predominantes nas relações sociais. Ela perturba as relações entre homens e
mulheres, não só na escolha do parceiro, mas em toda luta com ele em busca da
superioridade. A rivalidade entre pai e filho, mãe e filho, mãe e filha, um
filho e outro, não é um fenômeno humano generalizado, mas sim a resposta a
estímulos culturalmente condicionados. A tensão potencial de hostilidade entre
indivíduos gera um medo constante. O medo de fracassar é realista, pois, em
geral, as potencialidades de falhar são muito maiores do que as de obter
sucesso, e porque, numa sociedade competitiva, os fracassos acarretam uma
frustração real das necessidades e significam a perda de prestígio e toda sorte
de frustrações emocionais.

As diferentes situações (espírito de
competição, as hostilidades entre semelhantes, medos, amor-próprio diminuído)
provocam, no indivíduo normal de nosso tempo, uma necessidade intensificada de
afeto. Pelo fato de corresponder uma necessidade vital, o amor é
supervalorizado em nossa cultura. Ele se transforma num fantasma que ilude como
se fosse a solução para todos os problemas; torna-se um disfarce para a
satisfação de desejos que nada tem a ver com ele, mas é convertido em uma
ilusão, o indivíduo normal fica ante o dilema de necessidade de uma grande soma
de afeto, ao mesmo tempo se vê em dificuldades para consegui-lo. A situação
representa terreno fértil para o desenvolvimento das neuroses. Os mesmos
fatores culturais que afetam a pessoa normal, levando-a a uma auto-estima instável,
tensão hostil potencial, apreensão, espírito de competição acarretando medo e
hostilidade, afetam o neurótico em maior grau e, nele, os mesmos resultados são
meramente intensificados. Em toda neurose há tendências contraditórias que o
neurótico não consegue conciliar. As mais notáveis são: competição e o sucesso
de um lado, e entre o amor fraternal e a humildade de outro; o incentivo de
nossas necessidades e as frustrações ao tentar satisfazê-las; a alegada
liberdade do indivíduo e suas limitações reais. Essas contradições, estranhadas
em nossa cultura, são justamente os conflitos em que o neurótico se debate para
reconciliar: suas tendências para agredir e para condescender; suas exigências
excessivas e seu temor de nunca conseguir nada; seu anelo por se engrandecer e
seu sentimento de incapacidade pessoal. Já a pessoa normal é capaz de fazer
face às dificuldades sem danificar sua personalidade, no neurótico todos os
conflitos são intensificados a tal grau que se torna impossível qualquer
solução que seja satisfatória. Parece que a pessoa que tem a probabilidade de
tornar-se neurótica é a que experimentou as dificuldades decorrentes da cultura
de uma forma acentuada, sobretudo através de experiências durante a infância e
que, conseqüentemente, foi incapaz de solucioná-las, ou que, então, só as
solucionou a custa de muito sacrifício para sua personalidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HORNEY, Karen. A personalidade
neurótica do nosso tempo. 11ª ed. Bertrand Brasil.

1 Seria uma neurose de situação. Uma momentânea
desadaptação a uma situação difícil.

‘A revolta de Atlas’


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‘A revolta de Atlas’: objetivismo x praxeologia

Ayn Rand consubstanciou a ‘pedra filosofal’ da sua teoria objetivista na Magnum-opus Atlas Shrugged.

Por Alfredo Marcolin Peringer

Ayn Rand consubstanciou a ‘pedra filosofal’ da sua teoria objetivista na Magnum-opus Atlas Shrugged, traduzida recentemente pelo Instituto Millenium com o título de “A revolta de Atlas”. Atlas, gigante da mitologia grega, representa no enredo as indústrias e demais atividades privadas, obrigadas a suportar nos ombros um pesado fardo estatal, via altos impostos e regras igualitárias e restritivas.

Com a maestria de uma grande dramaturga, Rand envolve a obra com mistérios e tramas que cativam completamente o leitor, dando-lhe a impressão de que não está lendo uma obra filosófica, mas apenas um atrativo romance. Ademais, simplifica a teoria objetivista ao dividi-la em três grandes axiomas: existência, identidade e consciência. A vida é o axioma maior, principal objetivo moral do homem e que dá suporte aos demais valores morais para mantê-la. Rand, aristotélica confessa, explica, pela ‘lei de identidade’, que a realidade existe, é objetiva, e não pode ser falseada. Pela “lei de causalidade”, relaciona as identidades (boi e sapato, minério de ferro e automóvel), deixando implícito o concurso da mente humana, via ações produtivas, na transformação de uma identidade na outra. Nessa metamorfose é identificada a impossibilidade de haver consumo de maneira consistente sem que tenha havido antes produção. A consciência, com a interação de três valores objetivos adicionais — razão, determinação e amor próprio — responde pelas ações e escolhas do homem, necessárias à sua sobrevivência.
No processo, os custos diretos e indiretos impostos pelo governo são considerados imorais e levam, com o tempo, à destruição social. Essa é a interpretação social objetivista.

A praxeologia, por outro lado, ciência da ação humana, desenvolvida por Ludwig Von Mises, sustenta que o indivíduo age buscando substituir uma situação menos satisfatória por outra mais satisfatória. Nessa ação ele ignora as propriedades físicas ou químicas dos bens: a satisfação é obtida pelos valores subjetivos deles. Não contesta os valores normativos da Ética à conduta humana, até porque as ações praxeológicas estão conectadas, de maneira indissociável, aos valores morais, assim como aos limites impostos pela natureza. Porém, discorda que os valores objetivos possam explicar, cientificamente, as ações humanas. Ainda que aceite o alto valor moral da água à vida, a satisfação do Homem não está na totalidade desse bem, nem na sua constituição química ou física, mas numa pequena porção dela, em valores subjetivos. Aliás, sem essa subjetividade, não há possibilidade de haver comércio, nem preço, nem mercado, quanto mais ciência econômica.

Uma divergência mais forte entre as teorias refere-se à formação do conhecimento. No objetivismo, a matéria-prima do conhecimento é a realidade objetiva, captada pela percepção sensorial. Na Praxeologia, o conhecimento vem a priori dessa realidade, não estando sujeito às comprovações empíricas, nem às regras de falseabilidade popperianas. Sabe-se, a priori, por exemplo, que todo imposto é um mal econômico e social e que essa verdade não consegue ser falseada, principalmente por dados estatísticos, como sói acontecer. Aliás, nesse aspecto, os praxeologistas seguem a máxima de Benjamin Disraeli: “há três tipos de erros: mentiras, mentiras detestáveis e estatísticas”.

Usando a realidade brasileira como padrão, caso “A Revolta de Atlas” fosse escrita por um praxeologista misesiano, os agentes privados, no papel de Atlas, não se revoltariam, nem fariam greve ou abandonariam suas empresas, deixando o governo à míngua, como Rand procede no romance. Não há prejuízo praxeológico aparente a esses agentes, que os levem a agir assim. Eles têm a liberdade de transferir os impostos aos preços finais dos bens ou de reduzir a produção, a renda e os empregos, adequando-os à menor demanda. Em ambos os casos, a maldade tributária fica difusa, enfraquecendo a resposta praxeológica. Mas a apatia da ação humana é mais forte no caso dos impostos indiretos. Embutidos nos preços, eles ficam ocultos, passando despercebidos aos consumidores. O resultado é um meio privado frágil e inerte e um meio burocrático forte e ativo, com alto poder de expropriação. Incentivado pelos gastos, as ações praxeológicas desse grupo crescem incontrolavelmente. E é completamente irrelevante, ao caso, se nas ações governamentais “as questões de verdadeiro e falso não entram em jogo; os princípios não têm qualquer influência; a lógica é impotente e a moralidade é supérflua”, narrado por Rand (p. 142, v. III).  Afinal o homem é o mesmo, esteja no serviço público ou privado. As suas ações também não são regidas por princípios éticos globais, mas pela realidade subjetiva cotidiana.

Infelizmente, o estudo praxeológico nos conduz às mesmas previsões catastróficas do objetivismo, considerando o caso de “Atlas não se revoltar”: destruição econômica e social, ruptura da ordem democrática e assunção do oportunismo estatista totalitário. É questão de tempo…

Alfredo Marcolin Peringer é colunista do site Instituto Millenium, parceiro do Opinião e Notícia.

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